Frevo (Vinícius de Moraes / Antonio Carlos Jobim)
Chico Buarque
Repressão une movimentos sociais neste sábado em defesa do direito constitucional de manifestação
Por Aline Scarso
De São Paulo
A marcha nacional da liberdade ocorre neste sábado (18) em pelo menos 35 cidades brasileiras com um objetivo em comum: impedir que a repressão às manifestações políticas se torne cada vez mais constante no Brasil. O estopim da manifestação nacional foi a repressão aos participantes da Marcha da Maconha 2011, em São Paulo (SP), no dia 21. Nesse dia, a Tropa de Choque da Polícia Militar agrediu os manifestantes com gás de pimenta, cassetete e bombas de gás lacrimogênio para por fim à manifestação pela regulamentação da erva. O saldo foi de nove detidos e vários feridos, além de dois tenentes afastados.
Em todo o país, o ataque das Policias tem se tornado comum para calar as ações que incomodam os governos e empresas, como aconteceu em janeiro deste ano com os trabalhadores da hidrelétrica de Jirau em Rondônia e com os movimentos pela redução da passagem de ônibus em São Paulo e no Espírito Santo. A repressão ao movimento estudantil também vem crescendo desde a Ocupação da Reitoria da USP, em 2007. O direito à liberdade e à livre manifestação de pensamento, entretanto, são garantidos pelo artigo 5º da Constituição Federal, sendo classificado como uma garantia fundamental.
Renato Cinco, um dos organizadores da marcha da liberdade do Rio de Janeiro, diz que a manifestação deve agregar principalmente o movimento gay e o movimento cultural da cidade. “Tem havido uma política de criminalização aos movimentos sociais, então é natural que essa reação aconteça. Acho que os movimentos sociais, com a política de não confrontar o governo Lula nos últimos anos, acabaram ficando letárgicos. Espero que essa letargia esteja passando”, afirma. Ainda não se sabe se a luta dos bombeiros por melhores condições de trabalho e de salário se fará repercutir no ato. Porém, para Renato, está claro que a sociedade está reagindo à repressão.
Em Natal, a marcha coincide com os atos pelo impeachment da prefeita Micarla de Sousa (PV) e de seu vice, Paulinho Freire (PP), acusados de abandono e precarização da cidade. Manifestantes estão acampados na Câmara de Vereadores desde o último dia 7, exigindo fiscalização das ações da Prefeitura no cuidado ao lixo, às praias e aos serviços públicos. “Aqui em Natal, vivemos uma situação de sucateamento. Esperamos que a marcha agregue os movimentos de contestação que já estão na luta pelo impeachment, além de partidos, organização de mulheres e participantes de outras marchas como a marcha das vadias e da maconha”, espera Isabela Dentes, uma das organizadoras da marcha da maconha e também da marcha da liberdade.
Já em Curitiba, onde a marcha da maconha de 21 de junho foi proibida por determinação do juiz Pedro Sanson Corat, a pedido do deputado estadual evangélico, Leonardo Paranhos, a expectativa é reunir diferentes grupos políticos. Segundo César Fernandes, um dos organizadores da marcha em Curitiba, além de exigir pautas locais, os manifestantes irão cobrar o fim da repressão aos movimentos sociais. “Perseguições, violência policial e prisões arbitrárias acontecem no Brasil inteiro há muitos anos. Dessa forma, muitas cidades estão compondo a marcha da liberdade, o que só demonstra que nossas reivindicações são nacionais”.
Segundo ele, a marcha na capital paranaense está sendo organizada por grupos de artistas independentes, partidos políticos, feministas e grupos de LGBT, anti-racistas, ambientalistas, do movimento estudantil e de comunicação. “De forma geral, podemos observar o protagonismo da juventude tanto na organização da marcha quanto nos movimentos que a compõe”, destaca.
Já São Paulo abriga pela segunda vez a marcha da liberdade. A primeira ocorreu no último dia 28, sob impedimento judicial depois da repressão à marcha da maconha no dia 21 de junho. “Esse movimento ganhou muita visão porque as liberdades no Brasil inteiro estão sendo cerceadas de forma descaradas. Os movimentos estão sempre apanhando dos governos dos estados, quando querem se manifestar”, afirma Gabriela Moncau, uma das organizadoras da marcha São Paulo.
João Ricardo, que também participa da organização da marcha na capital, explica porque se aproximou do movimento: “No Brasil a gente não está vivendo uma grave crise econômica, mas queremos ir para as ruas para mostrar descontentamento com o sistema. No meu caso, foi sobretudo a repressão policial da marcha da maconha, mas tem pessoas que se aproximaram por causa da criminalização da homofobia e do aumento da passagem. Além disso, a inspiração do movimento Democracia Real Já da Espanha é muito forte”, conta.
Na opinião do organizador da manifestação em São Paulo, André Takahashi, a marcha da liberdade tem sido uma espécie de guarda-chuva amplo das mais diversas lutas que querem se fortalecer se unindo a outras. “Estamos vivendo um momento em que as pessoas estão indignadas e querem ir para a rua, mas não sabem direito como. A marcha da Liberdade está servindo para esses indivíduos começarem de algum jeito”. Segundo Takahashi, duas das principais redes que organizam a marcha em São Paulo, os integrantes da marcha da maconha e do Circuito Fora do Eixo, tem extensões nacionais, o que facilita a amplitude do movimento.
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