Lula tem sido apresentado como modelo de transformação por todo o mundo. Várias das mais tradicionais universidades do mundo homenagearam-no com o título de Doutor Honoris Causa. Se não me engano, já são doze doutorados acumulados pelo torneiro mecânico Lula. E ele já tem aprovados 80 desses títulos, que ainda faltam ser entregues.
Um escritor de grande sucesso em toda a Europa e Estados Unidos afirmou, em 2011, que Lula seria o único líder mundial capaz de dar um direcionamento adequado à ONU. Literalmente, ele defendeu que Lula deveria ser o Secretário Geral da ONU. E quem disse isso é um senhor de quase cem anos. Um senhor que lutou na II Guerra Mundial, participando da Resistência Francesa à dominação nazista. Um senhor que está indignado com a atual situação de subserviência europeia à dominação neoliberal. Quase cem anos vivido e ainda com capacidade de indignar-se. O seu discurso em que se refere a Lula foi feita numa grande universidade estadunidense, em Nova Iorque, e foi aplaudido demoradamente pelo grande público presente ao fazer essa referência.
Em muitos processos eleitorais pelo mundo afora, o ex-presidente Lula é apontado como modelo a ser seguido na governança. Sua imagem foi veiculada em campanhas presidenciais na América Latina e na Europa por candidatos tanto de direita quanto de esquerda. Por quê? Porque as populações desses países conhecem e admiram Lula. E, novamente, por quê? Porque Lula colocou o Brasil no concerto das nações, tornando-o visível como uma respeitada e respeitável potência emergente.
É possível fazer-se críticas ao Lula? Claro que sim. Ele governou em meio a um jogo de pressões, com a mídia fazendo de tudo um pouco na tentativa de desmoralizá-lo. Ele vacilou em diversos aspectos, inclusive no campo dos direitos trabalhistas, para não contrariar as elites e o "Deus Mercado". Ele poderia ter avançado muito mais nas melhorias sociais, mas talvez ele tenha tentado manter um ponto de equilíbrio. Talvez, também, ele tenha avaliado que se forçasse demais, as forças golpistas chegariam a extremos maiores para defenestrá-lo, retirando-o do poder.
Para nós, meros cidadãos mortais, fica praticamente impossível ter a exata dimensão do que acontece nos bastidores do poder. A impressão que tenho é a de que o/a Presidente/a caminha todo o tempo num fio de navalha, com todo tipo de pressões e ameaças. Daí ficar, para muitos, a percepção de que houve alguns recuos ou, no mínimo, imobilidade do governo em diversas situações e setores.
No conjunto da obra, no entanto, ninguém, em sã consciência, pode negar que o Brasil pariu um líder político mundialmente respeitado. Por maluco que possa parecer, isso não repercute na grande mídia nacional. Quem assistiu ou leu alguma matéria, neutra que fosse, sobre a popularidade de Lula no exterior. Quando digo matéria, penso em uma exposição de imagens, detalhamento de homenagens recebidas, reprodução da fala do ex-presidente nessas ocasiões. Lembro-me bem de que quando FHC recebeu um título do Doutor Honoris Causa houve um reboliço na mídia brasileira. Transmissão ao vivo, longas reportagens nos grandes telejornais. Loas e mais loas ao "príncipe dos sociólogos". Do Lula, nada. Quem teria mais mérito a ser cantado e decantado ao ser assim homenageado? Um doutor em sociologia ou um operário sem curso superior? Quem fez um percurso muito mais longo e difícil para chegar à presidência do país? Um culto e educado filho da classe média alta ou um retirante nordestino com baixa escolaridade?
O que a elite brasileira não entende, ou não quer entender, é que o povo brasileiro tem muito maior identificação com o operário do que com o "príncipe". Até porque o primeiro deu a esse povo, à sua maioria humilde, condições de voltar a sonhar. Sonhos nos levam longe, fazem o coração bater melhor e mais forte. Criam perspectivas. O "príncipe" proporcionou ao mesmo povo humilde a sensação de impotência, naturalizando a austeridade econômica como a única possibilidade existente. Inescapável. Sem sonhos, sem perspectivas de melhorias. Isso sem contar que o "príncipe" desfez-se do patrimônio construído pelo povo durante décadas. E se desfez de tudo por muito pouco, quase nada, e que em nada contribuiu com a melhoria da situação das dívidas do país.
Muitas imagens marcantes do governo Lula me vêm à memória agora. Pinço uma muito significativa. Quando deixou o Palácio do Planalto, após transferir a faixa presidencial à sua sucessora, Lula contornou o carro que o levaria ao aeroporto e literalmente caiu nos braços da multidão que o aplaudia à frente do Palácio, abraçando e beijando meio mundo de gente. Qual outro, de nossos presidentes, fez isso? Em quais países vemos cena semelhante? A imensa maioria dos líderes mundiais cerca-se de seguranças e faz cumprimentos a uma meia dúzia de populares, com o "eterno" beijinho em alguma criancinha. E tchau!
Agindo de forma injusta para os brasileiros, a grande mídia trabalha, sim, na tentativa de desconstruir a imagem do ex-presidente Lula. Tentam porque tentam tirá-lo do imaginário popular. Sempre que possível apresentam factóides na busca de desmoralizá-lo, de colocar a opinião pública contra ele. E isso ocorre mais fortemente há dez anos. Fora o que a mesma mídia fazia antes de sua primeira eleição. Fazia-se de tudo para invisibilizar Lula. Quando não era possível, a edição de matérias era feita de modo a apresentar os piores aspectos visuais possíveis. Um truque bem batido da Globo era, e continua sendo, com Dilma, o de reduzir o volume da fala presidencial, além de recortar trechos dessa fala, tirando-as de seu contexto e subliminarmente apresentando mensagem diferente daquela verdadeiramente contida no discurso.
Foi significativa a reação da grande mídia ao saber que Lula estava com câncer. Houve uma incontida satisfação. O serviço "sujo" os jornalistas deixaram para os comentaristas dos grandes veículos na internet. Claro que estimulados a tais manifestações por "toques sutis" desses mesmos veículos.
Mas não tem jeito. Dizem que Lula é igual a massa de pão. Quanto mais batem, mais ele cresce. O mundo vê nele um líder carismático e capaz. A mídia brasileira vê nele um estorvo às suas pretensões de levar a elite conservadora de volta ao poder. Por quê? Porque a mídia é financiada, via propagandas de bancos e outras grandes empresas e via vendas de exemplares para alguns governos estaduais ou municipais. Em São Paulo, o governo estadual gasta muitos milhões com as assinaturas de Veja e da Folha de São Paulo, que são distribuídas a todas as escolas estaduais. Por que não assina também a Carta Capital ou a Caros Amigos? Porque não pode haver contradições na "formatação mental e política" de professores e alunos. A "manada" precisa ser disciplinada dentro de uma ideia única, sem possibilidade de ouvir os muitos lados de qualquer situação cotidiana. Sem alternativa para a reflexão e a criação de conhecimentos. O papel da "manada" é ser disciplinada, obedecer os poderosos e ficar satisfeita com o pouco que lhe é passado.
Nos finais de tarde, os programas policialescos incutem o medo, o terror, aos cidadãos desavisados que ainda lhes dão audiência. À noite, os telejornais corroboram o que se lê nos veículos impressos e se vê nos programas do tipo "cadeia neles!", e muitos brasileiros, não todos (felizmente), juram que estão bem informados e "sabem tudo da sujeira desses políticos horríveis que dominam este país". E ficam morrendo de medo de sair às ruas. O que dirá, então, de sonhar com um outro mundo, com outras formas melhores de se viver?
Fico por aqui. Por enquanto...
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