Por Fernando Brito, no sítio Tijolaço
Millôr Fernandes, um dos frasistas mais célebres deste país, numa de suas crônicas “explicava” porque os governos brasileiros se esforçavam em que nosso país tivesse cada vez mais pobres, e concluía com um “argumento econômico”: “pobre é muito mais barato”!”
De fato, para uma colônia, onde o que importa é extrair lucros, onde os pobres são apenas insumos da produção, os pobres são baratos.
Pobre, porém, é muito caro para um país que pretende ser uma nação, um conjunto formado por território e gente com ideias de felicidade e progresso.
Não existe nada mais caro que a pobreza porque, primeiro, ela não produz, ou produz pouco, ou produz mal, por todas as carências que a pobreza traz ao trabalhador.
Depois, porque mesmo com os serviços precários que os pobres têm, custa muito tratar de gente que adoece por comer e viver mal, em meio à imundície, custa caro manter crianças o dobro de tempo na escola porque não conseguem aprender, custa caro não termos trabalhadores capazes porque a pobreza os tirou da escola para o trabalho ou recalcados, porque “não tinham cabeça para aprender”, custa caro porque precisa-se de muita polícia e de muita cadeia para (não) resolver os problemas de violência e de criminalidade que a pobreza traz.
A lista da “carestia” da pobreza extrema poderia prolongar-se indefinidamente.
Nada, porém, custa tão caro quanto termos tantos pobres fazendo do Brasil um país pobre.
Pobre para os pobres, que pagam o preço desta pobreza com a falta de futuro de suas vidas e as vidas de seus filhos.
Pobre também para os não-pobres, porque não há riqueza possível em meio à pobreza, que constrange, atemoriza, ameaça ou, pior ainda, desumaniza as relações entre – queiram ou não as elites – seres humanos.
O vereador de Piraí que sugeriu que mendigo virasse ração para peixes apenas verbalizou o que muitos, alienados do sentimento de compaixão, deste humaníssimo sentimento de sentir a dor alheia, pensam sobre aqueles que a degradação e a pobreza finalmente fizeram decair à condição de párias.
Quanto custa retroceder a esta condição animal, de abandonar à morte os desvalidos, os doentes, os velhos e improdutivos? Quanto custam séculos de civilização?
Hoje, no aniversário do Bolsa-Família, deveríamos estar comemorando mais que o sucesso de um programa social, mas de um programa econômico.
A informação, citada hoje por Lula, de que cada R$ 1 investido no Bolsa Família gera um acréscimo de R$ 1,78 no Produto Interno Bruto (PIB) é apenas um pequeno pedaço da imensa riqueza que vem do fato de termos menos 36 milhões de brasileiros na pobreza extrema.
O impulso que isso gera sobre a economia é, ele próprio, um pedaço da famosa “porta de saída” que se cobra do programa, porque gera consumo, gera produção e, com eles, gera oportunidades de trabalho.
Os tecnocratas, samurais do capital, não conseguem entender que não há custo maior no Brasil do que termos um país de pobres – do tamanho de França – dentro de nós. Muito menos ainda são capazes de perceber o potencial produtivo de tamanha quantidade de gente.
Nossas elites olham com desprezo assistir com o mínimo estes nossos irmãos. Não só as de direita, mas também os pretensiosos que se acham de esquerda “moderna”. Lembro deles criticando os Cieps por darem refeições completas aos alunos: “escola não é pensão”, diziam.
Burros, porque escola é lugar de aprender e civilizar, e não há aprendizado e civilização possíveis com fome.
Gastar com os pobres, além de ser o negócio mais lucrativo que se pode fazer nesse país de perdas, é a única maneira de fazer investimento sustentável no Brasil.
São eles, bípedes – e não o tripé econômico, como dizem os quadrúpedes do neoliberalismo – e seus recém convertidos – que podem fazer o Brasil andar para a frente.
E quem tem forças para por-se de pé e começar a andar e não volta a rastejar.
Talvez seja disso que tenham medo.
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