Contra a moratória, demissões
Pressionado pelo Banco Central Europeu e pelo FMI, o governo de Atenas assumiu novas medidas de ajuste, como o cancelamento de contratos de 10% dos funcionários de empresas públicas. Brasil e os outros países do BRIC ofereceram sua ajuda ao Velho Continente
O governo grego trabalha contra o relógio para evitar que os crescentes rumores de moratória compliquem ainda mais suas finanças públicas. O Ministério de Finanças ordenou ontem (13/09) a 151 empresas com participação estatal que reduzam seus quadros de funcionários em 10%. Entre as companhias afetadas encontram-se a ferrovia, a radiotelevisão estatal, uma agência de notícias e uma distribuidora de gás. Os anúncios detiveram a tendência de baixa dos mercados europeus, ao menos até que o stablishment financeiro considere que isso não é suficiente e peça mais ajustes. Os índices das principais bolsas do Velho Continente conseguiram uma melhora de até 2,2% no caso das praças mais castigadas nos dias anteriores. Apesar do rebote, as incertezas se multiplicam e são produzidos fatos impensáveis até dois anos atrás. Por exemplo, que os países do BRIC - Brasil, Índia, Rússia e China - discutirão na próxima semana a forma de ajudar a União Europeia para que possa enfrentar sua crise econômica.
Tal como fez a Argentina antes de sair da convertibilidade com uma crise sócio-econômica sem precedentes, a Grécia pretende converter-se no "melhor aluno" para a visão dos organismos de crédito. Mas as receitas de ajuste a que é submetida obscurecem mais o panorama. Também assim sucedeu na Argentina. A pedido da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), o governo grego anunciou um novo corte de folhas de pagamento. A medida contempla deixar 20.000 trabalhadores públicos congelados um ano, período durante o qual receberão 60% de seus salários. Se nesse lapso não voltarem a ser contratados, estarão formalmente despedidos.
A União Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI enviaram um grupo de trabalho para "ajudar o país" a utilizar melhor os fundos estruturais europeus com vistas a favorecer o crescimento econômico, o investimento e o emprego. O primeiro-ministro grego, Giorgos Papandreu, insistiu em que seu país não cairá, e que Atenas fará tudo o que for necessário para por em ordem suas finanças. A Chanceler alemã Angela Merkel afirmou que "a metade da política econômica e financeira é psicologia". "O que menos precisamos agora é intranquilidade nos mercados financeiros. A insegurança já é suficientemente grande", expressou ontem (13/09) a mandatária, quem hoje se reunirá com Papandreu e seu par francês, Nicolas Sarkozy, para analisar a situação da Eurozona. Merkel explicou que com o euro se decide o futuro da Europa. "Por isso todos devemos medir cuidadosamente as palavras que empregamos", acrescentou.
Frente à crise grega, há cada vez mais vozes que antecipam que finalmente haverá uma interrupção de pagamentos. O economista argentino Mario Blejer, ex-presidente do Banco Central durante o governo de Eduardo Duhalde, considerou que essa deveria ser a saída. "A Grécia deveria declarar moratória, e deveria fazê-lo fortemente", assegurou. Blejer qualificou de "ridícula" a situação da economia helênica. "Se se assume o que esses países têm andado a fazer o que lhes obrigam esses programas de ajuda, com privatizações e ajustes, até o final de 2012 a dívida será inclusive pior do que o nível atual", advertiu.
O risco de bancarrota da economia grega complicaria não somente ao Velho Continente, mas a recuperação global. Por temor a esse desenlace, nos últimos dias vários países manifestarm sua intenção de sair para o resgate. O governo italiano negocia com as autoridades chinesas para que um fundo o gigante asiático compre bônus de dívida e invista em suas empresas estratégicas. O rendimento dos títulos italianos de dez anos avançou 40 pontos básicos durante o mês e chega a 5,6%, próximo dos 6,2 que alcançou em princípios de agosto, quando o Banco Central Europeu começou com a compra desse papéis. A isto se soma agora a iniciativa dos BRIC. As autoridades desse grupo de países reunir-se-ão na próxima semana em Washington. Uma das alternativas em debate será o aumento da participação de títulos em euros nas reservas internacionais dos países membros do BRIC.
Essas possibilidades de recompra permitiram uma melhora das ações de bancos europeus, que mantêm uma alta exposição à dívida grega. Também colaboraram as declarações das autoridades do Societé Générale, que asseguraram que as potenciais perdas pela crise europeia são manejáveis sem acesso aos fundos de money market norte-americanos. O índice bancário europeu Stoxx ganhou então 3,6%. Assa alta alavancou os índices acionários: Madri ganhou 2,5%, e Milão 2,2. Em seguida Frankfurt (1,9), Estocolmo (1,8), Paris (1,4), Zurique (1,1) e Londres (0,8).
Matéria publicada no sítio argentino Página/12. Tradução para português: Aquiles Lazzarotto.
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