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Bebedouro, São Paulo, Brazil
Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Ocupa USP: campus revive dias da ditadura militar (8nov2011)


Numa demonstração cabal de que não sabe lidar com movimentos e demandas sociais, o governo de São Paulo colocou a tropa de choque (400 homens), mais bombeiros (para o caso de haver feridos) e helicópteros para efetuar a "reintegração de posse" do prédio da Reitoria da USP. Ou seja, tirar o povo que se manifestava de um prédio que é, em última instância, do povo.


Os estudantes haviam deliberado, em assembleia geral, que permaneceriam ocupando a reitoria. O governador decidiu, com o decidido apoio da mídia hidrófoba, retirar os estudantes a fórceps, com um contingente desproporcional de militares.


Campus universitário não é lugar de polícia. Campus universitário precisa ter um corpo de segurança próprio, com servidores devidamente concursados e preparados para lidar com as situações costumeiras da vida acadêmica. Se a universidade é o lugar de embate de ideias, certamente haverá momentos de passeatas, tomadas de prédios, de reivindicações e de luta por ideais.


À segurança universitária, com profissionais adequadamente preparados pela própria instituição, cabe a proteção do patrimônio público contra eventuais tentativas de depredação, assim como garantir a segurança do povo que pode, e deve, circular pelo Campus. A universidade é do povo. Ela tem que ser aberta ao povo. Chega de fazer da academia um Olimpo onde um cidadão comum não possa entrar, com bibliotecas e museus fora do alcance dos cidadãos que, principalmente os menos providos economicamente, pagam impostos para sua existência.


As classes mais privilegiadas de nossa sociedade são as que menos pagam impostos, proporcionalmente, e também nelas estão os grandes sonegadores, os corruptores. Só corrompe quem tem cacife, dinheiro, para corromper. Sonega imposto mais particularmente quem lida com grandes cifras. O povo do mundo do trabalho tem seus impostos descontados em folha de pagamento e embutidos nos preços das mercadorias que consome, todas.

Não é incomum que aquele empresário probo, que grita contra a corrupção com olhar angelical, fique com o dinheiro que lhe é passado pelos consumidores como imposto, sem repassar esse imposto aos cofres públicos. Se o mesmo for questionado quanto a isso, dirá que ele administra melhor o dinheiro do que o governo, que ele insiste em caracterizar como corrupto.


Para essas classes cínicas e hipócritas, uma rebeldia estudantil, acompanhada de processos de amadurecimento cultural e de cidadania, deve ser esmagada. Deve-se matar os "subversivos" no ninho. A universidade, enquanto locus do pensamento livre, múltiplo e repleto de contradições que geram energia, calor e conhecimento não interessa à elite. Talvez a seus filhos, que podem estudar em universidades estadunidenses ou europeias e se tornar os ilustrados futuros mandantes dos paus de arara, do zé povinho aqui estabelecido.


A universidade, para essa elite, deve se limitar a formar profissionais técnicos e apolíticos, engajados em projetos de pesquisa que gerem maior eficácia à indústria e ao comércio. Eficácia ou eficiência que, para os empresários, sejam sinônimo de redução de vagas laborais na empresa. Eficiência que multiplica os lucros e reduz folhas de pagamento.


Nada de querer se envolver com questões filosóficas ou sociais. Esse papel, para a elite, é reservado para seus filhos diletos - as filosóficas - e para a polícia - as sociais.


Polícia nos moldes da polícia brasileira, notadamente a de São Paulo, não cabe num Campus universitário e não cabe em lugar nenhum, pois todo cidadão, universitário ou não, branco ou preto, rico ou pobre, precisa ser tratado com dignidade acima de tudo. Pessoas gostam de ser respeitadas, qualquer que seja sua condição social, sua raça, sua religião, sua sexualidade etc.


Enquanto o efetivo policial se mantiver racista, preconceituoso, discriminador, homofóbico... não estará credenciado para lidar com gente.


Registro aqui meu apoio total aos bravos estudantes que hoje foram duramente desalojados não só da reitoria da USP, mas também de suas iniciativas cidadãs de demanda por um universidade pública de fato. Lembro aos amigos uspianos que os colegas de Rondônia também estão passando por poucas e boas nas mãos do reitor da Universidade Federal de Rondônia, sendo vítimas, inclusive, de ameaças veladas à sua integridade física tanto dentro quanto fora do Campus universitário.

Lá, os brutamontes despreparados eram efetivos da Polícia Federal. O que reforça minha opinião de que universidade não é lugar para ações policialescas, truculentas. Na verdade, a truculência não cabe em lugar nenhum de nossa sociedade. Violência gera violência. Ação e reação...


Nota: as charges de Carlos Latuff mostram como ele, e muitos de nós, cidadãos brasileiros, vemos o papel da polícia, do governo estadual de São Paulo e da mídia elitista nos conflitos sociais, especialmente, no caso, dos movimentos estudantis da USP em 2007 e agora. As fotos são de hoje de manhã/madrugada.

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