O artigo de Gilson Caroni Filho, intitulado "Amazônia: qual o código da nossa esquerda?", publicado no sítio Carta Maior tem muito a ver com o que testemunhei nesses trinta e um anos desde que vim morar no Mato Grosso.
Conheci Sinop quando ainda era praticamente uma clareira em meio a uma floresta pujante. Hoje, em Sinop, numa panorâmica de 360 graus, você não vê sequer uma árvore da floresta original. No limite, você não vê nenhuma árvore. Só plantações em todas as direções.
Mais ao norte, conheci Alta Floresta em meio também a frondosas árvores. A chegada à cidade proporcionava uma visão emocionante. A estrada de terra rasgando um emaranhado belíssimo de árvores de porte imenso. Anos depois passei por lá e as matas tinham desaparecido, a tal ponto que tive dificuldade de reconhecer o caminho por onde passe anteriormente.
Onde está agora a frente de abate da floresta? Quem já viu áreas imensas de áreas queimadas, deixando isoladas castanheiras sujeitas a caírem por desprotegidas contra o vento ao perderem as árvores vizinhas que lhes davam suporte segurando a força dos ventos? Troncos e raízes enormes deixados no chão para apodrecerem entre a plantação de forragem para o gado que está para chegar.
Quem viu tudo isso é capaz de sentir a dor da perda da vida da floresta, a qual não é o pulmão do mundo, mas o ar condicionado do mundo. Da nossa geração e das gerações futuras.
Progresso baseado na monocultura e em latifúndios é matar a galinha dos ovos de ouro. Reforça a relação de casa grande e senzala (com vernizes de modernidade). Consolida a desigualdade na distribuição de renda, cria novos coronéis poderosos, que hoje usam ternos e ocupam importantes cargos políticos.
Está passando da hora de se pensar mais seriamente em reforma agrária e no estímulo maior à agricultura familiar.
Será o Código Florestal a prova dos nove para o habitual transformismo que, vez por outra, visita forças do campo progressista? É hora de a esquerda se livrar do imaginário herdado do padrão fordista e incorporar a luta pela preservação natural ao seu horizonte político. (Gilson Caroni Filho)
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