A partir da coluna de Vladimir Safatle na Folha este fim de semana - aliás um texto muito bom, apesar de bastante brando, para se conhecer um pouco sobre a ocupação israelense -, recebi uma notícia que considero bastante grave: o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo mantém um convênio com a Universidade Ariel, intitulada oficialmente “Centro Universitário Ariel da Samária”. Trata-se de uma instituição de colonos israelenses situada na Cisjordânia, terra que, segundo a legislação internacional, pertence ao povo palestino, e que está ocupada ilegalmente pelo exército israelense, por quase 500.000 colonos e centenas de checkpoints. Que eu saiba, é uma situação de convênio inédita no sistema universitário brasileiro.
Para que se tenha uma ideia da gravidade do assunto, é preciso fazer uma distinção importante, entre universidades situadas dentro do território de Israel e instituições que estão em território roubado dos palestinos, na Cisjordânia. Há um movimento internacional, que ganha cada vez mais força, intitulado Boicote, Desinvestimento e Sanções, que advoga pelo boicote a toda e qualquer instituição israelense - a partir do mesmo princípio utilizado no bem-sucedido boicote ao regime de Apartheid da África do Sul. É um movimento que conta com meu apoio, mas que também tem lá os seus críticos, que não concordam com a ideia de penalizar instituições como, digamos, a Universidade de Tel Aviv por causa das políticas criminosas do estado de Israel. Discuta-se isso em outro momento, embora eu queira deixar registrada minha discordância com a caracterização, bem ligeira, que faz Safatle da política do BDS como “equivocada”. Mas, enfim, isso se pode discutir.
Coisa bem distinta é a colaboração com universidades de colonos, instituições por definição criminosas. Elas estão construídas em terras roubadas dos palestinos - são terras que, segundo a legislação internacional, não pertencem a Israel. Neste caso, não há ambiguidade ou qualquer tipo de polêmica possível: colaborar com elas é colaborar com a criminalidade internacional. É espantoso e escandaloso que a mais prestigiosa universidade brasileira esteja metida nisso.
Segundo o site do ICMC, o convênio com o Centro Universitário Ariel da “Samária” - nome bíblico que as Nações Unidas não reconhecem como designação de lugar nenhum - iniciou-se em 30 de junho de 2010 e termina em 03 de dezembro de 2013. Este blog ignora até que ponto o convênio foi debatido com a comunidade do Instituto, qual o grau de ciência da reitoria e qual a repercussão que o acordo teve dentro da USP. Mas, independente de qualquer coisa, é um fato gravíssimo: trata-se de colaboração, institucionalmente reconhecida, entre a maior universidade brasileira e um instituto que só existe como parte de uma operação criminosa, condenada há quase 45 anos pela Organização das Nações Unidas. Note-se, no link oferecido, a incorreção básica: a Universidade de Ariel não fica “em Israel”, como dito no site do ICMC/ USP. Ela fica em território palestino. Fica em terra roubada.
Creio que seria de bom tom um esclarecimento do Instituto e da docente que coordena o acordo, a Profa. Márcia Federson. É o tipo de convênio que depõe - e muito - contra a imagem da Universidade de São Paulo.
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