Pequeña serenata diurna (Silvio Rodríguez)
Chico Buarque
Chico Buarque
Começa a ganhar contornos de realidade o que eu temia e que expressei na postagem anterior: surgem as primeiras propostas de violência, de truculência contra os manifestantes. No Chile, a direita no twitter tuitou e retuitou a sugestão de que a morte da líder estudantil Camila Vallejo poria fim ao movimento. Na Inglaterra, o primeiro-ministro Cameron falou na sessão do parlamento que vai colocar o Exército nas ruas para dar fim às "turbulências". O corte das redes sociais, como o Twitter ou o Facebook, foi outra medida discutida na reunião de emergência no parlamento. O bicho está "pegando".
Num átimo, num estalar de dedos, os grandes democratas do mundo tornam-se algozes, ditadores, truculentos e autoritários. E, pior, com um discurso de defesa dos valores da sociedade democrática e ocidental. Em nome da ordem e do progresso. Ordem de quem? Progresso para quem?
Os Estados Unidos já fizeram uma experiência piloto, rasgando a tão decantada Constituição e dando poderes excepcionais ao governo em nome da segurança nacional, num processo que teve como justificativa inicial o ataque às torres gêmeas. A sequência dos fatos tem sido tão interessante para os interesses do capital que cada vez mais me passa a impressão de que não teve Bin Laden coisa nenhuma, e que um Bin Laden morto é um arquivo apagado. E eu não sou adepto das teorias conspiratórias. Mas a realidade está esfregando na minha cara que alguma coisa diferente pode ter acontecido.
No momento, é preciso atentar para a ameaça à Camila Vallejo, e sugiro que todos coloquemos em movimento os movimentos sociais organizados com os quais temos contato para que se manifestem em apoio a ela. O Chile precisa saber que o mundo está atento, que nós estamos atentos para que não sejam cometidas barbaridades como essa.
Camila Vallejo
No momento, é preciso atentar para a ameaça à Camila Vallejo, e sugiro que todos coloquemos em movimento os movimentos sociais organizados com os quais temos contato para que se manifestem em apoio a ela. O Chile precisa saber que o mundo está atento, que nós estamos atentos para que não sejam cometidas barbaridades como essa.
Direita sugere que morte de Camila põe "fim aos protestos"
Mais de três mil estudantes se encontram em Montevidéu para o 16º Congresso da Organização Continental Latino-Americana e Caribenha de Estudantes (Oclae). Na ocasião o jornal La República publicou um artigo em que comenta as ameaças sofridas pela líder estudantil Camila Vallejo e saúda os delegados provenientes de toda a América Latina e Caribe. O Congresso se desenvolve até o próximo domingo (14).
“A repressão contra os estudantes chilenos não só foi feita pela policía, mas agora estão amedrontando pelo twitter a líder Camila Vallejo. Um usuário apelidado como @el_yorchi divulgou dados pessoais da dirigente estudantil, como seu endereço, número de telefone, que rapidamente foram retuitados por várias contas, entre elas @derechatuitera.
Camila Vallejo
O massivo repúdio da comunidade fez com que derechatuitera tivesse que pedir desculpas e que os pais da líder dos estudantes interpelassem instâncias judiciais para buscar proteção do assédio.
Porém, algo mais grave aconteceu quando uma funcionária do governo de Sebastian Piñera, Tatiana Acuña Selles, secretária executiva do Fundo do Livro, dependente do Ministério da Cultura, pediu literalmente a morte de Vallejo em sua conta de Twitter. “Se mata a la perra y se acaba la leva” escreveu a funcionária em sua conta @Tati_Acuna”.(1)
Até agora a informação da imprensa dos últimos dias, que mostra a gravidade da situação chilena, onde a direita perde o sorriso falso do presidente Sebastiaan Piñera, cujo período de governo se transforma crescentemente em uma imagem muito semelhante ao obscurantismo de Pinochet.
Por sua vez o senador Carlos Larraín, presidente de Renovação Nacional (direita), disse que o movimento pela educação é de “subversivos inúteis”. Ele inclusive usou esta categoria para definir alguns parlamentares do atual Congresso.
A qualificação de seres humanos de “subversivos inúteis” abre as portas para o ataque direto e a agressão física. A lógica é clara: os inúteis não servem à sociedade, portanto é melhor que não existam, já que os subversivos querem terminar com a paz do país; portanto sua existência é nefasta, escreveu na Rádio Cooperativa do Chile o colunista Juan Pablo Letelier, que indignado com estas declarações reclamou: “devemos banir a desqualificação e a desumanização de quem pensa diferente. O Chile não quer voltar a tempos obscuros e a direita deve entender que sua nostalgia por essa época (a de Pinochet) é inaceitável”.
Não se deve crer que esta radicalização dos estudantes chilenos, que não ocorre em outros países da região, seja produto apenas de fenômenos autóctones, como a educação chilena - tanto pública como privada - baseada no lucro, mas que pode estar mostrando um “cansaço” das novas gerações com o discurso e as propostas dos mais adultos.
Este cansaço, no caso chileno, não é apenas com as heranças da política de Pinochet, mas também com os governos moderados e progressistas da Concertacion.
Tudo indica que estamos em um momento em que a América Latina necessita de um encontro das forças progressistas com as desanimadas gerações juvenis, para que o processo de transformações se aprofunde sem fraturas no bloco social de mudança. E os estudantes são uma força imprescindível dessa mudança. Por isso, é saudável a realização de novo em Montevidéu do 16º Congresso Latino-Americano e Caribenho de Estudantes, convocado pela Organização Continental Latino-Americana e Caribenha de Estudantes (Oclae).
Bem-vindos, estudantes da América Latina e do Caribe, para ficar em volta do Chile e seus estudantes!
(1) Com esta frase, a funcionária sugere que matando a líder, a quem chamou de cachorra, as mobilizações estudantis iriam cessar. O ex-ditador Augusto Pinochet usou a mesma frase referindo-se ao presidente Salvador Allende quando lhe propôs transporte aéreo para qualquer lugar do mundo que desejasse. (Nota da tradução)
Fonte: Cubadebate / Tradução: Vermelho
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