Quem sou eu
- Aquiles Lazzarotto
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- Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.
terça-feira, 12 de março de 2013
A solidariedade aos palestinos também já é zona ocupada?
(12mar2013)
(12mar2013)
Por Gilad Atzmon, Counterpunch
Para envolver-se em ações de solidariedade aos palestinos, você, antes, tem de aceitar que os judeus seriam especiais; e que o sofrimento dos judeus seria mais sofrimento que o de qualquer outro povo; e que os judeus seriam povo escolhido; e que o Holocausto dos judeus teria sido o pior de todos os genocídios que a humanidade conheceu; e que o antissemitismo seria racismo mais vil que todos os racismos vis que a humanidade conheceu. E por aí vai.
Mas, quando se trata de palestinos... É exatamente o contrário! Por alguma razão incompreensível, deve-se crer que os palestinos, o povo palestino e a luta dos palestinos, absolutamente nada teriam de especial.
De fato, os palestinos foram vítimas de um movimento racista, nacionalista e expansionista judeu como jamais o mundo conheceu outro. Mas temos de aceitar que, como se os palestinos fossem indianos ou africanos como outros, o seu padecimento não passaria de sofrimento resultante do colonialismo do século 19 – e ali estaria implantado mais um caso de algum já nosso velho conhecido sistema de Apartheid.
Por essa contabilidade, os judeus, os sionistas e os israelenses seriam excepcionais, superiores, nada se compararia a eles; e os palestinos seriam comuns, vulgares, apenas mais um capítulo de uma narrativa política maior, sempre um caso a mais, dentre outros semelhantes. O sofrimento dos palestinos nada teria a ver com os traços específicos que têm o nacionalismo judeu e o racismo judeu; nem, sequer, com a política externa dos EUA dominada pelo AIPAC. Nada disso. Os palestinos são sempre vítimas de uma mesma dinâmica tediosa, banal, geral, abstrata, sem nada, sem nenhuma, sem uma única especificidade, coisa ‘histórica’, que acontece sempre.
Se é assim... há perguntas muito sérias a serem respondidas.
Alguém algum dia ouviu falar de movimento de solidariedade ou de libertação que se orgulhasse de ser movimento tedioso, banal, sem graça, chatíssimo? Alguém algum dia ouviu falar de movimento de solidariedade que se degrada ele mesmo e o povo ao qual afeta solidariedade, para convertê-lo em peça mumificada a ser exibida num museu de eventos do materialismo histórico? De minha parte, nunca ouvi falar de coisa semelhante. Os negros sul-africanos apresentavam o próprio sofrimento como repetição incansável de sofrimentos ‘históricos’, contra os quais nada se poderia jamais fazer? Viam-se, eles mesmos, como iguais a qualquer outro negro? Martin Luther King creria, talvez, que suas irmãs e irmãos seriam inerentemente ‘iguais’ a quaisquer outros povos cujo destino seria sofrer, sofrer, sofrer? É claro que não!
Assim sendo... Como é possível que o movimento de solidariedade aos palestinos tenha naufragado tão completamente, que seus porta-vozes e apoiadores disputam entre si para ver quem consegue apagar mais completamente a especificidade da luta dos palestinos, fazendo-a parecer como mero capítulo de alguma tendência histórica já petrificada, chamada ‘colonialismo’ ou chamada ‘apartheid’?
A resposta é simples. A Solidariedade aos Palestinos também é zona ocupada. Como qualquer zona ocupada, os movimentos de solidariedade aos palestinos também já estão cooptados e alinhados na luta contra... o ‘antissemitismo’!
Devida e elegantemente militante contra o racismo, plena e adequadamente engajado nas questões de LGBT na Palestina, mas, por alguma razão insondável, o movimento de solidariedade aos palestinos é quase completamente indiferente ao destino de milhões de palestinos que vivem em campos de concentração e ao seu DIREITO DE RETORNO à terra natal.[1]
Tudo isso pode mudar. Os palestinos e seus apoiadores podem começar a ver a própria causa como ela de fato é e pelo que de fato é: única e especial. Afinal, nem é tão difícil. Se o nacionalismo judeu é inerentemente excepcional (como proclamam os sionistas), nada mais obviamente claro do que as vítimas dessa especialíssima missão racista que os judeus se autoatribuem serem, elas também, no mínimo, vítimas especialíssimas de crime especialíssimo.
Até agora, os movimentos de solidariedade aos palestinos ainda não conseguiram libertar a Palestina, mas com certeza já conseguiram criar uma Indústria de Solidariedade à Palestina – em vasta medida financiada por sionistas liberais. Não há canto do planeta onde não se ouça falar de algum ‘boicote’ ou de alguma sanção... ao mesmo tempo em que o comércio entre Israel e Grã-Bretanha cresce sem parar[2] e compra-se a griffe Hummus Tzabar em praticamente qualquer loja de comida na Grã-Bretanha.
Todos esses esforços para reduzir o sacrifício dos palestinos a uma narrativa materialista generalista, datada, tediosa, devem ser expostos como o que são: tentativa de não contrariar o projeto dos sionistas liberais.
A verdade é que o sofrimento dos palestinos é, sim, único, jamais se viu coisa semelhante na história do mundo; é, no mínimo, tão raro, tão sem igual e sem comparação, quanto o próprio projeto sionista.
Ontem, encontrei esse comentário, de um ministro sul-africano, Ronnie Kasrils, falando do que via nos territórios ocupados da Palestina:
“O que se vê aqui é muito pior que o apartheid. A brutalidade dos israelenses faz o apartheid da África do Sul parecer piquenique. Na África do Sul, jamais tivemos jatos de guerra atacando cidades. Nunca houve áreas sitiadas durante meses e meses. Nenhum tanque de guerra jamais destruiu casas, na África do Sul do apartheid.”
Kasrils está certíssimo, infelizmente. O que Israel faz aos palestinos é muito pior que o apartheid e muitíssimo mais sofisticado que qualquer colonialismo. E por quê? Porque o que os sionistas fizeram e continuam a fazer tampouco é apartheid ou algum dia foi colonialismo. O apartheid visava a explorar a mão de obra africana. Israel quer que todos os palestinos morram.
É mais que hora, afinal, de ver o extraordinário, único, específico sofrimento que Israel impõe aos palestinos. Simultaneamente, é mais que hora de denunciar o crime dos sionistas, à luz da cultura, da política e da identidade dos judeus.
O movimento de solidariedade aos palestinos conseguirá fazer tudo isso? É possível que consiga. Mas, antes, ele terá de livrar-se, o próprio movimento, de todo o sionismo.
[1] Ver também http://www.counterpunch.org/2013/03/06/is-the-anti-occupation-movement-driven-by-defenders-of-genocide/
[2] [“Boicote? Que boicote?”] http://www.thejc.com/news/uk-news/65164/boycott-what-boycott-uk-israel-trade-booming
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
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