sexta-feira, 5 de julho de 2013

Emma Goldman: "Uma Nova Declaração de Independência"
(5jul2013)

Por Emma Goldman, publicado no sítio Literatura Anarquista

Quando, no curso do desenvolvimento humano, as instituições existentes provam-se inadequadas às necessidades do homem. Quando elas servem meramente para escravizar, roubar, e oprimir a humanidade, o povo possui o direto eterno de se rebelar, e derrubar, estas instituições.

O mero fato destas forças – antagônicas à vida, à liberdade, e à busca da felicidade – estarem legalizadas pela constituição, santificadas por direitos divinos, e reforçadas pelo poder político, de nenhum modo justificam o prolongamento de sua existência.

Sustentamos que estas verdades sejam auto-evidentes: que todos os seres humanos, independentemente de raça, cor, ou sexo, nascem com o direito igual de compartilhar à mesa da vida; e que para que este direito seja assegurado, deve se estabelecer entre os homens a liberdade econômica, social e política; sustentamos além disso, que o governo existe apenas para manter privilégios especiais e o direito à propriedade; que coage o homem à submissão e, portanto, rouba sua dignidade, seu auto-respeito e sua vida.

A história dos reis americanos do capital e da autoridade é a história de repetidos crimes, injustiças, opressões, ultrajes e abusos, almejando a supressão das liberdades individuais e a exploração do povo. Um vasto país, rico o bastante para suprir todos seus filhos com todos os confortos possíveis, e assegurar o bem-estar à todos, está nas mãos de uma minoria, enquanto os milhões de anônimos ficam à mercê de implacáveis caçadores de fortunas, legisladores inescrupulosos e políticos corruptos. Robustos filhos da América estão sendo forçados à mendigar pelo país numa busca infrutífera por pão, e muitas de suas filhas estão sendo despejadas nas ruas, enquanto centenas de crianças em tenra idade são sacrificadas diariamente ao altar de Mamon. Tal reinado está mantendo a humanidade em escravidão, perpetuando a pobreza e a doença, sustentando o crime e a corrupção; está pondo a ferros o espírito da liberdade, estrangulando a voz da justiça, e degradando e oprimindo a humanidade. Está engajado numa contínua guerra e matança, devastando o país e destruindo as melhores e mais nobres qualidades do homem; nutrindo superstições e ignorância, semeando o preconceito e a discórdia e convertendo a família humana num campo de Ismaelitas.

Nós, portanto, os homens e mulheres amantes da liberdade, compreendendo a grande injustiça e brutalidade deste estado de coisas, com ousadia e seriedade declaramos por meio desta que cada indivíduo é e deve ser livre para possuir a si próprio e para gozar plenamente dos frutos de seu trabalho; que o homem está absolvido de quaisquer obrigações para com os reis da autoridade e do capital; que ele possui, pelo próprio fato de existir, livre acesso à terra e à todos os meios de produção, e à completa liberdade de dispor dos frutos de seus esforços; que cada indivíduo tem o inquestionável e inalienável direito de associação livre e voluntária com outros indivíduos igualmente soberanos para propósitos econômicos, políticos, sociais, e quaisquer outros, e que para alcançar este fim o homem deve emancipar a si próprio da sacralidade da propriedade, do respeito às leis dos homens, do temor à Igreja, da covardia da opinião pública, da estúpida arrogância de superioridade nacional, racial, religiosa e sexual, e da concepção puritana da vida humana. Em prol desta Declaração, e com uma reta confiança na harmoniosa combinação de tendências sociais e individuais do homem, os amantes da liberdade alegremente consagram sua descompromissada devoção, sua energia e sua inteligência, sua solidariedade e suas vidas.

Esta ‘Declaração’ foi escrita a pedidos de um certo periódico, que subsequentemente recusou-se a publicá-lo, embora o artigo já estivesse na composição


Tradução: José Paulo M. Souza

Notas do Tradutor:

1)   Mamon: termos bíblicos são característicos da escrita de Emma, Mamon representa simbolicamente a riqueza material, cobiça (ex.: “não é possível servir simultaneamente a Deus e a Mamon”).

2)   Ismaelitas: subdivisão dos Xiitas, representa cisão, clivagem, divisão no corpo religioso do Islão.
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[Publicado em Mother Earth, Vol. IV, no. 5, Julho 1909.]

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