Por Alexandre Haubrich no sítio Jornalismo B
A entrevista dos ativistas do Fora do Eixo e Mídia Ninja, Pablo Capilé e Bruno Torturra, no Roda Viva desta segunda-feira (05), demonstra com pouca margem à dúvida o total descompasso entre uma parte significativa dos velhos jornalistas da velha mídia e a nova realidade que se apresenta nas ruas e nas mídias, construída através de luta, coletividade e protagonismo popular.
A entrevista foi toda conduzida com questionamentos desencontrados, desinformados e incisivos a respeito da forma de financiamento do Fora do Eixo e da Mídia Ninja, questionamentos afastados da realidade sobre a possibilidade de “transformar esses espaços em empresas”, e ataques de senso comum aos protestos de junho e julho e ao posicionamento dos “ninjas” nessas manifestações.
Alguns dos entrevistadores apresentaram teses que nada mais fazem do que reproduzir à exaustão o discurso e a prática da velha mídia, cada vez mais envelhecida justamente pela existência e crescimento dos meios alternativos de comunicação, pautados estes por novas linguagens, percepções éticas e formas de abordagem jornalística.
Por já terem internalizado a verborragia de “imparcialidade” e “neutralidade”, por já terem naturalizado – para os outros e para si mesmos – a prática de ataque ao financiamento público da mídia, por já terem se acostumado à imprensa como uma grande “máquina capitalista” (em uma expressão de Pedrinho Guareschi), os velhos e novos jornalistas da velha mídia viram as costas para o próprio espelho e imaginam na mídia alternativa práticas que apenas ela, velha mídia, leva a cabo. Não compreendem – ou não querem compreender – o mito da imparcialidade e a diferença entre meios de comunicação que assumem um lado e se mantêm transparentes e meios de comunicação que se dizem imparciais e, em seu discurso, usam a pretensa neutralidade para enganar. Não compreendem – ou não querem compreender – a diferença entre uma mídia que tem leitores-colaboradores-produtores e uma mídia que só enxerga do outro lado consumidores. Não compreendem – ou não querem compreender – a diferença entre uma mídia que vê como sua função a busca por melhorias sociais e democratização do direito à voz e uma mídia que vê como sua única função o lucro. Não compreendem – ou não querem compreender – que as verbas publicitárias estatais devem ser postas a serviço do interesse público, ou seja, da expansão dos espaços de mídia, e não da realimentação da estrutura midiática autoritária e excludente.
A Mídia Ninja é produtora e produto de uma nova realidade que avança sobre o país e sobre mundo, sobre a sociedade e sobre seus espaços de mídia. Da mesma forma a mídia (ainda) dominante é produtora e produto de algo que pode e deve ser superado. Sua clara obsolência talvez seja um sinal de mais superações vindouras. A expansão dos espaços alternativos de mídia cria uma bola de neve de democracia, politização e consequente emancipação. Não vai, sozinha, mudar nada, mas pode tornar-se cada vez mais um instrumento de luta dos de baixo e, dessa forma, um instrumento de transformação que, como aconteceu no Roda Viva, jamais será compreendida pelos que por ela serão tornados velhos, os que por essa nova realidade serão atropelados.
Quem sou eu
- Aquiles Lazzarotto
- Bebedouro, São Paulo, Brazil
- Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.
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