Próximo capítulo do livro
“Brasil, Terra de Promissão” (na íntegra em pdf AQUI), publicado em 1969,
ditado pelo espírito de Ramatis e psicografado por América Paoliello Marques.
O sumário do livro é
apresentado a seguir, com os links referentes às partes já postadas neste blog:
Prefácio de Ramatis (ver
AQUI)
I – PREPARAÇÃO
PSICOLÓGICA
1. Origens étnicas (ver AQUI)
2. Desenvolvimento histórico (ver AQUI)
3. Características coletivas (ver AQUI)
4. Composição espiritual (ver AQUI)
5. Lutas de formação (ver AQUI)
6. Amálgama espiritual (ver AQUI)
II – REALIZACÃO
1. Herança espiritual (ver AQUI)
2. Liderança (ver AQUI)
3. Consolidação (ver AQUI)
4. Obstáculos (ver AQUI)
5. Realização (ver AQUI)
6. Harmonia (ver AQUI)
III - CONSEQÜÊNCIAS PARA
A HUMANIDADE
1. Virtude e cristianização (ver AQUI)
2. Abertura dos canais espirituais (postagem de hoje)
3. Tradição e fraternidade
4. Paraíso terrestre
5. Trampolim espiritual
6. Desligamento gradativo
IV – CONCLUSÃO
1. Testemunhos valiosos
2. Mensagem de esperança
3. Exortação
4. A Fraternidade do Triângulo, da Rosa e da Cruz (FTRC) e seu Trabalho na Terra
III – Consequências para a humanidade
2 – Abertura dos canais espirituais
PERGUNTA — Lamentamos que o Brasil faça sua "estreia" na liderança mundial numa época tão conturbada. Que significa, dentro do drama mundial que viveremos, essa "Abertura dos canais espirituais"?
RAMATIS — Significa a porta única por onde, ainda, na Terra, será possível canalizar Amor espiritual sobre os homens e que será formada através dos canais espirituais constituídos pela aura do povo brasileiro.
PERGUNTA — Não compreendemos perfeitamente. Se, de acordo com o que já foi profetizado, a dor se abaterá em grande escala, sob a forma de guerras e catástrofes, sobre toda a Humanidade, acreditamos que onde ela se fizesse mais intensa aí a misericórdia do Senhor seria mais fortemente sentida. Estaremos errados?
RAMATIS — Sim e não. Onde a dor se abater mais fortemente o Senhor já estará fazendo baixar Sua misericórdia, pois ela representa a correção automática dos erros praticados e mesmo as comoções geológicas sofrem um determinismo psíquico. Não vos escandalizeis. A vida é espírito e a matéria não é senão consequência do espírito. Os homens não sofrerão indiscriminadamente a influência dos elementos em fúria. O reencarne obedece a uma lei. Há uma previsão "palpável", por assim dizer, aos espíritos capazes de auscultar em grande escala as forças geológicas, e que são produto do psiquismo ou aura da Terra. As zonas mais afetadas pelo negativismo terreno serão zonas de depuração, aonde os mais necessitados serão conduzidos para eliminarem, coletivamente, a desarmonia acumulada em suas próprias auras. Essa eliminação será feita, simultaneamente, pelas mesmas descargas que se farão sentir no psiquismo humano e terráqueo.
O magnetismo terrestre, hiperativado em choques sucessivos, funcionará como os remoinhos na água, atraindo ao centro do vórtice negativo os elementos necessitados da consumição áurica das forças contrárias ao progresso. O Senhor não destinará ninguém ao fim trágico; os próprios espíritos dos homens já se imantaram ao torvelinho que lhes esteja consoante às necessidades cármicas.
A misericórdia do Senhor é inalterável. Atrai a si, permanentemente, aqueles que a Ele se imantam por força de suas próprias predileções.
PERGUNTA— Perdoe-nos, mas, ainda sentimos as coisas sob um ponto de vista muito humano e essa concepção mecânica dos fatos que regem a vida espiritual não se coaduna facilmente com nossa índole. Como compreender melhor?
RAMATIS — Se os homens fossem capazes de sentir a vida espiritual como ela é, tais eventos apocalípticos seriam sustados em suas consequências mais graves.
PERGUNTA— Seria possível evitar as catástrofes previstas para o final dos tempos?
RAMATIS — As previsões se baseiam na auscultação feita pelas mentes capazes de comportar a síntese dos fenômenos relacionados com as vivências da Humanidade. Fixando a aura terrestre "leem", como num painel, presente, passado e futuro.
Para melhor compreender esse fenômeno podeis imaginar o que sucede a um cirurgião experiente ao examinar os órgãos do paciente. Abrindo-lhe o abdômen pode compreender de imediato sua situação, o que não sucede a um leigo.
Desse modo as almas capazes de "ler" a aura terrestre sentiram, também, o estado psíquico da Humanidade. As características da coletividade terrestre são a força responsável por tal estado de coisas. Só removendo-se a causa seria possível evitar os efeitos ou mesmo atenuá-los. O processo de desagregação psíquica da Humanidade terrestre vem se desenvolvendo há séculos. Encontra-se no estado semelhante ao do doente cujos tecidos vêm sendo trabalhados pela desarmonia por um longo período. Para que houvesse cura, uma reação profunda e prolongada seria necessária, proporcional ao andamento da proliferação negativa.
Sabemos que os milagres não são mais do que a aplicação de leis ignoradas pelo homem. Seria necessário conhecer essas leis para procurar movimentá-las em sentido oposto ao que têm sido conduzidas. Uma reação coletiva precisaria ser desenvolvida tão fortemente como se dá nas curas repentinas obtidas pela fé. O mecanismo desses fatos que assombram a ciência baseia-se na predisposição do espírito para uma retificação vibratória, que permite o fluxo irresistível da vibração harmoniosa.
A nós não cabe fornecer premonições sobre a existência da possibilidade de uma reação coletiva da Humanidade diante dos fatos que estão previstos. Comentamos os mecanismos espirituais que regem a misericórdia divina. Cabe aos homens escrever, com suas próprias convicções, os destinos que escolheram.
PERGUNTA — Pelo que temos observado, seria possível obter reações isoladas de almas que, repentinamente, encontrassem o caminho, sem terem força para modificar o rumo dos fatos. Que dizeis sobre isto?
RAMATIS— Caso isto não fosse possível, estariam fechadas todas as portas para o progresso espiritual. A reação coletiva teria que ser feita pela soma das reações individuais e, esta sim, seria capaz de remover as causas dos grandes eventos negativos gerados pela maioria.
Os homens que, isoladamente, reagirem influirão sobre o seu próprio destino, na medida em que essa modificação for capaz de penetrar as causas profundas de seus desajustes anteriores.
PERGUNTA — Procuramos o mais possível encarar os fatos neste trabalho sob o ponto de vista daqueles que nos lerão, exercendo função semelhante à dos modernos repórteres. Desse modo sentimos oportuno comentar que, se tudo suceder como dizeis, estaria em pleno vigor o princípio de prêmios e castigos tão condenado pela moderna pedagogia na Terra. Que nos dizeis a isto?
RAMATIS — A moderna pedagogia deu um passo avançado quando retirou das mãos do educador o arbítrio dos prêmios e castigos, para alertar o discípulo quanto às consequências mais graves que a própria vida lhe infligiria. Não fez mais do que ampliar o âmbito de ação das consequências dos atos voluntários, exercitando o espírito da Humanidade para uma visão mais ampla. Deslocou o centro dos conflitos do âmbito mestre e discípulo, para fazer dos dois aliados na procura dos rumos mais convenientes. Tirou da mão do mais velho a palmatória, tornando-o capaz de compreender as deficiências do seu semelhante que desperta na alma infantil, colocando-o a investigar no pequeno universo da alma do educando as grandes leis da causalidade que regem o universo psíquico.
Este fato, porém, não impediu nem impedirá nunca que cada qual responda diante da Vida pelos rumos que imprimir ao próprio destino.
Uma interpretação mais real surgiu para a educação quando se deslocou o eixo do equilíbrio educacional das mãos do educador para o próprio âmbito da consciência individual.
A Humanidade cresce em responsabilidade de tal forma que os homens do futuro precisam ser preparados para sofrer, em larga escala, a influência de sua própria orientação interior.
Prêmios e castigos eram arbítrios isolados da realidade global do espírito, proporcionais, em sua exatidão, à capacidade de seus administradores. Representavam, muitas vezes, um desestímulo ao progresso real do educando, por mais bem-intencionados que fossem os educadores.
As leis irrevogáveis que regem o universo são absolutas em sua exatidão e, num grandioso sistema de compensações positivas, erguem os seres para a consciência de suas realidades interiores e eternas.
PERGUNTA — Por que foi escolhido para este capítulo o título "Abertura dos canais espirituais"? Qual o significado real dessa "abertura"?
RAMATIS — Se cogitarmos de abrir os canais espirituais, podemos concluir que antes permaneciam fechadas as vias de acesso à Espiritualidade. Como sabemos, a Força Criadora existe onde quer que esteja a vida. Logo, seria absurdo compreender que haja um só momento no qual os seres estejam privados dessa Força Sustentadora. Ela os envolve e protege em sua evolução.
Porém, há, para cada ser como para cada coletividade, o imperativo de uma imantação consciente com essa energia criadora. No momento crucial de renovação terrena, podeis facilmente concluir, essa imantação à Força Superior de Vida será buscada com grande empenho por todos. As grandes hecatombes despertarão os espíritos do torpor em que se haviam mergulhado e buscarão algo, fora de suas cogitações habituais, onde se amparar.
Esse fenômeno se fará sentir em todas as consciências. Numa casa onde tudo permanecia aparentemente estável, todos passam a tomar conhecimento das impurezas acumuladas quando uma limpeza maior é tentada. O dia reservado à limpeza geral incomoda os moradores, retira-os de seus hábitos rotineiros e obriga-os a perceber o acúmulo de poeira e detritos que, imperceptivelmente, existia pela casa toda. Para terem sossego alguns colaboram na limpeza geral e outros se retiram para local mais tranquilo.
Sucede, porém, que quando a renovação atingir um estágio coletivo não haverá para onde se retirarem as criaturas desejosas de tranquilidade, pois em toda parte se fará sentir o eco das grandes transições e a única solução será buscar resposta para as angústias humanas numa real abertura dos canais espirituais, já que toda a carne estará mergulhada na mais aflitiva provação e os recursos humanos, para explicar a "débâcle", serão insuficientes e notoriamente desacreditados.
PERGUNTA — Parece-nos um pouco severo o julgamento que fazeis dos seres humanos, embora reconheçamos suas deficiências. Que dizeis?
RAMATIS — Assim vos parece porque vos esqueceis que emitimos conceitos relacionados com a coletividade, abstendo-nos de referir-nos às exceções como ponto de referência e estímulo à minoria capaz de enfrentar os sacrifícios necessários à auto-renovação, que tornará desnecessária a transformação compulsória do final dos tempos. Estes serão como as testemunhas de Deus, a fonte de amparo e de esperança para seus irmãos. Porém não representam maioria nem é para eles que nosso trabalho se dirige especialmente, em virtude de por si mesmos já haverem encontrado o Caminho.
Quando se cuida de beneficiar uma coletividade é preciso planejar e estudar em termos de maioria.
PERGUNTA — Gostaríamos de obter maiores esclarecimentos.
RAMATIS — Está em pauta o julgamento de um passado desprimoroso para a coletividade terrena. Mesmo aqueles que no momento já se acham a caminho acertarão suas contas com a Vida, servindo de esteio para os que sofrem as consequências da tradição negativa que contribuíram para consolidar na Terra.
Desse modo, espíritos afeitos ao bem encarnaram em missão de despertamento espiritual. Em toda parte exercerão o papel de canais espirituais para as concepções positivas que devam ser despertadas para a liderança futura do mundo.
Porém, essas almas não terão a força de deter os eventos apocalípticos porque, inclusive, elas têm seu carma entrelaçado com os de seus irmãos menos esclarecidos, pela responsabilidade que lhes cabe na formação do panorama histórico da Humanidade. Surgirão como servos da maioria desnorteada, servindo como condutores do rebanho desarvorado.
PERGUNTA — Onde estarão localizadas essas almas?
RAMATIS — Em toda parte onde o nome do Senhor for realmente venerado por meio de vivências cristãs.
PERGUNTA — Que papel estará reservado ao povo brasileiro nessa batalha renovadora?
RAMATIS — O Brasil sofrerá fortes abalos sísmicos, como todo o planeta, porém permanecerá como um oásis de verdura acolhedora, simbolizando a esperança de renovação. Por suas condições especiais, históricas e geográficas, representará a reserva psíquica mais proveitosa com que a Humanidade poderá contar.
Nada poderemos prever de grandioso para os primeiros tempos dessa provação coletiva. A própria Terra de Promissão representará um cadinho, onde grandes renovações precisarão ser feitas, a fim de ser cumprida sua missão.
Aos abalos sísmicos corresponderão profundos embates morais e o próprio "povo eleito" permanecerá estarrecido perante as responsabilidades novas que lhe serão imputadas.
A princípio não se julgará capaz de cumprir tarefa tão complexa, qual seja, liderar o mundo mergulhado no caos. Quando todas as fontes de segurança hajam falido, para bem cumprir tal missão será necessário improvisar novo sistema de ação, que mais parecerá um anti-sistema, tendo em vista as características diametralmente opostas a tudo quanto antes imperava como norma de trabalho.
PERGUNTA — Que mais nos podeis adiantar sobre essa fase renovadora e difícil para nossa Humanidade?
RAMATIS — Os brasileiros permanecerão como samaritanos a socorrer os feridos e náufragos que virão bater às suas portas. Em seguida, cessada a mais acirrada fase de provações, sairão pelo mundo a espalhar socorro ao panorama desolador da Terra, crestada pelo fogo, abalada em sua própria estrutura geográfica.
Porém, com a ternura natural de sua índole sentimental, esquecerão suas próprias necessidades para atender, de alma condoída, aos remanescentes da catástrofe renovadora.
PERGUNTA — Tão envoltos nos problemas materiais da Terra em provação apocalíptica, de que forma lhes sobrarão energias para se transformarem em canais espirituais?
RAMATIS— Do final do século em diante, Espiritualidade será sinônimo de Vida e Ação. Ao signo do "time is money" seguir-se-á o lema "Vida é Amor" e todo aquele que, pela ação, se integrar na corrente do Amor Universal por seus atos bem conduzidos, contribuirá seguramente para a restauração da Espiritualidade na Terra.
PERGUNTA — Intrigou-nos a palavra "restauração". Por acaso tratar-se-á de uma restauração ou do início da Espiritualidade na Terra?
RAMATIS — Esqueceis que a Espiritualidade já imperou perfeita em sua harmonia nos graus inferiores da evolução terrena. Quando o homem ainda não havia tomado o comando consciente da Vida no planeta, a harmonia aí imperava estabelecendo-se suas leis sobre toda a Criação. As comoções geológicas representavam alvitres renovadores com vista ao aperfeiçoamento do panorama material onde imperaria o espírito humano e o Éden terrestre era conduzido em suas transformações pelas mais altas entidades da Engenharia Sideral. Havia um cadinho de forças espiritualizantes a modelar com carinho o palco das vivências futuras. Uma aura de paz presidia a todos os cataclismos que visavam criar o panorama onde o Amor seria vitorioso no futuro, como mais uma célula viva de radiosa vibração do Eterno.
PERGUNTA — Em virtude de vossas palavras se endereçarem à Humanidade em transições tão marcantes, gostaríamos de lembrar que o lema "Vida é Amor", que regerá a Humanidade do futuro, tem sido trazido à baila por correntes modernas e tumultuadas da nossa juventude. Como compreender esses surtos filosóficos tão chocantes para a sociedade constituída?
RAMATIS — É grandemente oportuna a análise de tais fatos, quando tratamos de analisar a abertura dos canais espirituais e portanto, de forma a chegar a sentir o Amor "em espírito e verdade".
Tais correntes de pensamento, veiculadas em sua maioria por espíritos que iniciam a fase de reafirmação da personalidade no grau de adultos, apresentam aspectos contraditórios cuja análise é profundamente oportuna.
Como jovens que são, trazem em suas atitudes as marcas indubitáveis do espírito renovador. Sentindo grandemente a insegurança e o negativismo de sua época, seus espíritos permanecem estarrecidos, sem esperança. Dessa desordem interior, reflexo do ambiente caótico em que vivem, percebem vagamente a ausência de valores que não podem definir com clareza classificando-os, no entanto, pela palavra sagrada que realmente seria capaz de unir e redimir toda a Humanidade, caso esta conseguisse imunizar-se contra o veneno do ódio, o antídoto do Amor.
Esses jovens sentem, só muito vagamente, a premência da renovação real necessária, sem meios de levar a cabo as suas reivindicações de Paz e Amor. Limitam-se a agredir, através de comportamentos exóticos, a sociedade que adormeceu sob o efeito hipnótico dos valores dourados, mas sem conteúdo.
Realmente, como fruto que é dessa mesma sociedade antifraterna, a juventude não sabe neutralizar o ódio com Amor, embora clame, num esgar do subconsciente angustiado, contra a ausência do alimento espiritual que lhe foi negado — o Amor em suas características de bondade, fraternidade, compreensão, renúncia e tolerância. E quanto mais agridem mais feridos se sentem na essência espiritual que recebe o choque de retorno da reprovação geral. Destroem em si os remanescentes de paz que os faria felizes, colocando-se na antípoda do Amor que buscam através do processo de multiplicação das divergências.
A fraternidade e o perdão permanecem como o único meio legítimo de protesto dos que buscam o Amor em sua essência revitalizadora. Desse modo só um caminho existe para a abertura dos canais espirituais para o advento da era do Amor Universal — servir e amar ao próximo como a si mesmo.
Se os jovens conseguissem ultrapassar seus contemporâneos em percepção da realidade que buscam avidamente, organizar-se-iam em falanges de socorro ao próximo infortunado e, esta sim, seria a forma adequada de afirmar que são adeptos do Amor. Na forma pela qual se conduzem, conseguem reafirmar aos olhos de seus contemporâneos que são mendigos do Amor e não propriamente seus arautos, despertando profunda compaixão em toda alma equilibrada, capaz de sentir o verdadeiro significado da sublimevibração do Amor.
PERGUNTA — Gostaríamos de receber mais alguns esclarecimentos sobre a missão grandiosa que nossa terra cumprirá no futuro. Que nos poderíeis ainda dizer?
RAMATIS— O século passado preparou um grande mecanismo propulsor dos avanços técnicos. Como uma máquina de grande força, o progresso material desembocou no século XX arrastando consigo as criaturas sem que elas soubessem para onde estavam sendo conduzidas, sem saberem também como deter ou modificar a direção da engrenagem. Como uma locomotiva que arrasta os vagões, a força do progresso carregou as nações que por sua vez não chegam à conclusão do rumo a ser tomado nem de como designar os indivíduos capazes de, por unanimidade do consenso universal, tomar a si a responsabilidade do comando da locomotiva.
Com a cabine vaga, a máquina no entanto não para e as equipes que se reúnem para deliberar sobre a composição que se lança para a frente, em velocidade estonteante, não conseguem chegar a uma conclusão capaz de satisfazer a todos. Não se sabe, inclusive, até onde haverá trilhos para serem percorridos e se continua a corrida às cegas.
Nessa incerteza, uns choram e outros gritam e um terceiro grupo toma atitude de estudada indiferença, com a falsa superioridade, cujo único triunfo reside na imperturbabilidade aparente. Bem poucos são lúcidos quanto à tragédia de que participam, como se a maioria se houvesse contagiado pela loucura da composição desgovernada.
Nos campos vazios e férteis da vida, no entanto, chegará o momento no qual a tragédia terá chegado ao seu clímax, para dar lugar à era de reconstrução dos valores desprezados, quando a corrida insana teve início. Como ninguém previra a necessidade de usar com moderação os freios para conduzir a bom termo a viagem, a certa altura dos acontecimentos não haverá mais trilhos capazes de conduzir o comboio e, desequilibrado, projetar-se-á ao solo causando morte e destruição.
Os vagões mais próximos à caldeira serão os mais atingidos pelo fogo e a destruição que se alastrará. Serão os carros onde se acomodavam os passageiros de primeira classe. No final da composição vinham os que transportavam a carga juntamente com os passageiros de segunda classe. Para estes o choque será amortecido, pois viajavam desconfortavelmente entre sacos armazenados de mantimentos e suas vidas serão poupadas em maior número.
Receberão porém uma tarefa ingrata. Recolher dos escombros os sobreviventes, procurar reanimá-los e adquirir da catástrofe as lições necessárias à reconstrução da composição para a continuidade da viagem.
Porém, o tempo necessário a essa reconstrução permitirá a meditação prolongada sobre as falhas que causaram a catástrofe e o reinado curto e trágico do progresso material absoluto servirá de lição para os que se incumbirem dos novos planos.
Caberá aos países que hoje designais "em desenvolvimento" reunir seus esforços na confirmação de que os "últimos serão os primeiros" e liderar a reconstrução do progresso em novas bases. Como vem sucedendo em fases sucessivas, a Humanidade passará por mais um retrocesso profundo para, em seguida, ressurgir das cinzas de seus próprios excessos, liderada por aqueles que herdarão o amargo rescaldo de uma era de profundo negativismo espiritual.
À folia inconsciente dos sentidos hiperativados em bacanais orgíacas, sucederá a dor superlativa do retrocesso à era das cavernas, quando o homem não saberá onde se ocultar dos dragões vociferantes da dor. E ao aceno débil da bandeira branca da paz, ansiosamente erguida para fora das cavernas onde a Humanidade acuada se recolherá, responderá o troar desesperador do flagelo apocalíptico. A fera do orgulho e do egoísmo, pelo próprio homem alimentada nos dias infindáveis de sua soberba, não compreenderá o acesso tímido da bandeira branca na paz agitada para fora dos subterrâneos do terror. O monstro inconsciente por ele criado e fortalecido visualizará, no frágil sinal da bandeira branca, a existência de carne humana para seu repasto destruidor. Desconhecendo seu próprio senhor, continuará impassível a tarefa a que se destinou desde o berço — o ódio tentará até as últimas energias obter vitória sobre o Amor, incrementando ao extremo a destruição.
Porém, no próprio desgaste por ele produzido, o mundo se verá livre do reinado do erro. Na fúria avassaladora de que se encontrará possuído, o monstro fará com que desabe sobre si mesmo o mundo que ajudará a construir.
Soterrado e moribundo, de suas carnes se nutrirão os vermes e da deteriorização resultará mais fertilidade para o solo que sustentará a Humanidade futura.
Como em todas as estórias de dragões e heróis, o bem vitorioso se compadece dos fracos e injustiçados e o dia surge, no qual só os da "direita do Cristo" permanecem para "herdar a Terra". Já então o descrédito dos bem-aventurados será coisa do passado, e o equívoco do predomínio material da vida terá sido ultrapassado.
Aos mansos e pacíficos será dada a supremacia na Terra, onde não haverá uma só voz capaz de clamar pelo desforço das lutas fratricidas, já que estará exaurida a capacidade de destruição existente em estado latente durante séculos na aura psíquica da Terra. Reencarnados no final dos tempos todos os que se afinavam com o baixo psiquismo terráqueo, como forma de vazão ao erro que cultivaram em suas almas, receberam a última oportunidade de reabilitação coletiva no planeta, cuja vibração já se encontrava em vias de deterioração pelos desvios psíquicos alimentados por sua humanidade cega e degradada.
Desencadeada a última etapa desse negativismo pela encarnação em massa dos responsáveis pelos rumos tenebrosos dos destinos da Terra, haverá como uma descarga fluídica em massa, responsável pela tempestade psíquica que se acumulava há milênios e que precisava desabar como chuva benfeitora de lágrimas e dores renovadoras.
Aqueles espíritos cujas auras nem assim se tenham purificado deixarão a Terra e uma era de paz espiritual proporcionará alívio à temperatura psíquica da Terra.
Como num desanuviamento, consequência de chuvas benfeitoras, a aura terrestre proporcionará aos homens um desafogo, permitindo a recapitulação de lições em clima de serenidade e bem-estar geral.
Nessa nova fase, os valores espirituais serão revitalizados, valorizando-se ao extremo, com naturalidade inadmissível nos tempos atuais, os fatos relacionados com o advento do Cristo na Terra.
Um reavivamento espontâneo se fará em todas as tradições populares nas quais o Amor Crístico seja o conteúdo máximo e uma aura de ternura espiritual irá sendo consolidada à proporção que os choques psíquicos do final do ciclo sejam amortecidos.
O homem do terceiro milênio despontará debilmente no sobrevivente do século XX, que sairá à busca do irmão em sofrimento para pensar-lhe as feridas e falar-lhe de Deus. E o Santo Nome do Senhor encontrará eco na alma fustigada pela dor, como não encontrou no espírito locupletado pelo bem-estar material. Rejubilai, todos vós que fordes chamados à tarefa grandiosa de assistir a Humanidade enferma na sua hora máxima de provação! Daí o testemunho do Amor com o nome de Jesus nos lábios, invocando Sua presença excelsa para o conforto à alma dos aflitos.
Porém, não vos aflijais, por vossa vez, pois os frutos do Amor verdadeiro são colhidos na Árvore da Vida à custa de suor e lágrimas somente enquanto não se tornarem na Terra uma realidade as palavras de Jesus — "o meu reino não é deste mundo" mas "os brandos e pacíficos herdarão a Terra" — "veja quem tem olhos de ver, ouça quem tem ouvidos de ouvir..."
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