sábado, 16 de junho de 2012
Liminar da Justiça evitou que a PF encarcerasse alunos da UNIFESP em um presídio em Pinheiros (16jun2012)
Em conversa com amigos, ontem à noite, eu soube da decisão da Polícia Federal em São Paulo de encaminhar os estudantes da UNIFESP, que foram PRESOS NO CAMPUS, para o Centro de Detenção de Pinheiros, ou seja, para um PRESÍDIO. Fiquei aturdido, pois o processo de criminalização das manifestações estudantis está muito mais avançado, no Brasil, do que eu imaginava. Hoje pesquisei sobre a situação e tudo se confirmou.
Os alunos foram enquadrados, entre outras coisas, por FORMAÇÃO DE QUADRILHA!!!!!
Tanto aqui, quanto em Quebec, no Chile, na Alemanha - ou disseminando-se pela Europa - as posturas das autoridades saltam para o campo da direita. Alguns dirão que os alunos "depredaram" patrimônio público. Ok! Supondo que não tenha sido armação da polícia para reforçar sua postura repressiva, o que caberia a uma ESCOLA, lugar onde se educa, seria um processo interno levantando as responsabilidades dos envolvidos e, confirmada e provada a autoria do prejuízo, cobrar dos envolvidos a reposição de tudo o que tenha sido por eles danificado. Isso educa, mostra que determinados atos têm consequências e cria consciência de limites para os jovens.
QUADRILHA é coisa de bandidos (como se observa exemplarmente no caso investigado por CPMI em andamento no Congresso), e estudantes não podem ser assim tachados por lutarem por melhores condições de estudo, pelo prédio prometido desde 2007 e até agora não providenciado. A UNIFESP funciona provisoriamente e precariamente nas instalações de uma escola municipal de São Paulo. O meu caro ex-presidente Lula criou várias universidades. Mas só "criar" não basta. Para se criar verdadeiramente uma universidade, precisa-se disponibilizar infraestrutura física, além de contratar pessoal em quantidade e qualidade adequadas a esse propósito.
Agora os estudantes que se levantaram para dizer BASTA foram autuados em flagrante com uma série imbecil de acusações que podem levá-los, se condenados, a cumprirem até OITO ANOS DE PRISÃO! Onde foi que nós perdemos o conceito de escola, de universidade? Se são os jovens que podem trazer um ar fresco para as viciadas e envelhecidas estruturas sociais e políticas do mundo, porque agora estão sendo reprimidos com violência, ao invés de serem responsabilizados no âmbito da escola, como parte do processo de formação e educação?
O Partido dos Trabalhadores vem, há anos, produzindo decepções para mim, que sempre acompanhei sua luta para se estabelecer como um agrupamento político com ideais de fato democráticos. O PT funcionava, e isso já faz tempo que vem mudando, a partir de deliberações de suas bases municipais, levadas para o âmbito estadual e, finalmente, para o federal. Todo mundo de fora do partido tentava caracterizar o PT como um saco de gatos, dados os embates entre grupos com diferentes percepções e visões políticas em seu interior. Essa era, na verdade, a riqueza do partido. A diversidade de ideias e o debate envolvendo desde a juventude recém-filiada aos fundadores do partido. Isso foi acabando quando uma dada parcela do partido lutou pela hegemonia e colocou como fim a chegada ao poder. Algo como: os fins justificam os meios. Acabou-se a democracia interna, os votos em plenárias eram marcados, e ouvi relatos desanimados de militantes que participavam de tais eventos porque o debate estava sendo abafado. As delegações vinham para as instâncias superiores com votos contados. Quem o grupo hegemônico colocava como delegados sequer sabiam, muitas das vezes, sobre o que estavam votando. Só sabiam que tinham que votar de acordo com o que fulano ou sicrano defendesse na plenária. Processo semelhante se deu na CUT, que foi rapidamente "incorporada" ao grupo hegemônico do PT. Daí muitos sindicatos terem deixado aquela Centra, pois ela deixou de se diferenciar das demais centrais sindicais. Fica difícil estar numa central sindical ou num sindicato em que a direção nutre relações de grande proximidade com quem deveria estar, naturalmente, do lado oposto, ou seja, com os patrões. Os acertos passam a se dar na cúpula, e a base passa a ser mero instrumento utilizado para "legitimizar" aquilo que é deliberado, na verdade, em instâncias das quais ela não participa. Resumindo: massa de manobra.
Quem tentou agir com independência política nessa última década foi vítima de maquinações e estratégias de desqualificação cujo fim era literalmente o de "eliminar" e calar qualquer coisa que pudesse por em risco o projeto de poder estabelecido. Isso envolve as universidades desde as reitorias até os centros acadêmicos. A democracia está se tornando uma piada tanto nas universidades quanto na política nacional em todas as esferas. Eu sempre esperei mais, mesmo dessa ala hegemônica do PT. Pelo menos esperava que não abandonassem alguns de seus ideais de origem.
O caso da UNIFESP não é isolado. No Paraná, a Polícia Militar invadiu violentamente uma moradia estudantil da Universidade de Integração Latino-americana (UNILA), dando tiros e quebrando coisas, além de agredirem estudantes brasileiros e estrangeiros daquela instituição. Eles agrediam fisicamente e verbalmente, "xingando" os estudantes de comunistas. Desde quando ser comunista (e provavelmente não era o caso) é motivo para se apanhar da polícia? Outro foi taxado de homossexual por um dos policiais, que ao bater nele perguntava se ele não queria chamar o namorado dele para defendê-lo. Isso em pleno 2012!
Na UNIR, Universidade Federal de Rondônia, a Polícia Federal invadiu o campus e efetuou prisões indiscriminadamente, usando argumentos em muito semelhantes aos utilizados pelos policiais paranaenses.
Na USP, nem é preciso lembrar os lamentáveis episódios envolvendo a Polícia Militar e os estudantes no interior do campus.
Lembro-me de um fato ocorrido na Universidade Federal do Rio de Janeiro no auge da repressão efetuada pela ditadura civil-militar de 1964. Um destacamento da polícia estava se encaminhando para entrar no campus, na Ilha do Fundão, para prender estudantes "suspeitos de subversão". Eles vinham armados e com cachorros latindo furiosamente, prontos para um confronto com os jovens. Pois bem! O Reitor (com r maiúsculo), apesar de ser um cidadão conservador e de ter sido nomeado pelo regime de exceção, dirigiu-se rapidamente para o acesso à Ilha, e, de pé em frente aos policiais, barrou sua entrada no campus com uma frase emblemática: "Aqui só se entra por meio de vestibular ou por concurso público". Do alto da sua autoridade enquanto um verdadeiro membro da universidade autônoma de que tanto se fala, mas na qual ele acreditava e a qual ele defendia, conseguiu fazer com que a polícia recuasse e deixasse a entrada do campus. Esse Reitor tinha noção de que a universidade era o campo do embate de ideias, e defendia o direito ao livre pensar, mesmo que esse pensar pudesse ser majoritariamente diferente do dele. Não se fazem mais reitores como antigamente...
Fica aqui a minha preocupação com o fato de estarmos sendo engolfados em projetos de futuro e de mundo que em nada interessam à verdadeira maioria da população. Os interesses do capital predominam em todos os segmentos da política, da mídia, de muitos sindicatos. Pessoas que passaram anos defendendo a democracia e o respeito à diversidade estão, hoje, com discursos bem esquisitos, buscando ocupar territórios que vão, nas universidades, desde um mero comando de greve até os altos cargos comissionados, passando pela "domesticação" e "adestramento" do pensamento de nossos jovens aprendizes. Há exceções, felizmente. Mas poucas...
Nunca esperei que num governo trabalhista os movimentos sociais pudessem ser vítimas de um descarado processo de criminalização liderado pela grande mídia porta-voz do capital e seguido, meio que naturalmente, pelas polícias militares. O que é inaceitável é que a Polícia Federal passe a se misturar com isso, a despeito de seus integrantes serem teoricamente cidadãos muito mais esclarecidos e qualificados do que a média dos policiais militares. Ações como as ocorridas em São Paulo e em Rondônia mancham a imagem dessa corporação, da qual a população deveria esperar um maior senso de responsabilidade e compromisso com a coletividade que paga seus salários.
Desculpem-me os leitores se por acaso eu tenha sido repetitivo, mas estou escrevendo aos borbotões, tentando botar para fora essa emoção que se junta a muitas observações e a umas tantas decepções que tive ao longo da vida. Não nos deixam sonhar com um mundo diferente onde os homens sejam parceiros e não competidores vorazes. Fico me sentindo meio bobo diante dos fatos, por ainda pensar assim e tentar praticar aquilo em que acredito.
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