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Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Reichstul, ex-presidente privatista da Petrobras, é nomeado conselheiro de Dilma (20mai2011)

O que está acontecendo? Estamos guinando mais ainda para o neoliberalismo? No blog Com Texto Livre encontrei, e reproduzo abaixo, manifesto dos petroleiros contra a nomeação de Henri Phillippe Reichstul para a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, que assessora a presidente da república.

Para começar, essa história de Desempenho e Competitividade já provoca arrepios. Parece que a coisa vai desabar em cima dos trabalhadores, com a (continuidade da) redução dos direitos adquiridos em árduas lutas dos movimentos dos diferentes segmentos do mundo do trabalho.

Os termos Desempenho e Competitividade parecem se contrapor a Solidariedade, Bem-estar e Cooperação. Sabemos que o capital que ver sangue. Torcer os mais fracos até pingar.

Mas vamos ao manifesto, que explicita tim-tim por tim-tim o que foi a administração desse senhor conselheiro:

Pensei que esse vendilhão da pátria estivesse morto e enterrado

FUP e sindicatos repudiam nomeação de Reichstul para conselheiro do Governo

Os trabalhadores brasileiros e os petroleiros, em especial, foram surpreendidos com a nomeação do ex-presidente da Petrobrás, Henri Philippe Reichstul, para a questionável Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, instalada pelo governo no último dia 11.

Reischstul, que de tudo fez para tentar privatizar a Petrobrás no governo FHC, está de volta ao Palácio do Planalto para aplicar seus conceitos neoliberais em consultorias à presidenta Dilma Rousseff sobre como controlar e cortar gastos públicos.

O ex-presidente da Petrobrás, o mesmo que tentou mudar o nome da empresa para Petrobrax, faz parte do seleto grupo de empresários que integram a Câmara de Gestão criada pelo governo. Ao lado dele estão figuras do porte de Jorge Gerdau, Abílio Diniz e Antônio Maciel Neto, cobras criadas do neoliberalismo e fãs confessos da privataria.

Sem qualquer tipo de respaldo institucional, eles foram transformados, sabe lá por quem, em “iluminados” para orientar a presidenta sobre como gerir com eficiência os recursos públicos.

Seria cômico, se não fosse trágico. A quem interessa a presença de Henri Reichstul como “conselheiro” da presidenta?

Em sua gestão na Petrobrás, ele conseguiu em tempo recorde aplicar com competência o receituário demo-tucano de sucateamento de estatais para privatização.

Entre 1999 e 2001, sua gestão provocou a morte de 76 petroleiros em acidentes de trabalho e 29 grandes acidentes ambientais, entre eles os vazamentos na Baía de Guanabara e no Paraná. Foram pelos menos 7,2 milhões de litros de óleo jogados ao mar e nos rios, manchando internacionalmente a imagem da Petrobrás, na tentativa de difundir na sociedade a necessidade de sua privatização.

O afundamento da P-36, com a morte de 11 trabalhadores, e a encomenda da nova marca da empresa, que ao apagar das luzes do ano 2000, quase virou Petrobrax, foram outros dois episódios que marcaram a administração Reichstul.

Somam-se a estes fatos a fragmentação da Petrobrás em 40 unidades autônomas de negócio, a troca de ativos com a Repsol/YPF que entregou à multinacional 30% da Refap e vários campos de petróleo, a tentativa de privatização de outras refinarias (como a Replan e a Reduc, que já estavam na linha de corte do governo FHC), os estudos para a venda das FAFENs e inúmeros ataques aos direitos dos trabalhadores.

Os petroleiros enfrentaram na gestão Reichstul o congelamento de salários e propostas indecorosas de “compra” do extra turno e de extinção do regime 14 x 21, sem falar na farta distribuição de (sur)bônus para os executivos, gerentes e demais cargos de confiança.

Henri Reichstul, que nasceu francês e teve que alterar o estatuto da Petrobrás para poder ser o primeiro presidente estrangeiro da empresa, só não privatizou a estatal porque os trabalhadores, organizados nacionalmente pela FUP, resistiram com muita mobilização. É, portanto, indecoroso, que um governo eleito pelos trabalhadores coloque na ante-sala da presidenta uma pessoa que tantos prejuízos causou a empresa que hoje é o passaporte do país para a soberania e o desenvolvimento.

Se Reichstul ainda fosse o presidente da Petrobrás, o PAC não existiria, pois ele jamais concordaria em investir no fortalecimento do Estado e em projetos de desenvolvimento nacional. O pré-sal, então, já estaria entregue às multinacionais há muito tempo.

A FUP e seus sindicatos, portanto, repudiam veemente a participação de Henri Reichstul em um órgão de aconselhamento presidencial, assim como reivindicam uma discussão pública urgente sobre a própria legitimidade desta Câmara de Gestão.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Na Europa, o povo vai às ruas. Saúdo essa luta por direitos e qualidade de vida (19mai2011)

Artigo de Mauro Santayana no JB Online e publicado hoje no sítio Conversa Afiada aponta para, finalmente a única (a meu ver) forma de se fazer um contraponto ao domínio "mão do mercado". Na verdade, mãos e bolsos cada vez mais cheios de políticos e banqueiros. A velha história: quando há lucro, este fica em mãos privadas; quando há prejuízo, este é socializado e coberto com dinheiro público.

Daí políticas que colocam populações inteiras a nocaute. Vêm as nossas conhecidas "reformas" (aumento da idade de aposentadoria, redução do Estado, privatização a toque de caixa etc.) implementadas fortemente nos governos FHC e com alguma continuidade nos governos Lula. Este último, pelo menos, conseguiu algumas conquistas muito interessantes na área social. Mas não deixou os banqueiros, os empresários e os ricos em má situação. Tanto é que Dilma teve um financiamento de campanha bem maior do que seus concorrentes. Quem financiou?

Agora o FMI e a União Europeia cobra de Portugal, Espanha, Grécia, Irlanda, entre outros, a implementação dessa política suicida de cortar gastos sociais, fazer as manjadas "reformas" e garantir a segurança do sistema financeiro. É o dinheiro, o lucro, o maior enriquecimento de quem já é exageradamente rico, em detrimento dos empregos e do bem-estar social. Cortes nos gastos com previdência, saúde, educação. Privatização, privatização, privatização... Saúde privada, educação privada, segurança privada... Assim, mesmo quem tem emprego perde qualidade de vida ao ter que pagar por coisas a quem todos devem ter direito e que devem ser garantidas pelo Estado.

Nós, no Brasil, conhecemos esse esquema. A mídia trabalha incessantemente para gerar sensação aumentada de insegurança. Ganha a indústria da segurança. Os poucos hospitais públicos não têm os recursos de que necessitariam. Privatizam-se os hospitais municipais, estaduais e federais (hospitais universitários inclusive). Ganha a indústria da "saúde complementar", os planos de saúde privados e inchados de dinheiro. Acabam com a qualidade das escolas públicas, desqualificando os professores, deixando as escolas em precário estado físico, tornando-as inóspitas, desagradáveis. Ganha a indústria da educação privada. Assim nossos salários, não reduzidos em termos absolutos, são reduzidos de fato, com parcelas cada vez mais substanciais deles sendo reservadas para essas despesas, tirando-nos a possibilidade de desenvolver atividades outras, de cunho cultural e de lazer.

Por isso, fico na expectativa de que os povos realmente saiam às ruas para mostrar que países são feitos de pessoas, e não de finanças, balanços, PIBs e lucros. O Homem tem que reassumir seu papel como sujeito dos acontecimentos. A cooperação, a ética e a solidariedade são os verdadeiros valores que devem ser defendidos. E com eles, a PAZ!

Abaixo, apresento somente um dos parágrafos do artido de Mauro Santayana, e remeto o leitor para o sítio do Paulo Henrique Amorim, onde o mesmo pode ser lido na íntegra. Para isso, basta clicar aqui.
Por mais que os meios de comunicação finjam não perceber o que tais manifestações anunciam, o povo está começando a sair às ruas, e às ruas sairão, em todas as latitudes e longitudes, em busca de uma vida mais humana. As instituições estatais não podem continuar a serviço dos mais fortes, nessa promiscuidade escandalosa entre os que dominam o capital financeiro e os que ocupam os governos. Os grandes jornais norte-americanos não noticiam, como deveriam,  os movimentos que, de forma discreta, por enquanto, começam a surgir naquele país, protestando contra a crescente e insuportável desigualdade social. (Mauro Santayana)

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Perto do André Lara Resende, o Palocci é um pobretão (18mai2011#5)

Toda essa barulheira quanto ao aumento gritante do patrimônio, e o PiG (Partido da imprensa Golpista) não lembra do estrondoso enriquecimento de André Lara Resende, quem, enquanto participava da equipe de elaboração e definição dos passos do Plano Real, criou um banco, lucrou horrores com informação de dentro do governo (ele era de dentro do governo). Não estou defendendo o Palocci, longe disso. Pelo menos ele aumentou seu patrimônio quando estava fora do governo. Como o todo-poderoso da equipe econômica até então, seria um consultor da melhor estirpe para os agentes financeiros. Ainda assim, cabem explicações sobre isso, pois ele é um homem público, do primeiro escalão da república.

Mas tomo a liberdade de reproduzir postagem de 2 de julho de 2009 no sítio Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim. Internet é uma beleza. Tudo fica registrado. E o PIG não se emenda, achando que vai enganar todo mundo o tempo todo.

Se grita agora, com Palocci, deveria ter gritado muito mais com André Lara Resende. Mas muuuuuito mais. Se bem que ainda é tempo... Quem sabe eles resolvem...

Vamos ao Paulo Henrique Amorim:

Um amigo navegante ficou chateado, porque a urubóloga Miriam Leitão fez uma história do Plano Real e omitiu os nomes de Itamar Franco e André Lara Resende.

Um amigo navegante se lembrou de uma entrevista que Paulo Henrique Amorim fez (*), em abril de 2007, com Luís Nassif a propósito do lançamento de seu livro “Cabeças de Planilha”.

É essa a singela e comovida homenagem que o Conversa Afiada presta ao Farol de Alexandria e a André Lara Rezende, aqueles que deram um toque tucânico ao Plano Real.

Leia a seguir.

Resende e o grande golpe do Plano Real

Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 312
…(André) continuou tendo participação ativa nas formulações econômicas, em um caso flagrante de ‘inside information’. Aliás, ele era mais do que um insider. Era o economista com dupla militância, ajudando a definir as regras do Real e, depois, operando no mercado em cima dessas margens. (Pág. 187)

… algumas instituições começaram a atuar pesadamente no mercado de câmbio, apostando na apreciação do real… a mais agressiva foi a DTVM Matrix… com capital de R$ 14 milhões passou a ter uma carteira de R$ 500 milhões. Seu principal sócio era André Lara Resende. (Pág. 197)

Para fortalecer a posição dos “vendidos” (como o Matrix de André), nos meses que antecederam a implantação da nova moeda, Winston Fristch reuniu-se reservadamente em São Paulo com instituições financeiras… fornecendo o mapa da mina da apreciação do Real… Um dos presidentes de instituição financeira presente me contou a surpresa deles ao ver um membro do Governo passando o mapa da mina cambial. (Pág. 198)
Esses relatos espantosos fazem parte do livro “Os cabeças-de-planilha”, de Luis Nassif, da Editora Ediouro, que acaba de ser lançado.

Esta é provavelmente a denúncia mais grave já feita sobre as maracutaias na política econômica brasileira.

Sobre a promiscuidade entre o público e o privado.

Sobre o que se passa, na verdade, por trás da ciência dos cérebros que oferecem à mídia conservadora e aos bancos as idéias luminosas que deveriam orientar essa infeliz Nação.

Eles, os sábios. “A Nova Renascença”, como dizia o “Rei Filósofo”, FHC. Eles, os especialistas em “inside information”…

André Lara Resende foi um dos formuladores e, como demonstra Nassif, o maior beneficiário do Plano Real.

Não há como atribuir a apreciação do Real, na largada do Plano, a uma barbeiragem, ou a um “erro técnico”, como prova Nassif.

Está mais parecido com um “business plan”.

A melhor explicação, como diz Nassif, é que houve um trabalho em cima de “inside information”, em que Resende sabia que o “erro” seria cometido e os gênios do Governo FHC não o corrigiriam.

Por que não corrigiram?

Nem FHC, o Farol de Alexandria, que lançava luzes sobre a Antiguidade, sabe explicar.

A entrevista que FHC deu a Nassif, em fevereiro deste ano, é patética.

Por três vezes ele diz que não sabia do que acontecia – e não sabia o que acontecia sobre o Plano Real, que mudou a economia, a moeda e o país (para o bem e para o mal…)

E por cinco vezes ele diz que não foi consultado.

Não foi consultado sobre questões centrais da reforma do Plano Real.

É espantoso!!!

Espantoso também é o que conta Nassif, na Pág. 211:
André Lara Resende via o plano como uma forma de enriquecimento e ascensão social. Depois de enriquecer com o Real, realizou sonhos adolescentes de comprar carros e cavalos de corrida – que transportou de avião para Londres, quando resolveu passar uma temporada por lá…
Leia a seguir a entrevista que fiz com Nassif, nesta segunda-feira, dia 16. Realizei uma pequena edição, para facilitar a leitura. Portanto, a versão em áudio não é exatamente a mesma da versão em texto, que se segue.

Leia a seguir a entrevista com Luis Nassif sobre o golpe (ou a tacada) do Real:

Paulo Henrique Amorim – Eu vou conversar agora com o meu colega jornalista Luis Nassif, que acaba de lançar o livro “Os Cabeças de Planilha”. Até onde eu entendo, o livro é uma comparação entre a reforma monetária de Rui Barbosa, de 1890, e o Plano Real, de 1993, não é isso?

Luís Nassif – Isso.

Paulo Henrique – São 100 anos de distância entre um e outro, mas muitas similaridades, não é isso?

Nassif - Muitas, muitas.

Paulo Henrique – Eu queria entender o papel do André Lara Resende, um dos economistas mais importantes na formulação do Plano Real. Você na entrevista que deu ao Sergio Lírio, na Carta Capital, diz que o André, ao mesmo tempo foi beneficiário e formulador do Plano Real. Como assim?

Nassif - A gente tem uma discussão que começa em 1993 sobre a troca de moeda. O ponto central tanto do Rui Barbosa quanto do Plano Real é o modo como se troca a moeda. Porque, dependendo do modo, como você define por onde a moeda vai caminhar você define quem vão ser os vitoriosos. E foi definido um modelo de troca de moeda ou de introdução do Real com base na compra de reservas cambiais. Ou seja, só quem tinha dólar podia transformar os dólares em reais. Então, o dinheiro ia pra economia e o Banco Central enxugava aquele dinheiro. Quem tinha acesso a reais e não tinha dólar ficava esmagado. Agora, o ponto central foi que a lógica do Real, por tudo o que se sabia, era, quando a URV virasse Real, era manter a paridade com o dólar. Você se lembra que um dos slogans do Real era “o primeiro plano em que não haveria surpresas”. Tanto que o Rubens Ricupero (Ministro da Fazenda, depois de Fernando Henrique Cardoso), que pega o bonde andando, faz o discurso na véspera da entrada em vigor da nova moeda reiterando que a paridade seria um Real por um dólar. De repente, essa paridade cai para cada dólar valendo 90 centavos de Real, da noite para o dia. Algum tempo depois, para 80 centavos. E você tinha no mercado financeiro um grupo de instituições que apostou numa valorização do Real. Tudo montado ali para ter uma apreciação do Real. Eu investiguei que ordem de equívocos, que razões de ordem teórica, técnica, para explicar essa imprevista apreciação do real. Você vai bater nos estudos que foram feitos antes do Real pela equipe econômica e eles já tinham detectado o risco da apreciação do Real e sugeriam medidas para impedir a apreciação. De repente, a equipe econômica esquece tudo isso e permite a apreciação para 90 centavos, e depois para 80 centavos. Quando chega a 80 centavos chegam a dar declarações de que era preciso cair para 70 centavos de Real. Nesse ambiente é que o André Lara Resende monta o banco Matrix especificamente para se aproveitar daquele momento…

Paulo Henrique – Dessa apreciação do Real…

Nassif – Dessa apreciação e, depois, passar o banco pra frente.

Paulo Henrique – Então, eu te pergunto: o que você está querendo dizer é que o André Lara Resende, que ajudou a formular essa conversão de URV para Real sabia que ia ter uma apreciação e abriu um banco para se beneficiar disso?

Nassif – Isso.

Paulo Henrique – É isso?

Nassif - É.

Paulo Henrique – O André Lara Resende …

Nassif - Acho que um pouco mais. Foi cometido um erro, um erro que não tem base na lógica do Plano Real e pessoas – o André foi o que mais se beneficia disso – que participaram da formulação do Plano se beneficiaram disso.

Paulo Henrique – Quer dizer, um erro que o André sabia de antemão que haveria?

Nassif – Isso.

Paulo Henrique – Ele sabia que ia ter esse erro.

Nassif – Sabia que teria erro. Como participante e formulador ele sabia que ia ter esse erro. Ele não considerava um erro. As pessoas que comentavam na época sabiam que era um erro. Você se lembra que eram apontados como inimigos da pátria.

Paulo Henrique – Claro, o Delfim Netto, por exemplo.

Nassif – Quem denunciava os erros era “lobista da Fiesp”. Eu fiz uma entrevista com o presidente Fernando Henrique que fecha o livro e eu perguntava: “Mas presidente, por que o erro não foi corrigido?”. [Fernando Henrique respondeu:] “Mas não se sabia que havia o erro”. Mas tinha pessoas que alertavam que havia. [Fernando Henrique respondeu:] “Ah, mas essas pessoas criticavam tanto que parecia que era uma crítica sistemática”. Ou seja, eles trataram de anular as críticas e depois disseram que não tomaram decisões porque a maioria da opinião pública não acreditava nas criticas que eles se incumbiram de desmoralizar.

Paulo Henrique – O presidente Fernando Henrique… você perguntou a ele se ele sabia que o André tinha aberto o banco Matrix pra se beneficiar desse erro?

Nassif – Não. Eu não perguntei por que, na época, aí que entra essa questão dos planos econômicos, porque a tendência sempre, devido a um profundo grau de desinformação de grande parte da mídia, partidos políticos e tudo, você aceita tudo o que vem dos grandes planos econômicos, como se tivesse uma racionalidade por trás disso. Na época, não se sabia que era erro. O André, quando montou o banco Matrix, a intenção expressa não era se beneficiar do erro. Mas estava na cara. Em dezembro de 94, inclusive, eu tinha escrito uma coluna onde eu já tinha intuído que havia, digamos, um modelo de negócios, da maneira como o câmbio foi conduzido, que era muito louco.

Paulo Henrique – Eu posso dizer, Nassif, que a valorização da moeda brasileira corresponde ao modelo de negócio de um banco brasileiro?

Nassif – Não de um banco, mas de um grupo, porque o que aconteceu ali…

Paulo Henrique – Mas, que outro banco além do Matrix?

Nassif - Houve reuniões alguns meses antes com bancos de investimento onde foi mencionado qual seria a trajetória do câmbio. Tinha uma briga entre os comprados e vendidos em dólar. Os comprados em dólar eram multinacionais ou grandes empresas que queriam se defender contra a desvalorização do câmbio. Na ponta dos vendidos você tinha esses bancos de investimento, que se articularam. E você tinha uma terceira ponta que poderia desequilibrar – eram os bancos comerciais. Ou seja, num determinado momento em que o câmbio estivesse muito apreciado, estes bancos comerciais poderiam pegar linhas comerciais, entrar no mercado e desequilibrar o jogo. Só que estes bancos comerciais são afastados do jogo através de uma regra do pessoal do Banco Central…

Paulo Henrique – Na época era o Pérsio Arida?

Nassif – Não era o Pérsio, não. Foram o Pedro Malan e o Gustavo Franco. No segundo semestre de 94. Eles dizem que o câmbio pode oscilar entre menos 15, mais 15: então, criaram uma insegurança em que o banco comercial não pode entrar. Quem fica no jogo? Os bancos de investimento, pressionando para o lado dos vendidos, a política monetária pressionando para o lado dos vendidos. Agora, a parte mais interessante – foi quando fechou para mim o raciocínio. Eu vinha especulando sobre as razões daquilo em algumas colunas que escrevi na Folha – e comecei a avançar quando saiu o livro da Maria Clara.

Paulo Henrique – A Maria Clara do Prado, nossa colega no iG?

(”A real história do Real”, Editora Record; ...)

Nassif – Isso, isso. Ela participava como assessora, tudo.

Paulo Henrique – Do ministro Malan.

Nassif – Ela levantou os trabalhos feitos antes do Plano, e ali fecha tudo. Todos os desastres que ocorreram, já haviam sido previstos por eles, inclusive com soluções para prevenir os desastres.

Paulo Henrique – E por que não corrigiram, Nassif?

Nassif – Aí que entra a presunção de que havia algo além da teoria na maneira como conduziram o plano.

Paulo Henrique – A sua suspeita é que houve uma condução que beneficiava um modelo de negócios de bancos de investimentos, inclusive o banco do André?

Nassif – Minha presunção é a seguinte: assim como Rui Barbosa, vamos dar o primeiro lance aqui, e depois vamos corrigir ao longo do tempo. Só que o primeiro lance condiciona os seguintes.

Paulo Henrique – Dava uma tacada e depois arrumava a casa?

Nassif - Isso. Dos dois pontos que saíram da previsão do Plano, o déficit em conta corrente apareceu muito antes do que se esperava, em dezembro. E quando teve o déficit teve uma pressão por desvalorização. Aí, o Edmar Bacha e o Gustavo (Franco) disseram “não, o câmbio tem que ir pra 0,70″. O Pérsio fica escandalizado: “Como, vocês são malucos?”. Isso está no livro da Maria Clara. E depois teve a crise do México. Em dezembro, de 94 a crise do México provocou pequenos movimentos de câmbio aqui que levaram a prejuízos de mais de 100 milhões de dólares para o pessoal que estava na ponta vendida. E teve um seminário lá¡ no Banco Central…

Paulo Henrique – Aí, o André perdeu dinheiro?

Nassif – Não sei. Teve uma leve oscilação ali. Porque o que ocorreu ali foi que teve um seminário no BC do Rio em que o Francisco Gros – olha a coincidência, naquele dia eu tinha escrito sobre a crise mexicana – ele faz uma apresentação em que diz que na avaliação do JP Morgan, onde ele trabalhava, o México era o país de menor risco na América Latina. Provocou uma gargalhada geral. Você ficava sem entender, não era possível ele dizer que o câmbio tinha que ir para 0,70, que o déficit tinha que ser o dobro, que o México era o país com o menor risco… Era muita batatada para um pessoal tão competente, entendeu?

Paulo Henrique – Na verdade, era um “business plan”?

Nassif - A hipótese que deu para fechar ali foi que se deu um primeiro movimento e depois se perdeu o controle. Naquele período eles estavam absolutos no pedaço.

Paulo Henrique – Eles eram os gênios da República, A Nova Renascença, como diz você. Fernando Henrique chamou de A Nova Renascença.

Nassif – Fernando Henrique tinha saído candidato à Presidência, o Ricupero assumiu sem entender as tecnicalidades…

Paulo Henrique – E o Fernando Henrique sabia?

Nassif - Acho que o pecado dele foi lá na frente, na hora de corrigir o erro.

Paulo Henrique – Você entrevistou o FHC. Ele dá a sensação de que sabia, dominava essa questão?

Nassif – Todos os pontos que eu perguntei, que eram pontos centrais desse modelo – compra de reservas cambiais, o fato de você estimular a fuga do grande capital de volta – ele dizia que não tinha sido consultado.

Paulo Henrique - Ele não tinha sido consultado? Ele era consultado para que?

Nassif – Por exemplo, vamos pegar um ponto grave. Em dezembro ele já eleito, o Serra indicado ministro do Planejamento. Já se sabia que ele e Pérsio queriam mudar o câmbio, inclusive pensam até em pedir ao Itamar Franco para fazer uma desvalorização nos moldes do que o Sarney fez a pedido do Collor. A crise do México atrapalhou. Nos últimos dias do ano o BC faz uma emissão de títulos com clausula cambial. Qual a lógica disso?

Paulo Henrique – E como o Fernando Henrique explica isso?

Nassif – Ele dizia que não tinha sido consultado.

Paulo Henrique – Quer dizer que o BC e o Ministério da Fazenda operavam à revelia do Presidente?

Nassif – Naquele segundo semestre, o Itamar ainda era o Presidente. Eles pegavam o freio nos dentes. Primeiro, entrou o Ricupero e pegou o bonde andando. Depois entrou o Ciro Gomes, que não entendia também das tecnicalidades, e eles convenceram o Ciro a manipular aquele discurso de que quem era a favor da mudança do cambio era inimigo da pátria. Foi uma violência, você lembra. Aí eu pensava: será que estão fazendo isso para queimar o Serra, que era a favor da mudança ? Mas era muita virulência, ia queimar o Ciro, e ele entrou de cabeça…

Paulo Henrique - Mas peraí, quando houve a crise do México o Presidente era o Fernando Henrique.

Nassif – Sim, mas a crise começou a dar sinais em novembro, dezembro. Já tinha todos os sinais de que ia quebrar. Agora, você tem um outro movimento complicado, em março, quando se resolve mudar o câmbio. O Pérsio faz um movimento de mudança do câmbio e o Gustavo dá sinais para o mercado contraditórios e provoca uma fuga de recursos.

Paulo Henrique – Você entrevistou o Gustavo Franco?

Nassif - Eu entrevistei o Gustavo sim…

Paulo Henrique – E ele disse o que dessa sua tese?

Nassif- Que havia um risco de inflação. Quando eu entrevistei ele não tinha saído o livro da Maria Clara.

Paulo Henrique - Você entrevistou o André?

Nassif – Não.

Paulo Henrique – Você tem medo que ele te processe?

Nassif - Os ganhos do Matrix são ganhos públicos, tem balanços, tem tudo aí.

Paulo Henrique – Você conhece, evidentemente, o papel do André. Eu assisti a isso numa solenidade em Toronto, na negociação final da dívida externa brasileira, em que o André, ele durante a solenidade, participa da equipe brasileira que assina a renegociação da dívida externa e, a partir de certo ponto, ele se senta na platéia – já tendo comunicado que deixava o governo naquele instante – se senta como banqueiro. Eu estava sentado ao lado de um diretor do Citibank, que me perguntou assim: “você sabe qual dos dois chapéus o André usa? Se o chapéu de autoridade monetária ou o chapéu de banqueiro, como eu?”.

Nassif - Então faltou te entrevistar, Paulo Henrique.

Paulo Henrique – Na dívida externa o André deve ter desempenhado também um duplo papel…

Nassif - Na dívida externa você faz os contatos, você cria um relacionamento amplo. E no começo dos anos 90, já estava claro qual seria o negócio do século para esses bancos de investimento: seria a reciclagem da poupança brasileira que estava lá fora. É a poupança que se manda nos anos 80, desde o início, com o caso Tieppo, depois do bloqueio do Collor, ela vai inteira pra lá. Então, eu diria que a intenção inicial desses bancos era fazer a reciclagem dessa poupança.. Esse foi um grande negócio. Mas, no meio do caminho, de repente, você a tem a chance de ganhar com a apreciação do Real, uma apreciação que ninguém esperava e que compromete todo o restante.

Paulo Henrique – Que faz, inclusive, com que o Brasil tenha essa dívida interna hoje brutal.Paulo Henrique – Agora, uma última pergunta Nassif, qual foi o papel do André na formulação do Plano Real?

Nassif – Ele fez parte do núcleo central. Os caras que tinham melhor estudado o tema eram o Pérsio e o André.

Paulo Henrique - O famoso ensaio “Larida”. André Lara e Pérsio Arida, não?

Nassif – Isso. Isso. O Gustavo Franco entra no meio do caminho sem ter ainda a cancha dos dois, mas o Gustavo sempre foi o mais organizado, o cara que sistematizava. Mas o André foi fundamental. No começo ele queria que fosse um “currency board”, que nem teve na Argentina de Domingos Cavallo. Agora, o interessante é que quando você pega os estudos prévios, a única coisa que não aparece nesses estudos é o essencial: o modelo da monetização, como vai ser a compra de reservas cambiais. É o que dá a base para você esmagar o setor interno da economia, aquele que não tinha acesso ao dólar. E dá todo o espaço possível ao setor que tinha acesso aos dólares. Quando você pega todos os pontos – como os bancos comerciais são afastados disso, você tem primeira apreciação do câmbio, tem a segunda desvalorização do câmbio. Depois que você chega naquela posição, vê que está tudo arrebentado … não dá para você ficar no mero erro teórico …

Paulo Henrique – Ainda mais com mentes privilegiadas como essas…

Nassif - Paulo, eu sou um jornalista econômico. Em 94 e 95 eu tenho todas as minhas colunas prevendo isso. E eles com o conhecimento deles e tudo mais e todas as ferramentas do Banco Central, todos os números na mão tinham mão previram ? Depois, quando você pega os estudos prévios, estava tudo lá: “pode acontecer isso, isso e aquilo. E pode ameaçar o plano. Então, para isso, isso e aquilo nós vamos tomar essa, essa e essa medida”. E quando você termina o período todo, nenhuma medida foi tomada e todos os pontos que eles apontavam como vulnerabilidade da economia tinham piorado por conta dessa decisão, desse modelo de remonetização da economia.

Paulo Henrique – Quer dizer que o Presidente Fernando Henrique não era consultado?

Nassif – Não, em nada.

Paulo Henrique – Nada?

Nassif – Em nada.

Quem quiser acessar diretamente a postagem do Conversa Afiada, para ver os comentários de então, clique aqui.

Licença para matar: os mercenários do imperialismo (18mai2011)

Reproduzo texto publicado no sítio da Agência de Notícias Nova Colômbia - ANNC-Brasil, em 17 de maio de 2011, intitulado "Licença para matar: Os mercenários do Imperialismo".

Um texto importante para se pensar nos rumos que toma o mundo na busca encarniçada pela dominação dos recursos naturais e na repressão aos anseios democráticos de muitos dos povos de nosso combalido planeta.


Os exércitos de mercenários desempenham um papel crescente na estratégia do imperialismo. O que há de novo não é esta atividade, que tem tradição milenar. É a privatização das funções de repressão anteriormente detidas pelos Estados, as mãos livres para ações criminosas pelas quais deixa de ser assumida a responsabilidade moral e política direta.

Por Bruno Carvalho


A proliferação de multinacionais da morte verificada na última década representa um negócio de milhões à custa da repressão dos povos, da guerra e da violência armada.

São eles que sujam as mãos. Fazem o que as forças armadas nem sempre podem fazer. Têm carta branca para assassinar e torturar indiscriminadamente. A maioria é composta por ex-militares e polícias. Mas também há traficantes e fanáticos de extrema-direita. Ou as duas coisas ao mesmo tempo.

Quando rebentou a guerra na Líbia, os jornais inventaram todo o tipo de mentiras. Entre elas, havia uma que está no bolso de qualquer editor para qualquer eventualidade. Dizia-se que guerrilheiras das FARC estavam em Trípoli para defender Kadafi. Apesar de se terem ‘enganado’ na organização, acertaram no país.

Efetivamente, há colombianos na Líbia. Ao lado da al-Qaida, integrados nas empresas privadas de segurança, combatem muitas nacionalidades contra o regime de Kadafi. Assim como no Iraque e no Afeganistão, milhares recebem dinheiro para combater a soldo do imperialismo. Os Emirados Árabes Unidos, por exemplo, pagaram 419 milhões de euros ao fundador da Blackwater Worldwide para construir um exército mercenário.

Erik Prince, que havia vendido aquela empresa, em 2010, e fundado a Reflex Responses, ficou, desta forma, responsável, por “operações especiais dentro e fora do país, defender oleodutos petrolíferos e arranha-céus de ataques terroristas e travar revoltas internas – eventuais protestos da vasta população de trabalhadores imigrantes ou manifestações pró-democracia semelhantes às que estão a varrer vários países árabes”.

Por sua vez, no Panamá, o presidente Martinelli anunciou no início de 2010 a contratação de uma empresa israelense para garantir a sua segurança e para treinar o Serviço de Proteção Institucional. Naquela zona, são mais do que muitas as suspeitas de ligações do governo panamenho a organismos tenebrosos como a CIA e a Mossad.

E, no Iraque, entre as principais funções, estão a segurança pessoal de políticos nacionais e norte-americanos, homens de negócio, empresários e asseguram instalações petrolíferas e militares. Estas são as razões oficiais pelas quais estão ali. Contudo, também lhes estão reservados papéis como o da construção de bases, intendência, interrogatórios e o combate.

Ao longo dos últimos anos têm sido acusados de participar em operações secretas dos serviços de inteligência norte-americanos e noutro tipo de trabalhos sujos que envolvem a promoção do terror, do medo, o conflito religioso e a organização de esquadrões da morte para espalhar o caos.


De onde vêm os mercenários?

Entre os principais filões de companhias como a Blackwater encontram-se países como a Colômbia, África do Sul e Inglaterra. Muitos são ex-paramilitares colombianos de organizações extintas de extrema-direita. Da África do Sul, chegam os derrotados do apartheid. E de Inglaterra todos os que ganharam experiência na luta contra o IRA. Em geral, são experimentados no terror contra a resistência dos povos. É o que se pede no currículo de um mercenário.

Por exemplo, dos mercenários chilenos que combatem a soldo no Iraque, muitos serviram às ordens de Pinochet. Foram recrutados através de um anúncio no jornal El Mercurio no qual se convidava ex-militares, de preferência com experiência na instrução de comandos e domínio do inglês, a prestar serviços de segurança no estrangeiro ao preço de 18 mil dólares por seis meses de trabalho.

À medida que se vão sabendo os nomes dos que morrem e são feridos também se descobre que tipo de gente predomina neste negócio. Em Janeiro de 2004, morria François Strydon, um antigo membro do grupo contra-guerrilha Koevoet que fez numerosos assassinatos na Namíbia nos anos 80. Um dos mercenários feridos foi Deon Gouws, antigo membro da polícia secreta sul-africana, que havia confessado atentados contra opositores ao apartheid. Outro que foi desmascarado pelo The Guardian havia estado preso quatro anos pelo trabalho sujo realizado na Irlanda do Norte. Um mês depois de sair da prisão, Derek William Adgey foi contratado pela Armor Group e partiu para o Iraque.

Em 2005, o Jornal de Notícias divulgava que a Blackwater estava a estabelecer contactos em Portugal para contratar uma centena de pessoas. O alvo preferencial seriam antigos militares e polícias, da PSP ou da GNR, que tivessem passado por unidades de elite e participado em ações internacionais ou que detivessem especialização em áreas mais técnicas. Seriam necessários operadores de rádio, condutores e tratadores de cães para patrulha ou detecção de explosivos.

No Iraque, os mercenários são mais de 100 mil. Muitos vêm de países pobres da América Latina. A perspectiva de puderem ganhar num dia aquilo que ganhariam num mês fá-los não pensar duas vezes. Peruanos, chilenos, hondurenhos, equatorianos. Mas também norte-americanos, russos, filipinos, turcos, nepaleses, indianos e ucranianos. Todos especializados na arte de espalhar o medo e de esmagar a revolta.


Quando a guerra e a violência é um negócio

Sempre houve gente disposta a matar por dinheiro. Os mercenários existem desde sempre e também não é de agora a externalização de certas funções inerentes à guerra, como a logística. O que há de novo é a atribuição pelos Estados de funções inerentes à garantia da soberania nacional a empresas privadas. Na última década, verificou-se a proliferação de multinacionais da morte. São fortalezas militares e de segurança privada que lucram com a guerra e a violência.

A contratação da empresa Reflex Responses por parte dos Emirados Árabes Unidos é um negócio vantajoso. A companhia norte-americana enche os cofres de dinheiro e o Estado árabe garante a manutenção do poder político e econômico face à ameaça de uma revolta. Mas também é um bom negócio para os Estados Unidos e União Européia que não só não têm condições políticas e militares para combater em mais frentes como lhes é vantajoso que não sejam os seus a sujar as mãos.

Desde que começou a ocupação do Iraque, as companhias de produção de armamento tiveram lucros extraordinários. Mas as empresas de segurança privada nunca receberam tanto dinheiro. Em 2005, o Washington Post revelava que 50 por cento do orçamento da CIA tinha sido para o pagamento a estas empresas. Este negócio gerava, na altura, cerca de 100.000 milhões de dólares de lucro. Um valor que se previa ir duplicar em 2010.

Fonte: Diário.Info

Los Angeles, o churrasquinho de Higienópolis e a civilização imperfeita (18mai2011)

Essa postagem eu fiz há alguns dias, mas acredito que a pane do Blogger o transformou em rascunho e agora insisto em sua publicação.

Indico a leitura de um texto de que gostei muito, do jornalista Rodrigo Vianna, postado no sítio Escrevinhador.

O título da postagem é Los Angeles, o churrasquinho de Higienópolis e a civilização imperfeita!.

É um artigo que explicita a sensibilidade e o senso de brasilidade que se está construindo no meio jornalístico sério e na blogosfera.

Privatização dos hospitais universitários (18mai2011)

Essa foi outra postagem que "virou" rascunho, creio eu que pela pane do Blogger ocorrida há dois dias.

Parecer da assessoria jurídica do ANDES-SN demonstra a inconstitucionalidade da Medida Provisória nº 520, de 31.12.2010 (Criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares S.A. - EBSERH).

Cria-se um ente estranho à Universidade para gerir e contratar pessoal pela CLT para trabalhar nos hospitais universitários federais, desrespeitando, entre outras coisas, a autonomia das universidades.

Leia a íntegra do texto clicando aqui.

A expulsão de Serys do PT de Mato Grosso (18mai2011)

O blog O Terror do Nordeste manifesta solidariedade a Serys Slhessarenko.: "Que o PT expulse os corruptos e mantenha em seus quadros as pessoas de bem" (veja aqui).

De fato, o que o PT de Mato Grosso vem mostrando já há muitos anos é uma perda da característica inicial do partido, quando realmente os temas políticos eram tratados a partir da base, com grande participação de jovens engajados em diferentes correntes, com as teses vencedoras sendo levadas a níveis deliberativos superiores.

Eu sou de fora. Nunca fui filiado ao PT, mas acompanhava com interesse essa atividade por intermédio de diversos amigos que dela participavam com afinco. Ali se dava a formação de bons quadros políticos que foram muito atuantes nos movimentos docente e estudantil.

Foi ocorrendo uma transformação, quando grupos majoritários passavam a votar em bloco, e não dialogando, de fato, com quem propusesse teses diferentes das suas.

O mesmo se deu na organização da CUT. O que havia da riqueza da diversidade e da elaboração política a partir da base foi perdido para determinações que vinham de cima para baixo e eram "defendidas" sem contestação pelos delegados do bloco majoritário.

Como se vê na entrevista de Serys e na matéria publicada por Vera Magalhães no blog Presidente 40 (veja aqui), Carlos Abicalil detém 60% dos votos do Diretório Regional. Votos de cabresto?

Praticamente todos os meus amigos que foram petistas "daqueles bons tempos" já deixaram o partido ao perceberem que estavam dando murros em ponta de faca e legitimando um processo que deixou de ser verdadeiramente democrático, dialógico. Estão de há muito desiludidos com a militância.

Conhecço o professor Carlos Abicalil de eventos diversos a que tive oportunidade de assistir ou participar aqui em Cuiabá e em Brasília. Atualmente ele ocupa uma secretaria do MEC. Nunca consegui ver nele um pingo do carisma que um líder político precisa ter. Foi líder dos trabalhadores na Educação em Mato Grosso, e também em nível nacional. Mas sem carisma. As suas atuações como deputado federal em CPI que assisti pela TV Câmara me deixavam vexados. Me lembravam o Agripino Maia, juro!

A Serys é professora da UFMT e a conheci dentro do movimento docente, atuando em nossa seção sindical. Aposentada, elegeu-se vereadora, deputada estadual e senadora.

Houve num tempo em que nossa seção sindical entendia que todos os movimentos sociais precisavam ser apoiados para que todos os nossos movimentos ganhassem força e espaço. Assim, buscávamos estar junto às lideranças indígens, aos sem-terra, as desalojados pelas barragens, às vítimas de trabalho escravo etc. O sindicato dos professores do ensino superior se irmanava, em Mato Grosso, aos parceiros sociais na luta por seus, e nossos, direitos.

Onde ocorria algum tumulto envolvendo repressão aos movimentos sociais, nossos diretores partiam para o local, às vezes mais de um problema ocorriam simultanemamente em diferentes locais da cidade. E eu ficava intrigado de sempre, sempre, encontrar a Serys lá, ajudando, defendendo, e ao mesmo tempo preocupada em pegar seu carro para correr para o outro bairro onde outro problema estava ocorrendo. Essa disposição e essa disponibilidade me deixavam admirado. A Serys parrecia estar em todos os lugares, e na maioria das vezes em finais de tarde e noite adentro, depois de um dia todo de trabalhos parlamentares. Tornei-me um admirador de sua boa vontade, sua determinação e, principalmente, de sua simplicidade no trato com as pessoas simples. Simplicidade consciente do papel e da autoridade que lhe conferiam o cargo perante os repressores.

Serys não é minha amiga pessoal, é uma colega de trabalho, professora. Nunca nos sentamos para um bate-papo ou qualuqer coisa parecida. Sempre nos vimos, nos reconhecemos e nos cumprimentamos em reuniões, assembléias e eventos como os que citei acima. Mas seu trabalho, tanto como professora quanto como parlamentar atuante, cativou-me como eleitor.

Registro aqui, pois, meu respeito por ela, e minha expectativa de que sua trajetória política não seja truncada.

terça-feira, 17 de maio de 2011

A ignorância da imprensa e os livros didáticos (17mai2011)

Marcos Bagno é escritor, tradutor, linguista e professor da UnB.

A imprensa tem criticado com insistência os livros didáticos de Português escolhidos pelo MEC pelo fato de os mesmos abordarem o tema da variação linguística e de como se trabalhar com ela em sala de aula.

Eu tenho um livro desse autor intitulado Dramática da língua portuguesa e me deliciei com sua leitura. Marcos Bagno defende, entre outras coisas, que a variação culta da língua é instrumento de discriminação. Nós vimos muito isso quando a própria imprensa e muitos de nossos conhecidos criticavam o modo de falar do presidente Lula.

O fato é que Lula poderia até dizer "nós vai", por exemplo, mas mostrou que sabia muito bem para onde ia. Pior são aqueles que dizem "nós vamos" e não sabem onde estão e nem para onde vão (essa fala é sua, Domingues, e a estou tornando mais pública aqui).

Portanto, a leitura do texto que Marcos Bagno publicou em seu site é uma leitura necessária para os interessados em nossa língua portuguesa brasileira e nas implicações do uso de suas variações linguísticas. Para ler o artigo intitulado "Discussão sobre livro didático só revela ignorância da grande imprensa", clique aqui. Para acessar o sítio de Marcos Bagno, clique aqui.

Indico para leitura, também, o artigo "Por uma vida melhor: por que abolir os conceitos de “certo” e “errado" (clique aqui), da professora Daniela Jakubaszko, que é assim apresentada no blog Mulheres de Fibra (clique aqui):
... bacharel em lingüística e português pela FFLCH-USP, mestre e doutora pela ECA-USP. Desistiu de ser professora depois de dar aula por 15 anos e virou redatora porque não agüentava mais ouvir: "você trabalha além de dar aulas?"