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Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

domingo, 3 de junho de 2012

Depois de caídos os desobedientes do Oriente, poderá a América Latina ser o próximo alvo?
(3jun2012)

Vejo que se repete o mesmo modelo ou padrão utilizado para demonizar Kaddafi e o governo líbio. Agora a bola da vez é a Síria. Grupos terroristas com mercenários bancados pelos "Amigos da Síria", ao que tudo indica, promovem ataques à população civil. Em seguida, culpam o governo sírio pelos lamentáveis episódios. Por que isso me parece assim?

Novamente, a Rússia tenta mostrar que isso não passa de um plano externo para "justificar" a tomada do país pelo Império. Não será de se espantar se, em breve, o Conselho de Segurança da ONU aprovar um bloqueio aéreo àquele país. E nós já vimos que o "bloqueio aéreo" na Líbia foi, na verdade, uma autorização para que as grandes economias europeias e a estadunidense despejassem suas bombas em alvos específicos. Esses alvos constituem as bases de poder de defesa do país. É claro que muitos civis serão mortos, mas isso não será assunto a ser destacado pela mídia. Pelo contrário, no mundo ocidental os noticiários ignorarão solenemente esses "acidentes de percurso".

O presidente da Síria já é tratado como "ditador" há tempos na ampla maioria dos nossos meios de imprensa.

Por coincidência, os grandes morticínios de civis atribuídos ao governo sírio intensificam-se quando das visitas de equipes de observadores da ONU e da Liga Árabe. Em meio a tudo isso, numa guerra de informações e contra-informações, o povo sírio percebe que o dia D está se aproximando, e que seu futuro passará para mãos inescrupulosas de grupelhos rebeldes que implantarão um regime de terror e violência cotidiana, tal qual ocorre hoje na Líbia.

A Líbia, antes um país que oferecia condições de bem-estar e segurança à população em geral, é hoje uma terra-de-ninguém. Os donos do poder, lá, agora matam e prendem qualquer cidadão que ouse ter saudades dos tempos em que tinham renda adequada, proteção social nas áreas de saúde, educação e moradia. Os donos do poder açambarcaram os meios de produção, principalmente o petróleo, e seguem, agora, os ditames do capital internacional. Para isso, há que se cortar os benefícios sociais. E isso vem sendo feito com violência, sem qualquer processo que sequer se finja de democrático. Mas isso não incomoda às potências estrangeiras, porque agora essas potências não se sentem ameaçadas por propostas que poderiam atrapalhar seu propósito de dominação. Kaddafi ousou propor a criação de uma moeda única africana. Foi assassinado barbaramente, depois de preso, num espetáculo televisivo deprimente. Saddam, no Iraque, deixou irados os poderosos ao começar a vender o petróleo cobrando euros e não dólares. Tais ousadias são inaceitáveis para quem domina a máquina de impressão de dólares. Dólares são aqueles papéis pintados de verde e sem lastro que os Estados Unidos espalham pelo mundo. Seu único lastro é o poderio bélico estadunidense, apoiado pelos sabujos europeus na OTAN.

Nada do que vemos na imprensa é confiável, também quando se trata das crises no Oriente Médio e no Norte da África. Todos jogam um mesmo jogo combinado por um grupo que busca estabelecer, em um prazo não muito longo, um governo mundial. Um governo mundial que pretende colocar de joelhos todas as nações que possuem recursos naturais que interessem ao capital. Soberania é um termo banido dos discursos. Os tratados internacionais tradicionais sobre soberania estão sendo violados todo o tempo.

E fica a pergunta, por fim. Quando chegará a vez da Venezuela, da Argentina e do Brasil, que vêm há algum tempo ousando levantar a cabeça e trilhar seus próprios caminhos de democracia e de regulação social? Chávez já é vítima da guerra suja na imprensa "maior". Sempre se omite que Chávez é eleito democraticamente e que o país vive uma normalidade constitucional. Omitem-se também as melhorias de vida do povo venezuelano. Entretanto, são destacadas as críticas absurdas da envelhecida e empedernida elite venezuelana que foi alijada do poder pelo voto.

No Brasil, os grandes meios de comunicação, oligopolizados e dominados por meia dúzia de famílias, travam batalhas diárias contra um governo que também alijou do poder central a elite cheirosa e limpinha que vinha, desde tempos "imemoriais", ou seja, desde que o país passou a ter governantes próprios, administrando as riquezas e reforçando desigualdades sociais, quase que as naturalizando. O povo brasileiro chegou a acreditar piamente que a vida era assim mesmo. Quem era rico ou estava bem de vida é porque merecia. Mérito. O pobre ou o miserável foram sendo culpabilizados por sua pobreza ou miserabilidade. Incompetência. Algo parece estar mudando por aqui. A elite está odiando. E não é nada difícil esta elite voltar a estreitar os laços com as agências estadunidenses que estimulem, financiem e instrumentalizem uma reversão dos rumos tomados nos últimos dez anos, de modo a levar essas elites ao lugar que julgam lhes pertencer: o governo.

É bom estarmos atentos ao que acontece lá, longe, com aqueles povos que a mídia usualmente retrata como um povo esquisito, meio doido, com costumes estranhos aos nossos, o que  faz parecer que eles precisam, mesmo, de intervenção externa para "melhorarem" seus comportamentos. Para "serem civilizados".

Poderá chegar o dia em que nós, latinoamericanos, passaremos a ser apresentados como os estranhos, os doidos. Será a hora em que será preciso uma intervenção para que sejamos "ensinados a ser civilizados". Se alguém  assiste a uma série de programas do Discovery, da National Geographic e outros quetais, verá que, de alguma forma, isso já começa. Há muitos programas que mostram os lados "estranhos" de nossas culturas, colocando em tela rituais e costumes de origem indígena e africana, parte de nossa cultura que já é renegada pela nossa culta e europeizada (com tons de Miami) elite. Já se fala demais em rituais onde se mutilam crianças... Figuras inusitadas, com vestes também inusitadas, falam e fazem rituais que estão longe dos ritos católicos e, principalmente, protestantes. Há também os "monstros" dos rios (nossos pobres peixes), as "estradas perigosas" dos Andes... e por aí vai se tecendo velozmente a esquisitice.

Nossas "excentricidades" despontam nesses documentários, sob o pretexto de se estar apresentando nossa cultura e a natureza exótica. Poderia haver aí um princípio de exposição do quanto somos "doidos e esquisitos"? Poderíamos passar, por isso, a ser um povo que precisa de um corretivo?

Da mesma maneira que a população do ocidente não vê muito problema no morticínio daquele "povo doido" do lado de lá do mundo, e que nós aqui assistimos anestesiados, sem indignação, a execução de "bandidos",  pobres e negros de periferia, poderá chegar o dia em que o mundo aplaudirá um bombardeio "cirúrgico" em lugares estratégicos brasileiros, ou venezuelanos, peruanos, argentinos, bolivianos etc., os "novos doidos" gerados na mídia... E isso será apoiado e incentivado pelas elites econômicas daqui, que, felizes, entregarão nossas riquezas naturais e nossas forças de trabalho aos estrangeiros e, como capatazes bem treinados e domesticados que sempre foram, encarregar-se-ão de manter o povo sobrevivente sob sua chibata, em troca das migalhas ou títulos pomposos que cairão da mesa do banquete dos poderosos. E, pior, achando que fazem parte desse "grupo seleto" ao qual servirão com fidelidade canina.

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