Por Luiz Cezar | Brasil Que Vai
Seguem trajetórias opostas os dois postulantes à presidência da República nas eleições de 2010. Dilma viu sua aprovação junto ao eleitorado saltar do pouco mais de 50% naquele momento para algo próximo dos 80% agora.
O que aconteceu para que a eleita superasse em prestígio seu patrocinador, o presidente Lula - ele mesmo com índices bem inferiores em momento equivalente de seu segundo mandato - e se pusessse em rota inversa de bem-querência à experimentada por seu oponente no pleito passado ?
O fato decisivo é que o povo está gostando de ser governador por uma mulher. Em que pesem os arroubos de preconceitos abertos de muitos nas classes altas e velada de alguns na mídia, o jeito austero e parcimonioso em palavras de Dilma reforçou no imaginário popular a ideia da mãe enérgica que guia seus filhos.
A fonte original desse mito repousa na tradição católica. O culto a Maria é mais poderoso do que pode supor a ciência política e também as denominações cristãs. A mãe privada do filho pelas forças do império é um arquétipo forte demais para que não seja revivido na saga da militante política torturada ao modo de Cristo.
Na fundação da nacionalidade o amor a Isabel, a princesa a quem negros e mestiços atribuíram um dia a quebra dos grilhões atados pela coroa, deu origem a um sentimento de orfandade nunca atenuada pelo paternalismo, fosse de Pedro II fosse de Getúlio.
Ancestral tem sido na formação do caráter nativo o sentimento de destituição do amor materno. Os tupis contavam que da impossibilidade de união entre o pai e a mãe primordial, o sol e a lua, redundara tamanha tristeza que do pranto da mulher nasceu o rio e o mar, fonte infinita de provisões a seus filhos privados de celeste lar.
A confiança na mãe rediviva se vê confirmada na imprecação que dirige a presidente aos mandatários europeus contra a falta de atenção que os ricos do mundo dispensam aos pobres, na ação protetora expressa pelo afastamento sumário dos que buscam se apropriar na gestão do Estado daquilo que é reservado aos que necessitam, nas benesses que espalha aos despossuídos mediante programas sociais como o “minha casa minha vida”.
Serra, ao contrário, segue em trajetória oposta de declínio. Teve a infelicidade política de ter sido marcado no inconsciente popular como o principal inimigo dessa mulher, meia mãe meia heroína, que venceu a arrogância de quem julgando-se preparado para batalhas épicas não foi capaz de evitar uma campanha sórdida de exploração o que há de mais caro ao sentimento feminino, a maternidade.
Uma marca que, aliás, chamou para si ao revelar-se o negativo do campeão que pretendeu ser, apedrejando a dignidade feminina como fizeram os romanos com as mulheres dotadas de vontade política no início da cristandade. Por essa razão não será perdoado pelos filhos do Brasil que honram e admiram a figura da mulher que expôs a vida a risco no combate pelos seus.
Na rota de apequenamento em que se colocou, Serra chegou à estatura moral de um rato que, após haver se refugiado na disputa à prefeitura de São Paulo, deverá ao final ser esmagado.
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