sexta-feira, 1 de julho de 2011

Nova marcha estudantil em Santiago para exigir reforma na política educacional chilena (1jul2011)

Me gustan los estudiantes (Violeta Parra)
Mercedes Sosa



Postagem de 1º de julho de 2011 no sítio chileno El Mostrador.

Mobilização maciça de ontem supera a anterior e legitima as exigências

Lavín aprisionado entre La Moneda e a força esmagadora do movimento estudantil

Enquanto a direita toma distância e evita a contaminação com o conflito na educação, o governo, sem popularidade nem de peso, disse que o respalda Mas a decisão final de avançar para uma reforma profunda - única saída efetiva para a crise - recai no Presidente, repetindo o padrão de alta concentração nas decisões que caracteriza a administração Piñera. Até agora não há luz verde para isso, o que põe em queda livre o capital político de um dos ministros melhor avaliados do gabinete.

Por Yael Schnitzer | Tradução Aquiles Lazzarotto

“Lavín lidera o conflito e, obviamente, ele está muito coordenado com o Presidente”, asseguram desde o palácio de La Moneda. Antes do início da revolta estudantil, Lavín era bem avaliado pelo piñerismo e o Presidente confiava nele para fazer a reforma prometida na campanha. No entanto, todos os ministros devem ser submetidos ao projeto do governo e isso implica em que "coordenação" significa consultar com o presidente todos os detalhes antes de tomar uma decisão. Piñera está no comando e o ministro vê sua gama de ação reduzida. De fato, no entorno do secretário de Estado sustenta-se que "não tem liberdade. Lavín está disposto a reforma produnda, mas o presidente não. Piñera quer fazer o que prometeu e nada mais, é o seu jeito de ser. Portanto Lavín está em uma posição política ruim, não o deixam escolher o caminho necessário para sair da crise. A opção para sair é que o autorizem a fazer uma reforma séria, ou seja, que lhe seja dado o encargo de avançar. E Piñera não está agora nessa posição. E o pior é que ninguém sabe o quanto mais Piñera vai ter que cair para entrar na sensatez política”.

Ontem, com o conflito no seu momento mais tenso, o governo chegou a apoiar Lavín e o fez ontem durante o desenvolvimento da marcha que reuniu mais de 100 000 pessoas. Cristián Larroulet - secretário-geral da presidência - disse que o ministro tinha o apoio do governo. Mas antes disso, não houve maiores apoios públicos e a leitura em seu entorno é que o ministro "tem estado muito só". O apoio de La Moneda não significa muito, porque é impopular, e o seu índice de aprovação está caindo e é esperado que continue a cair. Parece que "todas as causas defendidas pelo governo... debilita esse índice. E isso vai continuar a acontecer, uma vez que permanece impopular ", disse Carlos Huneeus, analista e diretor do Centro de Estudios de la Realidad Contemporánea (CERC).

Um mês atrás, Lavín estava entre os ministros melhor avaliados pelos cidadãos e por La Moneda. Hoje está uma situação adversa pela complexidade social que se apresenta e pela impossibilidade de tomar decisões rápidas, sem passar pelo "vamos" de Piñera. O ministro tem dois caminhos possíveis, "encher-se de dividendos com um nível de apoio importante ou naufragar na complexidade", como diz Marco Moreno, cientista político da Universidad Central.  Mesmo no entorno do ministro avalia-se que o presidente o vê como descartável: "O fácil para Piñera é mudar o ministro e assim ganhar tempo. Nomear outro até que o novo - quem quer que seja - novamente se debilite. E, para a UDI, se trocam Lavín por quatro ministros poderosos do partido, ninguém discutirá na loja."

A Aliança se afasta

De fato, ainda existem na UDI algumas influentes personalidades lavinistas, mas ninguém quer ser contaminados com o conflito estudantil. "A UDI não tem opinado sobre a educação, todos estão quietos e não querem se envolver porque é uma causa que os prejudica Eles tentam dar um passo atrás e priorizar os interesses do partido", disse Carlos Huneeus. Na verdade, quando Victor Perez, secretário-geral da UDI vai pedir apoio ao ministro Lavín, dá um sinal claro dessa distância do setor.

Na Renovação Nacional o cenário é mais complexo, a crítica vai além do conflito estudantil e mistura-se com a agenda pessoal, que eles acreditam ter o ministro. "Lavín não fez bem o seu papel, andou todo o Chile em razão do bullying e não foi capaz de comunicar as realizações do seu ministério. Se tivesse focado sobre as realizações e em torná-las conhecidas ao invés de andar como candidato, não teria chegado à situação em que estamos", diz uma fonte da Renovação Nacional.

Lucro: o calcanhar de Aquiles de Lavín

"Para qualquer ministro teria sido difícil, mas a questão da Universidade do Desenvolvimento (lucro) afeta a credibilidade de Lavín", disse Martin Zilic, o ex-ministro da Educação de Bachelet, a primeira vítima da revolução dos pinguins em 2006. É que a incursão de Lavín na Tolerância Zero, onde ele admitiu que tinha recuperado o investimento inicial feito na UDD foi uma gafe política enorme. Marcou um ponto de viragem para a sua carteira e puxou para baixo seu esforço para romper com seu passado no setor privado.

Mesmo José Piñera, irmão do presidente, escreveu em seu Twitter: "Se obteve lucro não terá legitimidade para liderar esta mudança necessária". Algo que tem sido exposto, porque todas as propostas que o governo tem feito para os diversos atores foram rejeitadas, e até mesmo sentar e conversar tem sido extremamente difícil. A rejeição dos estudantes foi tão poderosa, que ontem a líder dos universitários, Camila Vallejo, pediu a renúncia do ministro por ele "não chegar lá".

Para Huneeus, o assunto de Lavín e o lucro é menor. "As pessoas sabem que é um governo de empresários e que um ministro tem tido uma quota em uma universidade não é tão significativa. É aí que reside a principal fraqueza, porque este governo representa um setor e um modelo econômico", diz ele. Embora o tema seja importante Zilic, ele explica que "Lavín acredita que o sistema privado é melhor do que o público... Está em seu DNA. Ele está ganhando tempo, está defendendo uma posição e prosseguirá nela".

Para alguns, ao invés de liderar, o governo tem reagido e enfrenta os atores - secundaristas, acadêmicos e reitores - separadamente. "Nós vemos um ministro que quer resolver os problemas separadamente e oferecer soluções pequenas para os vários intervenientes. Mas não se senta para discutir o sistema a fundo" diz Zilic, acrescentando que" seria de se esperar que o governo enfrentasse a situação com o aprendizado do passado".

Aguentar até que a tormenta passe

A estratégia do governo em relação ao conflito estudantil é 100%. comunicacional. "Lavín está apostando seu capital político esperando que, eventualmente, a opinião pública deixe de ver com bons olhos o movimento estudantil, ajudando-o a resolver o problema. É um tiro no escuro", explica o analista Moreno. Porque resolve o problema das mobilizações, mas não o conflito.

Nesta estratégia, La Moneda ressalta o custo do movimento estudantil: a perda de dinheiro dos municípios, os danos após a mobilização e a perda de aulas, que em alguns casos não é compartilhada por todos os alunos. Ao mesmo tempo, busca-se deslegitimar o movimento com afirmativas de que ele é politizado. Porque, assegura-se no palácio, "quando o a opinião pública estiver farta das manifestações, elas perdem força".

Há muitos que concordam que a questão está em "dialogar e encontrar soluções globais", como diz Zilic,. É que a resposta do ministro foi "uma bateria de medidas que não vão ao eixo central do problema, e isso descarta o entendimento", como diz Moreno. Ao mesmo tempo, o analista explicou que esta situação era totalmente previsível e que "a falha em prever o conflito é uma responsabilidade que o ministro deve assumir".

O principal problema que La Moneda enfrentará tem a ver com a credibilidade. Após três semanas de manifestações e invasões estudantis, o que se questiona é a verdadeira vontade do governo para ouvir e aceitar pedidos dos manifestantes além de sua capacidade de chegar a acordos. "Aqui não sabem o que fazer, não há uma estratégia de solução e o governo só espera passar o conflito", disse Carlos Huneeus.

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