Dueling banjos (Tradicional)
Eric Weissberg e Steve Mandell
Crise no Mediterrâneo: Israel x Turquia
Por Flavio Aguiar
Ministro de Relações Exteriores turco, Ahmet Davutoglu, fala em coletiva
sobre a expulsão do embaixador de Israel (Foto: ©Stringer/Reuters)
O primeiro ministro turco mandou o embaixador israelense embora. Já era esperado.
A mídia ocidental vem descrevendo essa crise como uma questão ligada ao possível domínio turco sobre o Mediterrâneo oriental, onde vicejam também (como no pré-sal brasileiro) fontes petrolíferas. A disputa seria, na verdade, com a Grécia, em torno da vizinhança de Chipre, ilha em que os dois países partilham soberania.
Israel também teria interesses na região, pela mesma razão, e apoiado por seu lobby junto aos EUA. Pode ser. Mas um grave problema internacional foi criado. O governo de Israel matou uma dezena de cidadãos turcos por causa da"flotilha da paz", em junho do ano passado. O governo de Tel Aviv pode alegar o que seja, mas não dá para fugir da questão.
A Turquia marcou um ponto ao exigir que o governo de Israel peça desculpas. Com isso, diante das mortes de civis, o governo de Tel Aviv, sempre na defensiva, fica com a pecha de ofensor. A ação do governo israelense diante da "flotilha da paz" é indefensável. O relatório da ONU a respeito é mais do que conclusivo. Foi muito simpático a Israel, ao dizer que o governo deste país tem o direito a bloquear Gaza (o que é discutível), mas condenou "o excesso" da ação israelense (o que é indiscutível).
A Turquia está reagindo à nova situação dos países da Liga Árabe. Na confusão reinante, a Arábia Saudita quer se colocar como a monitora da região, na debacle do Egito, que ainda não se sabe onde vai dar. Mas a Turquia pretende também colocar seus peões, torres, bispos e cavalos em cena. Não vai fugir da disputa com os sauditas, muito menos com Israel.
A pretensão turca, em relação à Arábia Saudita, preferida do Ocidente, que antes acolhia Gadaffi de braços abertos, assim como o rejeitava décadas atrás, tem um aliado poderoso na instransigência do governo de Tel Aviv, cada vez mais isolado internacionalmente: para citar provérbio brasileiro, é mais fácil que a cobra fume do que o governo israelense peça desculpas por qualquer coisa que tenha cometido - e não importa se for uma atrocidade.
Às vésperas da Autoridade Palestina submeter a criação de um Estado para o povo que representa junto à ONU, essa intransigência enfraquece não só a posição de Israel, mas também a de aliados dos Estados Unidos na região, como é o caso da Arábia Saudita.
Publicado em 8 de setembro no Blog do Velho Mundo.
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