A maneira como os meios de comunicação têm nos feito lavagens cerebrais é impressionante. Instaurou-se, como uma lei, na própria indústria do entretenimento, o princípio de "conflito e vingança". Os programas sobre crimes são até mais explícitos. Apresentadores quase que formulam sua ideia de que "bandido bom é bandido morto". Os filmes de ação atingem seu ápice quando os "mocinhos" vingam-se dos "bandidos". As telenovelas constroem diuturnamente a expectativa, no telespectador, pelo momento da "vingança". A violência é banalizada e tornada corriqueira. O sangue escorre de nossos aparelhos de TV. Tiros ecoam por toda a casa. Revólveres, metralhadoras, granadas, bombas... barulho ensurdecedor.
Na lógica de "conflito e vingança" vem a campanha virulenta para se reduzir a maioridade penal. Na mesma lógica situa-se a nossa indiferença perante todo tipo de violência contra populações inteiras. Aqueles lá, do outro lado do mundo, aquele povo "esquisito", são naturalmente aceitos como destinados a sofrerem as agruras e as violações provenientes desses daqui, os "mocinhos" do "lado de cá". Esses "mocinhos" são mais parecidos com as imagens que construíram, e nós engolimos, sobre quem somos nós. Somos induzidos a nos identificarmos com eles. Mesmo quando somos parte de um povo tão diferente e oprimido quanto aquele pessoal "esquisito". Não. Nós não nos vemos assim.
Comumente, já saímos julgando e rotulando pessoas e povos. Ah, é muçulmano... Ah, é da periferia... Ah, é "mano"... Ah, mexe com drogas... Ah, é chinês...
Eu sou espiritualista, e acredito firmemente que as opções que temos de nascer aqui ou ali, nesta ou naquela comunidade ou etnia, é feita para que venhamos a experimentar as "dores e delícias" de sermos o outro. Agora chega. Não é tão difícil assim fazermos um exercício até que simples. Ao invés de gastar toda uma vida (encarnação, no jargão espírita) para experimentar isso, podemos, sim, nos colocar na pele do outro em toda a sua complexidade.
Como me sentiria se eu tivesse nascido numa comunidade indígena do Brasil? Como me sentiria se eu tivesse nascido com características de outra etnia que não a minha atual? Como seria nascer e ser criado numa favela? Qual a sensação de ser criado num cômodo exíguo juntamente com toda a família. Como é não ter comida suficiente e com a mínima condição de me nutrir adequadamente? O que significa ter muitas portas fechadas pelo simples fato de eu ser dessa ou daquela cor? Porque a minha sexualidade é mais importante do que o conjunto daquilo que eu sou?
Se compreendo, pelo menos um pouquinho, as dores do outro por causa de circunstâncias que ele não pode de forma alguma alterar, começo a entender o que é amar. Todas as pessoas, em qualquer condição de nascença, clamam por amor e carinho, por atenção e respeito. Todas. Sem exceção. Mesmo aquelas que parecem um porco-espinho, brutas, irritadiças. Por que temos tanto medo de nos abrir para o amor? O que se poderia perder com isso? Eu digo: nada. O que se teria a ganhar com isso? Eu digo, também: paz, serenidade, completude.
Se vemos um mundo violento, é porque nossos olhos estão sendo o tempo todo dirigidos para ela. Onde estão as manifestações amorosas em nosso mundo? Isso não é notícia. Isso não leva plateia ao cinema. Estamos formatados para nos deliciarmos com as vinganças, com a violência, seja física, seja psicológica. Deu, acabou. Com isso, vamos reproduzindo em nosso cotidiano essa norma, fazendo nossas pequenas vinganças diárias, julgando a torto e a direito, a tudo e a todos. Com base em quê? Quem somos nós para julgarmos alguém?
Ao invés disso, bem poderíamos pensar em soluções amorosas, esquecendo a "vingança", a "punição", o "castigo", e exercitando o "perdão", a "compreensão", a "solidariedade". Enquanto um conflito gerar outros conflitos, nunca sairemos dessa roda-viva. Pelo contrário, as diferenças e a não aceitação do próximo serão sempre aprofundadas, tendo como resultado mais violência, mais intolerância, mais individualismo, mais medo. MEDO! Esse é o nosso ponto fraco mais trabalhado na mídia. E muita gente ganha muito dinheiro com os resultados dessa disseminação do medo.
Se conseguirmos olhar em torno e nos focalizarmos no que de bom está acontecendo, começaremos a nos livrar do medo. Se nosso foco se desviar da violência, ela sairá também de nosso cotidiano. E se a ele chegar, deve ser tratada em termos amorosos, fraternos, de não-julgamento. Nossa única saída para um mundo melhor e mais equânime somente poderá ser construída por nós mesmos. Para rompermos o círculo vicioso que nos torna escravos do medo, a opção mais plausível será a emanação de amor, o amor EM todas as formas de sua manifestação, o amor A todas as formas de sua manifestação. Quem age com violência está, no fundo, buscando atenção. Aquela atenção que a vida e a nossa sociedade não proporcionou. O revide, de nossa parte, somente aumentará o grau da violência. O perdão e a compreensão, por sua vez, deitará ao chão qualquer energia de reação negativa.
Convido a que joguemos fora nossas intenções de revidas, de vingar, de julgar. O mundo é muito mais bonito e fantástico do que isto para onde estão nos forçando a olhar. Tenhamos coragem de desobedecer esse imperativo dos poderosos e voltemos nossos olhares para o que de bom existe nas pessoas e na vida de nosso planeta, sob pena de, continuando as coisas como têm sido postas, em breve sequer termos um planeta para olhar, tamanho o poder destrutivo do ódio e da vingança.
Tenho uma amiga que costuma descrever o clima de alguma situação com um "ali é só ódio e revolta". Eu brinco, mas no fundo é sério, dizendo a ela: "troque esse 'ódio e revolta' por 'luz e amor', minha amiga". Nossos pensamento e palavras têm força de criar realidades. Por isso, somos responsáveis por tudo o que dizemos e tudo o que pensamos, dadas as consequências infinitas que essas vibrações e emanações geram.
Luz e amor para todos!
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