Segue aqui o próximo capítulo do livro "Brasil, Terra de Promissão", publicado em 1969, ditado pelo espírito de Ramatis e psicografado por América Paoliello Marques.
Os capítulos anteriores, postados neste blog acompanhando a ordem em que são postos no livro, mas com títulos de chamada elaborados por mim, são:
O Brasil sob um ponto de vista espiritualista (ver AQUI)
As funções das etnias constituintes do povo brasileiro (ver AQUI)
Breve análise da história do Brasil do ponto de vista da espiritualidade (ver AQUI)
O papel da coletividade brasileira ante a derrocada dos valores materiais da Terra (ver AQUI)
Amálgama e constituição de um novo patriotismo no Brasil (ver AQUI)
A laboriosa formação do povo brasileiro como humilde mensageiro sobre a Nova Era (ver AQUI)
O Brasil é uma nação que foi preparada para as mudanças que virão (ver AQUI)
A herança espiritual brasileira (ver AQUI).
Parte II - Realização
2 – Liderança
PERGUNTA — Que espécie de liderança poderá caber à nossa terra?
RAMATIS — Mede-se a possibilidade de liderança através da percepção de um conjunto de aptidões latentes reveladas por sinais externos, perceptíveis a quem desenvolver uma capacidade de análise mais aguçada. Os instrumentos qualificados para essa percepção geralmente estão mais avançados na compreensão do que a maioria e podem "vaticinar", com base nos próprios raciocínios, onde se encontram os futuros líderes.
Para isso torna-se necessário obter uma visão geral do conjunto, suficientemente larga para alcançar uma faixa de realizações a ser concretizada.
A mente humana encontra-se na fronteira, entre a percepção imediata e a abstração, capaz de produzir fenômenos de previsão lógica. Os espíritos encarnados que conseguem vencer essa transição encontram-se, em relação aos seus contemporâneos, como aquelas crianças que vão à escola juntas e recebem objetos para a contagem objetiva. Em determinado momento, os mais amadurecidos conseguem abstrair e automatizam os mecanismos da soma e da subtração. Uma forma de raciocínio abstrato surgiu através do maior grau de amadurecimento interior. Uns continuarão simplesmente a "contar", outros já poderão movimentar elementos de raciocínio mais variado, abstraindo-se da objetivação, para obter maior expansão da lógica.
Partindo da análise dos fatos, manipulando-os em plena fase de objetivação e contagem, algumas almas chegaram à conclusão de que, somados certos valores existentes no ambiente brasileiro e subtraídos outros tantos, determinadas soluções serão obtidas e o resultado final, como resposta para o problema do progresso coletivo, será a liderança no panorama espiritual e material do planeta.
PERGUNTA — Nossa terra muito querida nos parece ainda tão cheia de deficiências que temos a impressão de estar muito distantes da realização desse sonho grandioso.
RAMATIS — A abençoada terra brasileira é como um oásis acolhedor em pleno deserto escaldante dos sofrimentos humanos. Inúmeras caravanas têm chegado a ele descarregando seus fardos e deixando-se ficar ao abrigo da sede e do sol. Uma atividade febril estabelece-se logo que o viajor se sente reconfortado, procurando localizar o ponto onde se estabelecerá. Porém, por algum tempo ainda, o conjunto carecerá de coordenação, embora todas as peças de uma engrenagem poderosa já façam parte do panorama espiritual e material do Brasil.
PERGUNTA — Temos ouvido comentários sobre o desagrado provocado pelas profecias relacionadas com o futuro da Humanidade, justamente relacionadas com os fatos que evidenciarão a liderança do Brasil no futuro. Que nos dizeis?
RAMATIS — A nós, também, essas profecias desagradam, mas nem por isso, infelizmente, serão menos verídicas. Felizes seriam os profetas se em todos os tempos só lessem nos planos siderais eventos favoráveis à sua sensibilidade.
Na leitura de um jornal, o homem moderno pode prever, dentro dos limites de sua capacidade, quais os acontecimentos marcantes nas próximas horas e suas previsões serão realidade na medida da justeza do seu pensamento, sinta-se ele ou não satisfeito com o andamento dos problemas. Seus filhos inexperientes, muitas vezes, ouvindo seus comentários, poderão julgá-lo um profeta de mau agouro e desejar que nada se realize como foi vaticinado. Encontram-se coerentes com a psicologia otimista da juventude, útil em sua justa medida.
Porém, por mais que o bom-senso anseie pelas soluções pacíficas e agradáveis, o panorama psicológico conturbado de uma época decisiva no estabelecimento de rumos novos na vida planetária, não permite a suavidade das soluções lógicas e serenas. As expressões teratológicas do psiquismo milenar da humanidade terrestre surgem à tona para as decisões finais. Para o estabelecimento de vossos planos de ação é preciso que a época atual tome conhecimento do potencial humano adormecido em sua aura milenar e, através do choque traumático da realidade contundente, reaja tão fortemente quanto se faz necessário.
PERGUNTA — Poderíamos obter maiores explicações sobre a necessidade desse traumatismo psicológico?
RAMATIS — A psicologia introduziu conceitos que se tornam úteis para vos explicarmos os fatos em estudo.
Assim como sabemos que o indivíduo reflete em sua evolução biológica as etapas do desenvolvimento da espécie, os fenômenos de reajustamento psicológico coletivos têm semelhança expressiva com as etapas de renovação psíquica do homem desajustado.
Um indivíduo mal-humorado permanentemente revela um problema de desajuste que não está sendo encarado de forma adequada. Muitas vezes, para evitar maiores incômodos, ele se furta à análise de uma situação que, contornada, não deixa no entanto de trazer como consequência a insatisfação, isto é, um aborrecimento a longo prazo. Uma quantidade de pequenos problemas se acumulam a sua volta, tumultuando sua existência, porque a mente não se encontra livre para encarar a vida com o otimismo e a disposição adequados. O estado de tensão é agravado com o tempo e, em determinado instante, rompe-se o dique contensor da insatisfação inicial, para causar verdadeira avalanche agravada pelas tensões secundárias.
Transferindo o fenômeno para o psiquismo coletivo da Humanidade teremos uma ideia de como são fáceis as previsões em ambos os terrenos: o coletivo e o individual, desde que se conheça os antecedentes que funcionaram como motivação.
PERGUNTA — Acreditam talvez os opositores das profecias que haja a possibilidade de uma reação coletiva, baseada na evolução intelectual inegável atingida pela Humanidade. Que dizeis?
RAMATIS — Desejamos que possais crer quanto nos é penoso reconhecer a realidade das provações esboçadas na aura terrestre. Seria injusto, desumano e anticristão encarar tais eventos de maneira fria e calculista. Estaríamos totalmente desviados de nossos objetivos se não houvesse de nossa parte uma profunda compreensão ao identificarmos os males que assolam a alma coletiva terrestre.
Os homens sofrem e choram, mas... onde a grandeza da fé no futuro que lhes permitirá a reação indispensável? Ao ser desajustado, duas alternativas se esboçam: ou crê em sua recuperação e despende um esforço hercúleo em sentido construtivo, mobilizando todas as suas energias de reação, ou será arrastado pelo desequilíbrio acumulado em camadas sucessivas e cada vez mais agravado pela incapacidade de reação adequada. Neste último caso o próprio desastre servirá como toque de alerta, capaz de recordar-lhe a impraticabilidade da renovação pelos caminhos trilhados.
Não podemos fugir à aplicação desses princípios A psicologia coletiva, pois neles se baseia a reação individual que, multiplicada, forma a comunidade.
PERGUNTA — Seremos nós testemunhas da liderança exercida pelo povo brasileiro?
RAMATIS — Sob o ponto de vista espiritual ela já se efetua, pois a fermentação psicológica em andamento na consolidação das características de vosso povo representa uma etapa importante da liderança que vos está destinada. Portanto, em silêncio já está sendo realizada uma parte desse trabalho, talvez a parte principal.
Quando alguém é preparado para uma tarefa capaz de influir decisivamente sobre muitos, a parte mais importante de sua realização consiste em consolidar os valores íntimos responsáveis pelo equilíbrio que lhe permitirá seguir imperturbável em sua missão. A formação do líder é a fase primordial. Sua atuação sobre o ambiente será a consequência inevitável. Daí em diante poderá liderar mal ou bem, porém jamais deixará de respirar na atmosfera psicológica assimilada, que o situa naturalmente em uma posição capaz de influir de forma decisiva sobre o semelhante, cuja visão ultrapassa.
PERGUNTA — Poderíeis fornecer-nos maiores esclarecimentos?
RAMATIS — A segunda fase da liderança exige que o líder seja reconhecido pelos liderados. Para que isso aconteça torna-se necessário que estes, por sua vez, admitam sua necessidade de liderança. Enquanto a massa ou o grupo não toma consciência de sua incapacidade coletiva para a solução dos problemas, o líder não é reconhecido. Porém, no momento em que a situação é agravada busca-se uma solução. Se ela não existe espontânea entre os componentes do grupo, inicia-se a busca de uma "tábua de salvação".
Embora ela não seja confortável ou ideal, a coletividade em estado de desarvoramento apoia-se de maneira desesperada.
A era atual ainda está caracterizada pelo signo da violência. Os valores construtivos e pacíficos veiculados pela alma brasileira ainda não atraem no mercado da intriga internacional. Constituem mercadoria desvalorizada e inócua como o remédio precioso da homeopatia, incapaz de curar organismos intoxicados que anulam, pela vibração grosseira, a terapia de profundidade.
Só a derrocada dos valores negativos poderá modificar a atitude do "paciente" e decidi-lo a colaborar, com hábitos sadios, ajustando-se à disciplina necessária.
Realizada essa transição, surgirá o vácuo nas coletividades estupefatas. Uma forma nova de conduta será valorizada ao extremo e as atenções se voltarão para quem seja capaz de exercer liderança no sentido construtivo, ansiosamente buscado então.
Cremos, portanto, que a liderança que vos está destinada somente será plenamente reconhecida após o período caótico das grandes provações, porque, mesmo durante elas, sereis encarados como simples "tábua de salvação". Só a impossibilidade de reajustar os valores negativos da civilização atual conferirá, com o tempo, uma liderança declarada à "Pátria do Evangelho".
PERGUNTA — Sentimos verdadeiro entusiasmo diante dessas afirmações e nosso coração se enche de esperança no futuro da Humanidade, porém em nossa incapacidade de avaliar tais eventos tememos pela situação em que o Brasil se encontrará no ambiente caótico das provações apocalípticas. Não será prejudicado em sua capacidade iniciante de liderança?
RAMATIS — O gigante, que dizem adormecido, será violentamente despertado de seu sono ao clamor da derrocada dos princípios nos quais inconscientemente se apoiava.
PERGUNTA — Não compreendemos bem esta última afirmação.
RAMATIS — Quem se habituou a ver preponderar princípios estranhos aos que veicula, acostuma-se a ser conduzido ou então acomoda-se à margem. Embora seus valores não sejam "vendáveis", é com eles que conta e permanece no segundo plano.
De alguma forma, vive sob a imposição dos valores preponderantes no ambiente, embora não sejam de sua propriedade. E apoia-se, para viver, no sistema em vigor.
Numa sociedade assim constituída, só a derrocada dos princípios atuantes obrigará a reserva psicológica dos circunstantes a preponderar.
Neste princípio baseia-se a evolução da Humanidade na ronda incansável das civilizações que se sucedem.
PERGUNTA — Por que a liderança espiritual e material do planeta seria entregue a um povo cuja formação tem sido tão acidentada? Havendo uma programação no Espaço, não poderia ser constituído um povo selecionado para esse fim dentro de características mais harmoniosas?
RAMATIS — Um dos princípios nos quais se baseia a liderança é a necessidade da existência de pontos de contato suficientes entre condutor e conduzidos.
A liderança é um processo de deslocamento através das trilhas do progresso, no qual o guia funciona como o motor de uma composição cujos vagões precisam estar firmemente ligados à máquina de tração e, simultaneamente, entre si. E qual seria esse traço de união capaz de resistir aos esforços intensos do deslocamento penoso por caminhos desconhecidos? Qual a característica suficientemente resistente em tal situação, quando as amenidades se tornam impossíveis? Somente a provação partilhada pode manter líder e liderados em estreita comunhão.
Pela lei natural o homem se identifica e crê naquela que partilha as suas dores. O fato de partilhá-las confere-lhe o diploma de autenticidade na capacidade de superá-las, fornecendo um roteiro vivo para quem mais deseje fazê-lo.
Ora, uma coletividade privilegiada poderia ser semeada na face da Terra, porém tornar-se-ia um exemplo esporádico do perfeccionismo, em muitos casos motivo para desânimo naqueles povos que se sentiriam inferiorizados a tal ponto que anulariam suas próprias possibilidades.
Podereis observar que, sem haver distância tão grande entre os povos atualmente existentes na Terra, o maior grau de realização de alguns já é encarado muitas vezes como prova de incapacidade total de outros ainda não amadurecidos. Que sucederia se um povo de elite fosse domiciliado entre vós? Na melhor das hipóteses serviria para justificar a suspeita já tão disseminada de que o Senhor tem "Seus eleitos".
Daí, concluímos que o líder deve estar submetido às mesmas aflições e necessidades, com a diferença de que possua uma visão mais avançada, no limite suficiente para fornecer-lhe diretrizes, sem isentá-lo, temporariamente, por completo, das deficiências características de seus liderados.
Em caso contrário, ele mesmo perderia o ponto de contato com a massa que o segue e já não seria capaz de interpretar-lhe as necessidades mais íntimas.
PERGUNTA — A atuação de Jesus entre nós estaria incluída nestas especificações?
RAMATIS — Dentro da concepção normal de liderança como é encarada e vivida entre os homens, concebe-se que condutor e conduzidos caminham juntos, impulsionados pelos mesmos anseios e necessidades. Entretanto, à proporção que uma parcela da sociedade evolui, por circunstâncias diversas, em tempo mais curto, surgem indivíduos que, na realidade, são mais missionários do que líderes na acepção comum da palavra.
Eles conduzem, colocando-se, voluntariamente, em posição análoga ao grupo que lhes sofrerá a influência.
Esta é a técnica de tornar-se líder quando as circunstâncias não favorecem a liderança natural, isto é, quando o ser que veicula princípios mais avançados já ultrapassou a massa, num grau de realização que seria capaz de naturalmente desligá-lo do conjunto que pretende influenciar.
Se sua identificação com os problemas do grupo for convincente, conseguirá construir o vínculo indispensável à situação de liderança e cumprirá sua missão.
Porém, este tipo de liderança missionária pertence a um número limitado de indivíduos que, apesar de crescerem espiritualmente falando, não desejariam se desligar dos que ficaram na retaguarda. Abraçam missão sacrificial e são admirados como exceções.
Na Terra têm existido casos veneráveis de tais almas abnegadas, principalmente após os exemplos inigualáveis do Cristo, cujos ensinamentos de Amor vieram comprovar, pelo exemplo deixado, a grandiosidade do espírito de sacrifício.
Qual a razão de Sua personalidade haver influído de forma tão revolucionária sobre o desenrolar dos fatos marcantes da civilização terrena? Justamente por fornecer exemplos de um tipo de liderança até então desconhecido — aquela na qual o líder está livre dos laços compulsórios de afinidade com os liderados. Eis a causa do impacto proporcionado pelo espírito do Cristianismo. Seus adeptos lutariam daí por diante para seguir-lhe o exemplo — pugnar por uma causa tão ampla que seria considerada loucura. Curvar-se para dar em vez de esforçar-se para conquistar e vencer em causa própria, nos limites da visão estreita de uma existência terrena.
Jesus tornou-se inesquecível porque introduziu o conceito, até então inadmissível, de que sacrifício e doação constituem vitórias comprobatórias de uma liderança ainda desconhecida entre os homens de um modo geral.
Por esse motivo, mais do que um líder, Ele pode ser classificado como o Líder dos Missionários, uma classe de homens que surgiu sob a influência de Seu exemplo.
PERGUNTA — Se nos permitis, gostaríamos de saber se em vossa opinião o Brasil tem conseguido manter-se na programação traçada ou, por condicionamentos naturais às imperfeições humanas, tem sido afastado do roteiro preestabelecido.
RAMATIS — As imperfeições humanas são parte do roteiro traçado no Espaço. Portanto, os desvios naturais são previstos e só constituem perigo se prevalecem além dos limites admissíveis.
PERGUNTA — Perdoe-nos a insistência, porém nossa curiosidade não nos permite deixar de insistir quanto à vossa opinião pessoal em relação à pergunta anterior.
RAMATIS — Não identificamos propriamente curiosidade e sim ansiedade, muito justificável quando se trata de realizar sonhos de progresso espiritual. Porém, nem vossa ansiedade modificará os fatos nem tampouco nossa opinião pessoal. Sintonizamos, porém, no mesmo desejo de progresso para a Terra Brasileira, receptáculo dos sonhos de evolução para a Humanidade do presente. Tal como para vós, ela representa para nós o "Eldorado" pleno de tesouros espirituais.
Julgamos ser ainda cedo para opinar sobre a atuação do povo de vossa pátria atual diante da Espiritualidade. Os momentos decisivos para a realização de sua missão ainda não surgiram. O período que viveis representa uma preparação e, como tal, apresenta uma série de inadequações, tornando desarticulados diversos pontos que serão essenciais no momento da comprovação de seus rumos.
Só quando o panorama espiritual do planeta atingir os momentos cruciais da provação, a alma coletiva brasileira despertará, sacudida pelo impacto da necessidade de uma reação de conjunto, capaz de permi-lhe a realização do trabalho para o qual então vos sentireis predestinados, sem sombra de dúvida.
Então será feito o teste definitivo quando, possuidor de uma força inequívoca sobre os destinos da Humanidade, os valores evangélicos estarão em jogo, tal como tem sucedido em todas as eras. Povos cristãos e humildes têm perdido a sua rota logo que o poder e a riqueza os fazem sentir a embriaguez da glória fictícia do mundo.
Quando o Brasil deixar de ser o selvagem arredio e bisonho, esquecido por seus irmãos no fim das paragens da Terra, a prova definitiva estará sendo feita. Se não se inebriar com a força e o poder que lhe serão atribuídos, então terá alma suficientemente aberta para continuar sendo o mensageiro portador das meigas instruções do Nazareno. Levará consigo a mensagem da Boa-Nova que se extraviou há dois mil anos.
Se assim for, então, toda a população terrestre, finalmente, chegará a entender a forma adequada de preparar o panorama do mundo para receber o seu mais importante hóspede — o Amor ao Próximo.
Daí em diante uma Nova Era será marcada na história da Humanidade — Era da Boa Vontade Entre os Homens. E só então poderá ser afirmado que realmente Jesus nasceu entre vós, porque até hoje espera-se o cumprimento da segunda parte da saudação dos Anjos aos homens na noite gloriosa do nascimento de Jesus, sendo esse o motivo pelo qual muitos descreem que realmente Ele algum dia haja passado pela superfície da Terra.
Em sua descrença, gostaríamos de acrescentar, consideramos esses irmãos muito sensatos, pois pode-se medir a causa pelos efeitos e quem não tem senão a visão limitada a uma encarnação só pode admitir que não deve ser tão grandiosa, como se prega, a realidade evangélica, se não conseguiu em dois mil anos converter, senão por exterioridades, a maioria dos homens. Alargando-se, porém, o âmbito da visão espiritual, única aparelhada para percepções mais extensas, será possível sentir que os séculos são como dias na eternidade e os ciclos da evolução desenvolvem-se quase que dentro de uma previsão matemática. E dizemos quase, porque é comum a ideia de que a matemática seja uma ciência rígida. Só os leigos poderão admitir a impossibilidade de ser flexível seja no que for. A própria matemática admite o cálculo dos erros como forma de correção posterior de efeitos que estarão sob controle.
Na Espiritualidade, a matemática dos erros espirituais da Humanidade prevê flexibilidade suficiente para admitir que, por um prazo aparentemente tão prolongado, a segunda parte da saudação angélica permanecesse sem cumprimento. E pela persistência, autorizada na previsão dos resultados, continuou-se a cantar "Glória a Deus nas Alturas" sabendo-se que chegaria o momento no qual seria possível obter "paz na Terra para os homens de boa-vontade".
Eis a diferença entre os que creem e os que não creem. Para os primeiros é possível viver dentro de uma programação grandiosa que alcance milênios e vibrar, mesmo encarnados, dentro dessa sintonia. Sem ter perfeita consciência do que se passa no Astral, as almas que vibram na fé sintonizam com a vibração do otimismo, alimentada no Espaço por aqueles que entoaram a saudação de Natal sabendo o que faziam. A lógica sideral permitiu-lhes conhecer as consequências remotas do acontecimento que presenciavam e lançaram com aquelas palavras uma "cabeça-de-ponte" para a ofensiva do Bem sobre a Terra.
Hoje, dois mil anos depois, um povo está sendo preparado para cumprir a previsão angélica. Um povo que, à semelhança do Mestre, iniciou sua jornada terrena entre os humildes, os renegados da sorte. Um povo destituído das tradições do orgulho e da prepotência, rico somente em sentimentos de boa-vontade. Por que lhe seria vedado realizar na Terra o cumprimento da saudação-profecia e obter a paz com os homens de boa-vontade, semeados em seu território sob a forma de almas capazes de acolher a Mensagem do Senhor?
Sobre a terra brasileira baixam, cada vez com maior frequência, as almas afins com o Evangelho, tangidas por um sentimento sublime de sintonia. Desde que se esboçou a missão da Terra da Promissão, imensa coluna de peregrinos se movimenta no Espaço para obter a bênção de uma experiência redentora no caminho evangélico do povo brasileiro. Todos os que um dia amaram o Mestre e sentem-se endividados para com Ele, esperam ansiosos o momento de contribuir para relembrar junto à nova Terra Prometida o fulgor de Seus olhos puros, a majestade serena de Seu porte espiritualizado, a ternura de Seus gestos de Amor.
Para quem não O viu nem O sentiu jamais, esses são os peregrinos de uma nova loucura — o misticismo, considerado "fuga" pelos especialistas na matéria. E nós não lhes tiramos de todo a razão porque, enquanto fogem de si mesmos refugiando-se no atordoamento da vida material exclusivamente, aqueles outros fogem do atordoamento da vida material, interessados em obter alguma forma de compensação no reavivamento da esperança em uma realidade pressentida no mais recôndito de suas almas.
E lá, no íntimo do ser, onde buscam avidamente refrigério para a secura causada pelos ventos estonteantes de uma civilização enceguecida pelo ódio, ouvem a voz sem som da Espiritualidade que lhes segreda: — "Retempera-te, filho, nas emanações suaves do Amor que o Pai vos envia, porém não te esqueças de teus irmãos que não sabem ainda buscar a paz interior. Ajuda-os, trabalha por eles e encontra a tua paz servindo-os..."
E aquele que realmente desejava a fuga no misticismo vê-se forçado a retornar à luta por mais árdua que seja, tornando-se um batalhador mais rijo do que qualquer "espírito prático", cuja resistência não vai além das conveniências pessoais.
E dentro desse espírito evangélico, esperamos seja feita a renovação do panorama espiritual da Terra Brasileira, quando soar a hora da realização de sua missão de liderança sobre o planeta.
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