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Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Agora não é mais só uma eleição. Agora é a História.
(2out2014)

Por Fernando Brito, no blog Tijolaço


Não é difícil perceber que se formou, nestes dias finais da campanha eleitoral do primeiro turno (e talvez da própria campanha eleitoral), uma imensa e tresloucada aliança do conservadorismo brasileiro.

Um clima histérico que capturou, admita-se, parte da classe média e da mediocridade fútil que foi entronizada pela mídia como sendo a “inteligência” brasileira.

Chegamos aos píncaros de uma onda de pessimismo que não encontra base nos fatos profundos da economia – não há desemprego, não há queda violenta do poder de compra da população, não há uma crise social como tantas que vimos em nossa história – e muito menos nos da política, porque jamais vivemos numa democracia formal tão completa como hoje, embora os imbecis chamem a tudo de “perigo vermelho”, 50 anos atrasados em sua guerra-fria neurótica.

Mas os jornais publicam um país que arde: as bolsas despencam, o “mercado” incorpóreo prevê o desastre e embolsa lucros milionários.

Mas o outro mercado, o da esquina, faz tempo que não tira a plaquinha do “estamos contratando”.

O debate nacional se reduz à pobreza mental do aparelho excretor de Levy Fidélix, como se Levy Fidélix e a polivalência de aparelhos excretores fossem as causas nacionais e este não fosse um país que tenta se livrar de sua condição histórica de colônia.

Um Brasil que pode e vai assumir seu papel de um dos gigantes do mundo, já não só pela sua “própria natureza”, e não mais ser, me perdoem, o cu da Terra.

Mas é assim a alienação de nossas classes médias transformadas em diletantes do voto: o ator americano que faz o papel de Hulk ou a neurose fanática do pecuniário pastor Malafaia contam mais que o aumento do salário mínimo que alimenta melhor 40% dos 200 milhões de brasileiros.

Ou que os espelhinhos energéticos da Siemens (caríssimos, aliás) fossem nos prover da gigantesca energia de que precisamos e nos fizessem guardar para os espertos o petróleo do pré-sal. Ou se um país pudesse se desenvolver sem portos, ferrovias, gasodutos, estradas, transportes.

Assim é, em tudo, a manipulação que nos impõem, como se fôssemos um bando de tolos e superficiais.

O que teria ou não teria dito um safardana que foi demitido da Petrobras e ao qual se promete o perdão de anos de cadeia por todos os roubos se envolver neles os que o demitiram de lá (perdão que faria um desqualificado moral que, a esta altura, acusaria a própria mãe) flui, anônima e criminosamente, de meia dúzia de meganhas e promotores que podem dizer o que quiserem, na sombra do que seria, no mínimo, a violação dos seus deveres funcionais, mas os confessados e comprovados aeroportos privados e jatinhos de caixa-2, ah, estes repousam no silencioso limbo da conveniência.

Em tudo se tenta distrair o povo brasileiro do que está por trás da eleição.

É preciso que se deixe de olhar para a história deste país infelicitado por quase ininterruptos 512 anos de governos de elites coloniais, daqui e de fora, para que se atribua a quem nos tenta tirar daí a culpa pelas carências e roubalheiras que nos marcaram por séculos.

É preciso transformar em tolos ou corruptos quem tem trajetória de luta, de honradez, de amor ao povo brasileiro e que não se serviu dele para exibir-se como um exotismo manso e servil aos senhores de nossa escravidão histórica.

O povo brasileiro a tudo vem resistindo, na sua sabedoria inconsciente, aquela que se forma apenas pela força irresistível da realidade, que é o único componente da verdade que não se forma com fumaça e que, por isso, não se esfumaça com os dias.

Hoje não é dia mais de dados, de números, de “denúncias”.

Nada disso importa mais, porque nossa imprensa e nossas classes dominantes transformaram dados, números e “denúncias” em panfletos imundos que se penduram nas bancas de jornal ou se exibem na tela das televisões. O nosso povão, na sabedoria que lhe vem da vida e da pele, na sua maioria, já o entendeu e o repele.

Hoje e os próximos três dias são de honradez, de altivez, de dignidade e, por isso, de absoluta tranquilidade.

Sabemos contra o que lutamos e pelo que lutamos.

A nossa causa é digna, é bonita, é humana, é generosa.

A deles, é feia, sombria, perversa e, por isso, precisa revestir-se de mil mentiras e das falsas juras de quem há muito entregou sua fé, como Judas, pelos trinta dinheiros com que os novos (e eternos) romanos compram alguns de nossos filhos.

Os que representam a causa do povo brasileiro, nestes dias finais, devem se sublimar.

Banharem-se na serenidade dos que sabem que sentem a razão e o destino a seu lado.

Distantes do ódio, do nervosismo e dos medos, inseguranças próprias de cada um e de todos nós, seres humanos.

Há momentos em que as circunstâncias são o senhor supremo nossos atos e decisões.

Porque é a hora que faz os grandes e aqueles que apenas planejam sê-lo declinam quando chega o momento da verdade.

Este é o instante em que já não somos apenas nós mesmos, mas somos o passado mesclado ao futuro, somos nossos pais e nossos filhos, somos negros, pardos, brancos, índios, somos esta massa diversa, fervilhante e teimosa que é o povo brasileiro.

A História, esta força imensa que habita em cada um de nós, nos absorve quanto mais a amamos.

E, quando amamos agudamente, temos a confiança dos amantes e deixamos que ela nos possua e fale por nossa boca.

E as palavras, então, tornam-se invencíveis.

* * *
Tenho buscado, e conseguido, não me afundar no mar de ressentimentos e ódios plantados principalmente pela grande mídia. No entanto, o texto acima coincide bastante com minha percepção do momento político que agora testemunhamos.

O mundo não está para brincadeiras, e basta dar uma olhada de relance nos noticiários para vermos que muitas guerras estão estourando, muita gente está sendo morta nos mais diversos cantos do mundo. Em praticamente todos esses casos há recursos naturais e energéticos envolvidos. O Brasil, com suas reservas naturais e com seu potencial de crescimento autônomo é, e será cada vez mais, alvo da ganância internacional. Daí minha preocupação em entregarmos nosso destino a alguém que correrá para o colo do Império, abrindo mão de nossa soberania e de nosso potencial protagonismo na criação de alternativas globais ao neoconservadorismo.

Nosso país é hoje citado em sítios da internet de praticamente todos os países deste mundo como fazendo parte de uma resistência possível ao avanço das políticas regidas por Wall Street e pela City de Londres. O aprofundamento das alianças latino-americanas, bem como a implementação dos projetos conjuntos com os BRICS são, por agora, uma alternativa possível para tentarmos escapar do mesmo aviltamento que o FMI e o Banco Mundial vêm impondo às populações de diversos países, mais visivelmente os europeus. Precisamos estar comprometidos, enquanto nação, com a criação de um sistema financeiro que permita aos países em desenvolvimento trilharem caminhos mais humanos e com desenvolvimento de cunho social. Nós, seres humanos, e não o mercado ou o lucro, somos a razão da existência de tudo. Se perdermos essa dimensão do sentido da vida e da política, seremos subumanos, uma coisa, uma mercadoria para ser manejada tal qual um rebanho de gado pelos ricos e poderosos.

Meu desejo, neste momento, é para que os nossos corações sejam iluminados por uma chama amorosa que nos permita enxergar em cada ser humano uma extensão de nós mesmos. Portanto, cada ser humano é digno de nosso respeito e deve ser honrado, qualquer que seja a expressão de sua visão de mundo. Os epítetos jocosos e as desqualificações de adversários são desnecessários e não levam a nada que não seja a produção de rancores e ressentimentos. Espero que o Universo conspire em nosso favor, e fico confiante de que o melhor acontecerá. 

Boa eleição para todos!

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