Destaco na matéria as seguintes frases:
"ficou claro que as negociações serão ‘dolorosas’ e que a perspectiva de recomposição de perdas salariais ainda para 2012 é quase nula"
“Acho que há uma expectativa de construir essa proposta, mas não com efeitos para este ano. Mas com efetividade para 2013 e eventualmente 2014” [declaração à imprensa feita por Sérgio Mendonça, Secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento]
“Há uma diferença na lógica do olhar para as perdas. O governo tem um olhar para isso e eu acho que as entidades têm outro” [idem]
“Nós vamos ter que repactuar esse prazo. Nós vamos tentar conversar com as entidades para jogar para frente, em função dos acontecimentos que dificultaram o processo” [idem].
Eu já tive oportunidade de afirmar aqui, neste blog, que votei em Dilma e que nunca teria votado em Serra, pois tenho certeza que o governo do privata tucano seria desastroso. Entendo, também, que governar é estar lidando com diferentes pressões provenientes do capital, essas extremamente bem equipadas e apoiadas pelo Partido da imprensa Golpista, e as do mundo do trabalho. Essa última somente será feita por nós, os trabalhadores. Nossa ferramenta para tanto é a mobilização e a paralisação dos serviços: GREVE!
Infelizmente, não estão no horizonte perspectivas de uma negociação séria com um governo que atende aos reclamos do Deus Mercado por superávits primários gigantescos, que paga anualmente aos rentistas do capital cifras absurdas de juros, sem providenciar uma revolução nas taxas de juros do Banco Central.
Os servidores públicos do Poder Executivo não são marajás, não são aplicadores de dinheiro no mercado de capitais, não se locupletam com os jogos das bolsas de valores. São salários que tão logo são recebidos irrigam a economia, pois o servidor público dificilmente conta com sobras inclusive para uma pequena poupança para as emergências.
Após toda uma vida dedicada à instituição com atividades no ensino, na pesquisa e na extensão (publicações, recursos externos carreados para a universidade através de projetos de pesquisa, formação de bons profissionais...), um professor universitário, com doutorado, ganhará ao final da carreira menos do que o salário inicial de técnicos que são aprovados em concursos para trabalhar no Poder Legislativo, por exemplo.
E depois querem que a universidade dê conta de suprir o país, em claro crescimento econômico, com pessoal pronto a ocupar os postos de trabalho tanto na iniciativa privada quanto na esfera pública.
Não demora muito, e muitos dos nossos melhores quadros docentes começarão a debandar para áreas de atuação onde sejam mais valorizados, deixando as universidades às moscas. Muitos outros aposentam-se no momento em que isso é possível, pois não estão estimulados a permanecer na universidade por mais tempo, numa fase da vida em que têm muito a contribuir com as novas gerações de professores que adentram estas instituições.
Ao mesmo tempo em que os salários vão se aviltando, as cobranças institucionais crescem absurdamente, tornando os professores reféns de índices mais quantitativos do que qualitativos. Ser professor, hoje, no Brasil, está deixando de ser aspiração de muitos jovens, por mais que esse trabalho lhes apeteça enquanto realização pessoal. Professor tem família e o bem-estar dessa família faz parte da tranquilidade que ele precisa ter para dedicar-se à sua tarefa de bem ensinar.
Professor não é um missionário. Ensinar não é uma missão divina à qual temos que nos entregar sem esperar nada em troca além da satisfação interior de participar do processo de transformação que a educação traz, tanto para o educador quanto para o educando. É claro que o fazer parte do processo de ensino-aprendizagem deve ser motivo de satisfação. Mas chegar ao final do mês e ficar rezando para que ele acabe logo para a chegada de novo salário... é, no mínimo, desanimador.
O que mais temos feito é empurrar contas com a barriga, fazendo créditos pessoais sobre créditos pessoais para poder fazer frente às inúmeras despesas consequentes, muitas delas, da transformação de saúde, educação e segurança em mercadorias, e outras tantas da necessidade que o professor vive de manter-se atualizado.
O mesmo problema vivem os professores da educação básica, enfrentando a insensibilidade dos governos estaduais e municipais quanto à necessidade de se valorizar, de fato, o professor, e, por consequência, a educação. Veja-se, a propósito, como a Finlândia trata sua educação básica, num exemplo de onde podemos tirar lições importantes.
Em suma, somente pressionando o governo poderemos conseguir ser valorizados adequadamente. Não se pode esperar que o Deus Mercado mande o governo valorizar a educação e os profissionais da educação. Pelo Deus Mercado a educação pode se afundar, desde que seus lucros sejam garantidos por um governo "sério", "confiável", que "cumpre seus contratos". Se o Deus Mercado mandasse aumentar os salários dos professores, quem sabe isso aconteceria, já que esse citado Deus é superpoderoso. Nós também, simples cidadãos, podemos ser poderosos, desde que saibamos enfrentar tanto o Deus Mercado e sua mídia regiamente paga quanto um governo que faça ouvidos moucos às nossas reivindicações. Os braços cruzados dos trabalhadores foram e continuarão sendo o pesadelo dos donos do capital. Cruzemos, pois, os braços, mostrando nossa força.
0 comentários:
Postar um comentário