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Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

terça-feira, 4 de junho de 2013

As peripécias adversativas da mídia
(4jun2013)

Por Miguel do Rosário, no blog O Cafezinho, reproduzido no Blog do Miro:

Essa é engraçada. A Folha publicou, neste domingo, na capa da seção Mundo, uma reportagem com título pomposo e otimista.


Aí você confere o gráfico na própria reportagem, com previsões comparadas para o crescimento econômico no México, no Brasil e na Argentina. O México deve crescer 3,4% em 2013, o Brasil 3% e a Argentina 2,8%.

Então peraí. Quer dizer que 3,4% de crescimento, para o México, corresponde a um “êxito na economia”, mesmo com uma série de números negativos no campo social, segurança pública e direitos humanos, e um crescimento de 3% para o Brasil é um fracasso econômico retumbante?

Dê-se o crédito: o cinismo do título e da reportagem é desmascarado no próprio jornal. Ao lado do título róseo, outra matéria fala que apenas nos 4 anos da gestão anterior do mesmo PRI que continua no poder (2006 a 2012), mais de 60 mil pessoas morreram nas guerras do tráfico e outras 100 mil estão desaparecidas. Há regiões inteiras do México que já não têm exército ou polícia: são dominadas pelos narcotraficantes, muitas vezes em parceria tácita com autoridades do PRI. A imprensa mexicana tem sido instada, pelo próprio governo, a não noticiar atos de violência; alguns jornais decidiram não mais cobrir notícias referentes ao tráfico, após ataques ou ameaças a seus funcionários.

Esse é o país que “atrai investimento com êxito na economia”.

A matéria escancara o viés mesquinho e partidário da Folha quando trata da economia brasileira. O “jornalismo adversativo”, pelo jeito, só vale para o Brasil.

É o caso do Globo desta segunda-feira. A manchete do jornal traz uma notícia bombástica:


A principal informação da matéria está no subtítulo: a produção brasileira de petróleo dobrará em 10 anos. Em qualquer país do mundo, seria motivo de júbilo, em virtude das oportunidades de crescimento econômico subjacentes. Aqui, não. O Globo faz um exercício confuso que dá a entender ao Homer Simpson que as receitas oriundas da exploração do petróleo vão cair. É incrível como são malandros: conseguem transmitir a notícia de que a produção de petróleo aumentará em duas vezes mas deixar no leitor a impressão psicológica de que é uma notícia ruim.

Bem, tentemos trazer um pouco de bom senso. Não é uma notícia ruim. Os repasses aumentarão “apenas” 55%, segundo lembra o próprio jornal (em tom adversativo), omitindo o crescimento de receita, lucros, valorização acionária, da Petrobrás e outras empresas que pagam impostos e geram empregos no Brasil. O aumento na produção de petróleo produzirá imenso alívio em nossa balança comercial. Deixaremos de ser importadores para nos tornarmos exportadores de petróleo. Ganharemos segurança energética. O aumento da produção coincidirá com a entrada em operação das grandes refinarias, acrescentando receita, empregos, impostos. Em torno das refinarias serão criados cinturões industriais, em torno dos quais, cinturões de empresas de serviço. É uma excelente notícia, sem mas.

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