General, a verdade só machuca quem mente
Por Fernando Brito | Do Tijolaço
[A partir da segunda imagem, trata-se de material que colhi na internet e que mostram uma ínfima fração do quão sombrios eram os tempos da ditadura militar, a qual sempre foi apoiada com entusiasmo pelos grandes veículos da mídia brasileira]
Os nossos chefes militares, de quem só se pode louvar o comportamento que têm tido de respeito às instituições democráticas, sabem, pela experiência que têm com a disciplina e a hierarquia que, quando se deixa passar a pequena transgressão, vêm outra e outra e outra, sempre maiores.
Resolveu-se, há dias, sem apelo aos regulamentos militares, pelo diálogo, uma nota mal-posta dos dirigentes dos clubes militares. Muito bem, melhor sempre a conversa que a ordem.
Mas, na instituição militar mais fortemente que nas civis, é preciso ordem.
A manifestação do general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva no jornal O Globo, hoje [02/03], vai além de uma simples expressão de opinião. É um desrespeito não apenas a uma decisão legislativa mas, também, à própria figura da presidenta da República, sua comandante-em-chefe.
Mais: constitui-se num incitamento a que militares da ativa se insurjam contra ambas, à medida em que diz que os que não manifestarem insatisfação “não são dignos de serem chefes”.
O general chama de “parcial e maniqueísta” uma comissão que sequer se instalou e nem ainda funciona. Como poderia ser parcial ou maniqueísta?
E chega, vejam, a dizer sobre Wladimir Herzog: “quem disse que ele foi morto pelos agentes do Estado?”
Com todo o respeito: teriam sido marcianos, general?
A Comissão da Verdade é, exatamente, contra este tipo de encobrimento, que ainda hoje nega às famílias o direito de enterrar seus mortos, como se lê na entrevista de Eliane Paiva, filha do ex-deputado Rubens Paiva, outro a quem o general vilipendia com uma postura eivada de cinismo.
O General Paiva prestou um imenso desserviço às Forças Armadas. Não é contra elas, nem contra seus integrantes, a Comissão da Verdade.
O general leva, com este comportamento, seus chefes à dura e desagradável decisão de puni-lo, nos moldes do regulamento que ele conhece e que a reserva não deixa de obrigar a respeitar.
Talvez, até, seja esse seu objetivo: o de “chamar a punição” para fazer-se de vítima da “intransigência” da esquerda.
Carro que a Folha cedia para o transporte camuflado de prisioneiros políticos rumo ao cárcere e às subsequentes torturas, e que foi incendiado em um protesto
O general não é vítima. Vitima é quem é tratado com deboche por ele: os mortos da ditadura, a lei civil legítima e as autoridades a quem ele deve obediência.
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