Os próximos dias serão de intensa difusão de vapor ortodoxo. Turbinada pela caldeira midiática, a pressão buscará acionar a manivela de mais uma alta nas taxas de juros. O Copom reúne-se na quarta-feira, dia 20.
Para legitimar um novo giro na rosca do juro mais alto do mundo mobilizam-se energias equivalentes às de um terceiro turno eleitoral. E, justiça seja feita, o dispositivo midiático, seu jogral de consultores e ventríloquos dos mercados, bem como seus aliados dentro do governo, sabem como manipular as expectativas econômicas para criar um clima de 'terrorismo inflacionário' praticamente colocando o Estado brasileiro nas cordas.
O governo e as forças progressistas balbuciam contra-argumentos. Nem de longe com a disciplina e sobretudo, a coesão em torno de uma mesma agenda como acontece no campo rentista. Há um ponto a partir do qual as expectativas dirigem o processo econômico. Ainda que as premissas sejam falsas - como falsas são as afirmações alarmistas de que o país cresce de forma descontrolada e muito acima do pleno emprego de sua capacidade produtiva - elas se impõem pela disseminação do medo.
As expectativas acabam servindo de gatilho para disparar aumentos generalizados, configurando-se um caso típico de profecia auto-realizável. A lição é muito clara: o contrafogo à guerra das expectativas - que será intensa contra este governo que não dispõe de um líder de massa à frente, como foi Lula - não pode limitar-se ao arsenal acadêmico e analítico.
Por mais corretas e serenas que sejam as ponderações que afrontam o rentismo engajado, seu poder de irradiação nasce limitado pelo filtro da mídia conservadora e pela ausência de uma liderança popular contrastante.
Falta um personagem nessa debate: a voz dos movimentos sociais, dos sindicatos e partidos - inclusive e sobretudo a CUT e o PT - que pretendem representar aquele que mais diretamente sofrerá os efeitos do arrocho ortodoxo: o povo brasileiro.
A ver.
Postagem de 17 de abril de 2011 no sítio Carta Maior.
Nenhum comentário:
Postar um comentário