Montadoras: com os pátios e os cofres cheios
Por Fernando Brito
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Batata, como diziam antigamente. Sexta-feira a gente falou aqui que a decisão das montadoras de suspenderem a produção de veículos tinha sentido mais político que econômico.
Hoje, os números da Associação Nacional de Veículos Automotores – Anfavea – provam que o que houve não foi uma queda nas vendas, mas dois movimentos políticos evidentes.
A produção de veículos cresceu, de junho para julho deste ano, 3,9% e 5,7% se comparada à de julho de 2010. No acumulado em 12 meses , até julho, a produção cresceu 4,6 contra os 12 meses anteriores. E 4,3%, se colocados lado a lado os primeiros meses de 2010 e 2011.
Mas se você observar detalhes vai ver que, entre os veículos, o que cresce com força são os segmentos que mostram o vigor da expansão da economia fora do consumo, mas no setor ligado à produção e aos investimentos públicos. Enquanto o setor de veículos leves teve um crescimento de 1,8% nos sete primeiros meses do ano, o setor de caminhões leves e pesados cresceu 14,6% e o de ônibus, mais de 22%.
Enquanto o setor de veículos leves dependem do crédito bancário em geral, os pesados dependem, em muito, do crédito governamental, através do Finame, do Programa de Sustentação de Investimentos e de outros programas do governo federal.
Este menor crescimento nos veículos de passeio não é novidade e já vem há tempos sendo registrado, permitindo um planejamento de produção que não levasse à formação de estoques excessivos. O licenciamento de veículos de passeio vinha tendo níveis negativos nos dois meses anteriores: menos 4,1% em junho sobre maio e só 0,1 a mais em julho, sobre o mês anterior. Tempo de sobra para prevenir ultraestocagem.
O primeiro foco de pressão política está justamente no fato de que o setor quer que o Governo encontre formas de barrar a importação, que atingiu, no primeiro semestre 22% do total de novos licenciamento. De janeiro a julho, 457 mil veículos importados foram licenciados no brasil, 120 mil a mais que no mesmo período do ano passado. Importamos equivalente à produção de veículos da Argentina em seis meses!
Como, no mesmo período, exportamos 341 mil veículos, o Brasil tornou-se um importador de veículos automotores.
O segundo ponto de pressão entra aí: o setor automobilístico, que por isso recebeu tratamento diferenciado no Plano Brasil Maior, anunciado pelo Governo, não quer aceitar compromissos de redução de preço e reluta em atender aos requisitos de inovação, eficiência energética e pesquisa exigidos pelo programa reintegra, parte do plano, que devolve créditos de IPI às montadoras.
Ou seja, quer subsídio sem abrir mão do lucro. Que, no caso das montadoras no Brasil, aliás, é espantoso e tem sido um dos países que tem salvado o balanço da indústria automobilística mundial.
Postado em 8 de setembro de 2011 no sítio Projeto Nacional.
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