A primeira sensação sobre
essa terra, ao sair do avião no Aeroporto Marechal Rondon, foi a de que as
turbinas do avião estavam exalando muito calor. Chegando à porta do avião senti
aquela emanação de ar quente, que me parecia provir da turbina ali ao lado da
escada. Indo para o saguão de desembarque, dei-me conta de que o calor não era
da turbina. Era calor ambiente mesmo. Tudo bem. Eu vinha conhecer Cuiabá e a
universidade para analisar se aceitaria ou não o convite do chefe do
Departamento de Geologia para trabalhar aqui.
Fora o calor, o que senti
naquele mesmo momento, na porta do avião, foi que estava finalmente chegando à
minha casa. Sensação inexplicável para mim até hoje. Mas muito clara. Tudo me
parecia bonito no caminho do aeroporto para o centro de Cuiabá. Tudo o que eu
via fazia meu coração bater feliz. Casinhas simples no entorno da Avenida da
FEB, o rio Cuiabá, a Prainha e o centro. Fiquei hospedado no Hotel Fenícia, na
Avenida Getúlio Vargas, e a janela do quarto, voltada para a parte de trás do hotel,
abria-se para o quintal da Casa do Governador, com sua piscina, jardins e
árvores.
Acabei por aceitar
mudar-me para Cuiabá e trabalhar na universidade federal daqui, vindo da
federal rural do Rio de Janeiro. Até então, o que sentia era um bem-estar por
estar aqui. Puras impressões favoráveis, mesmo quando nem tudo caminhava tão
bem no ambiente de trabalho.
Um dia, pouco depois de
meu ingresso na universidade, fui assistir a uma palestra do Professor Júlio
que tratava da história da ocupação urbana de Cuiabá. A palestra trouxe à luz,
para mim, os diversos momentos históricos da evolução arquitetônica e de
expansão urbana, desde o começo da existência da cidade. Os garimpos, a
sociedade no período colonial, o período do Estado Novo, a ânsia pela “modernização”
na década de 1970, os deslocamentos de fluxos e de instituições direcionando os
ciclos de expansão. Tudo isso estava marcado, mapeado, na cidade.
Depois disso, meu olhar,
armado dessas informações, passou a associar os sentimentos que eu já tinha à
análise e percepção da história associada aos casarões, às casinhas, aos
diferentes traçados das vias e aos diferentes grupos arquitetônicos. Esse olhar
deu asas à imaginação e uma espécie de inveja de quem viveu uma Cuiabá mais
antiga, bucólica, hospitaleira.
Ao mesmo tempo em que devo
a ele esse olhar, por sua palestra encharcada de competência e de bem-querer
pela cidade, outro personagem trouxe-me acréscimos fundamentais.
Dunga Rodrigues (Maria Benedita Deschamps Rodrigues - 1908-2002), quem, como testemunha dos "tempos de outrora", acrescentou histórias, "causos", à "maquete social-temporal" da cidade que Júlio já havia oferecido. Dunga encheu essa estrutura com histórias do arco da velha, fatos diversos relatados com graça e sensibilidade.
Dunga Rodrigues (Maria Benedita Deschamps Rodrigues - 1908-2002), quem, como testemunha dos "tempos de outrora", acrescentou histórias, "causos", à "maquete social-temporal" da cidade que Júlio já havia oferecido. Dunga encheu essa estrutura com histórias do arco da velha, fatos diversos relatados com graça e sensibilidade.
Assim, Júlio Delamonica e Dunga seriam, digamos assim, meus "padrinhos", que me levaram a me apropriar de Cuiabá com o coração e a mente.
Os dois certamente nem suspeitam de quão bem me
fizeram em nossos breves contatos. Eles foram - sem afetações românticas e sem cuiabanismos exacerbados –
genuínos portadores de boas novas sobre velhos tempos desta capital. Eles
permitiram que eu transitasse e transite por Cuiabá em diferentes vórtices de
tempo. Por tudo isso, apresento meus agradecimentos e minhas homenagens a eles.
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