Após três meses, Piñera se rende às reivindicações dos estudantes
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, admitiu pela primeira vez negociar em torno dos pontos elencados por estudantes e professores mobilizados há três meses em prol de melhorias na educação. No sábado, Piñera recebeu o movimento no Palácio de La Moneda, e foi obrigado a ouvir alguns esclarecimentos.
Foto: Rodrigo Adonis. Presidência do Chile
A primeira rodada de conversas não foi exatamente agradável para Piñera:
os protestos seguem e só se aceita negociar as bases de uma educação pública.
os protestos seguem e só se aceita negociar as bases de uma educação pública.
Os líderes do movimento, o maior desde a redemocratização do país, há duas décadas, informaram que estão apenas abrindo a rodada de conversas, e terão de ouvir as respectivas bases antes de tomar qualquer decisão. Acrescentaram que seguem mobilizados, realizando massivas marchas, enquanto não se chegue a um consenso.
“A reunião está no marco de uma primeira instância de diálogo na qual se deixaram claras as posturas dos distintos atores, ainda que estejamos conscientes de que faltam muitos outros”, afirmou Camila Vallejo, representante da Universidade do Chile, que acrescentou que as propostas serão submetidas a aprovação do movimento tão logo as apresente o presidente, o que deve ocorrer na manhã de segunda-feira (5). “O importante é que aqui existe vontade de avanço, que se apresentaram suficientemente claras as posições e são nossos companheiros os que têm de tomar uma decisão.”
A mesa de diálogo representa uma mudança fundamental na postura que Piñera manteve ao longo dos últimos três meses. Após o início dos protestos, o presidente apresentou um pacote de mudanças que somavam US$ 4 bilhões em incentivos que basicamente manifestavam a crença no sistema atual, centro da discórdia para os estudantes. Atualmente, a educação no Chile, do ensino básico ao médio, é dividida entre pública e privada subsidiada, o que criou um sistema no qual empresários lucram às custas do Estado. No ensino superior, a situação é mais complicada, já que todas as instituições, públicas ou privadas, cobram mensalidades dos estudantes, o que deu origem a um sistema de crédito que endivida os jovens.
Piñera, em meio a uma crise de popularidade, chegou a trocar oito de seus ministros, e lançou um novo pacote de incentivos à educação, passando a taxar de intransigentes os estudantes mobilizados. Além disso, acusava-os de se negar ao diálogo e de trabalhar contra o desenvolvimento do país. “Nós nunca condicionamos o diálogo às marchas e mobilizações. Ratificamos que vamos seguir mobilizados até que não tenhamos respostas concretas a respeito de nossa pauta de reivindicações, que é algo que ressaltamos desde o início destas mobilizações”, explicou Rodrigo Rivera, porta-voz dos estudantes secundários, ao comandante de La Moneda.
O presidente do Colégio de Professores, principal entidade docente do país, adiantou a Piñera que na segunda-feira os movimentos por educação na América Latina lhe entregarão documentos de protesto nas respectivas embaixadas e consulados. Jaime Gajardo destacou ainda que a opção dos manifestantes é pela educação pública, e somente sobre esta base de ideias poderá haver avanço na negociação. “O que se fez nesta mesa de diálogo é reafirmar que há temas centrais que seguem pendentes, sobre os que se terá de seguir discutindo, como a questão do fim do lucro, da desmunicipalização, de terminar com o financiamento compartilhado”.
Fonte: Rede Brasil Atual
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