domingo, 27 de novembro de 2011

Eu quero a "baleia elétrica" (VLT) em Cuiabá. Chega de complexo de inferioridade neste país
(27nov2011)

Passageiros se enfileiram para entrar na "baleia" da extinta Viação Coleta
Foto: Lázaro Papazian (Acervo Misc)

O VLT até poderia ser chamado aqui em Cuiabá de "baleia elétrica", em memória dos primeiros veículos de transporte coletivo da cidade. Aqui, as antigas jardineiras e ônibus eram chamados de "baleias" porque, ao que li sobre o assunto, o proprietário era um tal de Sr. Baleia. "Dgente, corre que a baleia djá vai passá". Eu mesmo ouvi essa expressão diversas vezes quando vim morar aqui, de cuiabanos referindo-se aos ônibus de então, que eram os da empresa Nova Era. Horríveis, por sinal.


VLT de Barcelona

Está rolando, a meu ver, uma grande armação para tirar de Cuiabá a possibilidade de contar com um modal de transporte coletivo de melhor qualidade do que os velhos conhecidos nossos, os ônibus.

A forma como tenho visto a mídia nacional tratar o projeto do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) é bastante marcada por ironias. Primeiramente políticas, querendo envolver mais ministérios em "casos de corrupção". E em segundo lugar, mas não menos importante para nós, dando a entender que Cuiabá é uma capital menor, no sentido pejorativo da palavra. No sentido de insignificante para o país. É como se dissessem: "O quêêê!! Cuiabá, aquela cidadezinha nos cafundós do Judas, quer um meio de transporte sofisticado? Pra quê? Pra bugre?".

VLT de Bordeaux

A mídia utiliza-se do pouco conhecimento que o brasileiro em geral tem do Mato Grosso para reforçar estereótipos que a própria televisão vive instituindo. Mato Grosso é lugar de pescarias no Pantanal, ou no Teles Pires, ou no Rio das Mortes. Mato Grosso é lugar dos jacarés e tuiuiús do Pantanal. Mato Grosso é lugar do agrobusiness, grandes vazios populacionais cheios de soja, cana e algodão.

Nós que vivemos em Cuiabá, nascidos aqui ou "paus rodados" (como eu), temos um cotidiano que deixa claro que a cidade, mesmo antes da ideia de se tornar uma das sub-sedes da Copa 20144, tem uma malha viária inconveniente para o seu crescimento, com gargalos de trânsito onde todos ficam retidos tempos cada vez mais longos.

VLT de Dublin

Faixas específicas para ônibus (o chamado BRT) podem ser funcionais por um tempo, Mas conhecemos de uma vida inteira como são os ônibus. Envelhecem rapidamente, começam a apresentar problemas de motor, poluem, são barulhentos, Isso não muda, com ou sem faixas exclusivas. Tudo começa bonitinho, com ônibus novos etc. etc., e logo essas mesmas vias exclusivas acabam por se entupir com um ou outro ônibus quebrado interrompendo a passagem dos demais.

Há muitos e muitos anos (ou seja, não é uma novidadezinha moderna) a maior parte das cidades europeias possuem bondes elétricos. Em décadas mais recentes esses bondes vêm sendo modernizados e, como se pode ver em filmagens feitas em diversas dessas cidades (na Espanha, Alemanha, Hungria, Suíça etc.) tais veículos são funcionais, confortáveis e confiáveis.

VLT de Melbourne

O bonde (aqui estão chamando de Veículo Leve sobre Trilhos - VLT) é movido a eletricidade, não  é poluente, é mais duradouro (como os bons e saudosos trens que havia no Brasil de "antigamente"), e silencioso,

Fico aqui a sonhar com linhas de "baleia elétrica" cortando a cidade em várias direções. A "baleia elétrica" pode ter regularidade de horários. A "baleia elétrica" não enfrenta congestionamentos. A "baleia elétrica" dispõe hoje de tecnologias que a diferenciam dos bondes elétricos da primeira metade do século XX, que tinham aqueles cabos sobre eles encostados nos fios de eletricidade que ficavam pendurados sobre seus trajetos. A "baleia elétrica" é esteticamente agradável. A "baleia elétrica" é mais confortável do que os ônibus, sem aquelas frenadas bruscas e sem aqueles sacolejos que tanto incomodam pessoas mais idosas ou pessoas com problemas de saúde ou de mobilidade (cadeirantes, por exemplo).

Enfim, reforço minha posição de que Cuiabá merece, sim, a sua rede de "baleias elétricas".

VLT de Paris

Quanto aos interesses contrariados, fico pensando se alguém já não teria feito "investimentos" em áreas que teriam que ser desapropriadas para a implantação dos corredores dos ônibus de trânsito rápido, e que agora veem seu "investimento" não render aquilo que esperavam.

A quem mais interessaria ver Cuiabá sem o VLT? Só posso imaginar que haja um lobby de empresários ou empresas que queriam socar goela abaixo para nós os tais ônibus. De outra forma, a contrariedade somente pode se dar para quem veja Cuiabá de forma estereotipada, folclórica, como uma capital "menor", "pouco importante".

VLT de Reims

Lembro a todos que em Cuiabá vive uma imensa população que sofre cotidianamente com seu trânsito, seus congestionamentos, seu calor (esse não é folclore), lotando pontos de ônibus e superlotando ônibus que atrasam, quebram, sem ar condicionado (a grande maioria), barulhentos e brutos em frenadas, chacoalhos e acelerações.

Estão tentando nos dissuadir de sonhar com o impossível. Mas, como nas manifestações que agora ocorrem por todo o mundo, temos que querer o "impossível". Assim ele torna-se possível, materializando-se a partir de nossos sonhos.

Não conheço pessoalmente o deputado Riva e nem o governador Silval, mas entendo que eles, neste caso, estão brigando pela coisa certa e pensando no conforto e qualidade de vida de nossa população que depende de transporte coletivo. A disponibilização de um meio de transporte que seja confortável, confiável e que tenha horários certos de saída e chegada permitirá, inclusive, que muitas pessoas deixem seus carros em casa para fazerem uso do transporte coletivo, reduzindo tanto a poluição e o consumo de combustíveis quanto os congestionamentos da cidade.

Muita gente não anda de ônibus (eu, por exemplo) porque são tudo o de ruim que citei acima. Chega de nos menosprezarmos. Nós merecemos e podemos ter nossa "baleia elétrica", bonita, funcional, elegante, respeitadora de horários, confortável, de fácil acesso, com estações bem planejadas e de fácil acessibilidade.

A economia, neste caso, é a base da porcaria. Minha mãe usava muito essa expressão quando havia necessidade de escolha de algum bem durável para nossa casa. Demorávamos mais para comprar, mas comprávamos um produto reconhecidamente mais confiável e durável. Ela costumava dizer também que "o barato sai caro".

Em postagens anteriores tratei desse tema, bem como apresentei ilustrações sobre o VLT. É esperar para ver quais os interesses que se sobressairão: os da mídia vendida ou os da população cuiabana.

2 comentários:

  1. Os problemas da adoçao do VLT em Cuiaba eh que vai acabar a galinha de ovos de ouro.
    Continuaremos com os velhos/ultrapassados/sujos etc, ônibus.
    Com tarifas caríssimas pelo péssimo serviço prestado.
    E como essa galinha produz muitos ovos, fica impossível ficar sem ela.

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    1. Desculpe-me pela demora em responder. Mas concordo plenamente com você. Há uma "máfia" ganhando muito dinheiro a troco de péssimos e desrespeitosos serviços.

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