As consequências da irresponsabilidade e do descontrole dos agentes financeiros - que exigiram e obtiveram de muitos governos uma série de desregulamentações ao longo das duas últimas décadas - espalham-se pelo mundo, levando exatamente para onde os financistas queriam. Extrair da população todos os recursos possíveis. A ideia de que salvar o sistema financeiro é fundamental para que não haja uma tragédia econômica foi muito bem trabalhada por anos.
No entanto, as populações atingidas começam a se dar conta do blefe e a mostrar sua indignação.
Irlanda: sacrifício inútil
Os termos do 'salvamento' que o FMI/UE/BCE impôs à Irlanda são muito piores do que tudo o que já foi visto até agora. Até o dinheiro do Fundo de Reserva Nacional de Pensões (NPRF) foi devorado na voragem. Os abutres não perdoaram nem a pensão dos velhinhos! Este salvamento não é do povo irlandês e sim dos banqueiros privados irlandeses.
A manobra decorreu em vários passos:
1) Num autêntico acto de traição nacional o governo irlandês resolveu garantir a dívida dos banqueiros privados irlandeses (os tais que estavam em situação muito saudável segundo o teste de stress feito em Julho pelo BCE);
2) Em consequência, de imediato o défice orçamental irlandês sofreu um aumento brutal, saltando de 11,9% do PIB para 32% do PIB;
3) Diante de tal défice a UE/FMI obrigou o governo irlandês a impor sacrifícios brutais ao seu povo (despedimentos em massa, cortes na educação, saúde, salários e pensões, etc) em troca do dito "salvamento";
4) Ainda assim, cedo ou tarde, a Irlanda (tal como a Grécia e outros países europeus) entrará em incumprimento (default).
Destes tristes episódios podem-se tirar algumas lições:
1) Os sacrifícios que o capital financeiro pede/exige a governos servis como o irlandês, grego, português e outros são inúteis pois não levarão ao aumento das respectivas produções nacionais nem resolverão os problemas económicos subjacentes;
2) Em situações de insolvência mais vale declarar moratória antes de uma ruína total do que persistir inutilmente em pagar dívidas impagáveis;
3) Sacrificar povos no altar do capital financeiro é uma opção e não uma inevitabilidade;
4) Filosoficamente, a resolução de um problema de dívida incobrável pode-se dar tanto em favor dos credores como dos devedores;
5) Historicamente, verifica-se que as classes dominantes sempre optaram pela resolução em favor dos credores e as oprimidas sempre pretenderam o inverso.
6) A capitulação frente às exigências do capital financeiro leva à pauperização dos povos – cabe a estes tomarem o destino nas suas mãos se quiserem salvar-se.
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