Why can't you behave? (Cole Porter)
Diahann Carroll e Andre Previn
Diahann Carroll e Andre Previn
Desde a II Guerra Mundial, mais de trinta milhões de pessoas morreram em guerras chamadas de baixa intensidade, promovidas pelos EEUU e seus aliados.
A humanidade enfrenta a mais grave crise de civilização de sua história. Ela difere de outras, anteriores, por seu caráter global, que afeta a totalidade do planeta. É uma crise política, social, militar, financeira, econômica, energética, ambiental, cultural.
Nos últimos séculos o ser humano realizou conquistas prodigiosas. Se tais fossem postas a serviço da humanidade, permitiriam erradicar da Terra a fome, o analfabetismo, as guerras, abrindo as portas a uma era de paz e prosperidade.
Mas não é isso o que ocorre. Uma minoria insignificante controla e consome os recursos naturais existentes e uma esmagadora maioria vive na pobreza ou na miséria.
No fim da bipolaridade, depois da desintegração da URSS, permitiu-se aos EUA adquirirem uma superioridade militar, política e econômica enorme, que começou a usar como instrumento de um projeto de dominação universal. As principais potencias da União Europeia, principalmente o Reino Unido, Alemanha e França, têm se tornado cúmplices dessa perigosa política.
Incapaz de encontrar solução para a crise de seu modelo - inseparável da desigualdade social, da superexploração do trabalho e do esgotamento gradual dos mecanismos de acumulação -, o sistema de poder que tem seu polo em Washington concebeu e aplica uma estratégia imperial de agressão aos povos do chamado Terceiro Mundo.
Nos últimos sessenta anos mais de trinta milhões de pessoas já morreram em guerras chamadas de baixa intensidade, promovidas pelos Estados Unidos e seus aliados. Algumas particularmente brutais, definidas como "preventivas" contemplaram o saque dos recursos naturais dos povos agredidos.
Reagan criou a expressão "o império do mal" para designar a URSS no final da guerra-fria. George Bush pai vulgarizou o conceito de "estados canalhas" para satanizar países cujos governos não se submetiam às exigências imperiais. Entre eles incluiu o Irã, Coreia do Norte, Líbia e Cuba.
Em setembro de 2001, depois dos atentados que destruíram o World Trade Center e demoliram uma ala do Pentágono, George W. Bush (filho) utilizou o choque emocional provocado por esse trágico acontecimento para desenvolver uma estratégia que fez da "luta contra o terrorismo" a primeira prioridade da política ianque.
Uma gigantesca campanha midiática foi desencadeada, com o apoio do Congresso para criar condições favoráveis à implantação da política defendida pela extrema direita. Segundo Bush e os neocon, "a segurança dos Estados Unidos" exigia medidas excepcionais na esfera internacional e interna.
Explorando a indignação popular e o medo, os grandes periódicos, as cadeias de televisão, as emissoras de rádio, apoiaram iniciativas como o Patriot Act, que suspendeu direitos e garantias constitucionais, legalizando a prática de crimes e arbitrariedades. A irracionalidade contaminou o mundo intelectual e até em universidades tradicionais foram despedidos professores progressistas. Também foram proibidos livros de autores célebres.
A campanha adquiriu rapidamente um caráter de caça às bruxas, com perseguições massivas a mulçumanos. Uma onda de anti-islamismo varreu os Estados Unidos, com a cumplicidade da grande mídia. O Congresso legalizou a tortura.
No terreno internacional, o povo do Afeganistão foi a primeira vítima da "cruzada contra o terrorismo". Os Estados Unidos, sob o pretexto de que o governo do mulá Omar não lhe entregara Bin Laden - foi declarado inimigo nº 1 de Washington - invadiu, bombardeou e ocupou aquele país.
Depois de uma campanha de desinformação de âmbito mundial, veio a vez do Iraque. O governo de Bagdá foi acusado de acumular armas de extermínio em massa e, portanto, de ameaçar a segurança dos Estados Unidos e da humanidade. A acusação era falsa, como se provou mais tarde, e os Estados Unidos não conseguiram obter o apoio do Conselho de Segurança. Mas, ignorando a posição da ONU, invadiram, vandalizaram e ocuparam o país. Inicialmente contaram com o apoio do Reino Unido.
Crimes monstruosos foram cometidos no Afeganistão e no Iraque pelas forças de ocupação. A tortura de prisioneiros no presídio de Abu Ghrabi assumiu proporções de escândalo mundial. Ficou comprovado que o alto comando do exército e o próprio Secretário de Defesa do momento, Donald Rumsfeld, haviam autorizado esses atos de barbárie. Sem dúvida, a justiça ianque limitou-se a castigar com penas leves uma meia dúzia de torturadores.
Simultaneamente, milhares de civis, acusados de "terroristas" (muitos nunca haviam sequer portado uma arma) foram levados para a base naval de Guantánamo, em Cuba, e para cárceres da CIA instalados em países da Europa do Leste.
As Nações Unidas não só ignoraram essas atrocidades mas acabaram dando aval à instalações de governos títeres em Kabul e Bagdá, e ao envio para lá de tropas de muitos países. No caso do Afeganistão, a OTAN, violando seus próprios estatutos, participa ativamente, com 40.000 soldados, da agressão às populações. Dezenas de milhares de mercenários estão envolvidos nessas guerras.
Em ambos os casos, Washington sustenta que essas guerras preventivas representam uma contribuição dos Estados Unidos à defesa da liberdade, da democracia, dos direitos humanos e da paz, e foram inspiradas por princípios e valores éticos universais. O presidente Barack Obama, ao receber o Prêmio Nobel da Paz em Oslo, defendeu ambas ideias, em um discurso farisaico, como serviço prestado à humanidade. Isso, no momento em que decidia enviar mais 30.000 soldados para a fogueira afegã.
Tais são os fatos. Apresentando-se como líder da luta mundial contra o terrorismo, o sistema de poder dos Estados Unidos faz hoje do terrorismo de Estado uma coluna de sua estratégia de dominação.
A criação de um exército permanente na África - o Africom -, os bombardeios da Somália e do Yêmen, a participação na agressão ao povo da Líbia, se inserem nessa política criminosa de desrespeito à Carta da ONU. Mas a ambição de poder absoluto de Washington é insaciável.
O Irã, por não capitular ante as exigências do sistema de poder hegemonizado pelos Estados Unidos, há anos é alvo permanente da hostilidade desse país. Washington sente nostalgia do governo vassalo de Reza Pahlevi e cobiça as enormes reservas de gás e petróleo iranianos.
A campanha de calúnias, apoiada pela mídia, incansavelmente repete que o Irã enriquece urânio para produzir armas atômicas. A acusação é gratuita. A Agência Internacional de Segurança Atômica não conseguiu encontrar indício algum de que o país esteja utilizando suas instalações nucleares com fins militares. O presidente Ahmanidejah, de acordo com o Brasil e Turquia, além disso, em demonstração de boa fé se propôs a enriquecer o urânio no exterior. Mas essa proposta foi rechaçada por Washington e seus aliados europeus.
Sobre as armas nucleares de Israel, obviamente, nem uma palavra. Para os Estados Unidos, o Estado sionista e neo-fascista, responsável por monstruosos crimes contra os povos do Líbano e Palestina, é uma democracia exemplar e seu melhor aliado no Oriente Médio.
O agravamento das sanções que se propõem a estrangular economicamente o Irã se faz acompanhar de declarações provocadoras do presidente Obama e da Secretária de Estado Clinton, segundo as quais "todas as opções continuam abertas", incluindo a militar. Periodicamente, influentes diários divulgam planos de hipotéticos bombardeios dos Estados Unidos ou de Israel ao Irã, que não excluem o recurso a armas nucleares táticas. O objetivo é manter a tensão na guerra não declarada contra um país.
Lamentavelmente, uma parte importante do povo dos Estados Unidos assimila as calúnias anti-iranianas como verdades. A maioria dos ianques desconhece a gravidade e a complexidade da crise interna. A recente elevação do teto da dívida pública de mais de 14 trilhões de dólares a 16 trilhões - total superior ao PIB do país - é, além disso, reveladora da fragilidade do gigante que impõe ao mundo um terrorismo de Estado.
Enquanto isso, o discurso oficial, invocando aos "pais da pátria", insiste em apresentar o Estados Unidos como o grande defensor da democracia e das liberdades, como o país dotado da vocação de salvar a humanidade.
A manipulação da informação e a falsificação da história não seriam possíveis sem o controle da maioria dos meios de comunicação social por parte do grande capital, e sem o controle dos meios audiovisuais pelo sistema de poder imperial. Um instrumento importante nessa política é a exportação da "contracultura" dos Estados Unidos, país -registre-se - onde a mesma coexiste com a cultura autêntica.
A televisão, o cinema, a imprensa escrita e atualmente sobretudo a internet, cumprem um papel fundamental como difusores dessa contracultura que nos países industrializados do ocidente nos últimos anos alterou profundamente a vida quotidiana dos povos e sua atitude perante a existência.
A formação de homens e mulheres se inicia na infância e exige uma ruptura com utilização tradicional do tempo livre. A convivência familiar e com os amigos é atualmente substituída por ocupações lúdicas em frente à TV e ao computador, dando prioridade aos jogos violentos e a filmes que difundem a contracultura, com vantagem para as que têm a apologia das Forças Armadas dos Estados Unidos.
A contracultura atua intensamente no terreno da música, da canção, das artes plásticas, da sexualidade. A contramúsica que entusiasma hoje multidões juvenís é a de estranhos personagens que gritam e gesticulam, exibindo roupas exóticas em gigantescos palcos luminosos, em uma atmosfera ensurdecedora, em abstrata rebeldia contra o vazio.
Por sua parte, o jornalismo se degradou. Transmite a imagem de uma falsa objetividade para ocultar que os meios a serviço da engrenagem do poder insistem, poucas exceções à parte, em justificar as guerras ianques como "cruzada antiterrorista" na defesa da humanidade, porque os Estados Unidos, nação predestinada, batalhariam por um mundo de justiça e paz.
É justo assinalar que um número crescente de cidadãos ianques denunciam essa estratégia de poder, exigem o fim das guerras na Ásia e lutam em condições muito difíceiis contra a estratégia criminosa do sistema de poder. Nestes dias em que se multiplicam as ameaças ao Irã, é minha convicção que a solidariedade com seu povo se converta em dever humanista para os intelectuais progressistas.
Visitei o Irã há cinco anos. Percorri o país de Chiraz ao Mar Cáspio. Escrevi sobre o que vi e senti. Tive a oportunidade de verificar que é falsa e caluniadora a imagem que os governos ocidentais difundem do país e sua gente. Independentemente de minha discordância de aspectos da política interna iraniana - particularmente os referentes à situação da mulher - encontrei um povo educado, hospitaleiro, generoso, amante da paz, orgulhoso de uma cultura e uma civilização milenárias que tem contribuído decisivamente para o progresso da humanidade.
Para mim o Irã encarna muitos valores eternos da condição humana. Sem dúvida alguma, muitos mais dos que possa conter a sociedade ianque, cada vez mais robotizada, além disso.
Porto, Portugal, 10 de Agosto de 2011
www.odiario.info
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