Aconteceu ontem, em Cuiabá, a 10ª Parada da Diversidade Sexual. Além da grande participação da comunidade GLBT e de simpatizantes da causa, ocorreu, como seria de se esperar, a participação de diversos candidatos às eleições municipais deste ano.
As fotos abaixo são de Katiana Pereira (MidiaNews - clique aqui para a ler reportagem e ver mais fotos do evento).
Quando me mudei para Cuiabá, impressionou-me positivamente o fato de encontrar aqui uma grande tolerância e aceitação da diversidade sexual. Ou seja, um baixíssimo índice de preconceito sexual. Homossexuais assumidos e conhecidos de toda a comunidade frequentavam todos os ambientes sociais da cidade, sendo tratados com toda a naturalidade, sem piadinhas de mau gosto ou chistes preconceituosos. Isso foi pelos idos de 1980 e, vindo do eixo Rio-São Paulo, essa atitude cuiabana ficou destacada em minha percepção da cidade que então eu adotava como sendo minha também.
Com o passar dos anos, a forte corrente migratória principalmente do sul e do sudeste foi transformando a cidade. Hoje está se tornando difícil encontrar cuiabanos de ascendência cuiabana. A nova juventude da cidade é composta majoritariamente de filhos de migrantes. São cuiabanos, é certo, mas trazem uma carga cultural diferente proveniente de suas famílias não cuiabanas. Cuiabá não é mais a cidade tolerante que um dia já foi.
A razão da tolerância que existia era, a meu ver, o fato de a cidade ser bastante isolada do resto do país até as décadas de 1960 e 1970. O acesso terrestre era precário. Conheci amigos aqui que estudaram no Rio de Janeiro e que faziam a viagem Cuiabá-Rio de Janeiro por via fluvial até o Rio da Prata, e marítima dali até o Rio de Janeiro. Vinham para Cuiabá uma vez por ano, nas férias de final de ano.
Uma cidade isolada é forçada a encarar e compreender a sua própria diversidade. Aqui não era possível à maioria da população enviar seus filhos/filhas "diferentes" para alguma metrópole distante de modo a escondê-los da sociedade. Portanto, gays e lésbicas viviam em perfeita harmonia com heterossexuais e participando da vida social em geral.
Em cidades e em ambientes sociais onde a homofobia se explicita em piadas grosseiras e ironias em geral, os homossexuais tendem a se afastar, mudando-se para metrópoles mais distantes onde poderão exercer sua sexualidade longe dos olhos tanto da família quanto da sociedade que os viu nascer. Há casos mesmo em que a própria família promove esse afastamento por se envergonhar da homossexualidade: "O que dirão nossos amigos? O que dirão os vizinhos? O que dirão...?". O medo e a falta de coragem de enfrentar a maledicência alheia e a sua própria homofobia leva muitos pais a afastarem seus filhos da convivência familiar e social, promovendo o seu distanciamento físico e até mesmo emocional.
Portanto, Cuiabá vai perdendo rapidamente uma de suas boas qualidades, que era a de uma maior aceitação da diversidade do que na maior parte do país. Daí a necessidade da realização de "Paradas Gays".
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