Nos tempos bicudos para as manifestações de rua que vivemos, é auspicioso saber que pessoas reúnem-se para mostrar indignação.
Caso o leitor não acompanhe os "blogs sujos", informo, de última mão, que, a pedido de moradores do bairro Higienópolis, em São Paulo, o governo do estado mudou o projeto do metrô, excluindo a construção de uma estação na Av. Angélica. Segundo uma moradora do bairro, a estação traria para o bairro um "povo diferenciado".
Isso ganhou repercussão na blogosfera, porque, mesmo que muitos dos moradores daquele bairro não precisem de metrô, por terem seus carros etc., há toda uma gama de trabalhadores no bairro que seriam beneficiados por tal estação.
Alguém sugeriu nos blogs e no twiter que se realizasse um churrasquinho de "gente diferenciada" em frente ao Shopping Higienópolis, e a coisa ganhou vulto, ao ponto de o blogueiro que teve a ideia "desconvocar" o evento, preocupado com a dimensão da repercussão e com possíveis distúrbios que pudessem ocorrer.
Mesmo assim, o churrasquinho aconteceu. Talvez a "desconvocação" tenha reduzido o tamanho da multidão, mas o que pude ver por registros na blogosfera, foi um ato bem humorado, com mais de mil participantes (mais de 2 mil, segundo alguns, e 600, segundo a Polícia Militar).
Quem quiser ver registros do ato, pode visitar o sítio da Maria Frô (Conceição Tavares) aqui e aqui, com as mais variadas impressões de quem participou. Ver também em Viomundo, Blog do Mello. Rodrigo Vianna também escreveu ótimo texto em Los Angeles: "LA, Higienópolis e a civilização imperfeita!".
Essa história me fez lembrar que aqui em Cuiabá os moradores do Jardim das Américas, nos primeiros anos de existência do bairro, vetaram a passagem de linhas de ônibus para evitar que pessoas pobres tivessem facilidade de acesso ao mesmo. Lembro-me que os funcionários dessas ricas residências eram obrigados a fazer longas caminhadas desde o ponto de ônibus da Fernando Corrêa até seus locais de trabalho.
Se tivéssemos uma rede eficiente e racional de linhas de ônibus, em muitas ocasiões eu deixaria meu carro em casa para ir ao centro da cidade, ou visitar amigos em outros bairros. O sol e o calor de Cuiabá são dois fatores que me desanimam de ir até a Fernando Corrêa (eu não moro no Jardim das Américas, diga-se de passagem).
Por outro lado, é impressionante o descaso com as calçadas. O cuiabano tem que andar pelo asfalto na maioria de seus percursos, porque as calçadas são, principalmente nos bairros, verdadeiras armadilhas. Muitos moradores fazem rampas para suas garagens, criando enormes degraus inclinados. Em frente a terrenos enormes simplesmente não tem calçada. Fora os buracos, os rompimentos causados por raízes de árvores, as próprias árvores no meio da calçada estreita. Enfim, obstáculos que jogam o pedestre para a rua, colocando-os em risco permanente de atropelamento.
Quem sabe um dia a nossa "gente diferenciada cuiabana" consiga fazer o seu próprio churrasquinho democrático. Pedestres de Cuiabá, uni-vos!
Por coincidência, após escrever esta postagem, encontrei no sítio Agência T1 a matéria "ANTP (Associação Nacional de Transporte Público) alerta cidades para ineficiência do transporte público". O problema é endêmico no país...
Quem sou eu
- Aquiles Lazzarotto
- Bebedouro, São Paulo, Brazil
- Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.
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