O autor da foto é Fernando Gabeira, repórter do Estadão.
Deve ser duro ilustrar a capa de uma gôndola de perfumaria inútil do Estadão, depois de ser chefe do departamento de pesquisa do Jornal do Brasil (quando era, de longe, o melhor jornal do Brasil) e sequestrar o embaixador americano.
A foto do Gabeira deveria ser comprada pelo jornal nacional.
Faz parte da mesma ideologia que descreveu a tragédia do Rio – “previsível”, disse a Globo, enquanto o tsunami do Japão foi “imprevisível” - como uma prova da incúria do Estado: municipal (a Tasso é municipal), estadual e, claro, federal.
A Globo sempre tenta pendurar alguma coisa no pescoço da Dilma e/ou do Lula.
Onde já se viu não ter detetor de metais?, perguntavam os “âncoras matinais” da Globo.
Foi preciso que um especialista da própria Globo considerasse aquilo uma sandice desvairada.
A foto do Gabeira, essa versão Cartier-Bresson no Estadão, tem a mesma leitura subliminar: dramatizar para espinafrar; chocar para desmoralizar.
(Cartier-Bresson fazia fotos em preto e branco, numa Leica, e não admitia que a foto fosse cortada na revelação. Saía pronta da máquina.)
Ou seja, desmoralizar o Estado, o investimento público.
Este ansioso blogueiro tem o péssimo hábito de ser repórter.
Ele testemunhou o fracasso retumbante na ocupação do Alemão.
Viu que a política Cabral-Beltrame era, de fato o desastre anunciado pelo PiG (*) e seus dominicais colonistas (**), quando foi conhecer a tenente Priscila, na UPP que fica no alto do morro Dona Marta.
Um horror!
(O candidato a prefeito Fernando Gabeira defendia a política do Soweto para as favelas do Rio – “Quem está fora não entra, quem está dentro não sai”. Um jenio!)
Este ansioso blogueiro foi à Escola Tasso da Silveira, em Realengo.
Ela tem câmera.
(Quem poderia ter filmado a ação interna, com atirador, as crianças a correr, e o tiro no abdômen do suicida, desfechado pelo Sargento Alves. A Globo?)
A escola tem interfone.
A escola tem grade que separa a porta da rua da parte interna do colégio, onde ficam as crianças.
A escola tem porteiro durante todo o período de funcionamento.
Por que o atirador entrou com tanta facilidade?
Como ex-aluno, uma semana antes ele foi pedir o histórico escolar.
Voltou para recebê-lo.
E disse que queria falar com a professora Dorotéia, a decana da escola: está lá desde a fundação há quarenta anos.
De fato, subiu à sala de leitura, falou rapidamente com a professora, que estava numa outra tarefa.
Pediu que ele esperasse um pouco.
Levantou-se para concluir o trabalho.
Ele se levantou, foi para o corredor e começou a matança.
Este ansioso blogueiro entrevistou professora da Tasso.
Está na escola há 13 anos.
Conhece muitos pais e mães de alunos pelo nome.
Diz que as reuniões de pais e mestres são respeitadas pelas famílias.
Que a disciplina é rigida
Este ano, no primeiro dia de aula, repreendeu um aluno indisciplinado e mandou chamar a mãe do menino.
No dia seguinte, ela estava lá, para enquadrar o filho, na frente da professora.
Nunca houve ali um caso de violência ou de consumo de droga.
A escola fica numa posição elevada no ranking das escolas municipais do Rio.
Tem alunos cegos e surdos.
Eles recebem aulas especiais e regulares.
Ela, por exemplo, tem uma excelente aluna cega.
(É esse sistema de integração de aulas especiais com aulas regulares que o Ministro Haddad vai instalar no Instituto dos Surdos, no Rio, apesar da feroz resistência do Globo)
A escola Tasso da Silveira é exatamente o que o PiG (*) diz que NÃO são as escolas públicas.
O PiG descreve a escola pública – como a saúde pública – como um desastre irrecuperável.
Logo, para que dar dinheiro ao Estado, se o Estado não dá nada em troca?
E melhor deixar a grana na mão do livre empreendedor, na mão do Di Gênio, que saberá educar nossas crianças melhor que a professora Dorotéia.
É assim que funcionam os neoliberais.
Com a ajuda de um certo repórter do Estadão.
Quem nasceu para Gabeira não vai ser o Cartier-Bresson, nunca.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.
Do site Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, em postagem de 10 de abril de 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário