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Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

De poste em poste...
(24out2012)


Haddad, Pochmann e o programa luz para todos

Publicada quarta-feira, 24/10/2012 às 20:20 e atualizada quarta-feira, 24/10/2012 às 20:57 no sítio Escrevinhador

Por Izaías Almada

Fui ao dicionário procurar o significado do adjetivo degradante, pois é sempre recomendável usar as palavras com o seu sentido exato. E lá está: “aquele ou aquilo que degrada”, isto é, aquilo que priva de graus (retira gradativamente) dignidades ou encargos. São sinônimos de degradante os adjetivos: aviltante, desonroso, infamante.

Pois bem: o degradante (aviltante, desonroso, infamante) espetáculo proporcionado pelo julgamento da AP 470, onde a maioria dos atuais membros do Superior Tribunal Federal não teve escrúpulos em jogar a justiça brasileira no lixo da história, condenando e absolvendo sem provas, está proporcionando ao país, além da revolta e ressaca moral pela pantomima, a possibilidade de inúmeras reflexões, muitas delas apaixonadas – é verdade – mas nem por isso isentas de seriedade e com a firme intenção de entender o que está acontecendo nesse novo e ao mesmo tempo velho Brasil.

Novo pela vontade de mudar, velho pelo medo de mudar. Novo porque os que de fato querem as mudanças não são muitas vezes compreendidos por muitos dos que sempre se julgaram a vanguarda das mudanças. Novo porque, por vezes, e muitos se esquecem disto, as antigas teorias também se tornam velhas. Novo porque o proletário que ousou arriscar mudanças não se encaixava muito bem no perfil de antigas teorias revolucionárias.

E o fato é que a nova, imperfeita e titubeante democracia brasileira acaba de fazer os seus primeiros e velhos presos políticos. Paradoxo? Ironia? Ou alguém em sã consciência ainda considera que José Dirceu, José Genoíno e o PT estão sendo julgados por corrupção?

A reflexão que faço é singela, sem escoras acadêmicas ou pretensamente eruditas, a saber: se o Partido dos Trabalhadores incomoda e desagrada a direita brasileira ao mesmo tempo em que não satisfaz aos sonhos dos mais arraigados fundamentalistas da esquerda, qual a razão do ódio que se tem dedicado a esse partido e a alguns de seus principais militantes? Leia-se a propósito as novas e inacreditáveis declarações do Sr. Plínio de Arruda Sampaio a respeito do partido que ajudou a fundar. Declarações dignas de um Gilmar Mendes ou de um Celso de Melo, velhos defensores do conservadorismo e do atraso nacional.

Por acaso o PT inventou a corrupção no Brasil? Seriam de fato suas necessárias alianças para governar tão espúrias assim? As diversidades de opiniões e de pontos de vista não pressupõem alianças político-partidárias quando não se tem maioria num Congresso de formação conservadora e dominado por lobbies ruralistas e rentistas entre outros?

Para não recuarmos muito na história do país, basta lembrar que a elite brasileira criou uma estrutura para o exercício do poder político que sempre a favoreceu. E quando essa estrutura se viu minimamente ameaçada, essa mesma elite apelou para golpes de estado, sedições e tentativas de impedimentos de posse para presidentes eleitos. Para o bem e para o mal, sem alianças com a burguesia e com os picaretas e oportunistas de plantão que habitam nossas casas legislativas (o que abrange todo o espectro partidário brasileiro, sem exceções) não se governa o Brasil. A estrutura está montada assim e não adianta choro ou ranger de dentes. Ou isso ou uma revolução popular… Ou isso ou uma estratégia para que se possa governar para os mais humildes, para a maioria, sem perder o poder político.

Se abrirmos ao longo do tempo a caixa preta das relações promíscuas entre governos municipais, estaduais e o governo federal com os órgãos de comunicação, por exemplo, para não falar das grandes obras de infraestrutura (favorecimentos, licitações de carta marcada, etc.), o odor da corrupção será insuportável. E isso há muitos e muitos anos. O que falar da construção de Brasília, por exemplo, ou das obras faraônicas durante a ditadura civil/militar? O metrô de São Paulo? As vergonhosas privatizações no governo entreguista de Fernando Henrique Cardoso, essa sim, uma corrupção comprovada por extenso material de investigação jornalística?

Dirão os mais ingênuos (ou cínicos?): mas em algum momento é preciso dar um basta à corrupção no país e alguém tem que servir de exemplo. Embora não me tenha na conta de cínico ou ingênuo, até concordo… Mas se o propósito dessa grande farsa jurídica montada em Brasília com o apressado julgamento do chamado “mensalão” é a exemplaridade, por qual razão não começar com outros julgamentos que esperam nas gavetas da Procuradoria Geral da República e do próprio STF?

E a corrupção que vem de cima, a do colarinho branco, aquela que é sabida e praticada pelos partidos que representam os interesses do poder econômico e dos grupos mais favorecidos da escala social? E tudo indica que não são poucos aí os homens e partidos envolvidos até ao pescoço. Aliás, sob esse aspecto, penso que alguns ministros nem deveriam estar no STF, muito embora eu não tenha as provas para acusá-los. Mas posso supor, pois agora já não se precisam de provas para acusar… Ou melhor, os ministros do supremo, se for o caso, que tratem de provar que são inocentes.

Por qual razão o exemplo tem que ser dado justamente com o partido que, bem ou mal, tem efetivamente trabalhado em função dos mais humildes? Ou existe outro partido à esquerda, no centro ou à direita que consiga crescer a cada eleição, que consiga superar os milhões de votos em eleições municipais e os mais de 60 milhões de votos em eleições federais?

A esse propósito sei que muito ainda se escreverá, mas como estamos a três dias do segundo turno eleitoral é sempre bom refrescar a memória e tentar minimamente um novo exercício consciente sobre o voto, mesmo que ainda seja o voto numa democracia burguesa, repito, falsamente representativa, mas com a qual temos que conviver e respeitar. Aprimorá-la, se possível, mas não à custa da criminalização da atividade política e de um julgamento com sérios indícios de farsa. E pior: com o desnudamento da falsa erudição de alguns integrantes do atual STF, onde o juridiquês e certa linguagem eivada de maledicências e descabidas ironias, para dizer o mínimo, revelam em que mãos (ou cabeças) o país deposita a imparcialidade que se espera da justiça.

Avanços e recuos à parte, o Brasil chega aos primórdios do século XXI ainda carente de instituições verdadeiramente democráticas e onde uma investida hegemônica dos meios de comunicação de massas, cada vez mais avassaladora e partidarizada, assume arrogantemente e acima das leis o papel de dona da verdade, demonizando o Partido dos Trabalhadores e a esquerda em geral, incluindo-se aqui a esquerda que duvida da própria esquerda.

No próximo domingo muitas cidades realizam o segundo turno das eleições municipais. Aqui no estado de São Paulo, duas delas – a capital e Campinas – podem fazer avançar as perspectivas do novo Brasil que, sob fogo da direita tradicional e da desconfiada esquerda de nariz torcido, vai lentamente acordando o gigante pela própria natureza.

As vitórias de Fernando Haddad em São Paulo e Márcio Pochmann em Campinas, se assim entender a maioria dos eleitores, poderá ampliar e repercutir no imaginário político brasileiro aquela que já é uma realidade adquirida em apenas um dos impactantes programas dos governos Lula/Dilma: o luz para todos. Como disse o ex-presidente Lula em seu último comício em São Paulo: os postes da nova geração do Partido dos Trabalhadores irão iluminar a política brasileira.

A partir do julgamento do voto, caberá, então, ao povo brasileiro estabelecer rapidamente a dosimetria com que deveremos avançar na reforma política, na reforma do judiciário e em nova regulamentação da lei de imprensa. Todo poder emana do povo e em nome dele deverá ser exercido.

Izaías Almada é escritor, dramaturgo e roteirista cinematográfico, é autor, entre outros, dos livros “Teatro de Arena, uma estética de resistência”, da Boitempo Editorial e “Venezuela, povo e Forças Armadas”, Editora Caros Amigos.

2 comentários:

Rafa disse... [Responder comentário]

Apressado julgamento do mensalão? Faz mais de 5 anos, isso é apressado? o que é lento pra você então? 100 anos? Sinceramente não sei onde o governo do PT melhorou as coisas no país... Tirou um monte de gente pobreza e aumentou a classe média? será? isso só aconteceu pq agora o governo considera que é da classe média quem tem salario bruto familiar de 1200 reais, ou seja se numa familia com 3 membros, a renda total for de 1200, o que dá 400/pessoa já é classe média, será? 3 pessoas vivendo com 400/mês? A saúde vai de mal a pior, meu pai esta aguardando há 1 mês pra realizar um simples exame de sangue. Minha mãe não consegue consulta com um especialista por causa de dores no estomago e nas costas. A única melhoria foi a ampliação do Bolsa Familia pra que não trabalhar ter renda e ainda assim é um caso típico de populismo de esquerda, afinal não estimula a população a buscar qualificação e depois um emprego, é melhor ficar sem fazer nada e ganhar um dinheiro. Enfim os PTistas qdo eram oposição só reclamavam e atrasavam a vida do país recusando projeto essenciais.. agora entendo o porque disso, pq ao entrar no poder estão fazendo muito pior, montando um país para enganar quem não tem estudo e se garantir no poder muitos anos infelizmente.

Aquiles Lazzarotto disse... [Responder comentário]

Antes, nos governos psdbistas, a situação era melhor? A mim me parece que não. Não era melhor para mim e nem para as pessoas menos favorecidas economicamente com as quais convivo diariamente, inclusive as de minha família. Pelo contrário, vivia-se uma situação de grande desemprego e de falta de perspectivas.

Quanto ao julgamento do mensalão, é muita "coincidência" que ele tenha sido milimetricamente programado (pelo esforço monstruoso da mídia) para ser concluído na semana que precede as eleições.

Quero ver, agora, se a mídia e o STF terão a mesma postura no julgamento do "pai dos mensalões", o do PSDB de Minas Gerais.

E quando a Procuradoria Geral da República vai denunciar a compra de votos para a mudança da Constituição que criou a reeleição e favoreceu o FHC? Há a confissão publicada, então, na Folha, de um deputado que afirmou ter recebido 400 mil reais para votar a favor da instituição da reeleição. Para isso, todo mundo fecha os olhos.

A corrupção começou no Brasil com Pero Vaz de Caminha, que pediu ao Rei de Portugal um emprego para um seu parente na mesma carta em que relatava a chegada ao Brasil. Para haver corrupção há que haver corruptores muito abastados. Onde estão eles? Quem mexe com eles?

Quanto ao Bolsa Família, acho melhor você se informar melhor quanto aos resultados ao invés de repercutir o que a mídia golpista brasileira vem martelando.

A saúde, a educação e a segurança tornaram-se MERCADORIA durante o desgoverno neoliberal. Tudo para favorecer Unimeds, Objetivos e muitas empresas de produtos de vigilância, todos privados. O PSDB governou fazendo imperar o medo e a insegurança.