Significativo artigo de John Perkins, que aparece traduzido em postagem no sítio Carta Maior, datada de 6 de maio de 2011. O autor argumenta também na linha de post anterior neste blog (clique aqui para ler).
O presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, disse na semana passada que espera que a instituição tenha um papel na reconstrução da Líbia quando o país emergir do atual conflito. Em um painel de discussão, Zoellick lembrou o papel do banco na reconstrução de França, Japão e outras nações depois da Segunda Guerra Mundial.
“Reconstrução agora significa (Costa do Marfim), significa o sul do Sudão, Libéria, Sri Lanka e espero que signifique Líbia”, disse Zoellick. Sobre a Costa do Marfim Zoellick disse esperar que dentro de "algumas semanas" o banco possa apresentar "algumas centenas de milhares de dólares em apoio de emergência".
Ouvimos um porta-voz dos EUA tentar explicar por que estamos, de repente, enfiados em um novo conflito no Oriente Médio. Muitos de nós estamos questionando as justificativas oficiais. Estamos conscientes de que as verdadeiras causas de nosso envolvimento raramente são discutidas na mídia pelo nosso governo.
Enquanto muitas racionalizações descrevem recursos, especialmente petróleo, com os motivos de estarmos no país, há um número crescente de vozes dissidentes. A maior parte gira em torno da relação financeira entre a Líbia e o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, o Banco das Compensações Internacionais e corporações multinacionais.
De acordo com o FMI, o Banco Central da Líbia é 100% de propriedade estatal. O FMI estima que o banco tenha cerca de 144 toneladas de ouro em seus cofres. É significativo que, nos meses que precederam a resolução da ONU que permitiu que os EUA e seus aliados enviassem tropas para a Líbia, Muammar Kaddafi estivesse abertamente defendendo a criação de uma nova moeda para rivalizar com o dólar e o euro. Na verdade, ele convidou as nações muçulmanas e africanas para se juntar a uma aliança que faria desta nova moeda, o dinar de ouro, a sua principal forma de dinheiro e câmbio. Eles iriam vender petróleo e outros recursos para os EUA e para o resto do mundo apenas por dinares de ouro.
Os EUA, os outros países do G-8, o Banco Mundial, o FMI, o BIS e as corporações multinacionais não olham com bons olhos para líderes que ameaçam o seu domínio sobre os mercados de moeda mundial, ou que parecem estar se afastando do sistema bancário internacional que favoreça a corporatocracia. Saddam Hussein havia defendido políticas semelhantes às expressas por Kaddafi pouco antes os EUA enviaram tropas para o Iraque.
Em minhas palestras, muitas vezes eu acho necessário lembrar ao público de um ponto que parece óbvio para mim, mas é mal compreendido por muitos: que o Banco Mundial não é realmente um banco mundial, é antes um banco dos EUA. E o seu irmão mais próximo, o FMI. Na verdade, se olharmos para as comissões executivas do Banco Mundial e do FMI e os votos que cada membro do conselho tem, vê-se que os Estados Unidos controlam cerca de 16 por cento dos votos no Banco Mundial, e cerca de 17% do FMI, além de deter poder de veto sobre todas as decisões importantes.
Mais ainda, o presidente dos Estados Unidos aponta o presidente do Banco Mundial.
Assim, podemos nos perguntar: O que acontece quando um país ameaça colocar de joelhos o sistema bancário que beneficia o corporatocracia? O que acontece com um "império", quando efetivamente já não pode ser abertamente imperialista?
Uma definição de "Império" (segundo meu livro The Secret History of the American Empire) afirma que império é uma nação que domina outros povos, impondo a sua própria moeda nas terras sob seu controle. O império mantém uma força militar permanente pronta a proteger a moeda e todo o sistema econômico que depende dele através da violência extrema, se necessário. Os antigos romanos faziam isso. Assim fizeram os espanhóis e os ingleses durante seus dias de construção de império. Agora, os EUA ou, mais precisamente, a corporatocracia, está fazendo e está determinada a punir qualquer pessoa que tentar detê-los. Kadafi é apenas o exemplo mais recente.
Entender a guerra contra o Kaddafi como uma guerra em defesa do império é mais um passo no sentido de nos ajudar a nos perguntarmos se queremos continuar neste caminho de construção de império. Ou se, ao invés disso, queremos honrar os princípios democráticos que nos foram ensinados serem parte dos alicerces do nosso país?
A história ensina que impérios não duram, eles entram em colapso ou são derrubados. Guerras seguem e outro império preenche o vazio. O passado envia uma mensagem convincente. Temos que mudar. Não podemos nos dar ao luxo de assistir a história se repetindo.
Não podemos permitir que este império entre em colapso para ser substituído por outro. Em vez disso, vamos todos nos comprometer com a criação de uma nova consciência. Deixe os movimentos populares no Oriente Médio - alimentados através de redes sociais e promovidos pelos jovens que herdarão o futuro - nos inspirar a demandar que o nosso país, nossas instituições financeiras e as empresas que dependem de nós para comprar seus produtos e serviços se comprometam a criar um mundo sustentável, justo, pacífico e próspero para todos.
Estamos em uma fronteira. É hora de cruzarmos essa fronteira, e sair do vazio escuro da brutal exploração e ganância para a luz da compaixão e cooperação.
John Perkins é economista, escritor e ativista norte-americano. Autor de Confissões de um assassino econômico. Seu mais recente livro é Enganados (Cultrix).
Tradução: Wilson Sobrinho
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