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Geólogo e professor aposentado, trabalho este espaço como se participasse da confecção de um imenso tapete persa. Cada blogueiro e cada sitiante vai fazendo o seu pedaço. A minha parte vai contando de mim e de como vejo as coisas. Quando me afasto para ver em perspectiva, aprendo mais de mim, com todas as partes juntas. Cada detalhe é parte de um todo que se reconstitui e se metamorfoseia a cada momento do fazer. Ver, rever, refletir, fazer, pensar, mudar, fazer diferente... Não necessariamente melhor, mas diferente, para refazer e rever e refletir e... Ninguém sabe para onde isso leva, mas sei que não estou parado e que não tenho medo de colaborar com umas quadrículas na tecedura desse multifacetado tapete de incontáveis parceiros tapeceiros mundo afora.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

“Folha” acha que jornalista é servo da gleba? (4abr2011)

Por Rodrigo Vianna

Semana passada, eu estava na porta do Hospital Sírio-Libanês, cobrindo a morte de José Alencar para a TV Record. No mesmo horário, dois jornalistas (um da “Folha” e outro do “Agora” – diário que também pertence ao grupo “Folha”) trocavam impressões sobre a cobertura jornalística do fato.

Ressalte-se: trocavam impressões usando contas particulares do twitter.

Foram demitidos!

Nesse domingo, a “ombudsman” da “Folha” tocou no assunto. Ela transcreveu o diálogo no twitter que acabou levando à demissão:
Repórter da Folha: “Nunca um obituário esteve tão pronto. É só apertar o botão.”
Repórter do Agora: “Mas na Folha.com nada ainda… esqueceram de apertar o botão. rs” (risos)

Repórter da Folha: “Ah sim, a melhor orientação ever. O último a dar qualquer morte. É o preço por um erro gravíssimo.”
Suzana Singer, que foi minha chefe e a quem respeito, preferiu não dar os nomes dos jornalistas. Imaginou (presumo) que assim os “preservaria”. Como se a história já não estivesse na internet…

Na mesma coluna, a “ombudsman” dá a opinião sobre o caso:
Um diálogo ruim, de todos os pontos de vista. É insensível jogar na cara do leitor que há obituários prontos à espera do momento de publicação. Não faz sentido um jornalista criticar, publicamente, um site da mesma empresa. E não deixa de ser desagradável lembrar um problema recente -a divulgação errada, pela Folha.com, da morte do senador Romeu Tuma.
Êpa! Peraí. Desde quando a “Folha está preocupada com a “sensibilidade” do leitor. A “Folha” é o jornal que publica ficha falsa em primeira página, e que abre espaço para relato sem provas de que Lula teria falado em “currar” um garoto na prisão. E a Suzana acha que os leitores ficariam “sensíveis” se soubessem que jornalistas preparam obituários com antecedência?

Outra coisa: a Suzana acha “desagradável” lembrar um “problema” recente? Desagradável pra quem? Pros leitores? Ou pro jornal? O mundo jornalístico sabe que o jornal ”matou” o Tuma antes da hora, ajudando assim a eleger o Aloysio.

Na verdade, na crítica de Suzana, a única justificatica plausível é essa: “Não faz sentido um jornalista criticar, publicamente, um site da mesma empresa.”

É isso que interessa na demissão: um recado para outros jornalistas – calem a boca! É atitude de velhos senhores de engenho. Se os empregados se reúnem para reivindicar melhores condições de trabalho, o “patrão” nem discute. Chama o capataz e manda dar uma surra nos líderes da “baderna”. Pra servir de exemplo!

Sob todos os aspectos, a demissão dos jornalistas parece-me absurda: os dois foram “punidos” por expressar, em perfis no twitter, a opinião pessoal.  Ok, eles trabalham na “Folha”. Mas a relação não é (ou não deveria ser) do servo com o senhor proprietário da gleba. O jornalista, fora do horário de serviço, e longe das páginas que pertencem à família Frias, é um cidadão que pode e deve expressar suas opiniões e impressões. O jornalista vende sua força de trabalho, não o cérebro!

E há mais um ponto estranho. A ombudsman parece incomodada com o fato de a troca de tuitadas ter revelado um “segredo”: jornais, revistas, TVs e sites de internet preparam previamente obituários de personalidades importantes.

Ora, isso é tratar o leitor feito débil mental. É evidente que os jornais preparam isso tudo com antecedência. O leitor minimamente esclarecido sabe – ou intui – essa verdade. Ou alguém acha que tudo se materializa minutos depois da morte (na TV e nos sites) por mágica? Além do mais, se havia leitores que não sabiam, agora eles já sabem: jornais, sites, TVs e rádios  preparam obituários – mas não querem que você, leitor, saiba disso!

O jornal que tenta calar a “Falha” (site de paródias da “Folha”, tirado do ar por medida judicial), o jornal que chamou ditadura de “ditabranda”, o jornal que é o mais vendido do país, é um jornal que demite profissionais que dão opinião no twitter.

A “Folha” acha que jornalista é servo da gleba? Não chega a espantar.

Extraído do site do Escrevinhador.

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