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Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Maurício Caleiro tem palavras que me faltaram
(31ago2012)

Logo após ter escrito e publicado minha postagem anterior, li a postagem de Maurício Caleiro em seu blog Cinema & Outras Artes. Contrariamente ao meu texto desalinhavado, ele constroi um texto que, ao fim e ao cabo, traduz bem as ideias que a falta das palavras me impediu de expressar adequadamente. Obrigado, Maurício.

A capa da Forbes


Por Maurício Caleiro

A presidente Dilma Rousseff está na capa da revista Forbes, como “terceira mulher mais poderosa do mundo”.

A Forbes é uma publicação única. Mal comparando, um cruzamento de Exame com a revista Caras – mas “de primeiro mundo”, como gostam de dizer os brasileiros colonizados. Vem sendo, há décadas, uma das principais porta-vozes editoriais do neoliberalismo, sempre defendendo o mercado financeiro contra as demandas sociais.

Mas também tem seu lado silly, mundano: como Umberto Eco e os reles mortais, gosta de fazer suas listinhas: das mais ricas, dos mais milionários, das mais poderosas e por aí vai.

Dilma ocupa a capa da Forbes justamente por representar uma relativa novidade no topo do  do ranking, mas, note-se bem, ela é “só” a terceira mais poderosa do mundo. A primeirona é a chanceler alemã Angela Merkel e a vice a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton. “Diga-me com quem anda e eu te direi quem és”, diz o ditado.

Merkel, apelidada de “a nova dama de ferro”, impõe neste momento, de forma implacável, um receituário neoliberal a países da zona do Euro em aguda crise econômica e social, deteriorando ainda mais seu quadro social ao empanturrar o doente de um remédio que está a lhe matar. O resultado é mais crise e inquietação social, com desemprego em massa em diversos países – o que tem levado, nos últimos dias, espanhóis e gregos ao desespero e ao suicídio.

Já madame Clinton conduz a política externa do país mais belicoso do mundo, que permite a tortura por afogamento como método de investigação, mantém em Guantánamo uma prisão fora dos limites da Justiça e atua atualmente em várias frentes de guerra, além de manter a Síria e o Irã no topo da agenda. Empenha-se, neste momento, em perseguir Julian Assange, por ousar divulgar fatos públicos que os meios de comunicação corporativos, sempre a soldo do poder, escondem.

Comparativamente, as realizações de Dilma, na ótica da Forbes, são bem mais modestas: permitir que os bancos que atuam no Brasil tenham os maiores lucros do mundo e que as multinacionais – inclusive as teles, que prestam um serviço de quinta - continuem a remeter bilhões de dólares ao exterior; tratar os professores e os servidores públicos na base da humilhação, da intransigência e do gás lacrimogêneo; submeter o respeito aos Direitos Humanos à pauta do desenvolvimentismo a qualquer preço - além, é claro, de promover a privatização (ops, a concessão durante décadas) de estradas, aeroportos e portos, para deleite das megacorporações "transnacionais" e dos arautos do neoliberalismo.

Muitos festejam Dilma na capa da Forbes. Inclusive aqueles que se dizem identificados com a esquerda, e que, há pouco tempo, se indignariam, com razão, se FHC (ou Sarney, ou Collor, ou Itamar ou Marina Silva) protagonizasse capas de publicações ou fosse homenageado em eventos representativos do mercado financeiro internacional – afinal, aquela seria mais uma prova de seu conservadorismo e de sua subserviência ao grande capital.

Estamos, felizmente, numa democracia, e cada um comemora o que lhe aprouver. Eu, como brasileiro e de esquerda, lamento profundamente que a presidente em quem votei perfile ao lado de tais figuras públicas, responsáveis por tanto sofrimento em diferentes partes do globo, e que ilustre uma publicação que saúda tão somente o capital e o poder – e me dou o direito de achar ridículo que pessoas que se dizem esquerdistas vibrem com uma presidente advinda de tal campo na capa da bíblia do mercado financeiro.

De minha parte, preferia uma presidente menos poderosa, mas que lutasse para fortalecer modelos alternativos ao neoliberalismo e que dispensasse a atenção prometida a Educação, Saúde, Segurança Pública e Direitos Humanos.

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