Quem sou eu

Minha foto
Bebedouro, São Paulo, Brazil
Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Democratizar, civilizar e tornar séria a comunicação de massas | Eduardo Guimarães (18dez2011)


O nível deprimente do debate político no Brasil


Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania.

Concorde-se com que não é só aqui. Por influência dos Estados Unidos, a América Latina inteira faz política por meio de verdadeiras brigas de rua em que prevalece quem consegue xingar e acusar de forma mais virulenta e insultante, mesmo que isso se deva a ter como propagar melhor suas arengas por ter a mídia ao seu lado.

Não importa se é assim que outros países da região fazem. Vivemos no Brasil. Não é porque os vizinhos fazem política só por meio de lutas encarniçadas que temos que continuar assim.

A que se reduziu o debate político, neste país, se não a acusações mútuas de ladroagem entre os dois grandes grupos que dividem a política nacional? E, ainda por cima, com o concurso de partidos de uma terceira via de extrema-esquerda que enveredam pelo mesmo caminho tortuoso da desqualificação simultânea dos dois grandes adversários.

O processo se inicia com o clima estabelecido pela mídia. Os seguidores desses jornais, revistas e sites corporativos recebem cargas de denúncias contra petistas e aliados, saem repetindo, ipsis-litteris, os bordões criados para esse fim, mas os beneficiados por esse esquema, o PSDB e os aliados dele, recebem o troco na mesma moeda, pois é nesses termos que o debate foi estabelecido.

Se a mídia quisesse, poderia instilar um comportamento menos ensandecido em atores políticos e militância. Se não tivesse optado por escolher um lado, o debate político melhoraria de nível em pouco tempo. Os grupos políticos passariam a debater visões sobre a administração do país, dos Estados e municípios, o que seria uma benção.

Denúncias de corrupção passariam a ser feitas de forma menos leviana, sobre casos consistentes e não sob exageros que visam transformar o outro lado no “mais corrupto da história”. E ambos os lados acabariam por adotar procedimentos comuns diante de casos de corrupção entre os adversários, não se dispondo a culpar a todos pelo que fizessem alguns.

Claro que cada grupo continuaria a ter seus assaltantes, mas uma imprensa isenta e crível poderia fazer a distinção entre joio e trigo e, assim, chamar à razão quem só pensasse em exterminar o adversário valendo-se da descoberta de que entre suas hostes alguém se corrompeu.

Sonho de uma noite de verão? Claro que é. A vida não é bela. O homem tem essa natureza deletéria.

Todavia, há, sim, sociedades nas quais não há uma só forma de fazer política – acusando o adversário de ladrão e outras “gentilezas” análogas. Mas essas sociedades só conseguiram chegar a esse estágio após colocarem a comunicação de massas a seu serviço.

Hoje, no Brasil, o cidadão comum, aquele padrão de brasileiro que pouca importância dá à gritaria de parte a parte entre a classe política e a mídia por não ter como distinguir o que é acusação verdadeira do que é apenas luta política, vai ficando impermeável a denúncias de corrupção.

Inexiste hoje, em nosso país, um ente apartidário ao qual se possa dar crédito para apontar o que está certo e o que está errado entre este ou aquele grupo político. A imprensa deveria exercer esse papel, mas, infelizmente, ela se tornou notícia, uma protagonista da comédia política, ainda que sem intenção.

Todos os grupos políticos têm pessoas decentes e bem-intencionadas em suas fileiras. Esses podem até ter idéias equivocadas, mas os partidos todos têm os que buscam se locupletar e aqueles que apenas têm idéias das quais se pode discordar, mas que não são canalhas. A comunicação de massas poderia separar uns de outros, se fosse séria.

E o pior é que a falta de seriedade da mídia não muda mais nada na percepção que o povo tem da política. Que resultado ela colheu do bombardeio, da sabotagem incessante do governo Dilma? Nenhum, ao menos em termos de prejuízo de sua imagem.

E Lula, então… Não poderia ser mais popular. Nem mercenários contratados para difamá-lo conseguiram sequer arranhar sua popularidade simplesmente porque ninguém mais dá bola a denúncias de corrupção.

Não há luta mais importante para o Brasil neste momento histórico, portanto, que não seja a de democratizar, de civilizar e de tornar séria a comunicação de massas. Sem isso, este país ainda correrá risco de cair nas mãos do que há de pior na política, tanto de um lado quanto do outro.

Se você ficou deprimido, não se pode culpá-lo. É deprimente mesmo esse quadro político vigente em nosso país. Mas, para não deixá-lo terminar o texto assim, uma boa notícia: há gente que está lutando com muita seriedade para dar ao Brasil a mídia de que tanto precisa. Um dia chegaremos lá. Temos que acreditar nisso.

0 comentários: