Postagem de hoje do sítio Brasil de Fato
Por Luiz Ricardo Leitão
Não,  meu caro leitor, eu não me ocuparei nesta semana das histéricas  declarações do ‘nobre’ deputado Bolsonaro. Não digo que seja muita vela  para pouco defunto, pois sei que ele vocaliza posições de um segmento  nada invisível de nossa conservadora sociedade. Seu racismo e homofobia,  porém, são tão caricatos, que fizeram até levantar do sarcófago o  colega Jarbas Passarinho, que, após décadas de serviços prestados à  ditadura, disse à mídia que odeia “radicais”, sejam “de direita ou de  esquerda” (!).
Há, de fato, outros processos em  curso – menos estridentes, mas bem mais poderosos e letais – a merecer a  atenção de todos nós. Eles vão muito além de discursos ou embates  ideológicos e avançam ainda mais rápido do que os aviões da OTAN sobre  os céus da Líbia e da África. Como advertiu há pouco o economista José  Luís Fiori, existe uma nova corrida imperialista no planeta e o  continente africano, assim como o Oriente Médio, é, sem dúvida, um dos  palcos centrais deste movimento.
Desde o fim da  Guerra Fria e o fiasco dos EUA na Somália (1993), Tio Sam passou a  empunhar a bandeira da “globalização e democracia” para a Mãe África,  preocupando-se apenas com as reservas de petróleo e o controle de grupos  islâmicos e dos ‘terroristas’ em áreas ao norte do continente. Mas a  roda do mundo girou e não foi possível deter a invasão econômica dos  países do BRIC, cuja presença em solo africano é mais efetiva do que os  mísseis da OTAN. Por isso, pondera Fiori, não é improvável que as  potências envolvidas nessa disputa geopolítica voltem a pensar na  recolonização de algumas nações que elas um dia já ocuparam e dizimaram.
São  as metamorfoses infindas do capital, que não pressupõem, contudo, o fim  do império ianque – afinal de contas, a desregulação dos mercados e a  flexibilização do dólar (que continua a ser a moeda chave do sistema)  conferem aos EUA “um poder monetário e financeiro sem precedente na  história”. Por outro lado, o imbróglio entre o capital e a política  nesta era ‘pós-moderna’ assume ainda novas facetas mais cínicas e  sórdidas: os aviões franceses e as bases aéreas italianas estão a postos  para os ataques à Líbia, mas como se resolverão os negócios firmados  entre Sarkozy, Berlusconi e Kadhafi?
Mafiosos e  empresários, hoje, são as duas faces de uma única e aparentemente sólida  (prestes, portanto, a desmanchar-se no ar...) moeda. Como escreveu o  italiano Roberto Saviano, em obra recém-lançada no Brasil, “a política é  súdita dos negócios” – e, por isso, também se curva aos negócios da  máfia nos quatro cantos da Itália e mais além... Assim, já não importa  se o comércio é ‘legal’ ou ‘ilegal’: cocaína, cimento, armas, construção  civil e coleta de lixo se tornaram ramos de atividades controlados  pelos clãs corporativos da Camorra napolitana, da ‘Ndrangheta calabresa e  da Cosa Nostra siciliana.
De fato, os novos  grupos empresariais mafiosos são capazes não só de obter vultosos  contratos públicos para erguer prédios ao sul e ao norte da Itália, como  também de prestar serviços à OTAN, como fez o clã Zagaria, que  construiu a central de radar instalada nas imediações do lago Patria, um  ponto estratégico para as operações militares da Organização no  Mediterrâneo. Em suma, se a guerra nada mais é do que uma condução da  política com outros meios (apud Von Clausewitz) e a política vem a ser a  guerra dirigida com outros meios (segundo Foucault), Saviano conclui  que os clãs empresariais da Itália “não são outra coisa senão economias  que usam todos os expedientes para vencer a guerra econômica”.
Quando  vejo um posto de gasolina de um vereador de Bruzundanga vender cocaína  com cartão de crédito a caminhoneiros, dou-me conta de que até nessa  área os malandros da pátria ainda são meros aprendizes dos mestres de  além-mar. Os nossos executivos decerto aprenderão muito com a velha  bota, mas não custa nada indagar que negócios cá estão a promover esses  dublês de políticos & empresários...
Luiz  Ricardo Leitão é escritor e professor adjunto da UERJ. Doutor em  Estudos Literários pela Universidade de La Habana, é autor de Noel Rosa –  Poeta da Vila, Cronista do Brasil e Lima Barreto: o rebelde  imprescindível.
Crônica publicada originalmente na edição 423 do Brasil de Fato.
Quem sou eu
- Aquiles Lazzarotto
 - Bebedouro, São Paulo, Brazil
 - Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.
 
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