Desta vez o rastelo do sistema financeiro falhou ao tentar jogar nas costas da população islandesa o pagamento das dívidas de banco falido
De Fernando Augusto Botelho - RJ
Reuters/Brasil Online
Por Anna Ringstrom e Omar ValdimarssonREYKJAVIK (Reuters) - A Islândia encara mais incerteza econômica e um possível caso judicial depois que seus eleitores rejeitaram pela segunda vez um plano para pagar 5 bilhões de dólares à Grã-Bretanha e à Holanda pela falência de um banco.
Os governos inglês e holandês manifestaram desaponto com os resultados do referendo de sábado, no qual quase 60 por cento dos eleitores se opuseram ao acordo de pagamento.
"Precisamos fazer tudo o que pudermos para evitar caos político e econômico em consequência desse resultado", afirmou a primeira-ministra Johanna Sigurdardottir à televisão estatal.
A questão agora será definida pela corte da Autoridade de Supervisão EFTA, a instituição europeia que está supervisionando a cooperação da Islândia com a União Europeia.
"Minha expectativa é que o processo levará um ano, um ano e meio no mínimo", afirmou o ministro da Economia Steingrimur Sigfusson a jornalistas.
A dívida foi feita quando a Holanda e a Grã-Bretanha compensaram seus residentes que haviam perdido dinheiro no serviço financeiro "Icesave", pertencente ao Landsbanki -um dos três bancos islandeses que quebraram em 2008, gerando um colapso econômico no país de 320 mil habitantes.
Economistas dizem que o fracasso em resolver a questão significa que a Islândia enfrentará atrasos na suspensão de controles cambiais, no retorno aos mercados internacionais e no aumento do investimento.
Mas o governo de coalizão de centro-esquerda disse que não deixará o poder apesar da derrota.
"O governo vai enfatizar a manutenção da estabilidade econômica e financeira na Islândia e manter o caminho da reconstrução que ele começou após o colapso econômico de 2008", afirmou em comunicado.
Ele acrescentou que uma nova rodada de conversações sobre um financiamento adicional do Fundo Monetário Internacional seria atrasado em várias semanas, mas que o país tem reservas internacionais suficientes para cobrir as dívidas vincendas este ano e no próximo.
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Reino Unido ameaça com tribunal se Islândia não pagar dívida
Por Redacção
O Reino Unido já manifestou a sua intenção de recorrer aos tribunais caso a Islândia se recuse a pagar a dívida.
O secretário-chefe do tesouro britânico reagiu com desagrado à rejeição do projecto-lei que permitiria a cobrança da dívida, com 60 por cento dos islandeses a recusarem o pagamento, num referendo.
Danny Alexander disse à BBC que o Reino Unido vai garantir o pagamento da dívida, com recurso a um Tribunal da Área Económica Europeia.
Recorde-se que o Reino Unido e a Holanda fizeram um empréstimo à Islândia em Outubro de 2008, quando o banco islandês IceAve entrou em ruptura, e o país deve neste momento cinco mil milhões de euros.
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Eleitorado da Islândia rejeita dívida de bancos falidos
Cerca de 60 por cento do eleitorado islandês rejeitou o pagamento ao Reino Unido e à Holanda dos compromissos do banco Icesave. A primeira-ministra islandesa admitiu ter sido claramente derrotada na votação, mas emitiu o receio de que esta viesse a causar o "caos" no país. O secretário-geral do Tesouro britânico manifestou-se "decepcionado".
Dos três bancos falidos em 2008, o Icesave foi o caso mais grave, porque deixou um passivo de 3,9 mil milhões de euros. Esse era um fardo considerável para um pequeno país, cujo eleitorado não vai além das 230.000 pessoas.
Mas o Governo e o Parlamento do país não hesitaram na altura em transferir para os ombros dos contribuintes o pagamento das dívidas causadas por manipulações financeiras do Icesave. Os deputados aprovaram maioritariamente que seriam os contribuintes islandeses a pagar.
Entretanto, a oposição ao pagamento da dívida do banco encontrou eco no presidente da República, que vetou a lei do pagamento da dívida. Um primeiro referendo, realizado em Março de 2010, resultou na recusa do pagamento. Ontem, sábado, um segundo referendo confirmou aquela recusa.
A primeira-ministra Johanna Sigurdardottir, partidária do "sim" ao pagamento da dívida, admitiu uma clara derrota, mas, segundo citação do site de Al Jazeera, foi dizendo que "temos de fazer tudo o que pudermos para evitar o caos político e económico como consequência deste resultado".
Cerca de 340.000 aforradores britânicos e holandeses perderam as suas poupanças na falência do Icesave. Os Governos do Reino Unido e da Holanda reembolsaram-nos então, contando apresentar depois a factura ao Estado islandês. Este não ia fora do negócio, e comprometeu-se a pagar.
O resultado do referendo foi recebido com desagrado em Londres e na Haia. O secretário-geral do Tesouro britânico, Danny Alexander, afirmou que "é obviamente decepcionante que o povo da Islândia pareça ter recusado o que era um arranjo negociado".
Acrescentou ainda que, embora "respeite" o resultado eleitoral, "teremos agora de ir falar com os parceiros internacionais com quem trabalhamos, antes de mais com o Governo holandês". E concluiu: "Parece agora que este processo terá de acabar nos tribunais".
O Governo islandês reconhece que, na nova situação, não tem margem para continuar a negociar, mas promete que grande parte dos fundos depositados no Icesave serão reembolsados, porque existe o recurso de responsabilizar por eles a sociedade Landsbanki (uma espécie de SLN do Icesave, ligada a ele e detentora dos activos, ao passo que o banco ficava com os passivos e gostosamente se deixava declarar insolvente).
Segundo o comunicado do Governo islandês citado pela Agência France Press, "o resultado do referendo não afectará o começo dos reembolsos pela sociedade Landsbanki islands aos credores prioritários - incluindo as autoridades britânicas e neerlandesas". E acrescenta: "Além disso, as mais recentes estimativas dos activos [da Landsbanki] indicam que ela estará em condições de reembolsar mais de 90% dos fundos depositados".
O comunicado não esclarece porquê, apesar de uma situação pelos vistos tão desafogada daquela sociedade, o primeiro reflexo do Governo foi o de fazer pagar o buraco pelos contribuintes. A agência de rating Moody's já tinha, em todo o caso, uma opinião formada antes do referendo e ameaçava baixar a nota da dívida islandesa se ganhasse o "não".
Extraído do sítio de Luis Nassif, postagem de 10 de abril de 2011.
Achei interessante a frase lapidar que aparece num dos comentários à postagem: "quem pariu Mateus que o balance".
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