sexta-feira, 7 de junho de 2013

Receosa com tamanho da crise, OIT aplaude Bolsa Família
(7jun2013)

Por Marcelo Semer em seu blog

Organização internacional sugere que sejam eliminadas crenças negativas sobre intervenções dos governos no crescimento econômico e capacidade de reduzir má distribuição de renda

Enquanto no Brasil o Bolsa Família caminha sob fogo cerrado, entre boatos e bordoadas, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) acaba de ressaltar em seu relatório sobre o Mundo do Trabalho em 2013, a importância fundamental do projeto em tempos de crise.

Somado aos seguidos aumentos reais do salário mínimo, o Bolsa Família ajudou a vitaminar o crescimento da classe média no país em 16%, entre os anos de 1999 e 2010.

Para a OIT, um salário mínimo sólido e mecanismos efetivos de transferência de renda têm sido as ferramentas mais importantes para superar a pobreza.

Os resultados brasileiros tiveram ainda maior relevância na análise do cenário mundial, comparados com a compressão quase global da classe média que aparece como um dos efeitos perniciosos da crise econômica.

O relatório divulgado nessa segunda-feira, em Genebra, mostra que os grupos de renda média estão encolhendo na maioria das economias avançadas, consequência de um desemprego de longa duração.

Na Espanha, por exemplo, a classe média já reduziu de 50% para 46% desde o início da crise.

O que se pode constatar, ainda pelo estudo, é que os efeitos da crise econômica estão longe de se distribuírem de forma equitativa na sociedade.

As desigualdades de renda aumentaram entre 2010 e 2011 em 14 das 26 economias desenvolvidas, incluindo França, Dinamarca, Espanha e os Estados Unidos. Os níveis de desigualdade em sete dos doze outros países analisados foram ainda maiores do que eram antes do início da crise.

Nos Estados Unidos, por exemplo, os 7% mais ricos da população tiveram aumento de seu patrimônio líquido durante os dois primeiros anos da recuperação, de 56% em 2009 para 63% em 2011; os restantes 93% dos norte-americanos, ao contrário, viram seu patrimônio só declinar.

A principal justificativa tem sido o crescimento dos níveis de desemprego –justamente o que não tem acometido o Brasil, que contou ainda com aumentos reais de salários em média de 4% em 2012.

A OIT realça também a importância dos mecanismos de ampliação de emprego formal, citando especificamente projetos empreendidos na Argentina e Costa Rica.

No lado rico do mundo, a mesma disparidade entre indivíduos se repete na relação de grandes e pequenas empresas.

A maioria das grandes empresas já recuperou o acesso aos mercados de capitais, mas as pequenas estão sendo desproporcionalmente afetadas pelas condições de crédito bancário. Este é um problema grave para a recuperação imediata de trabalho que, segundo a organização, afeta em muito as perspectivas econômicas de longo prazo.

E enquanto a crise se aprofunda nas economias centrais, a tal ponto que a OIT afirma que "a situação em alguns países europeus está começando a forçar o seu tecido econômico e social”, a avaliação sobre a América Latina dá conta de que a região registrou uma diminuição do risco de ‘descontentamento social’ entre 2007 e 2012.

A recente vitória da diplomacia brasileira, e dos países emergentes sobre norte-americanos e europeus na OMC, como se vê, não foi à toa.

As economias avançadas estão cada vez mais longe do papel de farol na crise, ainda que continuem sendo exemplos que magnetizam as elites periféricas.

Assim, embora o Brasil seja destaque internacional pela ampliação da classe média e a superação da pobreza durante a crise, continuamos a difundir por aqui o catastrofismo e a replicar, no quase-consenso da grande imprensa, fórmulas preparadas justamente por quem provocou o tormento e se mostra cada vez mais incapaz de resolvê-lo.

A mimese nem sempre se dá por incompetência.

O documentário Inside Job (vencedor do Oscar de 2010) já havia mostrado como economistas das principais universidades norte-americanas, que jamais questionaram os fundamentos da desregulamentação que resultou na crise de 2008, estavam também vinculados a instituições financeiras, em um evidente conflito de interesses.

E para os que seguem repetindo sem parar propostas de redução de gastos e achatamento do Estado, a OIT, como recomendação final de seu trabalho, sugere que sejam eliminadas as crenças negativas sobre intervenções dos governos no crescimento econômico e a capacidade que elas têm de reduzir a má distribuição de renda entre a população.

A recomendação cai como uma luva para grande parte do jornalismo econômico nacional.

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