A presidência da Liga Árabe procura esconder os relatórios dos seus especialistas
Fonte: Rede Voltaire | 1 de Fevereiro de 2012
Desde o início dos eventos que pairam sobre a Síria duas interpretações que se têm opostas uma a outra: para o Ocidente e seus aliados do Golfo, o regime esmagou de forma sangrenta a revolução popular, enquanto que para a Síria e seus aliados do BRICS, o país é atacado por grupos armados vindos do exterior.
Para lançar luz sobre esses eventos, a Liga Árabe criou uma Missão de Observação composta de pessoas designadas por cada Estado-Membro (excepto Líbano, que se recusou a participar). Esta diversidade de especialistas constitui uma garantia contra a possível manipulação do resultado, seu número (mais 160) e a duração da sua missão (um mês) daria um quadro muito mais amplo daquele que estava disponível anteriormente. Até o momento, nenhuma outra parte pode reivindicar ter realizado um levantamento tão abrangente e meticuloso e, portanto, não pode pretender conhecer melhor a situação na Síria.
A Comissão Ministerial da Liga Árabe, responsável pela monitorização do Plano árabe e composto por cinco membros da Liga dos 22 (Argélia, Egipto, Oman, Qatar, Sudão) ratificou o relatório da missão de observadores por 4 votos contra 1 (o de Qatar) e decidiu prorrogar a missão por mais um mês.
O problema é que o relatório confirmou a versão do governo sírio e demoliu a do Ocidente e das monarquias do Golfo. Em particular, ele demonstra que não houve repressão letal contra manifestantes pacíficos e que todos os compromissos assumidos por Damasco têm sido escrupulosamente respeitados. Ele também valida o fato importante de que o país está nas garras de grupos armados, que são responsáveis pela morte de centenas de civis sírios e milhares entre os militares, bem como de centenas de actos de terrorismo e sabotagem.
Por esta razão, o Qatar agora pretende impedir a divulgação do relatório por qualquer meio. Na verdade, é uma verdadeira bomba que pode explodir nas suas mãos e contra o seu dispositivo de comunicação.
Qatar detém actualmente a Presidência da Liga, não porque chegou a sua vez, mas porque comprou o direito á Autoridade Palestina que teria sido o próximo na linha.
A presidência da Liga decidiu não divulgar o relatório da Missão de Observação, nem traduzi-lo, e nem mesmo colocar a versão original em árabe no seu site internet.
O risco contra o emirado Wahabita é enorme. Se por acaso o público ocidental tiver acesso ao relatório, será ao Qatar e aos seus proxies que se pedirão explicações em termos de deficiências democráticas e envolvimento no massacre de populações civis.
Tradução por David Lopes
Nota do Mestre Aquiles: Diferentemente do que se viu no caso do Egito, onde se via claramente a presença da população na Praça Tahir, tanto na Líbia quanto na Síria o que se vê na mídia são vídeos com imagens difusas, gravações feitas com celulares e eventuais aglomerados de pessoas que não sabemos exatamente por que estão se manifestando. Aquelas imagens podem significar qualquer coisa que a mídia queira que signifiquem, principalmente para o não falantes e analfabetos da língua utilizada nos panfletos mostrados. O que se viu na Líbia foram grupos pequenos montados em caminhonetes, com armamentos pesados e atirando para o alto. Não se viu o povo cercando ou se concentrando em torno da sede do governo. O mesmo não se vê na Síria. As imagens são fechadas, com pouca gente mostrada de perto para preencher a tela da tv, para dar impressão de multidão. Não é absurdo pensar que as mortes de civis estejam sendo efetuadas por grupos de mercenários contratados pelas potências que têm interesse em tomar o país (tal como ocorreu na Líbia). Há diversos depoimentos sérios de jornalistas que viram isso acontecer na Líbia. Assim como há relatos de jornalistas que conheceram uma Líbia completamente diferente daquilo que nos foi passado pela grande mídia. Quando uma população está de fato contra seu governo, as imagens disso não deixam dúvidas quanto a essa intenção. Lembro que hoje é a Síria, mas amanhã poderão ser os países da América Latina.
Nenhum comentário:
Postar um comentário