quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Políticos privatistas: se não sabem administrar, renunciem aos seus cargos! (4ago2011)

Não estou entendendo muito bem essa onda de privatizações na política hoje, no Brasil. Todo mundo vê que alguns países na Europa (Grécia, Portugal, Espanha, Itália e outros) estão sendo extorquidos pelos bancos. Criou-se uma dívida privada que faz com que os governos, mesmo os dito de esquerda, corram para "salvar o sistema financeiro".

Salvar o sistema financeiro, no caso, é retirar dos cidadãos direitos e serviços públicos de bem-estar social. Tudo virou mercadoria, e, como tal, tudo passa a ser gerido por empresários e banqueiros. Saúde, educação, segurança, saneamento e outros quetais vão caindo em mãos privadas, para gerar lucros.

Da parte do governo, além de abrir mão de oferecer esses serviços essenciais, vem a redução das pensões e aposentadorias, aumento da idade mínima para aposentadoria, aumento do tempo de contribuição para a previdência... Ou seja, vão-se os anéis e vão junto os dedos.

Quando acreditamos que a América Latina está numa situação de melhoria política, buscando a redução das diferenças sociais e de renda, aparece com força (ou reaparece) a ideia de privatizar. Não é estranho que governos do PSDB (como o de Wilson Santos, em Cuiabá) caminhem nesse viés. Afinal, a privataria deslavada neste país se deu no governo FHC (que Deus o tenha - no inferno-, quando o levar).

Em nível federal, agora o tema é privatizar os filés do sistema aeroportuário brasileiro (São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba etc.), deixando os deficitários para o Estado. Os superavitários ficam nas mãos privadas. Quem paga por isso? Nós, os patetas que não somos empresários e assistimos a tudo calados.

Em Cuiabá, numa sucessão bizarra de substituições na prefeitura, um prefeito em exercício sanciona a lei de privatização da empresa de saneamento SANECAP. Os vereadores, quase todos, tolinhos, votaram a lei pensando no bem público, alegando que a prefeitura não tem condições de fazer frente às despesas com o saneamento da capital.

Ao mesmo tempo, fala-se em passar a administração dos hospitais e pronto-socorros públicos para empresas privadas, sob a mesma alegação.

Oras, se aqueles que foram eleitos para administrar alegam que não conseguem fazê-lo, entendo que deveriam pedir seu chapeu e sair, declarando-se incapazes de realizar a tarefa para a qual foram eleitos. Simples.

Em Várzea Grande foi inaugurado o recém-reformado pronto-socorro municipal, até com a presença do Sr. Ministro da Saúde. A prefeitura vai pagar quase R$ 40,000,000,00 para uma empresa privada gerir esse posto de atendimento de saúde. Porquê? Porque a prefeitura não tem condições de equipar e manter o pronto-socorro.

Tem alguma coisa muito errada em tudo isso. As escolas públicas deixadas ao léu. A saúde em posse de desinteressados empresários, a água tornando-se propriedade privada.

Como uma coisa funcionará bem (dizem) e dará lucro para uns com dinheiro público se esse dinheiro é insuficiente para manter essa mesma coisa sem buscar lucros. A conta não fecha. Ou o serviço não existirá, ou não terá a menor qualidade, ou... ou...

Os exemplos no mundo são gritantes. Na Bolívia, há alguns anos, deu-se a privatização do sistema de saneamento em uma de suas grandes cidades. Uma empresa estrangeira tornou-se "dona da água". Os habitantes foram proibidos de sequer colher a água da chuva em reservatórios em casa, e caso o fizessem seriam (e foram) pesadamente multados. Por outro lado, os legisladores municipais aprovaram lei que permitia à empresa de saneamento levar a leilão os bens dos consumidores inadimplentes, incluindo as suas casas. As tarifas de água foram reajustadas a níveis impagáveis pela maioria da população pobre da cidade.

Resultado: o povo, após muitas casas terem sido tomadas pela empresa de saneamento, tomou as ruas enfurecido, invadindo prefeitura, palácio do governo estadual (era uma capital de província), delegacias e outros órgãos governamentais. Com isso, rapidamente os políticos abandonaram a cidade e o poder foi tomado pelos revoltosos. A polícia foi insuficiente para conter toda uma massa enfurecida que assustou as elites. A privatização foi desfeita, o governo da província foi deposto. Foi assim que começou, na Bolívia, toda uma série de manifestações que levaram, ao fim e ao cabo, à eleição de um índio boliviano para a presidência da república. O povo boliviano permanece mobilizado, cobrando de Evo Morales o cumprimento de seus compromissos com a boa governança.

Assim, repito: se nossos políticos declaram ser incapazes de administrar a coisa pública, primeiramente não deveriam ter se candidatado a cargo público. Mas como o fizeram e foram eleitos, deveriam ter vergonha na cara renunciar aos cargos que inadequadamente ocupam. O povo agradeceria!

Senão, fica paracendo que todo mundo quer uma boquinha junto à política para "se fazer na vida", e não para realmente buscar melhores condições de vida para aqueles a quem representam.

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