Bandidos "lucram" R$ 15 milhões com roubo de cassiterita
Organizações criminosas lucraram R$ 15 milhões com roubos de cargas de cassiterita na região de Cuiabá nos últimos 6 meses. O minério, que tem inúmeras utilidades, tem grande valor no mercado e é um dos mais visados pelos criminosos, que escolhem as rodovias mato-grossenses devido o grande fluxo de caminhões e carretas e a falta de policiamento.
Em 6 meses, 8 ações foram registradas pela Delegacia de Roubos e Furtos de Veículos (Derfva) da Capital. Em 4 delas, a Polícia teve êxito em recuperar parte dos carregamentos. Até agora, apenas duas quadrilhas foram identificadas. Porém, a suspeita é que existam outras.
Um dos grupos foi desarticulado em Várzea Grande após a localização de uma carga que tinha sido roubada em Primavera do Leste (231 km ao Sul de Cuiabá). Cerca de 15 toneladas de cassiterita, em forma de lingotes, estavam escondidas debaixo de uma carga de materiais reciclados, pronta para ser transportada.
Na ocasião foram presos 4 homens. Carlos Egídio Zaqueta, 60, dono da casa, foi apontado como líder do grupo. Ainda não há informações se eles têm envolvimento com outros bandos.
Segundo o delegado Silas Caldeiras, os criminosos agem em grupos de 10. Porém, cada quadrilha pode ter até 20 integrantes. Eles interceptam as carretas ou caminhões e rendem o motorista. Parte do bando fica com o condutor em cativeiro, até que a carga seja entregue no destino combinado ou recarregada em outro veículo. Em muitos casos, o minério é descarregado em um local e o caminhão abandonado em outro, para despistar o trabalho investigativo.
Na última ocorrência registrada pela delegacia, há uma semana, a carreta que havia sido roubada foi encontrada próximo à Lagoa Trevisan, com um quarto da carga. A Polícia acredita que o restante do minério só não foi levado porque o caminhão usado para transbordo do carregamento era menor. A carga era de 23 toneladas.
A maioria das cargas roubadas sai de Ariquemes (RO), que concentra uma das maiores regiões produtoras de cassiterita do país, e tem como destino o interior de São Paulo. Nem mesmo a contratação de empresas de seguranças para escoltar os carregamentos tem evitado as ações das quadrilhas.
Na última ocorrência, por exemplo, os bandidos renderam 2 seguranças que acompanhavam a carreta. Eles foram levados para um cativeiro na mata, às margens da BR-364, próximo ao posto de fiscalização Flávio Gomes.
Utilizando o veículo das vítimas, os criminosos se aproximaram do motorista da carreta quando ele parava para pernoitar em um posto de combustível no Distrito Industrial. Ele também foi levado para o cativeiro onde foi vigiado junto com os seguranças. Depois disso, o grupo desligou o equipamento de rastreamento do caminhão e levou o carregamento para outro local onde fez o transbordo. As vítimas relataram que os bandidos estavam fortemente armados e agiram rápido.
Segundo o chefe do Núcleo de Operações Especiais (NOE) da Polícia Rodoviária Federal (PRF), inspetor Reinan Araújo Ramos, os grupos são bem articulados e na maioria das vezes já possuem galpões contratados para passar o minério de um caminhão para o outro. "Eles já têm pessoas contratadas para cada ação. Umas para o assalto, outras para o transbordo, e outras para levar a carga".
Destino - Após o roubo, as cargas são levadas para outros estados onde são derretidas, para que não seja possível a comprovação da origem. Depois são revendidas por valores abaixo do praticado no mercado.
Ramos ressalta que dificilmente os carregamentos são recuperados porque são camuflados. "No caso da cassiterita eles têm a facilidade de camuflar o minério no meio de outras mercadorias porque, apesar de ser um material pesado e com grande valor, não ocupa muito espaço".
Ele explica que o flagrante só é possível por meio de denúncias. "Não temos como parar todos os caminhões e descarregá-los para ver se tem algo camuflado no meio da carga. Isso só é feito quando temos alguma suspeita".
Para o inspetor, o grande fluxo de caminhões e carretas nas rodovias mato-grossenses facilita a ação dos bandidos, já que eles conseguem sair com as cargas sem levantar suspeitas. "Eles vem monitorando estas cargas desde sua origem, mas em Rondônia não conseguem encontrar outros caminhões para levar o material. Aqui é muito mais fácil e sem levantar suspeitas".
Outro atrativo para os criminosos escolherem Mato Grosso é a falta de fiscalização. Os mais de 25 mil quilômetros de estradas são fiscalizados por pouco mais de 550 homens.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) possui um efetivo de 500 policiais distribuídos em 18 postos. Já o Batalhão de Trânsito Urbano e Rodoviária da Polícia Militar possui um efetivo de 40 homens para atuar nos 141 municípios.
O comandante do Batalhão, coronel Wilson Batista, ressalta que as quadrilhas aproveitam a melhor oportunidade para realizar os roubos. "Da mesma forma como a Polícia investiga as quadrilhas, elas também estudam o modus operandi da Polícia e se aproveitam das fragilidades".
Entre elas a falta de efetivo. Hoje, o número de policiais está bem abaixo do ideal. Com isso, não é possível monitorar intensivamente as rodovias estaduais. O Batalhão de Trânsito, por exemplo, possui apenas 3 postos nas rodovias MT-251 (Cuiabá-Chapada), MT-407 (Cuiabá-Santo Antônio) e MT-010 (Cuiabá-Jangada). A expectativa é que, até 2014, o Batalhão recebe mais 500 homens.
Mercado negro - De acordo com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o elevado valor da cassiterita no mercado pode ser um dos fatores que atrai as organizações criminosas.
O diretor André Reis informou que cada tonelada do minério vale, em média, 25 mil dólares (quase R$ 50 mil). Quando roubado, é vendido por preços menores, mas vão render altas cifras aos criminosos e ao receptador.
Este valor também pode variar de acordo com as "leis do mercado negro". A Polícia acredita que, com a recuperação de carregamentos, as ações das quadrilhas aumentem. Isso porque com menos produto no "mercado", os preços sobem e os grupos aproveitam para cobrir os prejuízos.
De acordo com o Ibram, num intervalo de 12 meses, o volume de cassiterita produzido chegou a dobrar, atingindo o pico entre os meses de janeiro e fevereiro deste ano. O Brasil possui cerca de 1,1 bilhão de toneladas do minério em suas jazidas, grande parte na Província Estanífera de Rondônia.
Fonte: A Gazeta
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