Por: Simone Alves
Li um texto de Washington Araújo e aqui teço meu comentário. Transmito-o para você, Alberto Dines, pois gostaria de contar com sua opinião sobre esse nosso mundo. Sou uma admiradora do seu texto e concordo quase sempre com as críticas lançadas sobre esta profissão. No jornalismo, ainda me considero um bebê, já que tenho muito a estudar e me especializar também. Somos vistos pelo prisma do veículo em que escrevemos e não pelo que somos, ou por nossos estilos? Tenho lutado para tentar responder essa pergunta. Tenho lutado para não ser confundida com o dono do jornal, que não é jornalista, mas mente para si mesmo que é.
Não é raro que me perguntem para onde e para quem trabalho. Espantam-se. Fazem cara de decepção, como se me confundissem com o tal dono do jornal. Assim como se espantariam se eu dissesse que trabalho em um desses grandes jornais que desenham a base do seu orçamento sobre os anúncios do governo. Se eu dissesse que trabalho no “maior e no mais bem estruturado jornal do estado”, o espanto ficaria guardado, assim como o recebimento de recursos do governo em forma de anúncios é velado e ao mesmo tempo visto com naturalidade no meu estado (Mato Grosso).
O jornal em que eu trabalho, por exemplo, há pouco recebeu a recomendação de que para receber algum dos recursos advindos desses anúncios – diga-se de passagem, pagos pelo contribuinte – deve usar pelo menos 30% do espaço para falar bem do governo. Uma recomendação, a meu ver, abusiva, mas que, principalmente entre os donos de veículos, é considerada natural. Afinal, se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. Ou melhor dizendo, todos os jornais acreditam que para sobreviver precisam da voluptuosa fonte pública de recursos.
Bom, eu busco meus sonhos e muitos são materiais. Tive uma vida sempre privada de muitos consumos e hoje penso muito em ter conforto, saúde, tempo para a família e para os amigos. É pensando nessas conquistas que tenho que trabalhar em dois lugares, às vezes três ou quatro. Infelizmente, a minha prioridade acaba sendo ganhar meu dinheirinho. Mas não me considero uma jornalista comprada. Não sou de fazer acordos para ganhar um tostão a mais. Procuro fazer o meu trabalho desenhando aos leitores (escrevo para jornal impresso e online) o que achei durante as minhas apurações, e não o que precisam que eu encontre. Essa é minha turma, respondendo à pergunta do Washington Araújo em seu texto “Um jornalista é sempre um jornalista”.
Para finalizar, creio que, antes de sermos domados por qualquer profissão, somos seres humanos cheios de dilemas.
Extraído de Observatório da Imprensa, postagem de 12 de abril de 2011.
Quem sou eu
- Aquiles Lazzarotto
- Bebedouro, São Paulo, Brazil
- Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.
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