Por Marco Aurélio de Mello, do blog DoLaDoDeLá
Quando Dilma fez um pronunciamento bem intencionado, mas retórico, na última sexta-feira, preferi não comentar, porque sabia que diante de ânimos tão exaltados acabaria apanhando. Já fui hostilizado por compartilhar no Facebook editorial de Mino Carta, quem diria, com críticas pertinentes ao Partido dos Trabalhadores e à presidente no fim de semana... Hoje, quando a TV transmitiu ao vivo (na horinha do noticioso do meio de tarde na Globo, para não atrapalhar os negócios) senti que ela havia finalmente saído das cordas e partido para o ataque.
Governar para todos não é fácil. E por mais que sinta uma decepção com a letargia dos últimos anos, não gostaria de estar no papel de um mandatário. Colocar a "carinha" dos Governadores de dos Prefeitos das maiores cidades na fotografia (metaforicamente) é um chamamento para o pacto federativo. Deixa claro que se o Governo Federal tem alguma culpa, principalmente em relação ao transporte que foi o estopim dos protestos em todo país, não é possível solução sem contrapartidas de estados e municípios e isso ficou muito claro. Dinheiro não faltará (R$ 50 bi), desde que as obras aumentem a mobilidade urbana. E a fiscalização agora passa a ser da sociedade. Boas contrapartidas.
Ao cobrar também responsabilidade fiscal e recuperar projeto de lei do governo Lula, que transforma crimes de corrupção em hediondos, ela dá importante passo para neutralizar discurso dos moralistas de plantão, contra a corrupção na política. Como se fosse possível existir corruptos sem corruptores. Mas como de boba ela não tem nada, tirou do armário outro fantasma: a reforma política, que sai do âmbito do parlamento e cai no colo do povo, por meio de um plebiscito. Se não passar agora, é porque a maioria não quis. Não por acaso a oposição já começou a criticar. Reforma política só é bom no discurso. Na prática, ninguém quer abrir mão de seus privilégios históricos.
Outra questão que poderia ser indigesta, mas que ela matou no peito foi a saúde. Os médicos estrangeiros virão (de Cuba, da Argentina, da Venezuela, de onde for), desde que os nossos não aceitem as vagas oferecidas, sobretudo em localidades remotas. Não podemos nos esquecer de que o curso de medicina no Brasil é privilégio quase que exclusivo de quem tem dinheiro. As faculdades públicas são concorridíssimas e as privadas são integrais e caríssimas. Por isso a medicina de ponta está nos grandes centros, longe da periferia, da pobreza e das áreas violentas (por que será que a violência cresce?).
Outro movimento político sofisticado veio de confrontar a base aliada e a oposição, olhando olho no olho dos Governadores, que não querem mexer na partilha dos royalities do petróleo, e pressionam suas bases a votarem contra a lei do Pré-sal, que já está em tramitação. Ao anunciar a disposição de destinar 100% da arrecadação para a educação, ela acaba de armar uma bomba e deixá-la no colo do PMDB - que deveria ser partido de sustentação no Congresso e de todos aqueles que defendem bandeiras sociais nos microfones, mas às escondidas se confraternizam com os Governadores do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo, onde estão os reservatórios e os principais blocos de exploração.
Claro que na prática nada funciona na base da conversa. Vai depender de muita mobilização e pressão popular, porque senão não anda. Na minha opinião só faltou um detalhe, que talvez fique a espera de novo levante: O Novo Marco Regulatório das Comunicações. Não dá para depender de conglomerados que abocanham quase toda publicidade e audiência, seja no impresso, no rádio, na TV ou mesmo na internet. Recentemente fui vítima de um bloqueio do Facebook por violação dos termos de uso. Quem garante que eles não serão os censores de amanhã?
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