domingo, 10 de abril de 2011

A escola de Realengo é espetacular! Os neoliberais não acertam uma (10abr2011)

Na primeira página de caderno de supostos artigos de “alto nível” (“Aliás, a semana em revista”), aparece uma foto do tipo “choca-e-faz-chorar”: gotas de sangue que escorrem e estancam na parede da escola Tasso da Silveira, em Realengo.

O autor da foto é Fernando Gabeira, repórter do Estadão.

Deve ser duro ilustrar a capa de uma gôndola de perfumaria inútil do Estadão, depois de ser chefe do departamento de pesquisa do Jornal do Brasil (quando era, de longe, o melhor jornal do Brasil) e sequestrar o embaixador americano.

A foto do Gabeira deveria ser comprada pelo jornal nacional.

Faz parte da mesma ideologia que descreveu a tragédia do Rio – “previsível”, disse a Globo, enquanto o tsunami do Japão foi “imprevisível” - como uma prova da incúria do Estado: municipal (a Tasso é municipal), estadual e, claro, federal.

A Globo sempre tenta pendurar alguma coisa no pescoço da Dilma e/ou do Lula.

Onde já se viu não ter detetor de metais?, perguntavam os “âncoras matinais” da Globo.

Foi preciso que um especialista da própria Globo considerasse aquilo uma sandice desvairada.

A foto do Gabeira, essa versão Cartier-Bresson no Estadão, tem a mesma leitura subliminar: dramatizar para espinafrar; chocar para desmoralizar.

(Cartier-Bresson fazia fotos em preto e branco, numa Leica, e não admitia que a foto fosse cortada na revelação. Saía pronta da máquina.)

Ou seja, desmoralizar o Estado, o investimento público.

Este ansioso blogueiro tem o péssimo hábito de ser repórter.

Ele testemunhou o fracasso retumbante na ocupação do Alemão.

Viu que a política Cabral-Beltrame era, de fato o desastre anunciado pelo PiG (*) e seus dominicais colonistas (**), quando foi conhecer a tenente Priscila, na UPP que fica no alto do morro Dona Marta.

Um horror!

(O candidato a prefeito Fernando Gabeira defendia a política do Soweto para as favelas do Rio – “Quem está fora não entra, quem está dentro não sai”. Um jenio!)

Este ansioso blogueiro foi à Escola Tasso da Silveira, em Realengo.

Ela tem câmera.

(Quem poderia ter filmado a ação interna, com atirador, as crianças a correr, e o tiro no abdômen do suicida, desfechado pelo Sargento Alves. A Globo?)

A escola tem interfone.

A escola tem grade que separa a porta da rua da parte interna do colégio, onde ficam as crianças.

A escola tem porteiro durante todo o período de funcionamento.

Por que o atirador entrou com tanta facilidade?

Como ex-aluno, uma semana antes ele foi pedir o histórico escolar.

Voltou para recebê-lo.

E disse que queria falar com a professora Dorotéia, a decana da escola: está lá desde a fundação há quarenta anos.

De fato, subiu à sala de leitura, falou rapidamente com a professora, que estava numa outra tarefa.

Pediu que ele esperasse um pouco.

Levantou-se para concluir o trabalho.

Ele se levantou, foi para o corredor e começou a matança.

Este ansioso blogueiro entrevistou professora da Tasso.

Está na escola há 13 anos.

Conhece muitos pais e mães de alunos pelo nome.

Diz que as reuniões de pais e mestres são respeitadas pelas famílias.

Que a disciplina é rigida

Este ano, no primeiro dia de aula, repreendeu um aluno indisciplinado e mandou chamar a mãe do menino.

No dia seguinte, ela estava lá, para enquadrar o filho, na frente da professora.

Nunca houve ali um caso de violência ou de consumo de droga.

A escola fica numa posição elevada no ranking das escolas municipais do Rio.

Tem alunos cegos e surdos.

Eles recebem aulas especiais e regulares.

Ela, por exemplo, tem uma excelente aluna cega.

(É esse sistema de integração de aulas especiais com aulas regulares que o Ministro Haddad vai instalar no Instituto dos Surdos, no Rio, apesar da feroz resistência do Globo)

A escola Tasso da Silveira é exatamente o que o PiG (*) diz que NÃO são as escolas públicas.

O PiG descreve a escola pública – como a saúde pública – como um desastre irrecuperável.

Logo, para que dar dinheiro ao Estado, se o Estado não dá nada em troca?

E melhor deixar a grana na mão do livre empreendedor, na mão do Di Gênio, que saberá educar nossas crianças melhor que a professora Dorotéia.

É assim que funcionam os neoliberais.

Com a ajuda de um certo repórter do Estadão.

Quem nasceu para Gabeira não vai ser o Cartier-Bresson, nunca.

Paulo Henrique Amorim

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.

(**) Não tem nada a ver com cólon. São os colonistas do PiG que combateram na milícia para derrubar o presidente Lula e, depois, a presidenta Dilma. E assim se comportarão sempre que um presidente no Brasil, no mundo e na Galáxia tiver origem no trabalho e, não, no capital. O Mino Carta costuma dizer que o Brasil é o único lugar do mundo em que jornalista chama patrão de colega. É esse pessoal aí.

Do site Conversa Afiada, de Paulo Henrique Amorim, em postagem de 10 de abril de 2011.

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