sábado, 30 de abril de 2011

Falta de educação, grosseria e falta de interesse: o que acontece com os jovens? (30abr2011)

Em postagem no sítio de Luis Nassif, a transcrição do e-mail de uma professora do Paraná em que ela responde à revista Veja (ou melhor, na minha modesta opinião: NÃO PERCA TEMPO, NÃO VEJA - na opinião do jornalista Paulo Henrique Amorim, "detrito de maré baixa").

Clique aqui para ver a postagem.

A resposta é ótima sob diversos aspectos, mas também chamou-me a atenção um dos comentários dos leitores, que fala sobre esses atributos indesejáveis em seu filho:
Concordo com tudo que a professora reclamou.

Até um mês atrás eu estava morando na Argentina, fiquei 4 anos lá, longe de meu filho mais novo que recém entrou na USP Leste. Fiquei realmente espantado ao ver o comportamento dele. Egoísta, hedonista, mal-educado ao extremo comigo e com a avó, que cuidou dele desde pequeno. E olha que até os 14-15 anos ele era um doce de menino! Realmente não sei o que aconteceu com ele. Excesso de mimo não foi, excesso de liberdade também não, porque minha mãe cuidou dele da mesma forma que cuidou de mim e de meu irmão. Nem sei se vale a pena ficar procurando culpados pra explicar o comportamento dele.

Excesso de Internet? Influência de amigos? Rebeldia da pós-adolescência? Realmente não sei. E o que mais me desespera é que também não sei como lidar com isso. Tem horas que dá vontade de enfiar-lhe a mão na cara, tamanho o descaso com os outros. E fora isso, vejo que hoje os jovens em geral, e meu filho em particular, não sabem fazer um "O" com o copo, não se interessam por nada, não leem nada, não se espantam e não se comovem com nada. Parecem uns zumbis rastejando de balada em balada, com os cérebros vazios e as cabeças cheias de minhocas. Não são capazes de articular uma frase completa, comunicam-se como estúpidos e se tratam entre eles de forma torpe, com linguagem violenta, parece que estão sempre no limite de partir para uma agressão. Realmente lamentável. No caso de meu filho fico desiludido ao ver que também não se interessa pelo curso que recém começa. Com pouco mais de um mês de aula já acha que não gosta do curso, pensa em perder mais um ano estudando pra tentar outra carreira da qual, assim como a que faz agora, não sabe nada. Ele e seus amigos são completos ignorantes, e apesar disso sonham com viajar ao exterior (o meu queria porque queria ir pra Inglaterra porque a namorada está lá num intercâmbio, mas nem sabia que tinha que tirar passaporte e que isso demora alguns meses!), acham que podem abandonar um curso que recém começam porque "não gostam do ciclo básico, que só tem matéria chata"...

Eu comecei a trabalhar com 14 anos, de arquivista e oficceboy. Meu irmão também. E acho que foi o melhor que nos aconteceu, entrar cedo no mundo do trabalho e sair da barra da saia da mãe e da proteção do pai. Nem por isso ficamos traumatizados. Hoje em dia se dá muita moleza pra essa molecada, não só os pais mas o "sistema" também. Foi o que disse a professora: eles sabem que não tem que estudar pra passar de ano, sabem que não vão ter que pagar pelos erros que cometem, por que vão se esforçar? O resultado é que se transformam em parasitas da família, saindo cada vez mais tarde de casa, assumindo cada vez mais tarde sua própria vida.

Me desculpem o desabafo, mas eu acho que essa molecada tinha mais é que pastar mesmo, tinham que trabalhar pra poder dar valor às coisas, pra saber que nada cai do céu e que ninguém na vida vai passar a mão na cabeça deles quando eles errarem.

O olhar dos índios (30abr2011)

- Atira! Atira! – lhe dizia o índio Parakanã, apontando a caça. O antropólogo Carlos Fausto, com a arma na mão, olhava na direção indicada e não via bulhufas. Só árvores.

- Ali, ali, naquele galho – suplicava em voz baixa o índio, sinalizando o alvo com o dedo.

- Onde? Onde? – perguntava o antropólogo, atônito. Via apenas uma mancha verde formada por um emaranhado de troncos, folhas, cipós, raízes, musgos, liquens, sombras, tudo da mesma cor, mas nem sinal do animal. O bicho, que para ele continuava invisível, aproveitou a hesitação e se escafedeu, sem nem ao menos declinar sua identidade ao ofuscado caçador.

Foi ali, naquele momento, que Carlos Fausto, sem disparar um tiro, acertou o que não viu, ao suspeitar que seus olhos estivessem incapacitados de ver, dentro da floresta, aquilo que os índios viam. Estávamos no final da década de 1980, ele começava seu mestrado em Antropologia Social com os índios Parakanã, orientado por Eduardo Viveiros de Castro e não era, ainda, capaz de ler a floresta.

Veja o texto na íntegra no sítio (Taqui pra ti), do professor José Ribamar Bessa Freire. Trata-se de crônica relacionada à tese de doutorado defendida pela ortoptista Vivian Secin intitulada Ortóptica, oralidade e letramento: a visão binocular dos indígenas Guarani Mbya da Aldeia Sapukai (RJ) no Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ.

Ana Giulia Zortea, 10 anos de idade, um show de consciência política (30abr2011)

No sítio de Luiz Carlos Azenha há uma postagem de matéria feita por Conceição Lemes que está causando comoção entre os blogueiros.

Uma das postagens anteriores informava que o ex-deputado baiano José Carlos Aleluia enviou carta ao Reitor da Universidade de Coimbra manifestando sua contrariedade quanto à homenagem ao ex-presidente Lula com o título de doutor honoris causa.

Pois bem! Uma garota de 10 anos, Ana Giulia Zortea, do Rio de Janeiro, postou um comentário que suscitou dúvidas nos moderadores so sítio, e antes de sua publicação os mesmos foram pesquisar os dados da missivista.

O comentário dela foi publicado e, agora, o sítio do Azenha publica explicações sobre como foi encontrada a menina, além de foto e de áudios de entrevistas com ela por telefone (com a anuência da mãe, é claro).

A garota abriu um blog para tratar da perda de seu pai no voo da Air France, e do descaso da companhia com relação às famílias das vítimas: Meu pai morreu no voo 447, e agora?.

Como ela foi parar no sítio Vi o mundo?
“minha amiga do Facebook, me mandou o link do site, eu entrei no site”

Seu comentário naquela postagem sobre o ex-deputado Aleluia foi o seguinte:
TENHO DEZ ANOS, E NAO CONHECI O BRASIL ANTES DE LULA, MAS PELO QUE LEIO E OUÇO FALAR O LULA É CONSIDERADO POR MIM UM GRANDE PRESIDENTE, E TENHO MUITO ORGULHO DE TER NASCIDO NA ERA LULA. E EM RELAÇÃO A ESTE SENHOR ALELUIA NAO O CONHEÇO MAS APRENDI HOJE MAIS UMA LIÇÃO, QUE SER UMA PESSOA LETRADA MAIS AINDA, PROFESSOR UNIVERSITARIO NAO É SINONIMO DE EDUCAÇÃO. MINHA VÓ NAO TEM CURSO SUPERIOR, ALIAS NAO TEM NEM O CURSO FUNDAMENTAL 1, MAS É MUITO SÁBIA, E SUA SABEDORIA NAO VEIO DOS BANCOS DO COLÉGIO E SIM DA VIDA. PORTANTO SENHOR ALELUIA RECOLHA-SE A SUA INSGNIFICANCIA E PARE DE ENVERGONHAR OS BRASILEIROS COM ESTES COMENTARIOS. PRECISAMOS VALORIZAR NOSSOS REPRESENTANTES MESMO SENDO ELES DE PARTIDOS OPOSTOSTOS AOS QUE PERTENCEMOS, SÓ ASSIM O BRASIL CONTINUARA A SER RESPEITADO COMO É HOJE LA FORA, QUE ATÉ ONDE SEI QUEM CONSEGUIU ESTE RESPEITO FOI LULA E NAO UM OUTRO PRESIDENTE COM CURSOS UNIVERSITARIOS
Clique aqui e veja a postagem sobre a carta do ex-deputado com o comentário da Aninha, entre outros.

Clique aqui e veja a nova postagem, com a entrevista da Aninha. Anime-se, o Brasil tem futuro! E muito bom, se tivermos muitas Aninhas espalhadas por aí.

Energia solar pode ser possível sem células solares (30abr2011)

Do sítio Inovação Tecnológica, Energia solar pode ser possível sem células solares:

"Desmentindo os livros de física, cientistas demonstraram ser possível criar uma bateria óptica usando um surpreendente efeito magnético da luz."

Um fogo que pode queimar a todos (30abr2011)

Fidel Castro, no sítio Brasil de Fato: Um fogo que pode queimar a todos (para ler, clique aqui).
(...)

"Os ataques grosseiros contra o povo líbio que adquirem um caráter nazi-fascista podem ser utilizados contra qualquer povo do Terceiro Mundo."

(...)

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Desastres naturais ou falta de diálogo com a Terra? (29abr2011)

Artigo do meu colega de Departamento, e amigo, Professor José Domingues de Godoi Filho publicado na edição de número 692 do Jornal da Adufrj (Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro). O artigo é datado de 9 de fevereiro de 2011. Quem quiser ter acesso à publicação clique aqui.

Por José Domingues de Godoi Filho

A Mãe Terra parece estar ao abandono.
O impacto dos riscos geológicos nas nossas vidas e na economia é enorme e nunca deixará de existir.
Inundações, tsunamis, tempestades, secas, incêndios, erupções vulcânicas, sismos, deslizamentos e abatimentos de terras são responsáveis, todos os anos, pela perda de milhares de vidas, originando idêntico número de feridos e destruindo lares e meios de subsistência. (Unesco, 2004)

SerranaPessoasO conceito de áreas de riscos é abrangente, algumas vezes polêmico, mas invariavelmente envolve algum tipo de risco para as atividades da espécie humana em uma dada região da Terra. Os riscos e os respectivos desastres que podem ser gerados são produzidos tanto por processos naturais, como pela ação humana. A IUGS (União Internacional das Ciências Geológicas) define riscos geológicos como um termo que engloba fenômenos geológicos como deslizamentos de terras e erupções vulcânicas; os riscos hidrometeorológicos, do tipo inundações e marés extremas; riscos geofísicos, como sismos. “Qualquer processo da Terra que coloque em risco a vida humana pode ser considerado um risco geológico. O seu âmbito varia desde os acontecimentos locais (por exemplo, a queda de blocos de rochas e fluxo de lama) aos globais, que podem ameaçar a totalidade da espécie humana, como o impacto de asteróides e a ocorrência de grandes erupções em vulcões”.

A análise e avaliação dos processos geológicos superficiais que configuram o relevo implicam na necessidade de se considerar o resultado da interação entre as forças envolvidas com as Dinâmicas Interna e Externa da Terra. Os fenômenos de geração de vulcanismo, terremotos e deformações profundas no edifício da crosta terrestre estão relacionados às forças internas da Terra e geram grandes transformações na superfície do planeta, isto é, no relevo. A Dinâmica Externa que está associada aos agentes geológicos como as águas superficiais continentais, as águas oceânicas, os ventos e o gelo, tem como força principal de transformação a energia solar. Os agentes geológicos externos atuam sobre os materiais existentes desagregando-os, decompondo-os, transportando-os e depositando-os nas bacias de sedimentação.

O conjunto de processos de transformação do planeta envolvendo a Dinâmica Interna e a Dinâmica Externa ocorre há pelo menos 4,5 bilhões de anos, e é conhecido da espécie humana sendo estudados sistematicamente pelo menos desde o século XIX.

Portanto, declarações, comuns em épocas de ocorrências de catástrofes, do tipo que “se conhece determinada região há mais de 50 anos e nunca nada aconteceu” não fazem o menor sentido, pois ainda que fossem séculos, nada significariam perto da idade de ocorrência dos processos geológicos na Terra.

Para atender suas necessidades, como energia, transporte, alimentação, moradia, segurança física, saúde, comunicação, a espécie humana é obrigada a ocupar e modificar os espaços naturais terrestres com a construção de cidades, indústrias, usinas para geração de energia, estradas, portos, canais, agropecuária, a extração de madeiras, minérios e combustíveis fósseis e a disposição de rejeitos industriais e urbanos. É a crosta terrestre que fornece a água e os solos que sustentam a espécie humana, a agricultura, as florestas e todas as demais formas de vida, além dos minerais necessários para as construções, à energia e a indústria. Assim, especialmente depois da segunda guerra mundial, como resultado da intensificação de suas ações, a espécie humana se tornou um agente geológico com elevado poder de transformação do planeta. Os ecossistemas naturais, até então resultado da interação da geologia e clima através do tempo passaram a sofrer grandes transformações impostas pelas atividades humanas. Daí a importância de se conhecer as dinâmicas terrestres para a compreensão do arranjo natural das paisagens, com suas formas de relevo, sua dinâmica de superfície, sua história geológica, suas características, seus comportamentos e suas vulnerabilidades frente a uma intervenção humana. É necessário dialogarmos com as pedras para estreitarmos nossa relação com a Terra.

As geociências, em particular a geologia, têm contribuído para melhorar o diálogo com a Terra com informações necessárias ao aproveitamento dos recursos minerais, energéticos e hídricos, à prevenção de catástrofes naturais e a melhor utilização do espaço físico. Atuando em interação com outras áreas do conhecimento como a agronomia, a química, a medicina e a engenharia civil, não tem deixado margem para culpar a natureza (com suas encostas e chuvas) pelas catástrofes.

Nas últimas décadas, as investigações dos problemas geológicos (estudos geoambientais) decorrentes da relação entre o homem e a superfície terrestre avançaram substancialmente, como resposta ao poder devastador da espécie humana, que tornou o homem um agente geológico com capacidade de transformação da paisagem, semelhante ou, em alguns casos, até maior que a dos eventos geológicos; porém, com uma velocidade muito superior e não assimilável pelo ambiente terrestre. Um dos principais objetivos de um estudo geoambiental é fornecer aos administradores, planejadores e outros profissionais que atuam na organização e desenvolvimento territorial informações integradas sobre as principais características do meio físico e seu comportamento frente às várias formas de uso e ocupação. Este estudo é também empregado como instrumento de gestão ambiental de empreendimentos como mineração, hidrelétricas, túneis, estradas, indústrias, aterros sanitários, planos diretores, oleodutos, gasodutos e loteamentos e, ainda de regiões geográficas, tais como bacias hidrográficas, unidades de conservação, áreas costeiras, regiões metropolitanas e zonas de fronteira.

Para que essas informações produzam resultados e seja estabelecido um diálogo com a Terra, como recomendado pelos diferentes fóruns da IUGS/Unesco, “os cidadãos precisam conhecer onde e quando ocorrem os desastres naturais, a sua extensão, comportamento provável e duração”. Esta é uma questão que se relaciona com “o papel da ciência nas políticas de decisão pública, incluindo a forma como as questões como o risco e a incerteza, a qualidade e quantidade de dados influenciam quem usa a informação, que informação é necessária e com que objetivo ela é utilizada”. É fundamental a interação e a participação da sociedade, para que o diálogo com a Terra não seja truncado e para que, por exemplo, em épocas de chuva os acidentes em obras civis e nos espaços de ocupação humana, que têm causado inúmeras vítimas em nosso país, não sejam atribuídos, pelos responsáveis pelos empreendimentos e por muitas autoridades públicas, à intensidade das chuvas e/ou a imprevistos geológicos.

Explicações que representam uma violência contra qualquer ser pensante e, salvo melhor juízo, um crime materializado na intenção de enganar a sociedade. Afinal, não são os riscos naturais que matam as pessoas, mas sim a irresponsabilidade daqueles que permitiram ou induziram as pessoas a ocuparem as margens dos rios, as encostas, dentre outros locais, onde os riscos eram bem conhecidos.

É a atividade humana que vem transformando o risco natural em desastre, como enfatiza o diretor da Estratégia Internacional de Redução de Desastres da ONU Salvano Briceno, relembrando, ao mesmo tempo, que “na Rússia, a má gestão das florestas foi uma das principais causas dos incêndios que destruíram o país. Na China, o crescimento urbano descontrolado e o desmatamento favorecem os deslizamentos de terra. No Haiti, no dia 12 de Janeiro 2010, os habitantes de Porto Príncipe foram mortos pela sua pobreza, não pelo terremoto. Um mês mais tarde, um terremoto semelhante atingiu o Chile, com muito menos mortos. A diferença foi a miséria, a urbanização dos terrenos de risco, a falta de normas de construção. Todos os anos, um mesmo furacão faz devastações mortais no Haiti, mas nenhuma vítima em Cuba ou na República Dominicana”.

O que aconteceu, por exemplo, na região serrana do estado do Rio de Janeiro e em outros locais do país, considerando-se o histórico das chuvas nesses espaços, poderia possivelmente ter gerado processos naturais de escorregamentos e de fluxos de lama, mesmo sem nenhuma ação humana. Contudo, as atividades humanas amplificaram e transformaram, por sua presença, o risco natural em desastre. E o pior, aqueles que deveriam ter a responsabilidade de apurar os acontecimentos e punir os infratores procuram se eximir pelas enchentes e por outros desastres, atribuindo os eventos à sua inevitabilidade e passando para a natureza e, eventualmente, para Deus, a culpa pelas catástrofes.

Sem retroceder muito no tempo e relembro apenas os desastres que foram motivos de destaque no noticiário: o colapso do túnel da Estação Pinheiros do Metrô de São Paulo (2007); os escorregamentos, fluxos de lama e inundações/enchentes devido às chuvas em 2008, em Santa Catarina e; em 2010, ao longo da bacia do rio Mundaú (AL), nas cidades do Rio de Janeiro, Niterói e Angra dos Reis no estado do Rio de Janeiro, em São Paulo (SP), Recife (PE) e Salvador (BA). No mesmo período de tempo também foram registrados acidentes com as barragens de Câmara (PB), Apertadinho (RO), Espora (GO), Algodões I (PI), Cataguazes (MG) e Mirai (MG). E, agora, os graves eventos ocorridos nesse verão na região serrana do estado do Rio de Janeiro e em diferentes locais de outros estados.

Já passou da hora e é preciso parar de considerar desastres naturais como algo imutável e inevitável e assumir que são as condições do desenvolvimento social e econômico, da ocupação do espaço rural e do crescimento urbano que criam ou reduzem os desastres e os riscos. Como nem sempre é possível evitar os riscos naturais, é imperativo que se implante uma estratégia de redução do risco, em substituição à política de gestão dos desastres. Já os cientistas e demais profissionais principalmente da área das engenharias não devem esquecer que, apesar dos métodos científicos prometerem e acenarem com a possibilidade de uma ciência do risco e da sustentabilidade melhorada, as políticas públicas serão sempre influenciadas pelo público e pela agenda política do dia. Isto tudo sem falar das contribuições e afrontas às normas técnicas e à legislação vigente no país produzidas, nos últimos anos, pelos ocupantes dos cargos mais elevados do poder executivo, com o discurso de acelerar o crescimento, o que só tem acelerado as catástrofes.

Com a continuação do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, seria importante que a sociedade exigisse dos governantes sua efetiva participação na construção de um diálogo com a Terra, para que daqui a quatros anos não chegue a triste conclusão de que foi submetida a um Programa de Aceleração de Catástrofes.

Finalmente, não é demais relembrar o alerta do Engenheiro Carlos Henrique Medeiros, divulgado pela Revista da ABGE – Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (nº 85, julho-agosto-setembro de 2009) de que: “Precisamos refletir sobre as nossas limitações técnicas e/ou organizacionais, bem como sobre os fatores de natureza não técnica: contratação pelo menor preço, deficiência ou ausência de fiscalização, projetos com foco na economia e utilizando técnicos e/ou consultores sem a devida qualificação, prazos inexequíveis para os estudos, projetos e construção, planejamento e gerenciamento incompatíveis com a complexidade do projeto e técnicas executivas selecionadas, redução da equipe técnica, destruição da memória técnica de empresas tradicionais, assim como o sucateamento das universidades e institutos de pesquisa”.


José Domingues de Godoi Filho é professor do Departamento de Geologia Geral da UFMT e doutorando pelo IPPUR - UFRJ.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Serra calcula preço da soberania do povo paraguaio (28abr2011)

Postagem de hoje do Blog do Passarinho Pentelhão. Mais uma pérola do candidato derrotado na última eleição presidencial. Já pensou se ele tivesse ganhado a eleição?

Inacreditável!!! Serra calcula em cerca de três bilhões de dólares a soberania do povo paraguaio!!! Isso é uma loucura!!!

"Armas de destruição em massa", publicado hoje, dia 28/04/2011, na página A2 do Estadão, e já reproduzido em quase todos os blogs 'limpinhos' do país, Serra fala sobre o problema das drogas. Não é por nada não, Serra, mas nesse assunto sugiro que você consulte Fernando Henrique Cardoso. Sim, ele mesmo. É dele o melhor artigo que o Pentelhão encontrou até hoje e aqui foi reproduzido no dia 18/01/2011 no post intitulado A guerra contra as drogas, por Fernando Henrique Cardoso. Não é sacanagem, é sério!!!". Sua defesa da descriminalização das drogas como política de saúde e de segurança, principalmente nos grandes centros urbanos, está muito bem embasada através de dados e estudos. Claro, na época, nenhum blog 'limpinho' reproduziu.

No artigo, Serra reproduz os argumentos por ele difundidos durante a campanha de que o combate às drogas deveria ser feito no 'quintal do vizinho'. Por que será que os Estados Unidos nunca pensaram nisso!!! Decididamente Serra deveria reciclar suas idéias, mas, tem quem goste deste tipo de discurso. Porém, avançou o sinal e foi um pouco mais claro na maneira que exerceria a diplomacia com nossos vizinhos se tivesse sido eleito. É mais ou menos assim: Olha, companheiros paraguaios, eu sei que você estão precisando de uma graninha!!! Vamos fazer o seguinte: eu dou a vocês três bilhões de dólares e vocês, em contrapartida, dão uma combatidazinha nos crimes aí no Paraguai. Está bom pra vocês???

Mas, Pentelhão, isso é inacreditável!!! É sério que ele falou isso???

Com todas as letras. Vejam vocês mesmos:
Mas o fato é que o governo brasileiro se deixou levar pelas alianças externas do PT e não usou seu poder de pressão diplomática para inibir o tráfico vindo de países vizinhos, apesar dos presentes vultosos aos seus governos: ... ao Paraguai, principal foco de contrabando de armas, US$ 3 bilhões por conta de Itaipu. Não devia ter havido uma troca? "O Brasil ajuda vocês e vocês se ajudam e ao povo brasileiro, combatendo o crime dentro de seus países".
Querido, Serra, decididamente aquela bolinha de papel não lhe fez bem. Olha só, companheiro:

1. Quem foi que disse pra você que o povo paraguaio e seus governantes eleitos consideram que o Brasil está 'ajudando' o país deles??? É sério que nunca passou pela sua cabeça que eles simplesmente consideraram que tinham o direito de reinvindicar melhores condições financeiras em um contrato assinado décadas atrás, possibilidade que existe em todo e qualquer contrato complexo entre grandes corporações??? Se você enviasse um diplomata ao Paraguai e ele colocasse o problema neste termos, "O Brasil ajuda vocês e vocês se ajudam e ao povo brasileiro, combatendo o crime dentro de seus países", seria inapelavelmente expulso do país.

2. A legítima negociação foi realizada e, é claro, os paraguaios conseguiram muito menos do que desejavam. O Brasil poderia muito bem se recusar a fazer qualquer tipo de ajuste, mas fica a pergunta para você responder, Sr. Serra: é verdade ou não é que quanto mais miserável for a população de um país, mais facilmente as organizações criminosas conseguem atrair as pessoas para o 'mal caminho'??? Não haveria algum interesse estratégico para o Brasil, portanto, até mesmo para combater a criminalidade em nossas fronteiras, que um bom acordo fosse fechado???

3. Ao dizer que os paraguaios deveriam combater o crime dentro do seu país, você está ofendendo duplamente uma nação inteira. Primeiro porque está insinuando que eles não combatem. Novamente perguntamos, será que os governantes eleitos pelo povo paraguaio acham isso??? Que o crime não é combatido no Paraguai??? Segundo, e muito mais grave, o que você está propondo é comprar a soberania de um país!!! E da maneira mais vil possível!! O Brasil dá três bilhões de dólares, mas vocês fazem o que a gente mandar!!!

É Serra, começo a duvidar que o PSD vai te aceitar como candidato a presidente em 2014.

Abraços, Passarinho Pentelhão.

Diga sim à Satiagraha e não à corrupção (28abr2011)

Para impedir que o trabalho do Ministério Público e da Polícia Federal e de todos os brasileiros seja sepultado, o deputado Delegado Protógenes está organizando uma campanha de apoio à Satiagraha e contra a corrupção. Os ministros não podem aceitar que um banqueiro preso e acusado por desvio de dinheiro público seja inocentado.

DIGA SIM À SATIAGRAHA E NÃO À CORRUPÇÃO


Mais detalhes sobre o assunto ver em Conversa Afiada.

Gasolina nas refinarias Petrobras: R$ 1,05 desde 2009 (28abr2011)

Informação contida no sítio da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET):


É esse o preço do litro da gasolina, sem adição de etanol, vendida pela Petrobras desde 2009. Em 9 de junho daquele ano, houve redução de 4,5%. Desde então, não ocorreu mais nenhuma alteração no preço da gasolina vendida às distribuidoras na porta das refinarias.

Esse valor de R$ 1,05 remunera a Companhia em seus custos de produção, refino e logística. Sobre este preço a empresa recolhe impostos e nele também está incluída sua margem de lucro.

Descoberto novo tipo de simetria na natureza (28abr2011)

Do sítio Inovação Tecnológica: Descoberto novo tipo de simetria na natureza.

"Para se ter uma ideia da importância da descoberta, não é exagero afirmar que a simetria estabelece todas as leis naturais do universo físico. (...)"

Oposição aposta na Copa de 2014 contra Dilma (28abr2011)

Os lances do PiG (Partido da imprensa Golpista) têm que ser acompanhados de perto. O serviço de desinformação deles é impressionante. Eles jogam contra o Brasil.

Assim, sugiro a leitura da postagem de 21 de abril de 2011 no Blog da Cidadania sobre mais uma estratégia do PiG. A ideia agora é aposta contra a Copa do Mundo no Brasil.

Quem matou o estudante de Geologia Alexandre Vannucchi Leme? (28abr2011)

Do blog "Quem torturou?" reproduzo o texto abaixo, em letras amarelas, bem como a imagem a seguir. Depois falo um pouco sobre minha vivência como estudante universitário durante o regime militar.

Alexandre Vannucchi Leme, sorocabano, foi estudante de geologia da USP e militante do movimento estudantil. Acusado de integrar os quadros da ALN (Ação Libertadora Nacional), foi detido em 16 de março de 1973 pelos “encapuzados” da OBAN (Operação Bandeirante) – organização paramilitar que ganhou as ruas a partir de 1969 –, sendo barbaramente torturado e assassinado nas dependências do DOI/CODI-SP. Foi enterrado como indigente. Conforme a versão oficial da época, o estudante morreu atropelado por um caminhão, quando fugia da polícia.


Uma vida, um futuro, tudo destruído. Quantos outros futuros terão sido extintos pela violência policial em sua sanha contra a "subversão"?

Subversivo foi o golpe de 1964, que mergulhou o país num pântano de medo, de insegurança jurídica. Período em que cada policial virou autoridade para prender, torturar, matar a quem bem entendesse. Período em que vicejou o Esquadrão da Morte.

À época foi bastante disseminada, entre outras, a ideia de que os comunistas comiam criancinhas - no sentido literal, e não no atual sentido católico do termo.

A acima citada Operação Bandeirante (OBAN) tinha apoio, financiamento, de grandes empresários e a conivência da imprensa. Consta que a própria Folha de São Paulo emprestava seus camburões de entrega de jornais para que as prisões e o transporte de "elementos subversivos" fosse feito de forma discreta.

Daí o medo danado de muita "gente boa" da criação de uma Comissão da Verdade, ou da revisão da lei da anistia.

Quando fiz a graduação em Geologia, na década de 1970, o clima vivido na universidade era de tensão constante. A qualquer momento alguém poderia sumir. E sumia mesmo...

Toda universidade pública tinha uma "assessoria de segurança interna", onde o "assessor", um militar de alta patente, tinha uma sala bem próxima ao gabinete do reitor.

A infiltração de espiões do SNI entre os estudantes - eles matriculavam-se normalmente, como nós - gerava um clima de desconfiança entre os colegas. Na minha turma teve um tipo de quem chegamos a desconfiar. Muito bonachão, mais velho que todos nós, participava de tudo, estava em todas, tinha carro (o que era difícil naquele tempo para um estudante), dava carona pra todo mundo, conversava muito, ouvia muito. Em meados do governo Geisel ele deixou de frequentar as aulas. Mas ele não foi "abduzido" não! Alegou que ia partir pra outra etc. e tal, e escafedeu-se. Ficou a sensação de que ele poderia ter sido "plantado" pelo sistema de inteligência, e que, acabando essa missão, partiu para outra.

Um de meus professores, à época, sumiu, e o chefe do Departamento de Geologia informou que o professor não estava vindo porque tinha "sido mordido por um cachorro". O professor voltou, tempos depois, mas estava completamente diferente. Ele tinha perdido seu brilho, seu bom humor característico. Nunca comentou o que lhe ocorrera no período em que foi mordido, nem a raça do cachorro ele revelou.

Em pouco tempo ele deixou a universidade.

Desde então, eu vivo a universidade pública e pretendo nela permanecer até que a aposentadoria, ou a morte, nos separe.

Trabalhar em universidade pública é projeto de uma vida inteira. Fazer a universidade melhor a cada dia é o papel de cada um de nós que nela atua (servidores - professores e técnicos - e alunos).

Nosso ex-futuro colega, Alexandre Vanucchi Leme, se vivo fosse, poderia ser um forte aliado nosso nesse embate cotidiano pela melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro.

Quero crer que ele não seguiria os passos de outros líderes estudantis daquele período que hoje militam ao lado do capital, da subserviência do país a interesses pouco patrióticos. Que fugiram e se intitulam exilados, usando isso para alavancagem de suas carreiras políticas. No poder, mostraram-se pífios, descompromissados com o povo e com a busca do equilíbrio social.

Meus respeitos ao Alexandre e a todos os demais que deram sua vida ou sua lucidez para a causa da liberdade e da democracia.

"Quem torturou?" - Um blog para ser visitado (28abr2011)

O blog “Quem torturou?” apresenta uma série de propostas de intervenções artísticas para debater os crimes da ditadura. As imagens abaixo são alguns dos exemplos apresentados no blog.

Não tenho pretensões literárias com esse meu blog, mas acho fundamental a multiplicação da informação e de propostas políticas que se contraponham ao status quo definido no Brasil em toda a sua história, com uma elite branca, escravagista, que extrai suas riquezas do trabalho do povo brasileiro sempre tentando dar a menor contrapartida. Se possível, dar nada em troca. Vide a existência, ainda, de trabalho escravo no país.

Os poderosos neste país foram, desde a "independência ou morte", capatazes dos impérios de plantão, ficando com as migalhas do banquete internacional e mantendo esse "povinho" sob o tacão da força, sem qualquer respeito aos direitos elementares a que todo ser humano faz jus.



domingo, 24 de abril de 2011

TCC em vídeo: para entender como os administradores planejam contra os interesses da coletividade (24abr2011)

Trabalho de Conclusão de Curso do Bacharelado em Audiovisual do SENAC, no ano de 2009, "Entre rios" (clique para assistir) é um documentário para entender como os administradores de São Paulo planejam contra os interesses da coletividade.

A ocupação das áreas que são parte do rio, as várzeas, foi feita e continua sendo feita dentro de uma visão de desenvolvimento centrada no automóvel, no indivíduo, assim como nos interesses imobiliários, econômicos.

São Paulo não tem inundações, mas sim seus rios eventualmente reclamando espaços que são naturalmente seus.

São Paulo virou as costas para os rios.

E tudo poderia ser muito diferente se a cidade tivesse sido estruturada de frente, junto com os rios. E não contra eles.

Que bom que os Sindicatos de Trabalhadores da Educação preocupam os sacerdotes da privataria e seus braços ideológicos! (24abr2011)

Está no sítio da Maria Frô, ver aqui, sob o título Educadores contestam artigo da “Veja” mas acho o texto tão importante para nós, educadores, que faço questão de reproduzi-lo aqui.

Vários educadores divulgaram texto com críticas ao artigo de Gustavo Ioschpe ("Hora de Peitar os Sindicatos de Professores"), veiculado no site da da nossa velha conhecida "Veja", à qual Paulo Henrique Amorim dá a merecida alcunha de "detrito de maré baixa".

Por Gaudêncio Frigotto, Zacarias Gama, Eveline Algebaile, Vânia Cardoso da Mota e Hélder Molina

Vários meios de comunicação utilizam-se de seu poder unilateral para realizar ataques truculentos a quem ousa contrariar seus interesses. O artigo de Gustavo Ioschpe, publicado na edição de 12 de abril de 2011 da Revista Veja (campeã disparada do pensamento ultraconservador no Brasil), não apenas confirma a opção deliberada da Revista em atuar como agência de desinformação – trafegando interesses privados mal disfarçados de interesse de todos –, como mostra o exercício dessa opção pela sua mais degradada face, cujo nível, deploravelmente baixo, começa pelo título – "hora de peitar os sindicatos". Com a arrogância que o caracteriza como aprendiz de escriba, desde o início de seu texto, o autor considera patrulha ideológica qualquer discordância em relação às suas parvoíces.

Na década de 1960, Pier Paolo Pasolini escrevia que o fascismo arranhou a Itália, mas o monopólio da mídia a arruinou. Cinquenta anos depois, a história lhe deu inteira razão. O mesmo poderia ser dito a respeito das ditaduras e reiterados golpes que violentaram vidas, saquearam o Brasil, enquanto o monopólio privado da mídia o arruinava e o arruína. Com efeito, os barões da mídia, ao mesmo tempo em que esbravejam pela liberdade de imprensa, usam todo o seu poder para impedir qualquer medida de regulação que contrarie seus interesses, como no caso exemplar da sua oposição à regulamentação da profissão de jornalista. Os áulicos e acólitos dessa corte fazem-lhe coro.

O que trafega nessa grande mídia, no mais das vezes, são artigos de prepostos da privataria, cheios de clichês adornados de cientificismo para desqualificar, criminalizar e jogar a sociedade contra os movimentos sociais defensores dos direitos que lhes são usurpados, especialmente contra os sindicatos que, num contexto de relações de superexploração e intensificação do trabalho, lutam para resguardar minimamente os interesses dos trabalhadores.

Os artigos do senhor Gustavo Ioschpe costumam ser exemplos constrangedores dessa "vocação". Os argumentos que utiliza no artigo recentemente publicado impressionam, seja pela tamanha tacanhez e analfabetismo cívico e social, seja pelo descomunal cinismo diante de uma categoria com os maiores índices de doenças provenientes da superintensificação das condições precárias de trabalho às quais se submete.

Um dos argumentos fundamentais de Ioschpe é explicitado na seguinte afirmação:
Cada vez mais a pesquisa demonstra que aquilo que é bom para o aluno na verdade faz com que o professor tenha que trabalhar mais, passar mais dever de casa, mais testes, ocupar de forma mais criativa o tempo de sala de aula, aprofundar-se no assunto que leciona. E aquilo que é bom para o professor – aulas mais curtas, maior salário, mais férias, maior estabilidade no emprego para montar seu plano de aula e faltar ao trabalho quando for necessário – é irrelevante ou até maléfico aos alunos.
A partir desse raciocínio de lógica formal, feito às canhas, tira duas conclusões bizarras. A primeira refere-se à atribuição do poder dos sindicatos ao seu suposto conflito de interesses com "a sociedade representada por seus filhos/alunos": "É por haver esse potencial conflito de interesses entre a sociedade representada por seus filhos/alunos e os professores e funcionários da educação que o papel do sindicato vem ganhando importância e que os sindicatos são tão ativos (…)".

A segunda, linearmente vinculada à anterior, tenta estabelecer a existência de uma nefasta influência dos sindicatos sobre o desempenho dos alunos. Nesse caso, apoia-se em pesquisa do alemão Ludger Wossmann, fazendo um empobrecido recorte das suas conclusões, de modo a lhe permitir afirmar que "naquelas escolas em que os sindicatos têm forte impacto na determinação do currículo os alunos têm desempenho significativamente pior".

Os signatários deste breve texto analisam, há mais de dois anos, a agenda de trabalho de quarenta e duas entidades sindicais afiladas à Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE) e acompanham ou atuam como afiliados nas ações do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior – ANDES-SN. O que extraímos dessas agendas de ação dos sindicatos é, em tudo, contrário às delirantes e deletérias conclusões do articulista.

Em vez de citar pesquisas de segunda mão, para mostrar erudição e cientificidade em seu argumento, deveria apreender o que demanda uma análise efetivamente científica da realidade. Isso implicaria que de fato pesquisasse sobre a ação sindical docente e sobre os processos econômico-sociais e as políticas públicas com os quais se confronta e dialoga e, a partir dos quais, se constitui. Não imaginamos que um filho de banqueiros ignore que os bancos, os industriais, os latifundiários, a grande mídia têm suas federações ou organizações que fazem lobbies para ter as benesses do fundo público.

Um efetivo envolvimento com as pesquisas e com os processos sociais permitiria ao autor perceber onde se situam os verdadeiros antagonismos e "descobrir" que os sindicatos não se criaram puxando-se de um atoleiro pelos cabelos – à moda do Barão de Münchhausen –, autoinventando-se, muito menos confrontando-se com os alunos e seus pais.

As análises que não levam isso em conta, que se inventam puxando-se pelos cabelos a partir dos atoleiros dos próprios interesses, não conseguem apreender minimamente os sentidos dessa realidade e resultam na sequência constrangedora de banalidades e de afirmações levianas como as expostas por Ioschpe.

Uma das mais gritantes é relativa ao entendimento do autor sobre quem representa a sociedade no processo educativo. É forçoso lembrar ao douto analista que os professores, a direção da escola e os sindicatos também pertencem à sociedade e não são filhos de banqueiros nem se locupletam com vantagens provenientes dos donos do poder.

Ademais, valeria ao articulista inscrever-se num curso de história social, política e econômica para aprender uma elementar lição: o sindicato faz parte do que define a legalidade formal de uma sociedade capitalista, mas o ultraconservadorismo da revista na qual escreve e com a qual se identifica já não o reconhece, em tempos de vingança do capital contra os trabalhadores.

Cabe ressaltar que todos os trocadilhos e as afirmações enfáticas produzidos pelo articulista não conseguem encobrir os interesses privados que defende e que afetam destrutivamente o sentido e o direito da população à educação básica pública, universal, gratuita, laica e unitária.

Ao contrário do que afirma a respeito da influência dos sindicatos nos currículos, o que está mediocrizando a educação básica pública é a ingerência de institutos privados, bancos e financistas do agronegócio, que infestam os conteúdos escolares com cartilhas que empobrecem o processo de formação humana, impregnando-o com o discurso único do mercado – o da educação de empreendedores. E que, muitas vezes, com a anuência de grande parte das administrações públicas, retiram do professor a autoridade e a autonomia sobre o que ensinar e como ensinar dentro do projeto pedagógico que, por direito, eles constroem, coletivamente, a partir de sua realidade.

O que o Sr. Ioschpe não mostra, descaradamente, é que esses institutos privados não buscam a educação pública de qualidade e nem atender o interesse dos pais e alunos, mas lucrar com a venda de pacotes de ensino, de metodologias pasteurizadas e de assessorias.

Por fim, é de um cinismo e desfaçatez vergonhosa a caricatura que o articulista faz da luta docente por condições de trabalho e salário dignos. Caberia perguntar se o douto senhor estaria tranquilo com um salário-base de R$ 1.487,97, por quarenta horas semanais, para lecionar em até 10 turmas de cinquenta jovens. O desafio é: em vez de “peitar os sindicatos”, convide a sua turma para trabalhar 40 horas e acumular essa “fortuna” de salário básico. Ou, se preferir fazer um pouco mais, trabalhar em três turnos e em escolas diferentes. Provavelmente, esse piso para os docentes tem um valor bem menor que o que recebe o articulista para desqualificar e criminalizar, irresponsavelmente, uma instituição social que representa a maior parcela de trabalhadores no mundo.

Mas a preocupação do articulista e da revista que o acolhe pode ir aumentando, porque, quando o cinismo e a desfaçatez vão além da conta, ajudam aqueles que ainda não estão sindicalizados a entender que devem fazê-lo o mais rápido possível.

*

Gaudêncio Frigotto, Zacarias Gama e Eveline Algebaile são professores do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (PPFH/UERJ).

Vânia Cardoso da Mota é Professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Colaboradora do PPFH/UERJ.

Hélder Molina é educador, assessor sindical e doutorando do PPFH/UERJ.

Obama autoriza uso de aviões-robôs armados na Líbia (24abr2011)

Taí! Se o jornalismo brasileiro não informa, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos informa.

Ainda tem gente que acredita em guerra cirúrgica?

Quem tem dúvidas quanto à mortandade de líbios de todas as idades nesses ataques?

No sítio da Maria Frô está a matéria:

2003, o Retorno: Obama autoriza uso de aviões-robôs armados, na Líbia

Boa Páscoa a todos. É provável que muitos líbios que acordaram hoje não vivam mais até o final do dia, sacrificados em nome de interesses mesquinhos do capital internacional.

Esquema na rede para abafar bafometrogate (Aécio) (24abr2011)

Em postagem datada de 23 de abril de 2011, no sítio de Lucas Figueiredo, encontra-se um texto que vale a pena ser conhecido por quem conhece e por quem pensa que conhece o senador Aécio Neves.

Em um vídeo imperdível, Lucas Figueiredo mostra os acessos a uma postagem do Youtube a favor de Aécio Neves.

O vídeo pró-Aécio tem quase 50 mil acessos.

Analisando as estatísticas dos acessos vê-se coisas impressionantes.

Aécio tem fãs, e muitos, na Índia, em Serra Leoa, na Coreia do Sul etc. etc.

Outra coincidência é que os acessos concentram-se em duas datas.

Numa delas, mais de 40 mil acessos. Na outra, mais de 8 mil acessos.

A maioria dos acessos são no exterior, longe, longe daqui.

Vale a pena conferir como se pode manipular as referências na internet.

O título da postagem é Para abafar o bafometrogate, esquema de Aécio faz guerrilha no twitter.

A cara da mídia nativa (24abr2011)

Luiz Carlos Azenha colabora com a curiosidade dos leitores, reproduzindo na íntegra os dois textos em que os colunistas pontificam sobre Lula, o tosco (ver aqui, em Viomundo).

Sem dúvida, o aspecto mais chocante no episódio da blitz da Lei Seca, no Rio, que flagrou Aécio Neves dirigindo com habilitação vencida e metabolicamente impossibilitado de soprar o bafômetro, não foi o fato em si, mas o comportamento da mídia demotucana.

Os blindados da 'isenção' entraram em cena para filtrar o simbolismo do incidente, 'um episódio menor', na genuflexão de um desses animadores da Pág 2 da Folha.

Menor? Não, nos próprios termos dele e de outros comentaristas do diário em questão.

Recordemos.

Em 24 de novembro de 2004, Lula participou da cerimônia de inauguração de turbinas da Usina de Tucuruí, no Pará. No palanque, sentado, espremido entre convidados, o presidente comeu um bombom de cupuaçu, jogou o papel no chão.

Fotos da cena captada por Luiz Carlos Murauskas, da Folha, saturaram o jornalismo isento ao longo de dias e dias.

Ou melhor, anos e anos.

Sim, em 2007, por exemplo, dois colunistas do jornal recorreriam às fotos de Tucuruí para refrescar o anti-petismo flácido do eleitor que acabara de dar um novo mandato a Lula.

O papel do bombom foi arrolado por um deles como evidencia de que o país caminhava a passos resolutos para a barbárie: "Só falta o osso no nariz", arrematava Fernando Canzian (23-07-2007) do alto de sofisticada antropologia social.

Sem deixar por menos, Fernando Rodrigues pontificaria em 09-04-2007:
"...Respira-se em Brasília o ar da impunidade. Valores republicanos estão em falta. Há exemplos em profusão (...); em 2004, Lula recebeu um bombom. ... O doce foi desembrulhado e saboreado. O papel, amassado. Da mão do petista, caiu ao chão. Lula seguramente não viu nada de muito errado nesse ato. Deve considerá-lo assunto quase irrelevante. ...Não é. No Brasil é rara a punição - se é que existe - para pequenas infrações como jogar papel no chão. Delitos milionários também ficam nos escaninhos do Judiciário anos a fio (...) Aí está parte da gênese do inconformismo de alguns, até ingênuos, defensores de uma solução extrema como a pena de morte. Gente que talvez também jogue na calçada a embalagem do bombom de maneira irrefletida. São "milhões de Lulas", martelava o jingle do petista. São todos a cara do Brasil..."

Postagem de hoje no sítio Carta Maior.

O Globo esconde que o Brasil ampliou sua participação no total das exportações mundiais (24abr2011)

Jornal O Globo esconde de seus leitores que o Brasil ampliou sua participação no total das exportações mundiais. Pior, tenta induzir seu leitor de que ocorreu exatamente o contrário! Lamentável!!!

Há anos venho alertando meus amigos, familiares, alunos etc. para que ao lerem um texto ou uma notícia é importante sabermos QUEM ESTÁ FALANDO, DE ONDE ESTÁ FALANDO (esse ONDE quer dizer DE QUAL PARTE DO ESPECTRO POLÍTICO).

Minha geração foi formada pela leitura de livros e informada por jornais, revistas e rádios e, depois, televisões. Tudo o que se veiculava nesses meios tinha aparência e era aceito como verdadeiro. Até porque costumamos analisar os outros pelos nossos parâmetros pessoais.

No famoso tempo em que um fio de barba valia como garantia de sua palavra, ninguém acreditaria que alguém tivesse a pouca decência de publicar ou publicizar inverdades.

Os tempos mudaram. Foi um doloroso percurso para desconstruir essa percepção. Eu gostaria que os mais jovens fizessem esse percurso em menos tempo e com menos dor. Essa é a razão porque publico os textos que vão ilustrando o papel daninho de uma imprensa parcial, sem compromisso com a verdade, ou manipuladora da informação.

A blogosfera, a internet nos fornecem oportunidade de atravessar o front da grande mídia. Ali encontramos todas as informações e podemos comparar as diferentes formas como ela pode ser abordada, e principalmente ir aprendendo a discernir DE ONDE fala o nosso interlocutor, o autor dos textos, das notícias. Quais são os interesses que alimentam esses materiais divulgados.

Quem convive mais de perto comigo sabe que desde há muito não assisto nada da Globo. Não leio e nem assino Folha, Estadão, Isto É, Época e congêneres. Globonews e Veja, então, nem pensar.

Mas chega de preâmbulos. Vamos à postagem de hoje do Blog do Passarinho Pentelhão. É mais uma ilustração do modus operandi da grande mídia.


Matéria da página 33, editoria de economia, de hoje, dia 24/04/2011, do jornal O Globo, traz o seguinte título e subtítulo:
"China avança e América Latina perde espaço nas exportações de serviços"

"Estudo mostra que participação da região caiu, enquanto asiáticos cresceram"
Conclusão óbvia a partir da leitura de ambos, do título e do subtítulo, o Brasil está perdendo espaço no comércio mundial, afinal o Brasil faz parte da América Latina, não é mesmo??? E o jornal O Globo não faria a pilantragem jornalística de, tendo o Brasil obtido um resultado totalmente diferente do restante dos países da América Latina, não alertar, nem no título, nem no subtítulo, nem no corpo do texto, seus leitores! Ou faria???

Bem, na matéria tem um quadrinho que traz a participação de vários países no total das exportações mundiais. Vejamos os dados para os países da América Latina:
México ----- 0,62% (2000) para 0,45% (2009);

Argentina ----- 0,32% para 0,32%;

Chile ----- 0,27% para 0,25%;

Peru ----- 0,10% para 0,09%;

Uruguai -----0,08% para 0,05%;

Brasil ----- 0,62% para 0,81%!!!!!
Não há nome difente para isto: é pura pilantragem jornalística!!! Que se há de fazer, né? Azar de quem só lê O Globo.

Abraços, Passarinho Pentelhão.

sábado, 23 de abril de 2011

Super vulcão de Yellowstone é maior do que se pensava (23abr2011)

Super vulcão de Yellowstone é maior do que se pensava

Esta ilustração compara as duas visões - sísmica e elétrica - da câmera que alimenta o super vulcão de Yellowstone. A imagem da esquerda foi feita pela técnica geoelétrica, baseada nas variações de condutividade elétrica da rocha fundida e dos fluidos.[Imagem: University of Utah]

Geofísicos usaram uma nova técnica de imageamento para traçar um perfil da condutividade elétrica do super vulcão de Yellowstone.

O resultado sugere que câmara de rocha quente e parcialmente fundida, que um dia fará o super vulcão novamente entrar em erupção, é ainda maior do que parecia.

Super vulcão de Yellowstone

Segundo as observações geológicas disponíveis, o super vulcão de Yellowstone foi o causador das maiores explosões vulcânicas que a Terra já experimentou.

Ele teve três super erupções - capazes de cobrir metade da América do Norte com cinzas - nos últimos milhões de anos: há 2 milhões, 1,3 milhão e 642.000 anos atrás.

Esta estatística indica que a próxima grande erupção de Yellowstone pode ocorrer a qualquer momento. Erupções menores têm ocorrido nesses intervalos: a mais recente ocorreu há 70.000 anos.

Mapeamento sísmico

As imagens anteriores eram baseadas em ondas sísmicas, geradas por terremotos ou induzidas pelos pesquisadores por meio de explosões.

A última medição por ondas sísmicas foi feita em 2009. As ondas sísmicas viajam mais rapidamente através das rochas frias e mais lentamente através das rochas quentes.

As ondas sísmicas podem ser geradas naturalmente, por terremotos, ou artificialmente, por meio de explosões. Captando as ondas de um ponto distante de sua emissão, é possível traçar uma imagem tridimensional do subsolo, de maneira parecida com os raios X usados para fazer imagens do corpo humano.

Os resultados mostram uma câmara que mergulha em um ângulo bastante inclinado, de 60 graus, estendendo-se por 240 quilômetros e alcançando até 650 km de profundidade.

Mapeamento geoelétrico

No novo estudo, as imagens foram geradas medindo a condutividade elétrica da câmara, gerada pelas rochas silicatadas fundidas e pela salmoura fervente misturada com rochas parcialmente fundidas.

Na verdade, trata-se de uma forma inédita de observar o que ocorre nas profundezas de um vulcão, adormecido há milhares de anos.

O mapa mostra uma visão diferente, com uma câmara mergulhando a um ângulo mais suave, de 40 graus, e alcançando 640 quilômetros no sentido leste-oeste.

Esta técnica geoelétrica consegue enxergar somente até 160 km de profundidade, mas o baixo ângulo de inclinação mostra um quadro totalmente diferente, com uma câmara de magma muito maior.

Sem previsões

"É como comparar o ultra-som com a ressonância magnética no corpo humano, são diferentes tecnologias de geração de imagens", explica o professor Michael Zhdanov, da Universidade de Utah, nos Estados Unidos.

Os cientistas acreditam que a câmara cônica mostrada pelo imageamento sísmico parece estar envelopado em uma camada muito mais larga de rochas parcialmente fundidas e líquidos ferventes.

"É muito grande. Nós podemos inferir que há mais fluidos lá do que as imagens sísmicas mostram", disse Robert Smith, coordenador da pesquisa.

O novo estudo amplia o conhecimento sobre o que está por baixo do super vulcão, mas não diz nada sobre as chances e o tempo que levará para que a próxima erupção ocorra.

Postagem de 19 de abril de 2011 do sítio Inovação Tecnológica.

Universidade: cotas da igualdade (23abr2011)

Em minha experiência docente na universidade, percebi algumas coisas (ainda bem!). Sou professor numa área que se identifica mais com formação técnica, em que meus pares não tiveram (assim como eu não tive por muito tempo) qualquer formação para serem educadores. Apesar de ter feito mestrado em Educação, fico "cheio de dedos" para escrever sobre isso, pois na globosfera há muitos craques da área.

Mas já está chegando a hora de eu me manifestar, passando do limite a que me ative até agora de reproduzir postagens de outros blogs e sítios que considero importante que meus parcos e muito bem-vindos leitores conheçam.

Sou um fugitivo da grande mídia. Não acredito nela. Os interesses que estão por trás dela são contrários àqueles que entendo como de verdadeiro interesse público.

A universidade se utiliza de discurso e valores que são mais próximos aos do jovem proveniente das classes média e alta.

Há uma possibilidade de os professores enxergarem maior potencial naqueles alunos que mais se assemelham aos jovens que participam de sua vida pessoal, familiar ou de seu grupo de amizades. Seja pelo comportamento, pelo vestuário, e, mais fortemente, por usufruírem de bens culturais semelhantes (acesso a cinema, teatro, literatura, meios de informação...).

O aluno que provém do ensino básico público, que enfrentou diversas agruras para chegar à universidade, e que não dispõe de amplo acesso a esses mesmos bens culturais, podem se deparar com um abismo entre sua linguagem e aquela que se usa na universidade. Quando falo em linguagem não me refiro somente à fala, mas às mais diversas formas de sua manifestação.

Muitos caem nesse abismo. Acabam por abandonar os estudos, sentindo-se derrotados e incompetentes, na maioria dos casos. No entanto, o que pode ter acontecido é que a universidade não lançou as pontes para a travessia desse abismo, por não enxergar o potencial efetivo desse aluno lutador, excluindo-o por ser diferente dos jovens "educados" e "bem comportados" com os quais a maioria dos professores está habituada a lidar fora da universidade.

Aqueles que resistem a esse momento de desânimo inicial, a essa sensação de não pertencimento a esse meio etc., já conseguem um outro grande feito: além de entraram na univesidade, conseguem se inserir entre seus pares.

No geral, esses são alunos criativos, que compensam a falta de um cabedal cultural prévio, trabalham por conhecer, entender e, a melhor de suas características, dão conta de resolver problemas novos que lhes surgem com mais desenvoltura do que os "mais bem formados". A escola pública, com suas peculiaridades que todos conhecemos, acaba fazendo com que ele tenha que lutar por tudo, criando alternativas que lhe permitam a sobrevivência intelectual. São alunos que se entregam de corpo e alma aos trabalhos próprios de bolsas de iniciação científica, quando as conseguem. Eles valorizam cada dia vivido no ambiente universitário. Tendem a ser mais cooperativos do que competitivos.

Sei que há algumas generalizações no que afirmo, mas quando estou escrevendo, neste exato momento, tenho uma boa quantidade de estudantes em mente cujas trajetórias confirmam esse meu ponto de vista. Eles são profissionais respeitados não só por sua capacidade profissional, mas também pelo modo como lidam com seus estagiários e suas equipes de trabalho.

É certo que outros profissionais com trajetórias diferentes, que tiveram uma base cultural familiar mais ampla também chegam lá.

Por fim, entendo que a convivência entre esses alunos de diferentes procedências - regionais, culturais, educacionais etc. - seja parte fundamental da formação universitária, no desenvolvimento da tolerância e da boa convivência. Do desenvolvimento da compreensão de que cada um contribui com o coletivo com aquilo que traz de sua vida pretérita, aportando para o ambiente universitário uma legítima representatividade dos diferentes segmentos da sociedade.

O valor da diversidade é inestimável. Precisamos estar atentos a ela para não banirmos da universidade quem é diferente. Isso sem falar em raciscmo, homofobia etc. etc., assuntos que necessariamente fazem parte desse raciocínio se tomado em termos mais amplos.

Já para o estudante pobre e negro, aquele abismo inicial de que falei anteriormente, quando do ingresso na universidade, se amplia brutalmente, porque o racismo muitas vezes está imerso em nossas linguagens. Maquiado, mas presente. A sociedade "branca" - em sua maioria mestiça, a bem da verdade - designa ao negro papéis sociais menores. Esse imaginário é poderosa e oprime o jovem negro que não quer aceitar, e não deve aceitar, ser empurrado a ocupar esses espaços que a sociedade destina a eles.
Se o adolescente branco tem como desafio vencer a pobreza para passar no vestibular, o adolescente negro, além da pobreza, precisará vencer o preconceito. Precisará ir além da expectativa social que lhe atribuiu um lugar na sociedade que ele não quer ocupar. E isso, muitas vezes, é bem mais difícil do que simplesmente aprender a matéria que cai na prova. (Túlio Vianna)
Essas reflexões emergiram a partir da leitura de um artigo de Túlio Vianna disponível no sítio da Revista Fórum em que o autor discute a questão das cotas nas universidades.

Leilão da água em Cuiabá (23abr2011)

Abaixo reproduzo uma postagem de 19 de abril de 2011 do blog Guerrilheiros virtu@is, sobre a privatização da água em Cuiabá. É impressionante como o poder público pode sequer pensar em se desfazer de um bem coletivo, essencial à vida, estratégico para a sobrevivência das gerações futuras, passando-o para a iniciativa privada para que a mesma lucre explorando um dos recursos naturais mais disputados no mundo, a água potável.

E ainda usando o velho truque neoliberal do tucanato entreguista: sucatear para "vender". Na verdade, doar a sabe-se lá quem e sabe-se lá com quais interesses envolvidos. Temos que ficar atentos. Daqui a pouco não poderemos sequer coletar a água da chuva, quando toda a água for propriedade, por concessão, a empresas possivelmente com vínculos estrangeiros.


Hoje, a Câmara de Cuiabá pegou fogo, ou melhor, a água pôs fogo nos ânimos dos alinhados ao alcaide que apenas dizem sim e aqueles que se rebelam e mesmo sendo a minoria, fazem ecoar a voz da razão.

Fico me perguntando com a maioria na Câmara de que tem medo o alcaide?

Será que quer deixar a empresa mais sucateada e desmoralizada para com isso fazer um tipo camuflado deságio para vender?

Pode ser.

O que o alcaide não contava é com o espírito de luta na defesa do patrimônio público de tantas entidades, de políticos que começam a emprestar seu nome e prestígio.

Acho que alguns já se tocaram que o dinheiro dessa venda será para implementar o carro-chefe da reeleição do vice-prefeito no exercício da função.

Além disso, livra-se da responsabilidade pelo sucateamento e pela má gestão da empresa pública.

Hoje, aqueles mais servilistas deram aulas de geografia.

Alguns conhecem cidades e podem falar com autoridade.

Muito citada a cidade de Campinas, que na verdade não é apenas ela, mas toda uma região metropolitana e – pasmem – podem dizer com segurança que tudo o que lá acontece é bom e que o povo está feliz.

Sugiro aqueles que servem ao alcaide que demonstrem através de uma Comissão Parlamentar de Inquérito como está a situação da empresa, quem são os maiores devedores, quem são os maiores credores da SANECAP e de que forma essa dívida foi contraída.

Dizer que a empresa pública não é viável, então porque tem empresa interessada em adquirir?

Seria muito mais fácil o alcaide dizer que não tem nenhum nome daqueles que integram seu staff capaz de gerir a SANECAP.

É claro que ele não irá admitir isso, pois se assim o fizer daqui a pouco será uma ilha, tal a qualidade e o desempenho de seus assessores.

Assim, quer fazer a grande liquidação do patrimônio público, embora seja cruel, a SANECAP será para as intenções privatistas um teste.

Se for permitida, depois dela será, aos poucos, mutilado o patrimônio.

Há pessoas do staff do alcaide pensando em privatizar a merenda escolar.

Pode?

Esse espetáculo ionesco, o hilário é perceber que absurdamente a comédia que nos faz rir, é a nossa própria história.

Como afirmamos, queremos pontuar o nome dos vereadores que terão a cara de pau em vender o patrimônio do povo.

É absurdo pensar que pessoas com reputação agora são servis aos interesses do alcaide, já não pensam, nem falam, sem antes o consultar.

Hilda Suzana Veiga Settineri

sexta-feira, 22 de abril de 2011

As pedras vão falar (22abr2011)

Do blog Allonsanfan, As pedras vão falar:

"Corte Interamericana e a Lei da Anistia"

Liberdade x tutela na web (22abr2011)

A regra básica do conservadorismo é que toda liberdade é perigosa

Em linhas gerais, segue abaixo o texto em que me baseei para o debate Proteção Jurídica na Blogosfera, no I Encontro Estadual de Blogueiros Progressistas de São Paulo, que aconteceu de 15 a 17 de abril, na Assembleia Legislativa.


Ser blogueiro, e ainda mais, progressista, não é tarefa fácil para um juiz de direito.

Depois de muito tempo encastelados no que se acostumou chamar metaforicamente de “torres de marfim”, os juízes não são reconhecidos em seu papel de cidadãos.

Somos tragados por um duplo preconceito, daqueles que se imaginam apenas "autoridades" e de quem tem dificuldade em nos enxergar como cidadãos comuns, com direito a expressar ideias e defender causas. É o que somos, todavia.

Da minha parte, fico feliz por não sê-lo sozinho, mas acompanhado dos colegas da Associação Juízes para a Democracia, que neste maio próximo, comemora seus vinte anos de existência.

Nesse período, não sem embates, debates e muitos preconceitos, a AJD vem tensionando o exercício da cidadania do juiz, ao mesmo tempo em que faz profissão de fé na independência judicial, na construção de uma democracia também material, que represente a emancipação dos menos favorecidos.

Tal como blogueiros progressistas, que reconhecem e contestam a excessiva concentração da mídia no país - e os riscos do pensamento hegemônico que isso traduz -, também estabelecemos o contraponto a um Judiciário tradicionalista, habitualmente conservador e elitista, abrindo espaços diante do costumeiro corporativismo da magistratura.

Penso que vimos contribuindo para o debate da independência do juiz, inclusive dentro do próprio poder, e para a noção de que exercitamos fundamentalmente um serviço público. A ideia de controle social do poder (porque o serviço ao público deve ser por ele controlado) mantem laços com nossos objetivos estatutários.

Participar, portanto, de um evento que procura discutir e defender a democratização dos meios de comunicação, em prol de um pluralismo indispensável à própria democracia, juntamente com representantes de outras entidades da sociedade civil, faz todo o sentido.

É certo que o debate sobre a democratização dos meios de comunicação está adentrando na agenda política do país, depois de muitos anos interditado, inclusive como forma de abordar a excessiva concentração dos empreendimentos de mídia, que se repetem nos mais variados segmentos.

Penso que este é o debate que, inclusive, dá consistência ao movimento crítico dos blogueiros.

Ainda assim, não me parece exageradamente alvissareira a expectativa de que novos empreendimentos de comunicação, televisões, rádios, jornais ou revistas possam despontar em futuro próximo, diante das conhecidas dificuldades financeiras.

É por este motivo que o espectro libertário da web parece ser, hoje em dia, o mais promissor instrumento para romper a concentração, na direção a um pluralismo sustentável.

Outros meios alternativos não tiveram as mesmas oportunidades nem foram favorecidos pelas circunstâncias.

Rádios-livres caminharam na linha da desobediência civil e recebem como resposta até hoje forte repressão.

TVs comunitárias se adequaram a espaços autorizados, acomodados em nichos não-competitivos das transmissões a cabo – afinal, a abertura dos canais pagos em nada diminuiu a concentração na mídia, mantendo-a na mão de seus principais proprietários.

Na internet, no entanto, existe a possibilidade concreta de uma atuação que ao mesmo tempo não é transgressora e tampouco submissa, encastelada em pequeno esquadro.

Trata-se, ainda, de uma alternativa de baixo custo e que consegue ademais agregar todas as demais formas de comunicação, como imagens de televisão, sons de um rádio e palavras de jornais e revistas.

Com a web, cada blogueiro ou membro de uma rede social é em si mesmo um potencial meio de comunicação em massa – e não raro, mensagens de uma nota só se espalham de forma viral até emergirem na grande imprensa como sucessos.

Vivemos, portanto, um momento especial. Nunca antes na história do país, ou melhor do planeta, tantos puderam romper uma estrutura quase cartelizada com tão pouco.

Mas sejamos sinceros: quem imaginaria que essa liberdade seria exercida sem nenhuma tentativa de controle? Quem suporia que este espaço e essa liberdade seriam conquistadas sem sofrimento?

Poder não se fratura sem dor, o que resulta na formatação de inúmeros instrumentos para exercer o controle dessa liberdade recém adquirida.

Diria que o controle se exerce, fundamentalmente, em três camadas.

Primeiro, a disputa pela infraestrutura. Pouco mais de 40% dos brasileiros têm acesso à Internet. Não será apenas pela ação das empresas privadas que se superará o atraso da banda-larga inclusiva. Sem apoio do poder público, a parcela mais carente da população, incapaz de gerar lucros de suficiente motivação, continuará afastada da rede e de sua utilização cotidiana.

Isso sem contar as seguidas ameaças de construção de um sistema de dupla-via no trânsito mundial de dados, capaz de distinguir de um lado grandes transações financeiras e macro-provedores rodando em autoestradas e de outro pequenos blogueiros em estreitas vicinais.

Não por outro motivo, a declaração cibernética dos direitos humanos, que se formata em torno da ONU, aponta em sua regra oitava: "Todos os indivíduos devem ter acesso universal e aberto ao conteúdo da Internet, livre de priorização discriminatória, de filtragem ou controle de tráfego por motivos comerciais, políticos ou outros".

A segunda camada do controle se exerce pela deslegitimação do espaço. Não é incomum que órgãos de imprensa reputem a comunicação pela web como não confiável.

Leviana, pois qualquer um pode nela escrever, sem controle de qualidade ou conteúdo; promíscua, porque se misturam atores de níveis e origens diversos e em grande parte desconhecidos; perigosa, diante do anonimato e da frequência constante de jovens pouco informados sobre os riscos a que se submetem.

A impressão em papel de uma opinião por um jornal ou uma revista semanal não a torna mais “confiável” do que a expressa em blogs – se mais não fosse porque os próprios meios de comunicação tradicional também tomaram seus lugares na web.

A informação pela Internet é mais abundante e seus atores muitas vezes sem prestígio ou reputação de grande mídia, mas a habilidade de filtrar partidarismos ou vulgaridades (que se impõe dentro da web) não pode deixar de ser necessária também fora dela.

E em relação aos perigos, poucos podem contestar que crimes acontecem em muito maior intensidade fora da rede do que dentro dela – ainda que se abram, por meio internet, algumas funestas oportunidades.

Quanto mais cedo e quanto maior for a familiaridade das pessoas com a rede, a partir da escola, maior será a facilidade para reconhecer e superar os riscos. Só o conhecimento e a experiência proporcionam amadurecimento.

Por fim, a terceira camada do controle é justamente a compressão dos direitos, a consequência mais direta da contenção da liberdade: o estabelecimento de limites, regras e punições. Algumas delas expressas, outras apenas implícitas.

Demissões trabalhistas por tweets postados já estão se tornando regras. Uma enorme dificuldade de conviver com o duplo papel de trabalhadores e cidadãos – dificuldade dos patrões, sobretudo. Processos judiciais contra blogueiros, reestabelecendo, de certa forma, mecanismos de censura (inclusive por parte da própria imprensa) já despontam no horizonte. O crescimento da regulamentação pela justiça eleitoral tende a impor maior controle à atividade política na web – na eleição que passou, o TSE admitiu pela primeira vez o direito de resposta no twitter para a divulgação de mensagem aos seguidores do ofensor.

E, sobretudo, discute-se a criação de uma teia punitiva, como o projeto Azeredo, impondo a tutela penal e o vigilantismo, antes mesmo da criação de uma estrutura civil, o chamado marco regulatório. Punições que precedem a delimitação dos próprios direitos que se supõem violados.

Trata-se aqui de compreender como funcionam dois dos pilares históricos do conservadorismo.

Toda a liberdade é perigosa e precisa de controle.

O direito penal é um eficaz instrumento de tutela da propriedade privada.

Assim se criam as sociedades de controle e de excessiva punição.

Uma rápida visualizada em nosso Código Penal permite conhecer a supervalorização da tutela da propriedade privada.

Um furto de rádio de carro é tão grave quanto a violenta agressão que deixa seqüelas permanentes na vítima. Uma ameaça de roubo com um dedo debaixo da camisa é mais severamente punida que a corrupção em uma grande licitação. E até o sequestro é um crime leve, quando se limita à privação da liberdade - só se torna imensamente grave se envolver pedido de resgate.

Não estranha que uma lei que discipline atividades na Internet basicamente se restrinja a estabelecer crimes, fundada na necessidade de proteger, sobretudo, a segurança bancária e direitos dos criadores das tecnologias. Mais cedo ou mais tarde estaremos reproduzindo a discussão de patentes que hoje se trava no campo dos medicamentos.

Mesmo quando se trata de direitos de autor, a lei penal também é profundamente desequilibrada. Sou escritor e se alguém plagia um livro meu devo contratar um advogado para ajuizar ação penal privada; mas para processar camelôs que vendem DVD’s piratas, as grandes empresas cinematógraficas daqui ou de fora têm o aparato do Estado à sua disposição.

A primeira recomendação para lidar com esses instrumentos de controle que se formam é compreender que Internet não é "second life".

O que fazemos e o que dissemos na web é passível de responsabilização, seja na violação do direito autoral, nos crimes contra a honra ou na propagação de preconceitos.

Embora muitos possam entender que criam um 'avatar' para seus posts ou tweets, é bom saber que a tecnologia que nos permite viajar aparentemente ocultos é a mesma que será usada para descortinar rastros e inutilizar esse anonimato pretendido.

Em resumo, aos blogueiros: a mesma responsabilidade que assumimos fora, também assumimos quando estamos na rede.

É certo, também, que estaremos em breve assistindo a uma maior incidência de censura na web.

A judicialização destes conflitos está fazendo com que juízes repristinem a censura prévia, vedada por disposição expressa na Constituição. Isso é feito por meio transverso da defesa da marca, da honra, da privacidade ou da reputação.

Pode-se questionar esse tipo de decisão, por representar uma mutilação da liberdade de expressão, cujo controle deveria se limitar a ser a posteriori.

Mas é fato que até o momento o próprio STF que chegou a fulminar a Lei de Imprensa, tratando-a como um entulho autoritário, não foi capaz de assumir a proibição da censura prévia - tangenciou a questão quando ela foi levada a plenário (caso Estadão).

Mas é importante entender, todavia, que ser contra a censura prévia não significa reconhecer a liberdade de expressão como um direito absoluto.

Não vivemos a Constituição de um artigo só.

A liberdade de expressão é direito fundamental, mas a dignidade da pessoa humana, uma das premissas da República.

O abuso na expressão, dentro ou fora da rede, é passível de punição, sendo de se destacar, em especial, a propagação de preconceito e o racismo, eis que a intolerância parece ver na web uma de suas principais estradas.

Liberdade não é álibi para a supressão de direitos humanos, mas justamente sua parceira.

A questão que se coloca, então, é: como reagir aos mecanismos de controle que, dependendo da medida, podem cercear a liberdade e esvaziar a livre navegação?

A primeira sugestão que lhes dou é exatamente o que se faz nesse evento: criação de uma cultura da inclusão, liberdade de expressão e proteção de direitos humanos.

Para isso, a multiplicação de debates como esses não são apenas importantes, mas imprescindíveis.

A segunda sugestão é pragmática. Ao mesmo tempo que blogueiros isolados podem romper bloqueios e se transformar em um autêntico meio de comunicação de massa, de outro lado, não passam de um indivíduo enfrentando interesses que podem atingir grandes corporações.

A criação de uma rede que para auxílio mútuo, seja como cooperativa ou como associação, com assistência técnica, jurídica e de empreendimento, tende a reduzir riscos e danos para todos.

Por fim, a melhor e mais definitiva forma de reagir ao controle é passar ao controle.

Ganhar a audiência, proporcionando um modelo que na prática substitua a concentração pela pulverização.

Essa revolução pode até ser menos sangrenta do que outras que já vimos, e certamente será, mas nem por isso menos árdua.

Creio que o principal caminho é manter as qualidades que nos diferenciam dos veículos tradicionais da mídia: agilidade, independência e solidariedade.

Temos, como principal vantagem, a ausência de concorrência. Televisões competem umas com as outras; o mesmo acontece com rádios, jornais e revistas.

Blogueiro não compete com blogueiro.

Blogueiro depende de blogueiro.

Nenhum blog vive sozinho na web. Ninguém chega a um blog sem passar por outro (ou por um perfil de rede social). O fato de que isolados somos pequenos se compensa com uma possibilidade veloz e ilimitada de disseminação.

O compartilhamento é a arma que nos sustenta e nos mantém firmes na rede.

Porque nossos blogs são acessados de outros, devemos abri-los para que outros sejam acessados pelos nossos e divulgar, sem receio de concorrência, outros blogs e perfis, pois o que buscamos é justamente a afirmação do pluralismo.

Só a disseminação é que faz os blogueiros fortes.

O mais interessante desta revolução é que os meios que empregaremos por ela são justamente aqueles que queremos ver implantados: inclusão e solidariedade.

E por isso que é tão bom fazê-la.


Artigo do Juiz Marcelo Semer publicado em postagem de 18 de abril de 2011 em seu blog Sem juízo, por Marcelo Semer.

Fraude e falsificação, receita dos bancos nos EUA (22abr2011)

Postagem de 10 de abril de 2011 do Blog do Argemiro Ferreira.

Os gigantes da ganância

Já se teme até um novo choque imobiliário. Nos diferentes estados dos EUA, cada vez mais famílias norte-americanos enfrentam o risco de retomada de suas casas pelos bancos (entre eles, os gigantes Bank of America, Citibank, HSBC, Wells Fargo, Deutsche Bank, US Bank) por falta de pagamento de hipotecas. No domingo passado o jornalista Scott Pelley (foto abaixo, à direita) expôs no "60 Minutes" da rede CBS a questão crucial que passou a retardar a onda de retomadas em massa de casas.


Para comprá-las as pessoas tinham sido obrigadas pelos bancos a apresentar papelada rigorosamente em dia. Os bancos, no entanto, não cuidaram de sua própria papelada.

Por causa do descuido são agora dezenas de milhares os casos de bancos e financeiras incapazes de localizar os documentos que provem estarem legalmente habilatados a retomar imóveis dos inadimplentes.

Ficou difícil saber quem é de fato dono de cada casa. A culpa pelo pesadelo, segundo Pelley, é a invenção em Wall Street, ainda sob a fúria desregulamentadora, dos investimentos garantidos por hipotecas – ou, na língua deles, mortgage-backed securities. Os mesmos "investimentos exóticos" que desencadearam o colapso financeiro nos EUA e continuam a criar problemas.

Também ouvida domingo passado, no final de "60 Minutes", a própria presidente da reguladora bancária FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation), Sheila Bair, foi enfática. Chamou a situação atual de "pervasive" – expressão que qualifica a influência nociva e perversa disseminada largamente pelos bancos.

Já atolados na lambança de fraudes e ilegalidade, os bancos ainda tropeçaram nos detalhes escabrosos devassados na reportagem da CBS. As revelações devem-se a personagem singular, Lynn E. Szymoniak. Enquanto tentava salvar a própria casa, ela fez descobertas. Wall Street usava computadores modernos para produzir a desastrosa securitização garantida por hipotecas, segundo Szymoniac, mas esqueceu de preservar documentos em papel, talvez temendo que retardassem o ritmo frenético de seus lucros.


Ao levar Szymoniac (foto acima) ao tribunal como inadimplente, o banco credor dela teve de alegar perda dos papéis. Mais de um ano depois, misteriosamente, disse tê-los reencontrado. Não sabia que a moça, além de advogada, era investigadora de fraudes e especialista em documentos forjados (até treinara agentes do FBI). No exame dos papéis afinal apresentados pelo banco, Szymoniak achou primeiro uma discrepância de data: a compra da hipoteca pelo banco (17/10/2008) era posterior ao início do processo de retomada pelo banco (julho de 2008). Ou seja, quando o banco começou a ação de retomada não era dono da hipoteca.

Parecia sem sentido mas o que veio depois foi ainda mais estranho. Numa pesquisa online em 10 mil hipotecas, Szymoniak passou a devassar a orgia de fraudes bancárias. Havia milhares de documentos forjados. Grande número deles levava a assinatura de uma certa Linda Green como vice-presidente do banco. Green, que nunca na vida trabalhara em banco, assinava ao mesmo tempo como vice-presidente de 20 bancos.

Para Szymoniak as fraudes só podiam ser intencionais: na prática, ao encurtar caminhos e empacotar hipotecas em securities, Wall Street recorria a atalhos. Securities eram negociados e passavam de mão em mão, de investidor a investidor. E com a inadimplência de compradores, os bancos precisavam, para retomar os imóveis, exibir documentos que provassem a propriedade. "Mostre a prova de que é dono" passou a ser a resposta automática ao ataque dos bancos.

A dificuldade tornou-se então impossibilidade. Incapazes de provar a condição de donos das hipotecas, o que passaram a fazer bancos e financeiras? Optaram pela fraude múltipla e explícita. Um conjunto de procedimentos ilegais destinados a "fabricar" provas foi criado em seguida para, com elas, fundamentar-se a retomada de casas.

A pesquisa de Szymoniak aprofundou-se num caso específico – o da singular Linda Green (foto ao lado), que assinava como vice-presidente sem saber coisa alguma de banco. Localizada pela equipe da CBS, ela reconheceu: assinara milhares daqueles papéis. Admitiu ainda que muitas outras pessoas também contratadas assinavam o nome dela. E que qualidades especiais tinha para ter sido escolhida? Morava na Georgia e tinha um nome curto, fácil e rápido para soletrar e escrever.

O empregador dela era a companhia DOCX, da Georgia, subsidiária da LPS, de US$2 bilhões, especializada em prestar serviços jurídicos a bancos provedores de hipoteca. Somente em 2009, devido à enxurrada de processos, a LPS resolveria fechar a DOCX, na esperança de assim por fim ao problema. Mas o estrago estava feito. Os bancos acharam ter se livrado do problema, transferindo-o para pessoas singelas e ingênuas como Green, sem consciência do que fizera a serviço deles.

A investigação de Szymoniak comprovou ainda que mais pessoas também assinavam, mesmo com letras bem diferentes, o nome de Green. A CBS chegou a elas. Muitas eram, na época em que tiveram o emprego, meras estudantes de escola secundária. Recebiam para passar horas no escritório forjando a assinatura “Linda Green”.

O jovem Cris Pendly (foto ao lado) era uma dessas pessoas. Ele explicou à equipe da CBS como fazia: não tinha experiência bancária, só o que se exigia dele era velocidade para assinar o nome de Green o máximo de vezes possível. "Eles me garantiram antes que aquilo era estritamente legal", disse. "Só teria de pegar a caneta e começar". Em torno da mesma mesa dele trabalhavam ao todo 20 pessoas, todas dedicadas a igual tarefa da falsificação. Pendly chegava a fazer cinco mil assinaturas num mês.

Havia ainda notários, para atestar a identidade das pessoas e a autoria das assinaturas. Uma das que tinham o papel de notário explicou à CBS: "Antes eu não sabia, hoje sei. Era falso o que eu atestava como verdadeiro". Mas os documentos resultantes da fraude foram usados. Com base neles tomavam-se imóveis com pagamentos em atraso.

"Foi prática rotineira nos últimos três anos", contou na TV um especialista familiarizado com os procedimentos. Inundaram-se tribunais com papéis fraudados a serviço dos bancos. Algumas vezes sequer constava o nome de quem perdera a casa. Para o banco, mera irrelevância. Mas nos textos, hoje motivo de chacotas, faziam-se piadas de mau gosto, substituiam-se nomes por zombarias, etc.

Penldey revelou, envergonhado, que sua remuneração não passava de US$10 por hora de trabalho. Bem humorado e minucioso no relato franco da ação fraudulenta, contou ainda como certa vez fizera comentário jocoso com os colegas da mesa: "Temo que um dia acabemos todos numa reportagem do '60 Minutes'".

Milhares de famílias que perderam as casas devido a tais fraudes não acham graça. Elas se organizam hoje em associações espalhadas pelos EUA. Nos dias atuais, toda pessoa que se torna alvo de foreclosure (retomada judicial) exige imediatamente do banco que mostre prova de propriedade. Com isso, muitas famílias ainda permanecem em suas casas.

Para a presidente da FDIC, Shirley Bair (foto ao lado), a enxurrada de ações judiciais dos compradores contra os bancos pode tornar o processo muito difícil, ao invés de melhorar a situação. E o presidente do FED, Ben Bernanke, acha que os documentos das hipotecas são tão ameaçadores para a economia americana que o governo devia forçar os bancos a pagar com um fundo especial.

O mercado de imóveis continua desestabilizado e os preços cairam nos últimos cinco meses. Sheila Bair também defende um fundo de alguns bilhões de dólares para fazer a "limpeza". Na proposta dela o fundo pagaria aos compradores para aceitarem a alegação de propriedade dos bancos, desistindo de novas ações judiciais. Seria menos oneroso para os bancos do que tentar recriar documentos legítimos, o que levaria mais tempo, a um custo muito maior.

Nenhum dos grandes bancos envolvidos nas fraudes concorda em falar sobre a questão. Nem a entidade deles, American Bankers Association. Para o jornalista Scott Pelley, eles estão na defensiva. Todos os Procuradores Gerais dos 50 estados planejam puní-los. Querem exigir deles US$ 50 bilhões pelos danos que causaram.

Não se sabe quantas firmas faziam para os bancos o mesmo trabalho sujo da DOCX. O FBI e vários estados investigam e esperam obter respostas. No último ano houve um milhão de retomadas de casas. Espera-se mais um milhão em 2011. E na Justiça tramitam incontáveis ações na tentativa de reverter os efeitos dos mortgage-backed securities que Wall Street manipulou e fraudou na década de 2000. "Estou muito preocupada, temendo que as coisas fiquem fora de controle, devido ao impacto trazido por esses fatos", disse Bair.