No Dia Mundial de Combate à Homofobia, a velha mídia brasileira mostrou mais uma vez seu velho ranço conservador. O mofo a que cheiram os maiores jornais do país amarela cada uma de suas páginas, e embolora cada uma de suas edições em um silêncio conivente com a discriminação.
Em uma data que marca mundialmente uma das mais atuais lutas sociais estabelecidas nas sociedades ocidentais – e, no Brasil, o tema tem tido grande debate por conta da ascensão do radicalismo de direita – o silêncio tomou conta dos sites de Estadão, Folha de S. Paulo e O Globo. A Rádio Globo, por sua vez, falou, mas a voz que ali se ouviu foi a voz da reação, não da mudança.
Pela manhã, o deputado Jean Wyllis (PSOL), comentou em seu perfil no Twitter:
Acabo de me recusar, no ar, na Rádio Globo, a debater homofobia e direitos humanos de LGBTs com Bolsonaro. Não rebaixo a pauta LGBT! A emissora não me avisou da presença do deputado homofóbico e eu já entrei no ar ouvindo seu discurso odioso e difamador dos homossexuais. Não há como debater algo sério como direitos humanos de LGBTs (assunto sobre o qual há tanto preconceito) num clima sensacionalista. O deputado homofóbico não oferece argumentos contrários à criminalização da homofobia; oferece tão somente ofensas e hipocrisia! Não dá! Não me farei de escada para elevar discursos de ódio que já têm espaço demais nas mídias, contando inclusive com aval de apresentadores.A Globo, como o deputado Jair Bolsonaro, não trata o tema com a seriedade que merece. Aquela por estar preocupada apenas com sua audiência – e a díade conservadorismo/sensacionalismo é ideal para isso – e este por encarnar os ideais mais reacionários presentes na sociedade brasileira. Reacionários, intolerantes e ignorantes, já que, além de defender valores da reação, Bolsonaro não aceita as diferenças e não pauta seu discurso pela argumentação, como bem escreveu Jean Wyllis. É com Bolsonaro no ar que a Rádio Globo se propôs a falar sobre o Dia Mundial de Combate à Homofobia, uma apelação à falta de bom senso e à idiotia apática de boa parte de sua audiência.
Na Folha e no Estadão, a busca em seus sites apresenta apenas uma matéria sobre a temática da homofobia. E, nos dois casos, a matéria é a mesma, produzida pela Agência Brasil. No caso da Folha, a matéria sai com a assinatura da BBC Brasil, que nada mais fez do que copiar informações. No site de O Globo, com exceção de um comentário no blog de Ancelmo Góis e da seção “As mais comentadas do Twitter”, a última referência à “homofobia” aparece apenas no dia 28 de março. Ou seja, nenhuma produção de reportagem nos sites dos três principais jornais do país.
O silêncio e a omissão não carregam qualquer carga de neutralidade. São, em verdade, formas de atuar pela manutenção do estado das coisas. E o estado das coisas são, como disse a matéria da BBC Brasil que a Folha e o Estadão reproduziram, 3,4 denúncias de homofobia a cada dia no país, e agressões físicas e verbais que se repetem por todos os lados. O estado das coisas é também uma televisão que reforça preconceitos travestindo-os de humor e entretenimento. O silêncio e a omissão dos maiores jornais do país de nada servirá para a luta pela reversão desse quadro em favor da democracia.
*O Sul 21 publicou uma boa reportagem sobre o Dia Mundial de Combate à Homofobia, assim como fizeram diversos blogs de todo o país.
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