sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Amálgama e constituição de um
novo patriotismo no Brasil
(23nov2012)


Continuo a postagem do livro "Brasil, Terra de Promissão", publicado em 1969, ditado pelo espírito de Ramatis e psicografado por América Paoliello Marques.

Não se acabrunhe o leitor deste blog, mas estas postagens surgem de uma necessidade imperiosa que me invade, que é a de levar ao coletivo visões alternativas sobre o Brasil, num momento de grande conturbação e enfrentamento entre forças conservadoras - sequiosas de manter seu status quo e privilégios que lhes foram assegurados desde sempre na história de nosso país - e forças que pugnam por um avanço democrático e igualitário em nosso país, a despeito dos percalços inerentes à tomada de caminhos novos.

É possível observar posições que vão se radicalizando, tendendo à troca de ofensas e acusações, muitas das quais sem fundamentos reais, no fundo das quais aparece a preocupação com a dominação de riquezas, por um lado, e com a distribuição mais justa e equitativa das mesmas, por outro. Eu defendo uma distribuição equitativa dos nossos recursos, bem como posturas de fraternidade e cooperação contrapondo-se àquelas de individualismo e competição, tão ao gosto do chamado Deus Mercado.

O livro começou se ser postado pelo Prefácio ditado por Ramatis (ver aqui), seguido pelo capítulo que trata do papel das etnias na constituição do povo brasileiro (ver aqui), por uma breve análise da história do Brasil sob o ponto de vista da constituição da brasilidade (ver aqui) e pelo papel que o povo brasileiro desempenhará frente à derrocada dos valores materiais hoje imperantes na Terra (ver aqui).

I - Preparação psicológica


4 – Composição espiritual



PERGUNTA — Paralelamente às considerações tecidas sobre as origens étnicas do povo brasileiro, gostaríamos de obter comentários a respeito da composição espiritual da alma coletiva aqui domiciliada.

RAMATIS — Presentes na formação espiritual do povo brasileiro encontram-se, como não poderia deixar de ser, todos os espíritos que se apresentaram à Direção Espiritual do Planeta como novos cruzados, dispostos a servir à sombra da bandeira majestosa de Ismael. Como sucedeu àquele movimento histórico, o chamamento feito em relação à nova Terra da Promissão simbolizava uma conquista em nome do Eterno, visando resguardar sobre o solo brasileiro os tesouros do Evangelho que aí seriam introduzidos. Uma disposição, porém, diferenciava totalmente os novos cruzados dos antigos — antes de sacrificar um só de seus irmãos em humanidade para atingir seus fins, dar-se-iam em verdadeiro holocausto, exemplificando, diante das criaturas terrenas, os legítimos objetivos do Cristo.

Um "estado-maior" de espíritos caldeados nas lides materiais do passado, senhores de uma formação essencialmente pacífica por já se haverem desiludido das gloríolas transitórias, reuniu-se para estudar a execução dos planos da Espiritualidade no local onde ocorreria o renascimento espiritual da Humanidade. Sucedeu como se o Mestre, decepcionado com o aproveitamento dos tesouros confiados à antiga Terra da Promissão, deliberasse tranferi-los, em espírito e verdade, para o âmbito abençoado das paragens que, por alguns séculos ainda, permaneceriam ignoradas pela maioria dos homens, distraídos na conquista de valores passageiros.

Ergueram-se os novos soldados do Bem, imponentes em sua coragem humilde, e rijos espiritualmente como resistentes eram seus precursores medievais entregaram-se à tarefa, prontos a tudo sacrificar no sentido de plasmarem os primórdios de uma Nova Era.


PERGUNTA — Poderemos então concluir que o povo brasileiro tenha sido formado exclusivamente de almas de escol empenhadas na obra de redenção da Humanidade?

RAMATIS — Desejamos relembrar que nos referimos a um "estado-maior" formado das almas conscientes dos deveres espirituais impostos à coorte de servos humildes, capazes de liderar a nova Cruzada Espiritual sobre o Planeta. Entretanto, a fim de que sua missão fosse levada avante, seria necessário labutar em terreno propício, no qual todos os testemunhos de amor cristão pudessem ser efetuados. Para atingir a concretização dessa parte do planejamento fez-se indispensável abrir campo às exemplificações baseadas nas tarefas do reerguimento espiritual em favor do semelhante, único testemunho capaz de proporcionar ao discípulo o atestado de espiritualização realmente crística. Assim sendo, agregaram-se aos condutores dos destinos espirituais da nova coletividade todos os seres que, por sintonia do pretérito, desejassem adquirir as virtudes evangélicas já alcançadas por aqueles espíritos. E eis que principiou na Espiritualidade a marcha garbosa dos cavaleiros armados em nome do Senhor, ostentando o aprumo característico do autoesforço. Avançavam ciosos de se fazerem acompanhar pelas almas ainda trôpegas que, à retaguarda da grande coluna, formavam como que uma infantaria a se deslocar em situação precária. Mas, para espanto geral e como exemplo para toda uma Nova Era, os valorosos cruzados não se pejavam em resguardar com desvelo seus irmãos mais humildes, como guardiães inteiramente convictos da missão cristã que lhes fora confiada.


PERGUNTA — Haverá algum fundamento na afirmação, que já se tornou comum entre nós, sobre a deficiência do material humano encaminhado às terras brasileiras? Será ele de gabarito espiritual inferior por não se amoldar proveitosamente à sociedade de origem?

RAMATIS — Quem poderá definir com exatidão os verdadeiros motivos pelos quais se afastaram essas almas de sua terra nativa? Cada ser é um complexo emaranhado de impressões justapostas, para as quais nem o próprio interessado conhece, muitas vezes, as explicações necessárias. Transplantar-se de uma coletividade exige um conjunto de reações ignoradas pela maioria das criaturas acomodadas ao âmbito natal. Preocupa-se o espírito nessa situação com um sem-número de detalhes de origem material e psicológica capaz de arrefecer o ânimo dos mais seguros analistas de gabinete. Embora a coragem dos grandes descobridores seja decantada em prosa e verso, talvez o valor dos atuais "desbravadores de civilização" não lhes esteja muito distante.

O homem que emigra pode estar tranquilo quanto à rota que o navio percorrerá e quanto à inevitável ancoragem do mesmo no porto de destino. Todavia, sua odisseia começou no esforço de romper a rotina e desdobrar-se-á, à semelhança dos aventureiros do passado, ao se encontrar sob a ação anestesiante da calmaria da indiferença alheia pela sua sorte; agravar-se-á, ainda, ao rugir da tempestade dos sentimentos contraditórios da incerteza e da insatisfação, prolongada através duma espera que, frequentemente, parecerá interminável. Essas almas, assim batidas pelas ondas gigantescas da inadaptação ao meio, terão que possuir a resistência dos cascos dos navios, reforçados para enfrentar todos os embates, como, também, aprender a conhecer, por sinais eventuais, a proximidade da "terra firme" onde possam desembarcar com segurança. Navegando no mar tenebroso das incompreensões humanas, jamais poderão ser acoimadas de "refugo humano" como levianamente as classificam seus detratores, de suas poltronas bem resguardadas.


PERGUNTA — Além dos motivos de ordem econômica, haverá ainda outras razões que impulsionem essas almas a uma aventura assim tão penosa?

RAMATIS — Na Espiritualidade, o determinismo e o livre-arbítrio são duas leis que se conjugam para equilibrar as realizações do progresso. Podemos afirmar que funciona no Espaço um verdadeiro "departamento de emigração" com a finalidade de objetivar o bem-estar da Humanidade. Nenhuma força constrange, inapelavelmente, os espíritos encarnados a emigrar; porém, em seu foro íntimo ecoa o apelo dos compromissos assumidos, quando, por deliberação própria, aliaram-se às almas que se propuseram descer no seio de uma das raças existentes na face da Terra, para colher valores úteis à formação da nacionalidade brasileira. Na realidade, vistos sob esse prisma, são brasileiros que estagiaram em solo diverso antes de ingressar definitivamente nas lides de sua pátria de eleição. Esses espíritos podem mesmo ser considerados como os mais autênticos patriotas, pois, reconhecendo a programação superior relacionada com o progresso do Brasil, não hesitaram em arrostar os desajustes da expatriação, tendo em vista contribuir com uma pequena parcela de valores novos, necessários ao equilíbrio espiritual de sua Terra da Promissão.

A imunidade ao exclusivismo racial é inerente à alma do brasileiro nato, um apóstata das normas inflexíveis do nacionalismo cultivado pelos povos apegados à tradição. Esse sentimento de "fluidez patriótica" baseia-se na intuição profunda de que sua nacionalidade tem raízes nos princípios universalistas de Amor, incompatíveis com a consolidação de valores rígidos no plano material.


PERGUNTA — Desejaríamos que definísseis mais claramente o que designais por "fluidez patriótica".

RAMATIS — A força dos sentimentos patrióticos é uma energia emitida pelos espíritos afeiçoados ao local que lhes proporciona a alegria da renovação espiritual através da encarnação. Varia em sua intensidade e seus atributos de maior ou menor sutileza estão na razão direta da elevação do espírito que a emite. Através das eras, formam-se moldes mentais dentro dos quais se solidificam os valores espirituais da maioria, encarando-se com estranheza as expansões patrióticas em desacordo com os padrões gerais.

Pela natureza peculiar de sua formação, a alma brasileira não herdou um molde único em que forjar suas vibrações de civismo. Na impossibilidade de selecionar entre os muitos apresentados o que melhor lhe conviria, preferiu manter no estado fluido o amor às bênçãos recebidas através da encarnação nesse rincão privilegiado. Transferiu então suas expressões patrióticas para um nível menos concreto, transmitindo pela tradição de hospitalidade os sentimentos de grata satisfação pelos bens recebidos, considerando-os como usufruto e não como propriedade exclusiva.

Essa atitude parece ao observador superficial um tanto displicente e, muitas vezes, encoraja a intromissão indébita por parte do estrangeiro inescrupuloso que, diante da necessidade premente de um brasileiro menos avisado, insinua-se, induzindo-o a faltar com seus deveres de fidelidade ao bem comum. Isto, porém, por mais frequente que pareça, despertando o pânico entre os preclaros estudiosos do porvir nacional, representa procedimento nefasto, consequente da indigência moral inevitável, quando os valores da subnutrição espiritual e física imperam para desbaratar a energia incipiente de uma coletividade. Entretanto, a eclosão infalível do progresso destinado a cada povo em seu zênite incumbir-se-á de incentivar a maturidade necessária às garantias da hombridade. Para o infeliz deseducado e desnutrido, a pátria é seu estômago, pois se ele não estiver em estado de garantir-lhe a sobrevivência, de nada lhe adiantará o pedaço de terra que tem sob os pés, senão para cobrir-lhe os restos mortais. Astuto como a raposa, o espírito ganancioso do forasteiro fareja a carniça, na qual injeta algumas gotas da vitalidade venenosa do acumpliciamento para garantir a partilha de haveres que não lhe cabem por direito. E quando nos referimos ao estômago não nos limitamos ao âmbito da sobrevivência física; há também aqueles que se julgam completamente cadaverizados em vida se não conseguirem locupletar-se com todos os bens disseminados à sua volta. Morrem de inanição psíquica por não alcançarem a opulência material. Não escapam à classificação entre os famintos do corpo e da alma, pois a imaturidade de seus princípios morais clama abertamente sua indigência espiritual, como um estado de subnutrição psíquica mais grave, muitas vezes, do que a própria inanição física. São herdeiros da irresponsabilidade implantada como jogo da ganância primitiva dos colonizadores, não sabendo transferir ao plano moral o anseio de maiores lucros.

Aprovamos o clamor que se ergue contra tais fatos, como necessidade educativa de corrigenda. É preciso esclarecer, entretanto, que a fase do desconhecimento da propriedade alheia, do egoísmo total, é mais ou menos prolongada mas sempre existente no desenvolvimento do ser humano, tanto considerado individual como coletivamente. Toda sociedade tem que esmagar os germes desse sentimento doentio antes de avançar segura para melhores realizações, e não será essa uma maldição exclusiva da nacionalidade brasileira.


PERGUNTA — Será essa "fluidez patriótica" responsável pelos descaminhos atribuídos ao povo brasileiro? Nesse caso, não será o caldeamento de raças um prejuízo insuperável para o Brasil?

RAMATIS — Usamos a expressão "fluidez patriótica" para classificar os sentimentos da alma coletiva brasileira em relação à Pátria; não com o objetivo de denegrir, mas por nos parecer uma conjugação de termos bem próxima da ideia que desejamos transmitir. Identificamos as nuances inerentes a essa forma especial de sentir, no desejo de defini-la claramente em seus aspectos positivos. Entremeada de graves deficiências, decorrentes de uma concepção ainda imatura da vida, essa atitude mental-emocional dos brasileiros acarreta sérios prejuízos ao ritmo do progresso nacional. Examinando, porém, mais detalhadamente a origem de tais contratempos, concluiremos pela inocuidade da "fluidez patriótica" diante da propaganda subversiva instaurada na atmosfera espiritual do País e cuja causa não se encontra identificada a essa característica em análise.

Realmente prejudicial ao brasileiro, repetimos, vem sendo, desde os primórdios da formação de seu povo, a aura de irresponsabilidade moral aqui implantada pelos iniciadores da civilização na Terra de Santa Cruz.

Podemos lançar mão de uma imagem simples, a fim de aclarar os conceitos emitidos. O aluvião de deturpações morais, que procura arrastar consigo os valores positivos pertencentes ao povo em formação nessa terra acolhedora, é alimentado como um rio, por duas nascentes. A primeira brota na montanha dos sentimentos elevados e constitui a água abençoada das vibrações fraternas. Simboliza essa "fluidez patriótica" a que nos referimos. É generosa e pura, a todos beneficia, mantendo-se líquida por saber que a água solidificada, em sua rigidez, não consegue servir. Nessa nascente no alto da montanha das verdades espirituais, onde despontam as mais puras inspirações para a orientação da nacionalidade brasileira, não há possibilidade de contaminação pelas substâncias ácidas do egocentrismo, camuflado nas expressões fatigadas do patriotismo exclusivo.

O brasileiro, espiritualmente orientado pela aura de benevolência para com o próximo, não se apega aos princípios rígidos de um patriotismo míope e egocêntrico. Dentro da sua alma corre temporariamente, tranquilo e límpido, o  rio da boa-vontade para com o semelhante, como consequência da generosidade com que a vida o brindou nesse recanto paradisíaco do globo.

A meio caminho, porém, na baixada onde poderia esse rio fertilizar o solo em prol de uma abundante colheita, levanta-se um nevoeiro que obscurece o panorama espiritual da coletividade. Da floresta próxima desliza um caudal de detritos, formados de lama barrenta e viscosa. Sua origem é obscura, pois ninguém jamais ousou chegar até o seu nascedouro. Enquanto que a primeira nascente brota na montanha da espiritualidade pura, consta que a segunda surge de um pântano a cuja pestilência ninguém pode resistir.

E assim a tradição se incumbe de divulgar o mito apavorante da força insuperável do poder corruptor. Os espíritos pouco valorosos de uma alma coletiva, em fase de adolescência espiritual, conservam-se à distância da floresta assustadora, suportam-lhe a enxurrada de detritos e, coagidos por um terror supersticioso, rendem homenagem involuntária aos princípios implantados pela força do negativismo.

Dessa forma, os anseios inconfessáveis dos interesses mesquinhos deturpam irremediavelmente os sentimentos patrióticos que seriam extraordinariamente sadios por emanarem de uma fonte superior de grande pureza. Podemos mesmo afirmar que maior é o empenho das forças negativas em aproveitar os benefícios dessa nascente, por identificarem a potencialidade generosa de sua origem.

No momento em que esse fluxo de águas claras se tornar consciente de suas possibilidades, conseguirá levantar um dique para deter a enxurrada originária da floresta escura das manobras escusas que turvam a limpidez do leito generoso sobre o qual está destinado a correr.


PERGUNTA — Pelo que ficou explanado, poderemos concluir que todos os espíritos encarnados no Brasil são almas avessas ao egocentrismo patriótico?

RAMATIS — A formação espiritual de um povo obedece a um esquema previamente traçado, no qual são dosadas as características mais necessárias ao progresso da Humanidade. Inúmeras vezes, sofrem essas características distorções prejudiciais; entretanto, cumprem de alguma forma a missão de introduzir no seio da coletividade terrestre os valores que veiculam.

Cada nação traz a incumbência de administrar ao corpo de ideias sustentadas pelo homem terreno uma determinada "medicação" tônica ou corretiva, de acordo com o momento. Todavia, como sucede às drogas preparadas pelos laboratórios ou farmácias, existe um "veículo" no qual se acumulam as doses, em maior ou menor grau de concentração, das substâncias desejadas. À medicação preponderante, acrescentam-se outras também úteis e, algumas vezes mesmo, uma quantidade infinitesimal de antídoto capaz de contrabalançar os efeitos mais intensos do agente principal.

Por conseguinte, haverá sempre essa ebulição nacionalista a clamar, estentoricamente, contra a "intromissão indébita" do estrangeiro, tentando solapar a base do fortalecimento da nacionalidade através do acréscimo de novos valores externos. Como ficou dito acima, entretanto, as doses bem calculadas do antídoto tornam-se úteis ao equilíbrio psicossomático do enfermo.

Na atmosfera espiritual do povo brasileiro, é preciso que ecoem vozes de exclusivismo nacionalista para contrabalançar o excesso de liberalismo provocado pela imaturidade espiritual, incapaz de aproveitar com sabedoria a tradição de generosidade esclarecida, semeada na aura coletiva dessa nação pelos preclaros mentores do Alto.

Dentro dessa situação contraditória, surgirá aos poucos a afinação necessária à avaliação adequada dos princípios cristãos de uma soberania impregnada das mais puras vibrações de fraternidade.


PERGUNTA — Em virtude de os espíritos muitas vezes se afinizarem especialmente com uma determinada raça, gostaríamos de saber se predominam entre os brasileiros almas afeiçoadas de preferência a uma ou outra nacionalidade do passado.

RAMATIS — Se houver o cuidado de provocar o caldeamento de raças na formação étnica do povo brasileiro, não seria razoável que no Espaço fosse realizada a discriminação de origens.

Como afirmamos anteriormente, o espírito aprimora suas tendências ao contato da força constrangedora que constitui a aura magnética de cada povo. A mensagem espiritual de uma raça significa um apelo ao desenvolvimento de determinadas aptidões preponderantes em seu ambiente psicológico. Quanto maior o número de raças nas quais o espírito haja encarnado, mais possibilidades terá recebido para acrisolar suas percepções e habilidades.


PERGUNTA — Entretanto, parece-nos sentir nas expressões da alma brasileira muito pouca afinação com a índole predominante nos países nórdicos, germânicos e anglo-saxões. Estaremos porventura equivocados?

RAMATIS — A formação racial do povo brasileiro vem obedecendo a uma diretriz que visa favorecer o despertamento espiritual da Humanidade. Por conseguinte, o anseio dos Mentores espirituais desse povo é provocar a fusão do maior número possível de virtudes que permitam, no futuro, a eclosão de um psiquismo portador da síntese ética mais apurada que já se obteve sobre o planeta. Todos os povos, pois, serão chamados a colaborar com suas aquisições valiosas, a fim de modelar essa aura-padrão do porvir.

Como numa obra bem planejada, o material deve ser calculado e escolhido, introduzindo-se cada espécie oportunamente. Ninguém poderá utilizar, na construção de um edifício, o material elétrico e as tintas sem primeiro haver erguido o arcabouço, a estrutura de concreto devidamente emboçada. Assim, procede-se por partes, racionalmente, em toda obra bem planejada e duradoura.

Na composição espiritual do povo brasileiro, não se pode fugir a essa norma inteligente de consolidação do edifício psíquico tão valioso para a Humanidade futura. Escolheu-se o material de acordo com a utilidade apresentada.

Do solo brasileiro em repouso foi retirado o elemento índio como na escavação inicial que precede a construção. Afastou-se a "terra" desnecessária para lançarem-se os alicerces. E a estrutura começou a crescer, formada pelos vergalhões da raça negra argamassada pelo cimento português, fabricado com a areia indígena, isto é, os selvagens acessíveis à colonização.

À proporção que o edifício cresce, surge a necessidade de preservar a estrutura com o revestimento multicor, capaz de dar à construção aspecto agradável. De acordo com a destinação dos cômodos, a mão-de-obra especializada é chamada a estender as instalações de utilidade específica.

Como decidir qual a parte mais importante no conjunto da obra? Sem a base da estrutura sólida, o edifício não se levantaria; porém, ela por si não satisfaz às necessidades dos moradores.

As almas afinizadas com um ritmo de vida acentuadamente técnico e avançado sob o ponto de vista espiritual, afeitas à disciplina cultivada em existências anteriores, serão preciosas colaboradoras do burilamento do caráter da nacionalidade em formação. No momento atual, esses retoques indispensáveis ainda não foram introduzidos no psiquismo brasileiro; tem-se pois a impressão, ao observar o panorama nacional, de uma obra em andamento, cujo arcabouço nu começa a ser trabalhado pelos artífices, empregando o material especializado, disperso em confusão, à espera de utilização adequada.

Por sua vez, as almas afinizadas com as raças eminentemente disciplinadas na conquista dos valores do plano material, ao penetrarem a planta geral da obra em que terão de colaborar, veem-se tomadas de espanto pelas proporções gigantescas de sua envergadura. Faz-se então necessária uma mudança de método na aplicação de sua técnica.

Um impulso renovador as impelirá a renderem-se diante da beleza do planejamento "sui-generis" encontrado no mundo novo, representado pela Terra da Promissão.

Os valores preciosos de disciplina e firmeza serão desafiados em toda a sua capacidade de expansão, a fim de alcançarem padrões mais elevados de espiritualidade.  A amplitude generosa das raças que moldaram a estrutura obrigá-las-á a aperfeiçoar cada vez mais os processos técnicos na aplicação de seus conhecimentos.

A princípio, sentir-se-ão desajustadas e clamarão contra a impossibilidade de pôr em prática, em tais condições, os métodos aprimorados de trabalho que adquiriram. Sentir-se-ão como operários liliputianos a retocar o palácio de Gulliver. Entretanto, como exemplificação e experiência úteis a ambas as partes, os artífices do retoque especializado serão forçados a intercambiar valores com as almas a cujo encargo esteve entregue o trabalho penoso de consolidar a argamassa dos sentimentos de amor fraterno, na formação do povo brasileiro.

Coração e intelecto ver-se-ão impelidos a uma colaboração estreita. A técnica será levada a estender seu manto protetor sobre a obra de amparo ao coração aflito da humanidade terrena.


PERGUNTA — Poderemos então considerar temporariamente confirmada a nossa observação anterior?

RAMATIS — Vossa observação é a constatação exata de uma situação passageira. Viveis no momento em que a dosagem de valores eminentemente intelectualizados começa a ser administrada à aura psicológica do povo brasileiro, após ter sido testado em sua capacidade de resistência ao vírus do orgulho e da vaidade.

O conjunto de almas que vêm encarnando no Brasil desde seus primórdios submeteu-se a um teste do difícil aplicação  — a construção de um povo dentro dos princípios da humildade e da caridade cristãs. Sofre o peso da crítica mordaz das "almas evoluídas" do plano material, carregando a cruz característica dos pequenos da Terra. Os olhos humildes da mãe-preta voltados para a tarefa ingrata do serviço sem recompensas, a alma mortificada do indígena escorraçado, o espírito inseguro do português expatriado e a instabilidade indefinível do mestiço pairam na tradição espiritual do povo brasileiro, pesando definitivamente em sua formação psicológica. Para essa alma coletiva, assim provada no sofrimento dos párias da sociedade terrestre, chegará o tempo de auferir os benefícios materiais sem grande desvio do rumo inicial.

Os espíritos encarnados com a missão de lançar as bases da nova nacionalidade cumpriram sua etapa e poderão receber em seu seio aqueles que, provenientes de uma formação espiritual intelectualizada e dedicados com afinco aos padrões do progresso material, fornecerão os valores que veiculam em troca dos que lhes escasseiam.

O entrosamento que já se efetua entre esses dois tipos de alma originárias das raças mais afins às suas respectivas índoles, intensificar-se-á com o tempo e cumprida será a previsão do "paraíso terrestre" capaz de agasalhar as aflições de todo o globo terráqueo.

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