Não estou entendendo muito bem essa onda de privatizações na política hoje, no Brasil. Todo mundo vê que alguns países na Europa (Grécia, Portugal, Espanha, Itália e outros) estão sendo extorquidos pelos bancos. Criou-se uma dívida privada que faz com que os governos, mesmo os dito de esquerda, corram para "salvar o sistema financeiro".
Salvar o sistema financeiro, no caso, é retirar dos cidadãos direitos e serviços públicos de bem-estar social. Tudo virou mercadoria, e, como tal, tudo passa a ser gerido por empresários e banqueiros. Saúde, educação, segurança, saneamento e outros quetais vão caindo em mãos privadas, para gerar lucros.
Da parte do governo, além de abrir mão de oferecer esses serviços essenciais, vem a redução das pensões e aposentadorias, aumento da idade mínima para aposentadoria, aumento do tempo de contribuição para a previdência... Ou seja, vão-se os anéis e vão junto os dedos.
Quando acreditamos que a América Latina está numa situação de melhoria política, buscando a redução das diferenças sociais e de renda, aparece com força (ou reaparece) a ideia de privatizar. Não é estranho que governos do PSDB (como o de Wilson Santos, em Cuiabá) caminhem nesse viés. Afinal, a privataria deslavada neste país se deu no governo FHC (que Deus o tenha - no inferno-, quando o levar).
Em nível federal, agora o tema é privatizar os filés do sistema aeroportuário brasileiro (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba etc.), deixando os deficitários para o Estado. Os superavitários ficam nas mãos privadas. Quem paga por isso? Nós, os patetas que não somos empresários e assistimos a tudo calados.
Em Cuiabá, numa sucessão bizarra de substituições na prefeitura, um prefeito em exercício sanciona a lei de privatização da empresa de saneamento SANECAP. Os vereadores, quase todos, tolinhos, votaram a lei pensando no bem público, alegando que a prefeitura não tem condições de fazer frente às despesas com o saneamento da capital.
Ao mesmo tempo, fala-se em passar a administração dos hospitais e pronto-socorros públicos para empresas privadas, sob a mesma alegação.
Oras, se aqueles que foram eleitos para administrar alegam que não conseguem fazê-lo, entendo que deveriam pedir seu chapeu e sair, declarando-se incapazes de realizar a tarefa para a qual foram eleitos. Simples.
Em Várzea Grande foi inaugurado o recém-reformado pronto-socorro municipal, até com a presença do Sr. Ministro da Saúde. A prefeitura vai pagar quase R$ 40,000,000,00 para uma empresa privada gerir esse posto de atendimento de saúde. Porquê? Porque a prefeitura não tem condições de equipar e manter o pronto-socorro.
Tem alguma coisa muito errada em tudo isso. As escolas públicas deixadas ao léu. A saúde em posse de desinteressados empresários, a água tornando-se propriedade privada.
Como uma coisa funcionará bem (dizem) e dará lucro para uns com dinheiro público se esse dinheiro é insuficiente para manter essa mesma coisa sem buscar lucros. A conta não fecha. Ou o serviço não existirá, ou não terá a menor qualidade, ou... ou...
Os exemplos no mundo são gritantes. Na Bolívia, há alguns anos, deu-se a privatização do sistema de saneamento em uma de suas grandes cidades. Uma empresa estrangeira tornou-se "dona da água". Os habitantes foram proibidos de sequer colher a água da chuva em reservatórios em casa, e caso o fizessem seriam (e foram) pesadamente multados. Por outro lado, os legisladores municipais aprovaram lei que permitia à empresa de saneamento levar a leilão os bens dos consumidores inadimplentes, incluindo as suas casas. As tarifas de água foram reajustadas a níveis impagáveis pela maioria da população pobre da cidade.
Resultado: o povo, após muitas casas terem sido tomadas pela empresa de saneamento, tomou as ruas enfurecido, invadindo prefeitura, palácio do governo estadual (era uma capital de província), delegacias e outros órgãos governamentais. Com isso, rapidamente os políticos abandonaram a cidade e o poder foi tomado pelos revoltosos. A polícia foi insuficiente para conter toda uma massa enfurecida que assustou as elites. A privatização foi desfeita, o governo da província foi deposto. Foi assim que começou, na Bolívia, toda uma série de manifestações que levaram, ao fim e ao cabo, à eleição de um índio boliviano para a presidência da república. O povo boliviano permanece mobilizado, cobrando de Evo Morales o cumprimento de seus compromissos com a boa governança.
Assim, repito: se nossos políticos declaram ser incapazes de administrar a coisa pública, primeiramente não deveriam ter se candidatado a cargo público. Mas como o fizeram e foram eleitos, deveriam ter vergonha na cara renunciar aos cargos que inadequadamente ocupam. O povo agradeceria!
Senão, fica paracendo que todo mundo quer uma boquinha junto à política para "se fazer na vida", e não para realmente buscar melhores condições de vida para aqueles a quem representam.
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